ALERTA DE GATILHO: Esta reportagem contém relatos de assédio e abuso sexual.
Mais nove homens acusam o jurista e professor de Direito da Universidade de São Paulo, Alysson Leandro Mascaro, de assédio e abuso sexual. Entre eles, há advogados, jornalistas e acadêmicos de Direito. Os casos relatados teriam ocorrido entre 2009 e o primeiro semestre de 2024 não apenas em São Paulo e na USP, mas em outras cidades brasileiras em que Alysson palestrou e participou de eventos.
Os homens procuraram o Intercept Brasil para contar suas histórias depois que publicamos uma reportagem com relatos de dez alunos e ex-alunos de Alysson e seis testemunhas (leia aqui como fizemos essa apuração). Desde então, fomos contatados por mais de 40 pessoas que afirmam ter vivenciado episódios semelhantes aos divulgados ou têm amigos e familiares que teriam sido assediados pelo professor.
Na sexta-feira, 13, a Faculdade de Direito da USP anunciou o afastamento cautelar de Alysson Mascaro por 60 dias “a fim de bem garantir a apuração dos fatos descritos”. “Há fortes indícios de materialidade dos fatos e que estes envolvem possível enquadramento típico de assédio sexual vertical”, cita a portaria assinada pelo diretor da faculdade, Celso Fernandes Campilongo.
Alysson está sendo investigado pela universidade em um procedimento apuratório preliminar após um pedido de entidades de graduação e pós-graduação motivado pela nossa reportagem. Como parte do procedimento, a USP colheu o depoimento de pessoas que relataram terem sido assediadas por Alysson. O professor nega as acusações e afirma que está sendo perseguido.
Na quarta-feira, 18, ex-alunos do grupo de pesquisa coordenado por Alysson e vinculado à USP assinaram uma nota em solidariedade às pessoas que se dizem vítimas do professor e reiterando “a expectativa de que haja elucidação dos fatos”. Até a publicação desta reportagem, a nota já tinha mais de 55 assinaturas.
Os nove novos relatos que contaremos a seguir são de pessoas que dizem ter sido assediadas por Alysson. Nos depoimentos, elas corroboram o padrão de comportamento e abordagem do professor descritos na primeira reportagem.
Também narram a dificuldade e o medo de denunciar – um dos homens afirma que Alysson parou de respondê-lo em seu pedido sobre orientação depois que ele não correspondeu às investidas sexuais do professor. Além disso, descrevem os impactos dos episódios em suas vidas: alguns dizem ter desistido de seguir os estudos, outros desenvolveram sequelas psicológicas. “Eu larguei a faculdade, meu casamento acabou, entrei em depressão”, relatou um deles.
Todos os homens terão suas identidades anonimizadas para protegê-las de eventuais retaliações, mas suas identidades são conhecidas pelo Intercept. Seus relatos também foram checados e confirmados com terceiros. Além disso, outras fontes documentais foram consultadas a partir das informações narradas, incluindo e-mails, reservas de hotéis, fotos, trocas de mensagens e dados de localização.
Desta vez, com autorização dos entrevistados, também vamos publicar áudios dos relatos. As vozes foram distorcidas para evitar a identificação das pessoas. Ouça, a seguir, trechos dos depoimentos:
A defesa do professor enviou uma nota após a publicação da reportagem, afirmando que Alysson “nunca adotou postura condizente com o conteúdo das acusações, tampouco houve o registro de qualquer denúncia formal contra o professor”.
O comunicado também cita que “todos os supostos relatos contra o professor surgem em um contexto no qual diversos perfis fakes de Instagram são criados para propagar calúnias, inverdades e estimular intrigas entre Mascaro e pessoas do ambiente acadêmico”.
O texto ainda menciona que o professor registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil ainda no mês passado, “motivando a instauração de inquérito policial pelo crime de perseguição”, e pontua que, em 25 de novembro, “o Poder Judiciário deferiu um pedido liminar favorável” a Mascaro “para que os dados cadastrais das contas falsas sejam revelados”.
Sobre o procedimento apuratório preliminar da USP, a defesa do professor alega que a investigação “tem se desenvolvido sem a possibilidade de acesso da defesa ao seu teor”, em “injustificável sigilo”. Por fim, cita que o seu afastamento cautelar foi feito sem que pudesse exercer seu direito de defesa. Leia a resposta completa.
A Faculdade de Direito da USP informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não há denúncia anônima” e que o processo tramita em sigilo “para a proteção de todos os envolvidos”. Também destacou que o afastamento de Alysson e “todos os passos administrativos dados no caso têm completo respaldo jurídico”.
De acordo com a faculdade, “não há, nesta fase embrionária e preliminar da investigação, contraditório, sindicância ou processo administrativo instaurado”. A instituição pontuou ainda que Alysson “será ouvido no momento oportuno” e “terá acesso a todos os elementos possíveis, se houver, no relatório final do procedimento em curso, indícios de autoria e materialidade da prática de atos reprováveis”.
Surpresa no quarto de hotel
Um dos novos relatos feitos ao Intercept é de um caso que teria ocorrido em Londrina, no Paraná, em 2016. O homem relata que havia conhecido o trabalho de Alysson dois anos antes por indicação de um amigo. Após uma palestra dada pelo professor na cidade, ele disse que foi até Alysson em busca de indicações de livros e uma orientação para os estudos. Contou que o professor teria lhe dado o número de WhatsApp e o e-mail pessoal para manterem contato.
O homem diz que, quando chegou em casa, enviou uma mensagem para Alysson. O professor teria respondido pedindo que ele fosse ao hotel onde estava hospedado para conhecê-lo melhor, já que iria embora na manhã seguinte. “Fui, mesmo sendo à noite, justamente porque enxerguei nessa relação a possibilidade de aprender mais e alcançar meu sonho de ser professor universitário”, ressalta. Ele ressalta que é heterossexual e, à época, estava casado e tinha um filho recém-nascido.
Quando chegou no hotel, conta o homem, o professor teria aberto a porta vestindo apenas cueca e mandado que ele entrasse. O jovem, que tinha 20 anos na ocasião, afirma que entrou, embora tenha achado estranho o fato de Alysson, segundo ele, não estar usando outras peças de roupa.
Eu larguei a faculdade, meu casamento acabou, eu entrei em depressão. Tive que ser internado em uma clínica psiquiátrica.
“Não enxerguei o que estava acontecendo, até porque achei que ele fosse uma pessoa do bem, afinal de contas é um professor que fala de marxismo, comunismo, etc. Jamais me passou pela cabeça a ideia de que eu poderia vir a ser estuprado por ele”, relata.
Depois que adentrou o quarto, diz o homem, Alysson teria avançado em sua direção. Ele relata ter entrado em choque e ficado paralisado. “Pedi a ele várias vezes que parasse, mas realmente não tive nenhuma reação mais incisiva. Eu poderia sim ter agredido ele, mas não apenas tive medo das consequências, porque quem o conhece sabe que ele vive em círculos de juízes e desembargadores, mas porque achei que ninguém fosse acreditar em mim”, detalha.
Ele afirma que sua vida desabou depois do que ocorreu. Também diz não ter conseguido contar o que havia acontecido a ninguém de sua família, nem mesmo à esposa. “Eu larguei a faculdade, meu casamento acabou, eu entrei em depressão. Tive que ser internado em uma clínica psiquiátrica”, explica.
O homem ainda observa que só conseguiu retornar à universidade dois anos depois do ocorrido. Hoje, casado com outra pessoa e já pai de mais uma filha, ele diz ter conseguido voltar ao meio acadêmico.
Um caso semelhante que teria ocorrido dois anos antes foi relatado ao Intercept por outro homem. Ele diz que, em 2014, Alysson participou e foi um dos palestrantes na abertura do Congresso Jurídico Espírita em Campinas, no interior de São Paulo. Além de ser reconhecido por sua atuação no Direito, o professor já publicou livros e artigos e fez palestras sobre espiritismo.
O homem conta que conheceu o professor já no congresso, que foi realizado em um hotel. “Na abertura, acabei me maravilhando com a fala dele, tinha naquele momento botado ele como um ídolo quase, porque ele estava conseguindo alinhar muitas coisas que eu acreditava na época, uma leitura fantástica, bem progressista”, afirma.
‘Nunca me senti confortável de relatar isso porque também não quis causar a mesma desilusão que eu tive com a imagem do professor’.
Depois da abertura do evento, o homem diz que, junto de amigos que viajaram com ele, foi conversar com Alysson. Ele afirma que saíram da sala e pegaram o elevador juntos, pois estavam todos hospedados no mesmo hotel onde ocorria o congresso.
Neste momento, o professor teria prometido passar ao aluno indicações de leitura e bibliografia e sugerido que, para isso, ele fosse até seu quarto. O homem relata que seus amigos foram para o quarto deles, enquanto ele acompanhou o professor.
“Eu subi no elevador com ele, animado para a conversa e pela abertura para anotar bibliografia, para ter uma conversa ali sobre a pesquisa ali da área dele, de teoria do Direito”, conta. Já dentro do quarto de Alysson, segundo o homem, o professor teria passado ao aluno, que fazia anotações, alguns nomes quando, então, teria pedido que ele sentasse na cama.
“Eu estava distraído, meio que ainda eufórico, anotando algumas coisas. Nisso, ele se aproximou de mim e já foram uns toques um tanto quanto estranhos. Tentei me esquivar, fui levantando da cama, e ele foi tentando me agarrar”. O homem, que tinha 20 anos na época, relata que o professor o teria abraçado, agarrado e tentado contê-lo para impedir que saísse do quarto. Mas ele conseguiu deixar o local.
Ele diz ter ficado em choque e que não conseguiu contar o ocorrido aos amigos que o acompanhavam na viagem. Foi só após a primeira reportagem do Intercept que o homem afirma ter falado sobre o que aconteceu com ele – dez anos depois.
“Nunca me senti confortável de relatar isso a elas porque também não quis causar a mesma desilusão que eu tive com a imagem do professor Alysson na época, não porque eu ache que ele mereça respeito, mas porque eu não queria que tivessem o choque que eu tive aquele dia. Acabou que não fiz meu papel de relatar isso posteriormente”, ressalta.
Ele relata que quando retornou para sua cidade, após o congresso, contou sobre o ocorrido para alguns amigos da sua universidade, que responderam que sabiam de outros casos semelhantes.
Investidas no escritório e na volta da faculdade
Outros dois casos relatados ao Intercept teriam ocorrido em Catanduva, SP, cidade-natal de Alysson e onde o professor é sócio, junto com seu irmão, Alex Mascaro, de um escritório de advocacia aberto em 2015. Foi no escritório, segundo o relato de um advogado, que o professor teria cometido um assédio.
Ele diz que, em 2022, viu no Instagram de Alysson uma publicação anunciando que estavam abertas as inscrições para o grupo de pesquisa coordenado por ele e vinculado ao Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da USP. O advogado afirma que se inscreveu e passou por uma entrevista em vídeo com o professor que durou mais de uma hora.
Pouco tempo depois, relata ele, Alysson teria dito que estaria em Catanduva e sugerido que eles se encontrassem no escritório para falar de pesquisa.
A reunião teria começado com Alysson perguntando sobre a orientação política e a família do aluno. Ele afirma que falaram sobre o grupo de pesquisa e Alysson teria reiterado que era seleto, para poucos. “Parecia que era uma seita em que poucos ingressam, porque ele fala muito em questão de mestre e pupilo”, diz o advogado. “Ele começou a falar umas coisas do tipo… que tinha que ter pau duro para estar no grupo dele, porque para fazer revolução você tem que ter energia sexual”.
‘Aí eu comecei a perceber onde ele queria chegar, do tipo, os homens podem transar sem serem gays.’
A partir disso, relata, o assunto teria virado para mestres e pupilos. Segundo o advogado, Alysson teria dito que, na Grécia Antiga, mestres e pupilos ingressavam nus no ginásio e praticavam esportes e que “ali não havia homossexualidade, que era uma relação entre homens e entre homens iguais”.
“Aí eu comecei a perceber onde ele queria chegar, do tipo, os homens podem transar sem serem gays”. Ao longo da conversa, conforme o relato, Alysson teria lhe pedido abraços prolongados e afirmado que o advogado poderia ser seu primeiro pupilo na sua cidade de origem, onde ainda não teria nenhum.
O aluno conta ainda que o professor o teria chamado para visitá-lo em São Paulo e se hospedar em seu apartamento, além de ter dito que eles poderiam “beber cerveja de cueca até de madrugada”.
Durante os abraços, o advogado afirma ter percebido que a situação estava escalando e diz que passou a travar Alysson e impedir que o abraço fosse tão próximo. “A gente foi tomar café. Depois, a gente voltou e aí ele tentou de novo. Eu já mostrei que não quis, não gostei e tal”, pontua.
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Antes que o advogado fosse embora, segundo o relato, Alysson teria pedido que ele se matriculasse em uma academia e enviasse fotos a ele. “Era para eu me erotizar”, conta. Dois dias depois do encontro, o homem destaca que enviou um e-mail a Alysson comunicando que não queria mais participar do grupo de pesquisa.
Um outro caso teria ocorrido em Catanduva em 2009, quando Alysson era coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Padre Albino, a Unifipa, – segundo seu currículo Lattes, ele teve vínculo de 2002 a 2009 com a instituição, que na época se chamava Faculdades Integradas Padre Albino.
O aluno, que na época tinha 18 anos, havia acabado de ingressar no curso de Direito. Ele conta que ainda estava no processo de tirar a habilitação, então revezava carona com amigos. Em uma noite em que esperava carona após a aula, relata ele, Alysson estaria saindo da faculdade e teria se oferecido para deixá-lo em casa. Ele teria dito, segundo o aluno, que antes deixaria um outro professor em casa . “Eu pensei, nossa, que legal, vou conversar com os dois professores que eu admiro”, relata.
Depois que deixaram o outro professor na casa dele, Alysson teria dito ao estudante que precisava passar em um prédio da instituição que ficava em um bairro afastado porque a porta teria ficado destrancada. “Eu achei estranho, era 11 horas da noite, mas beleza”. No trajeto, Alysson já teria começado com assuntos estranhos, relata o aluno.
O estudante disse que Alysson teria perguntado se ele havia feito o alistamento militar. O aluno disse que sim, mas que pediu dispensa porque trabalhava durante o dia e estudava à noite, então não teria tempo.
“Aí ele falou: ah, não, é que eu tenho muita amizade com o coronel daqui de Catanduva, e eu posso pedir para ele te dispensar se você quiser”, relata. O jovem afirma ter dito que não haveria necessidade e que, caso fosse chamado, cumpriria o alistamento.
‘Você fica tão pequeno ali na hora, parece que você tá com uma pessoa tão grande, que você fica tão mínimo.’
“Ele falou: ‘ah, porque você tem um porte físico legal’. Aí a hora que ele começou com esse tipo de conversa, na hora você fica sem chão, sabe? Porque você fica tão pequeno ali na hora, parece que você tá com uma pessoa tão grande, que você fica tão mínimo”, detalha.
Em seguida, segundo o relato do estudante, o professor teria pedido para “ver o porte físico” do aluno, passado a mão no seu corpo e solicitado que ele levantasse a camisa. “Depois, ele começou a falar que tinha uma manobra que eles faziam que era pra ver uma questão de hérnia nos testículos”. De acordo com o relato, Alysson então teria sugerido tocá-lo, mas o jovem se esquivou.
“Eu sou uma pessoa muito introvertida e, quando eu fico amedrontado, eu fico acuado, eu não tenho uma reação muito explosiva”, relata. Ele conta que, nesse dia, o trajeto demorou cerca de 40 minutos e, por isso, chegou em casa muito mais tarde do que o habitual. Também observou que, durante o caminho, passaram por áreas ermas e vazias, o que não lhe dava nenhuma possibilidade de fuga.
O aluno diz que chegou em casa e relatou o que houve para a sua namorada na época. Pelo resto do ano, ele continuou cruzando com Alysson na faculdade, mas conta que sabia que não poderia ficar mais sozinho com ele porque sentiria medo. Mas o mais marcante, relata, foi a decepção que teve com uma figura que antes via como referência.
“Pra mim, ele falando aquilo foi uma surpresa maior, eu jamais esperaria isso dele. Lembro que, quando entrei na faculdade, a primeira aula que eu tive com o professor Alysson foi na primeira semana. Foi uma aula magna sobre teoria política. E, assim, aquilo talvez foi um divisor de águas pra mim, uma virada de chave na minha cabeça. Ali eu via o professor Alysson como o cara que eu queria ser igual”, destaca.
Ao Intercept, o Centro Universitário Padre Albino informou que o desligamento de Alysson “ocorreu há mais de 15 anos, dentro do poder discricionário da instituição, sem motivação específica” e declarou que não teve conhecimento de fatos que pudessem “desabonar a conduta do docente” enquanto ele atuou lá. Também pontuou que dispõe de um serviço de ouvidoria, com garantia de sigilo, para “denúncia de atos ou condutas que infrinjam ou violem os direitos de terceiros ou a legislação vigente”.
Conversas só de cueca e abraços no apartamento
Outros quatro relatos ouvidos pelo Intercept nesta segunda reportagem são de episódios que teriam acontecido no apartamento de Alysson, no centro de São Paulo. O mais recente teria ocorrido em abril deste ano.
É o que conta um advogado que diz ter conhecido Alysson pessoalmente no fim de 2023, em um evento em Minas Gerais. Na ocasião, afirma que conversaram e trocaram informações de contato. Segundo ele, Alysson demonstrou interesse em ouvir sobre a pesquisa que o advogado estava iniciando.
Por WhatsApp, diz ele, o professor o teria convidado para ir ao seu hotel para conversarem. O aluno afirma que achou estranho, agradeceu e não foi. Mas relata ter comprado os livros de Alysson e lido artigos depois do encontro. “Quem sabe depois do doutorado, ele gostando das minhas ideias, eu faço um pós-doc com ele na USP. Comecei a estudar a obra do cara”, afirma ter pensado na época.
‘Você acha estranho, você vê claramente que o cara é homossexual, mas você fala assim: ‘bom, não vai passar disso, né?’
Na virada do ano, relata o estudante, eles trocaram mensagens de feliz ano novo e Alysson teria dito que marcaria um horário para conversarem em vídeo sobre a pesquisa. No início de janeiro, fizeram uma primeira reunião que teria durado quatro horas, de acordo com o aluno. “Foi uma abordagem maravilhosa, falamos dos teóricos, filósofos, psicanálise. O cara é um monstro, inteligentíssimo”, diz.
Depois, fizeram mais duas ou três reuniões online. “Aí ele foi testando e vendo até onde podia ir. Começou a falar de corporalidade e teoria comunista, me indicou um livro sobre a teoria dos corpos. Então, começou a bater muito na questão da musculação”.
Na última reunião, ele teria pedido que o aluno mostrasse os músculos do peitoral. “Você mostra, porque ele te envolve numa teoria marxista de corporalidade”, conta o estudante. “Você acha estranho, você vê claramente que o cara é homossexual, mas você fala assim: ‘bom, não vai passar disso, né? Não vai passar disso’. Eu preciso discutir minha pesquisa com o cara, eu preciso que o cara me co-oriente”.
Nesse último encontro, afirma o advogado, Alysson o teria convidado para assistir uma aula presencialmente no Largo São Francisco, em São Paulo. Ele disse que tinha interesse, mas que gostaria de falar sobre a possibilidade de ser co-orientado pelo professor no doutorado. Alysson, então, teria sinalizado positivamente e afirmado que discutiriam isso na casa dele, em São Paulo.
‘Eu comecei a contar a história da minha vida, como foi difícil o que eu passei e nada. O cara estava vidrado em me assediar.’
O aluno diz que marcaram uma data para a viagem e Alysson teria pedido que ele chegasse e fosse embora só depois de três dias. Ele diz ter achado estranho, mas, ao mesmo tempo, reconheceu isso como uma oportunidade de poder passar tanto tempo conversando com “um livre-docente da USP, falando de filosofia e discutindo meu projeto”.
Quando ele chegou em São Paulo, diz que Alysson o teria recebido falando: “meu pupilo querido, até que enfim você chegou por aqui” e o abraçado longamente e de forma forte. “Ele tentou virar para enfiar a língua na minha boca, mas eu não deixei”.
Em seguida, relata ele, teriam ido até a cozinha e Alysson teria sugerido que ambos tirassem a roupa e ficassem só de cueca. “Eu comecei a contar a história da minha vida, como foi difícil o que eu passei e nada. O cara estava vidrado em me assediar”, conta. A partir daí, o professor teria pego sua mão e o levado para mostrar obras de arte, em direção ao quarto.
Quando chegou no quarto, o aluno relata que disse a Alysson que não era gay. O professor, então, teria respondido que também não era gay, mas que o afeto entre homens não os tornava menos homens. Nessa hora, o estudante afirma ter tido uma crise de choro. “Ele disse: ‘você é muito forte, é conservador, tem princípios, eu te respeito, pode ficar tranquilo que nada vai acontecer’. Essa crise de choro funcionou”, ressalta.
Naquela noite, afirma o aluno, o professor teria insistido para que ele dormisse no quarto dele, na mesma cama. Alysson ainda teria citado o nome de um outro orientando dele que, quando o visitava, teria o costume de dormir no mesmo quarto que ele. O aluno pontua que se negou e foi dormir no quarto de hóspedes.
No dia seguinte, diz ele, Alysson teria aliviado sua postura. O aluno conta que o professor teria ficado vestido durante o dia, embora “ele ainda abraçava, tentava enfiar a língua na boca para beijar”. À noite, afirma que foram assistir uma aula na USP. No dia seguinte, quando falariam sobre a tese de doutorado, o aluno relata que Alysson “tentou de tudo”.
“Ele tentou me beijar, me assediar, e eu precisava discutir minha tese. Nós fomos para o sofá e ele disse que iríamos discutir a tese de maneira não burocrática, que, se não for no afeto, é burocracia”, explica. “E aí acabou. Eu estava com a tese estruturada, mas fui abusado, em questão de abraço, de apalpar, passar a língua na boca”. Um dia depois, o estudante diz ter retornado para sua cidade.
No fim, Alysson não teria assinado o documento para se tornar co-orientador do aluno. “Porque não teve sexo, não teve contrapartida”, relata o estudante. Ele diz ter enviado ainda um e-mail ao professor sobre a co-orientação, mas ficou sem resposta. Duas semanas depois, desistiu do grupo de pesquisa.
Uma outra pessoa diz ter conhecido Alysson em 2021, através de transmissões que fazia para um canal de esquerda. Ele relata ter ficado impressionado em ver um advogado abertamente de esquerda. No mesmo ano, entrou para o grupo de pesquisa e passou a acompanhar as aulas online. Em 2022, continuou no grupo e, no ano seguinte, diz que teve a oportunidade de conhecer Alysson pessoalmente em um evento em São Paulo.
No final do evento, o aluno afirma ter se apresentado ao professor e contado que fazia parte do grupo. “Aí não lembro porque, mas começou a entrar numa seara de esportes e ele me perguntou o que eu fazia. Eu falei que fazia musculação”, relata. O professor teria respondido que “quem faz musculação já está um ponto à frente comigo”.
Eles então teriam marcado uma conversa sobre assuntos acadêmicos no dia seguinte, no escritório de Alysson, de acordo com o aluno. Segundo relatos feitos ao Intercept, o escritório do professor fica no mesmo prédio e andar de sua residência, separados por um corredor. Quando chegou no apartamento, afirma, Alysson estaria o aguardando na porta e teria pedido que ele lhe desse um abraço.
O estudante relata que eles teriam sentado no sofá e o professor teria começado a falar sobre temas aleatórios até que entrou em um assunto sobre Sócrates e Platão. “Ele querendo dizer que ele seria o Sócrates e ali, naquele contexto, eu seria o Platão”, explica. Ambos filósofos na Grécia Antiga, Platão foi discípulo de Sócrates.
Segundo ele, Alysson também teria feito comentários misóginos, de que mulheres não têm potência de pensamento porque não têm o falo [referência a pênis], e que a única exceção teria sido Rosa Luxemburgo.
Depois de uns 40 minutos de conversa, relata o aluno, o professor teria dito que, quando Platão encontrou Sócrates, eles se abraçaram o dia todo, pelados. “Na hora, eu pensei: só faltava esse cara querer ficar me abraçando o dia inteiro”, detalha. Quando Alysson terminou de falar, conta ele, teria pedido que o aluno abraçasse o mestre.
“Não sei se foram dois minutos, três minutos, e aí eu até li isso na reportagem [do Intercept]. Eu também bati nas costas dele assim, tipo, deu né?”, diz.
Depois de determinado tempo, conforme o aluno, o professor teria tirado a camisa e a calça, ficado de cueca e o chamado para fazer o mesmo. Ele relata ter recusado inicialmente, mas, após insistência que teria partido do professor, se sentiu pressionado a aceitar.
“Me senti coagido e tirei, fiquei só de cueca também. Constrangido, óbvio, né? É engraçado que, depois que passa a situação, a gente fala: ’puta merda, poderia ter feito 1 milhão de coisas’, mas na hora, com todo o contexto da relação professor-aluno, né? E aí ele volta para aquela dinâmica: ‘então, agora, vamos dar um abraço” conta.
‘Depois que passa a situação, a gente fala: “puta merda, poderia ter feito 1 milhão de coisas”, mas na hora, com todo o contexto da relação professor-aluno, né?’
O aluno relata ter entrado em um modo sobrevivência, observando até onde o professor iria. “Ele falava que eu seria o Platão, que ele era muito influente, que iria me colocar num lugar de destaque”. O encontro teria durado mais algumas horas e só teria parado porque Alysson daria aula na USP naquela noite. Antes de sair do apartamento, o aluno relata que o professor teria pedido que se referisse a ele como mestre.
Esse estudante relata que ainda viria a se encontrar mais uma vez com Alysson meses depois, novamente com a intenção de discutir um projeto de pesquisa para o qual gostaria de ser orientado. “Vamos ver se ele vai de fato me orientar sem essas trocas sexuais que, pelo jeito, ele impõe”, salienta.
No dia do encontro, o aluno diz que levou um amigo para acompanhá-lo, porque, segundo ele, sabia que “marcar um café com esse cara não é marcar um café”. Quando chegaram ao apartamento do professor e a porta abriu, Alysson teria feito uma cara de espanto. A dinâmica naquele dia, entretanto, foi diferente, de acordo com o estudante, pois o foco foi a discussão do seu projeto. Ele afirma que, apesar de ter saído da casa de Alysson com um projeto de pesquisa encaminhado, desistiu e nunca seguiu adiante com a ideia.
‘Puta merda, agora deu ruim’
Um dos novos relatos feitos ao Intercept é de uma pessoa que não atua no Direito. O jornalista diz que conheceu Alysson quando estava na faculdade, em 2013, durante um seminário da Boitempo, editora que publicou livros de Alysson. “Eu vi uma das palestras dele, fiquei assustado com o poder que ele tem de explicar de uma forma muito simples coisas muito complexas”, afirma.
No ano seguinte, já atuando como jornalista, o homem explica que contatou Alysson porque queria entrevistá-lo para uma reportagem. O combinado, segundo ele, foi uma conversa na casa do professor, no centro de São Paulo. “Na minha ingenuidade de jornalista que estava começando a carreira, eu topei ir na casa dele, até porque, enfim, era um cara que eu tinha algum respeito, eu nunca imaginei que poderia acontecer alguma coisa.”
Ele relata que, lendo a primeira reportagem do Intercept, se assustou, pois, por muitos anos, se questionava se havia sido um episódio único e, caso houvesse outros, qual teria sido a abordagem. “É exatamente a mesma coisa. A pessoa se aproxima porque vê alguma coisa, um encanto, e aí ele começa a pavimentar um caminho para levar a pessoa para a casa dele”, diz.
Quando chegou à casa de Alysson, relata o jornalista, o professor teria pedido que ele sentasse no sofá, enquanto teria sentado na outra ponta. À medida que conversavam sobre a entrevista, diz ele, Alysson teria se aproximado, reduzindo o espaço entre os dois.
‘Era um cara que eu tinha algum respeito, eu nunca imaginei que poderia acontecer alguma coisa.’
“Eu achei estranho, mas de novo fiquei quieto. Eu fiquei um pouco sem reação e ele foi chegando mais perto até que ele colocou o braço assim, tipo, meio que me abraçou com o braço esquerdo. Aí eu gelei. Eu falei: ‘puta merda, agora deu ruim, né?”, relata.
Em seguida, conta o homem, o professor teria passado a perna por cima dele, prendendo-o, enquanto passava a mão em seu cabelo. Ele diz que pensou como poderia sair, mas lembra que o professor é alto e que, no prédio onde mora, não parecia haver outras pessoas morando. “Só pensava em uma forma de sair dali com vida e evitando o máximo de problema possível para não causar nenhuma indisposição, porque eu tava muito sem graça, completamente sem reação, e em choque”, diz.
O jornalista pontua que conseguiu se desvencilhar dizendo que precisava ir embora porque já era tarde. Alysson teria levantado, ido até seu quarto pegar alguma coisa e chamado para que o homem fosse o abraçar no corredor, próximo do quarto. Ele relata ao Intercept ter pensado que não poderia entrar no quarto, pois precisava sair dali.
Na hora de ir embora, o jornalista conta que abraçou o professor, conforme ele teria pedido. “Só que foi um abraço extremamente sexual, ele ficava encostando o rosto dele no meu e encostando as partes genitais dele em mim. Eu estava completamente esmagado por ele”, relata.
Alysson teria o acompanhado no elevador até o térreo. Quando chegaram lá, o jornalista afirma ter escutado do professor algo que reconheceu no relato de outras pessoas ao Intercept: uma promessa profissional para demonstrar seu poder.
Na saída, Alysson teria dito ao estudante que ele poderia ficar despreocupado porque o professor o ajudaria num eventual percurso acadêmico. “Ele usa muito isso para meio que dar uma enrolada nas pessoas, mostrar que ele tem algum tipo de influência, que ele pode exercer algum tipo de influência sobre você de alguma forma”. Depois disso, o jornalista diz que não contatou mais o professor.
Outra pessoa relata ao Intercept um caso que teria ocorrido em 2014, quando era estudante de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde Alysson lecionava. Ele diz que conheceu Alysson pessoalmente em um evento da então candidata à Presidência pelo PSOL, Luciana Genro.
No final do evento, o aluno conta ter se aproximado do professor e demonstrado interesse em fazer parte do grupo de pesquisa. Alysson teria, então, o convidado para o lançamento de um livro, ao qual ele compareceu.
‘A pegada no saco e o beijo forçado não tiveram consenso algum.’
Durante a sessão de autógrafos da obra, relata o estudante, Alysson teria dado seu número de telefone para que marcassem um café no campus do Mackenzie. Na data marcada, segundo o aluno, o professor teria dito que não teria tempo para o café, mas o convidado para assistir à aula da pós-graduação que ministraria. No fim dessa aula, relata, como o campus já estava prestes a fechar, o professor o teria chamado para que caminhassem juntos em direção ao metrô.
“Até esse momento, a postura dele foi totalmente respeitosa. Nós seguimos a caminhada no sentido da estação República do metrô, muito perto de onde ele morava na época. Quando a gente chegou na porta do prédio dele, ele me chamou para subir”, ressalta.
Quando chegaram no apartamento, Alysson teria oferecido uma cerveja ao aluno, o que ele enxergou como uma cordialidade para quebrar o clima, algo amistoso. “Logo, ele começou a falar de abraços, que o abraço é muito importante e me chamou para dar um abraço nele. E logo depois desse abraço, falou: ‘Vamos ficar mais à vontade? Tira a camisa’”.
O aluno avalia que Alysson teria se aproveitado da sua condição como um estudante mais novo e bem-intencionado. Ele recorda que estava com o celular na mão, em contato com a sua namorada da época, o que lhe deu alguma sensação de segurança. “Eu tirei a camisa porque pensei que, se for para ele me aceitar no grupo de estudos dele, tirar a camisa não tem custo nenhum”.
Depois disso, o aluno diz que Alysson teria levantado para mostrar algumas obras de arte de sua casa para ele, inclusive alguns quadros que teriam o rosto do professor. Até que o aluno pediu para usar o banheiro.
“Teve um momento que eu fui lá ao banheiro para urinar e não tinha chave na porta, né? Enquanto eu estava urinando, ele abriu a porta e entrou. Ao meu lado, ele sacou a genitália dele e começou a urinar do meu lado, na mesma privada, e falou: ‘tem que aproveitar, né economizar água’”, relata.
“Eu já fiquei apavorado, mas ainda assim ele não tinha me tocado. Ele só me tocou na hora que eu tava saindo”, pontua. O aluno relata que pensava em como poderia sair dali sem criar problemas, pois temia que o professor pudesse prejudicá-lo na faculdade.
Quando saíram do banheiro, Alysson teria ido até seu quarto, colocado uma música clássica e convidado o aluno para entrar. O estudante, porém, disse que recusou. “Ele pegou o meu ombro e puxou, né? Fez um puxão à força e me jogou na cama. Detalhe: ele é um cara alto, então ele intimida, né? E eu era franzino na época. Aí ele colocou uma música, uma sinfonia e tirou a calça, ficou só de cueca. E eu ali agoniado e assustado com a situação”.
O jovem relata que o professor teria dito, então, que aquela música, uma sinfonia da União Soviética, narrava uma relação sexual. Nessa hora, o aluno decidiu que precisava ir embora e fingiu que seu telefone tocou e que era sua mãe. Com isso, afirma que conseguiu sair do quarto. “Ele me levou na porta, pegou 50 reais e me deu para eu pegar um táxi. Eu agradeci e aí, na hora da despedida, ele me tocou, pegou no meu saco e tentou beijar minha boca”.
O aluno relata ao Intercept que interpretou os atos de Alysson como assédio sexual. “Eu interpreto a pegada no saco e o beijo forçado, essas coisas não tiveram consenso algum”. Ele diz que percebeu recentemente que o episódio fez com que desenvolvesse um gatilho que o impede de urinar à vontade em locais públicos.
Questionado sobre este caso específico e os mecanismos que oferece para receber denúncias de casos de assédio e abuso sexual, o Mackenzie apenas informou, via assessoria de imprensa, que “não vai se manifestar até que chegue algum caso concreto à universidade”.
Tentativas em sequência no banheiro da USP
Outro ex-aluno conta que teria sido assediado por Alysson, em duas ocasiões, dentro de um banheiro da Faculdade de Direito da USP. Ele relata que os episódios teriam ocorrido em 2012, quando tinha 24 anos, pouco depois de começar a frequentar as aulas de uma disciplina ministrada pelo professor.
O homem conta que sempre lhe chamou atenção o fato de Alysson ter uma “aura de professor de esquerda”. Nesse sentido, buscou conversar com o professor após uma das primeiras aulas porque tinha interesse em iniciação científica.
“Depois dessa conversa, na aula seguinte, ele ficou falando de Platão, que ele tinha omoplatas grandes, era um homem forte. Aí começou a falar meio que uma definição física do Platão, como um homem bonito, gostoso, malhado e tal. Foi uma leitura meio sexualizada, vamos dizer assim, meio erotizada”, salienta ele, pontuando que Alysson fez uma referência sutil à relação entre mestre e pupilo.
‘Fiquei constrangido, como se fosse culpa minha.’
Após outra aula, à noite, o estudante conta que foi a um banheiro localizado mais ao fundo de um dos corredores da faculdade. Ele diz que, quando entrou no local, encontrou Alysson – e estranhou, pois os professores tinham um banheiro exclusivo em outro andar e por ser “pouco usual” ver um docente em um espaço mais usado por alunos.
“Eu fui urinar e ele virou para mim com o pau de fora, tipo se masturbando. O professor mostrou a genitália para mim, insinuando um comportamento erótico e muito seguro de que isso era tolerado por mim. Não falou nada, apenas fez o gesto, ficou meio que se masturbando para mim, se tocando. Eu terminei de urinar e saí quase como se fosse correndo. Foi muito estranho, muito chocante”, relata.
Ele conta que, depois desse episódio, ficou com medo de ir às aulas de Alysson novamente. “Fiquei constrangido, como se fosse culpa minha”, diz. Afirma que esse sentimento o fez ficar cerca de um mês sem comparecer às aulas até decidir voltar, pois não queria reprovar na disciplina por faltas. “Tive vergonha de entrar na aula dele”.
Após retornar à disciplina, relata o aluno, uma nova investida ocorreu no mesmo banheiro, novamente após o término de uma aula de Alysson. “Fui urinar e quem estava no banheiro? Ele de novo. E ele repetiu a mesma cena. Foi no mesmo estilo, a mesma abordagem. Nessa ocasião, eu fiquei furioso mesmo. Fiquei ofendido, me senti rebaixado, sujo, mal mesmo, abusado, desrespeitado. Foram duas vezes”, conta.
‘Meu amigo olhou para mim e falou: “cara, ele fez isso comigo também”‘.
O aluno diz que resistiu em contar o que havia acontecido por temer que seria desacreditado. “Eu achava que ninguém acreditaria em mim. Eu tinha medo de falar alguma coisa dessas e não conseguir entrar em estágio em nenhum escritório, em não conseguir trabalhar em nenhum tribunal. Medo de falar uma coisa dessas e toda a comunidade acadêmica, dos professores, se voltarem contra você, te acharem mentiroso, que está tentando destruir a reputação do professor”.
Mas ele afirma que relatou as duas situações no banheiro da faculdade para amigos próximos – e se surpreendeu quando um deles revelou que havia passado por um episódio semelhante. “Esse meu amigo olhou para mim e falou: ‘cara, ele fez isso comigo também’”.
O aluno relata que faltou a mais aulas de Alysson depois da segunda investida e, quando chegou o dia da prova da disciplina, sentiu que o professor tentou lhe intimidar. “Ele passou na minha mesa várias vezes, abriu meu estojo para ver se tinha cola, em uma postura bem intimidatória”.
Após ir mal na prova e ter sido reprovado, o estudante conta que decidiu conversar com o professor sobre sua nota. “Ele falou: ‘vamos agendar uma revisão da nota’. Eu pensei comigo: ‘não vou’”.
O aluno relata que só voltou a cursar a mesma disciplina cerca de um ano e meio depois, com outro professor. Questionamos a Faculdade de Direito da USP sobre o caso, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Passados esses episódios, o estudante afirma que nunca mais conseguiu ler nada sobre Alysson e percebeu “sequelas” muito tempo depois, como quando travou para escrever a monografia.
“Entendi o grau do abuso e da perversão cometidos por ele quando inverti as coisas pensando em uma mulher. Se fosse um professor homem fazendo isso com uma aluna mulher, mostrando a genitália, isso seria muito chocante. A dimensão do abuso em relação a homens gays tende a passar por um descrédito maior. É desafiador falar agora sobre isso, mas ao mesmo tempo também é libertador”, conclui.
Atualização: 19 de dezembro de 2024, 16h58
O texto foi atualizado para incluir o posicionamento de Alysson Mascaro, enviado pela sua defesa após a publicação da reportagem.
Atualização: 20 de dezembro de 2024, 15h37
O texto foi atualizado para incluir o posicionamento da Faculdade de Direito da USP, enviado após a publicação da reportagem.
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