Melhor aluno da turma, surfista e sem inimigos: quem é o suspeito de matar o CEO Brian Thompson
- Author, Madeline Halpert e Mike Wendling
- Role, Da BBC News
Os Estados Unidos estão começando a conhecer o perfil do homem de 26 anos suspeito do assassinato de Brian Thompson, CEO (diretor-executivo) da seguradora de saúde United Healthcare, numa das áreas mais movimentadas de Nova York na semana passada.
A polícia anunciou na segunda-feira (9/12) que prendeu Luigi Mangione após ele ser reconhecido em um McDonald's em Altoona, na Pensilvânia.
Nascido em Baltimore, Maryland, ele foi encontrado em posse de uma ghost gun ("arma fantasma"), tipo de arma construída em casa; uma arma de fogo não rastreável e um documento manuscrito de três páginas que indicava sua "motivação e mentalidade", segundo as autoridades.
Nesta terça-feira (10/12), ele foi levado a um tribunal, onde contestou sua extradição da Pensilvânia para o Estado de Nova York, onde ocorreu o assassinato pelo qual é acusado.
A caminho do tribunal, Mangione gritou em direção a repórteres, dizendo palavras as palavras "completamente injusto" e "insulto à inteligência do povo americano". Ele também teve um rápido atrito com os guardas que o escoltavam. Entretanto, na saída, ele ficou em silêncio.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, publicou uma declaração afirmando que trabalhará para levar Mangione para os tribunais de seu Estado.
"A segurança pública é minha maior prioridade e farei tudo o que estiver ao meu alcance para manter as ruas de Nova York seguras", afirmou Hochul.
Quem é Luigi Mangione
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Mangione nasceu e foi criado em Maryland e tem ligações com San Francisco, na Califórnia, de acordo com Joseph Kenny, chefe dos detetives de Nova York.
Ele não possui antecedentes criminais em Nova York, e seu último endereço registrado foi em Honolulu, capital do Havaí, segundo a polícia.
Vindo de uma família influente, Mangione frequentou a Gilman School, uma escola particular exclusivamente masculina em Baltimore, conforme informaram representantes da instituição.
Mangione foi nomeado orador da turma, título geralmente concedido ao estudante com o melhor desempenho da classe.
Em comunicado, a escola descreveu a situação como "profundamente angustiante".
Um ex-colega de classe, Freddie Leatherbury, disse à agência de notícias Associated Press que Mangione vinha de uma família rica, mesmo para os padrões dessa escola privada.
"Sinceramente, ele tinha tudo a seu favor", afirmou Leatherbury.
Falando à CBS News, parceira da BBC nos EUA, outro colega de classe, que pediu para permanecer anônimo, descreveu-se como um amigo próximo de Mangione, dizendo que o suspeito "não tinha inimigos" e era "orador da turma por uma razão".
Mangione formou-se na Universidade da Pensilvânia, onde obteve bacharelado e mestrado em ciência da computação, de acordo com a instituição. Durante seus estudos, fundou um clube de desenvolvimento de videogames.
Um amigo que frequentou a mesma universidade, pertencente à Ivy League (grupo das universidades de mais prestígio dos EUA), descreveu Mangione como uma pessoa "supernormal" e "inteligente".
Mangione trabalhou como engenheiro de dados na TrueCar, um site de venda de carros novos e usados, conforme seus perfis nas redes sociais. Um porta-voz da empresa informou à BBC que ele não estava mais empregado lá desde 2023.
De acordo com um perfil com seu nome e foto no LinkedIn, Mangione também trabalhou anteriormente como estagiário de programação na Firaxis, uma desenvolvedora de videogames.
Além disso, passou um período em uma comunidade voltada para o surfe no Havaí, chamada Surfbreak.
Sarah Nehemiah, que o conheceu nesse período, contou à CBS que Mangione deixou o local devido a uma lesão nas costas, agravada pelo surfe e por caminhadas em trilhas.
O que levou à prisão
O documento manuscrito de três páginas encontrado com Mangione sugeriu um motivo para o suposto crime cometido por ele, de acordo com os investigadores.
As páginas expressavam "ressentimento" em relação à United Healthcare, disseram as autoridades.
Um investigador disse ao jornal The New York Times que o documento afirmava: "Esses parasitas mereciam isso" e "Peço desculpas por qualquer sofrimento e trauma, mas era algo que tinha que ser feito".
Os investigadores também encontraram as palavras em inglês para "negar", "defender" e "destituir" nas cápsulas de munição encontradas no local do assassinato de Thompson, em Nova York.
Críticos das seguradoras de saúde chamam essas palavras de "os três Ds do seguro" — táticas usadas pelas empresas para rejeitar pedidos de pagamento de pacientes.
Amigos disseram à imprensa dos EUA que Mangione passou por uma cirurgia nas costas.
A imagem de fundo de uma conta na rede social X, que se acredita ser de Mangione, mostra um raio-X de uma coluna com implantes.
No entanto, não está claro quanto a experiência pessoal de Mangione com o sistema de saúde influenciou suas opiniões.
Uma pessoa com o nome e a foto dele tinha uma conta no Goodreads, um site de resenhas de livros geradas por usuários, onde leu dois livros sobre dor nas costas em 2022, sendo um deles chamado Crooked: Outwitting the Back Pain Industry ("Tortos: Superando a indústria da dor nas costas", em tradução livre).
Ele também deu quatro estrelas para um texto chamado Industrial Society and Its Future ("Sociedade Industrial e Seu Futuro"), de Theodore Kaczynski — também conhecido como O Manifesto do Unabomber.
O documento critica a vida moderna e afirma que a tecnologia estava levando os americanos a sofrer de uma sensação de alienação e impotência.
A partir de 1978, Kaczynski iniciou uma série de atentados que matou três pessoas e feriu dezenas, até ser preso em 1996.
Em sua resenha, Mangione reconheceu que Kaczynski era um indivíduo violento que matou pessoas inocentes, mas argumentou que o livro não deveria ser descartado como o manifesto de um lunático, mas sim como o trabalho de um revolucionário político extremo.
Perfis nas redes sociais que parecem dele também sugerem que Mangione havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses.
Em um post no X, de outubro, alguém marcou uma conta que se acredita ser de Mangione e escreveu: "Ei, você está bem? Ninguém tem notícias de você há meses, e aparentemente sua família está procurando por você."
O que se sabe sobre a família Mangione
A família de Mangione é conhecida em Baltimore por negócios que incluem clubes de campo, lares de idosos e uma estação de rádio, de acordo com a mídia local.
Os avós paternos do suspeito, Nicholas e Mary Mangione, eram investidores imobiliários e compraram os clubes Turf Valley Country Club em 1978 e o Hayfields Country Club, em Hunt Valley, em 1986.
Pouco depois de o suspeito ser acusado, o parlamentar estadual republicano Nino Mangione emitiu uma declaração dizendo que a família estava "chocada e devastada". Acredita-se que ele seja primo de Luigi.
"Oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedimos que as pessoas orem por todos os envolvidos", dizia a declaração, assinada como "A Família Mangione".