O mercado de trabalho brasileiro continua aquecido, mas apresentou números aparentemente conflitantes nesta sexta-feira, 27. Enquanto o IBGE divulgou o menor desemprego da série histórica, de 6,1% no trimestre encerrado em novembro, o Ministério do Trabalho apontou que houve criação de 106 mil vagas formais também em novembro, o que significa o saldo mais baixo para o mês desde o início da nova série histórica que começou em 2020.
A principal diferença entre os dois indicadores é que o IBGE faz uma sondagem em domicílios e mede a taxa de desemprego a partir do relato de pessoas que estavam sem trabalhar, mas tentaram, sem sucesso, conseguir um emprego. Já o Ministério do Trabalho recolhe informações das empresas, que informam o número de pessoas admitidas e desligadas em um determinado período.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego do trimestre encerrado em novembro de 2024 recuou 0,5 ponto porcentual em relação ao trimestre anterior, entre junho e agosto, para 6,1%. Trata-se do menor índice da série história da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012. O resultado é 1,4 ponto menor que a taxa registrada em igual período de 2023.
Já o Ministério do Trabalho informou que após a criação de 132.138 vagas em outubro (dado revisado hoje), o mercado de trabalho formal registrou um saldo positivo de 106.625 carteiras assinadas em novembro. O saldo é o pior resultado para este mês considerando a série histórica do Novo Caged, iniciada em 2020 (sem ajustes).
Perda de força
Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, apesar do desemprego ter sido o mais baixo da série, já há elementos novos no índice que sugerem uma certa acomodação do mercado de trabalho no País. Em relatório a clientes, ela apontou que houve desaceleração no número de pessoas empregadas.
“Diferentemente do que ocorreu nos meses anteriores, a queda no desemprego não foi acompanhada do crescimento do contingente de mão-de-obra, sugerindo que houve a atenuação do aquecimento do mercado de trabalho no período de referência”, afirmou.
Ela lembra que o fim de ano é um período caracterizado pela criação de vagas, principalmente no comércio e nos serviços, em função das datas festivas e do período de férias escolares.
“Em conjunto, os dados ratificam a queda na temperatura do mercado de trabalho. Essa hipótese ganha força se levada em conta a sazonalidade positiva, que impulsiona o comércio e os serviços às vésperas de datas festivas e períodos de férias escolares e que não apresentou força no período, algo que pode ser verificado através da inexistência de variações significativas sobre o emprego nos setores de comércio e de serviços prestados às famílias no trimestre encerrado em novembro em comparação com o trimestre encerrado em agosto”, disse.
Para Sérgio Vale, da MB Associados, o nível de emprego está desacelerando, mas continua forte. Ele aposta que a taxa de desocupação pode ficar abaixo de 6% em dezembro, mas lembra que o mercado de trabalho é sempre o último a reagir. Ou seja, primeiro a economia como um todo perde força, principalmente via investimentos, e só depois acontecem ajustes nos quadros de funcionários pelas empresas.
“Está desacelerando, mas ainda continua forte. Provável que em dezembro fique ainda abaixo de 6% pela primeira vez. Mas em 2025 é para acima disso, devendo terminar o ano na casa de 6,5% ou 7% a depender da taxa terminal de juros. Com crescimento menor ano que vem, nós devemos conseguir sustentar a taxa média próxima de 7%, o que ainda é baixo, mas mostra o caminho de piora que está sendo construído para 2026″, explicou.
Juros em alta
Para os dados do Caged, o mercado financeiro esperava uma diminuição do ritmo na comparação com outubro, mas o resultado veio abaixo das estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. A mediana indicava a criação líquida de 125 mil vagas com carteira assinada e o intervalo das estimativas, todas positivas, variavam de 105 mil a 150 mil vagas formais criadas.
O salário médio de admissão nos empregos com carteira assinada foi de R$ 2.152,89 em novembro. Comparado ao mês anterior, houve uma redução de R$ 7,40 no salário médio de admissão, uma queda de 0,34%.
A abertura líquida de vagas de trabalho com carteira assinada em novembro foi puxada pelo desempenho do setor de comércio, com a criação de 94.572 postos formais, seguido pelo de serviços, que abriu 67.717 vagas. Já a indústria fechou 6.678 vagas em novembro. Houve ainda fechamento de vagas no setor de construção, em 30.091 vagas, e na agropecuária, em 18.887 postos.
O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Francisco Macena, lembra que a indústria ainda tem saldo positivo no ano, mas que o resultado de novembro já começa a refletir a piora das condições financeiras, com o aumento da taxa de juros.
“Quando você conversa com setores da indústria, os investimentos diminuíram, isso tem a ver com expectativa econômica, está diretamente relacionado a taxa de juros”, afirmou.
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