O americano achado vagando pelas ruas perto de Damasco após passar meses em prisão na Síria

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Travis Timmerman disse que foi preso após entrar no país a pé
  • Author, George Wright
  • Role, BBC News

Um homem dos Estados Unidos, detido por meses em uma prisão síria após entrar no país a pé, disse ter sido libertado por homens empunhando martelos enquanto rebeldes derrubavam o regime de Bashar al-Assad.

O homem – que se identificou como Travis Timmerman para a CBS, emissora parceira da BBC nos EUA – foi encontrado por moradores perto da capital Damasco.

O fato acontece num momento em que os rebeldes dizem que pretendem fechar as prisões notoriamente brutais de Assad e rastrear os envolvidos na tortura ou assassinato de detentos.

"Nós os buscaremos na Síria e pedimos aos países que entreguem aqueles que fugiram para que possamos obter justiça", disse o líder rebelde Ahmed al-Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani.

Imagens postadas nas redes sociais mostram Timmerman deitado em um sofá, enquanto moradores falavam com repórteres locais.

Ele disse que foi preso ao entrar no país há sete meses.

O americano foi dado como desaparecido em maio, tendo sido visto pela última vez na capital húngara, Budapeste, de acordo com a Patrulha Rodoviária Estadual do Missouri e as autoridades húngaras.

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Na segunda-feira (9/12), um dia após os rebeldes tomarem o controle de Damasco e derrubarem Assad, Timmerman disse que dois homens com um martelo arrombaram a porta de sua prisão.

Ela foi "arrombada, me acordou", disse ele.

"Achei que os guardas ainda estavam lá, então pensei que a guerra poderia ter sido mais ativa do que acabou sendo... Assim que saímos, não houve resistência, não houve luta de fato."

O homem de 30 anos disse que saiu da prisão com um grande grupo de pessoas e estava tentando ir para a Jordânia.

Ele disse que "teve alguns momentos de medo" quando saiu da prisão, acrescentando que desde então estava mais preocupado em encontrar um lugar para dormir.

No entanto, a população local foi receptiva aos seus pedidos de comida e ajuda, disse ele aos repórteres.

"Eles estavam vindo até mim, na maioria dos casos", disse Timmerman.

O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse nesta quinta-feira que Washington está "trabalhando para trazer [Timmerman] para casa".

Blinken, falando durante uma visita à Jordânia, acrescentou que não poderia dar detalhes sobre "exatamente o que vai acontecer".

Milhares de prisioneiros foram libertados desde a queda de Assad no fim de semana.

Imagens mostraram homens, mulheres e, em alguns casos, crianças saindo de celas superlotadas e sem janelas, muitas vezes desorientados e inconscientes dos eventos que ocorreram do lado de fora.

No entanto, Timmerman parece ter sido relativamente bem tratado, dizendo à CBS: "Estou me sentindo bem. Fui alimentado e hidratado, então estou me sentindo bem."

Ele acrescentou que usou um telefone celular durante sua detenção e falou com sua família há três semanas.

Falando ao canal americano NBC, Timmerman disse que cruzou as montanhas entre o Líbano e a Síria em uma "peregrinação" e "leu muito as escrituras".

Ele recusou a oportunidade de entrar em contato com autoridades americanas.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Timmerman disse que cruzou as montanhas entre o Líbano e a Síria em uma 'peregrinação' e que 'leu muito as escrituras'

Prisões secretas

Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse que os EUA pediram ao principal grupo rebelde da Síria, Hayat Tahrir al-Sham (HTS), para ajudar a localizar e libertar o jornalista americano Austin Tice.

Jornalista freelancer, acredita-se que Tice tenha sido levado preso perto de Damasco em 14 de agosto de 2012 enquanto cobria a guerra civil do país.

Ele foi visto pela última vez em um vídeo postado online semanas após sua captura.

No registro, ele estava vendado e em aparente sofrimento. Os EUA acreditam que ele estava sendo mantido pelo regime de Assad.

O presidente americano Joe Biden disse que os EUA acreditam que Tice está vivo, mas que é preciso identificar sua localização.

O regime de Assad era famoso por suas prisões extremamente duras, onde o grupo de monitoramento britânico Observatório Sírio para os Direitos Humanos estima que quase 60 mil pessoas foram torturadas e mortas.

Em toda a Síria esta semana, famílias desesperadas para encontrar seus entes queridos estão se aglomerando nesses locais de prisão sombrios.

A Organização de Defesa Civil Síria, conhecida como Capacetes Brancos, tem ajudado na busca — inclusive no infame complexo prisional de Saydnaya, descrito por grupos de direitos humanos como o "matadouro humano".

"Estamos procurando prisões secretas em várias áreas de Damasco", disse Raed Saleh, diretor dos Capacetes Brancos, à BBC.

"Não podemos dizer muito sobre isso, mas estamos procurando."

Os Capacetes Brancos, conhecidos por resgatar sobreviventes dos escombros durante a devastadora guerra civil da Síria, dizem que ajudaram a resgatar milhares de detidos das prisões.

Mas muitas famílias ainda estão procurando em vão.

"O que aconteceu em Saydnaya é muito doloroso para as famílias que estavam esperando por seus entes queridos", reconheceu Saleh.

"Nossa incapacidade de contatar qualquer outra pessoa em Saydnaya após a libertação inicial dos prisioneiros significa que as pessoas que estavam lá estão mortas ou em outro lugar."

"Temos pelo menos duas equipes procurando prisioneiros", acrescentou Saleh.

"Uma equipe com cães farejadores da polícia está procurando por sobreviventes. Outra equipe é especializada em arrombamento de fechaduras e entrada em celas."