Wikileaks: por que Julian Assange foi solto após anos de batalhas jurídicas

Assange caminhando em pista de aeroporto

Crédito, "@wikileaks" via X/via REUTERS

Legenda da foto, O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, caminha para embarcar em um avião em um local indicado como Londres

O fundador do Wikileaks, Julian Assange, declarou-se culpado de acusações criminais nos Estados Unidos como parte de um acordo que lhe permitiu ser libertado da prisão na noite desta segunda-feira (24, no horário do Brasil).

Ele deixou uma prisão em Londres e deve seguir para seu país natal, a Austrália.

O acordo deverá ser finalizado num tribunal das Ilhas Marianas do Norte, na Micronésia, na próxima quarta-feira (26).

Assange, 52 anos, foi acusado de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional.

Durante anos, os EUA argumentaram que os documentos revelados pelo Wikileaks, os quais traziam informações sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, entre outros assuntos, colocaram vidas em perigo.

Assange passou os últimos cinco anos numa prisão britânica, de onde tem lutado contra a extradição para os EUA.

De acordo com a rede CBS, parceira da BBC nos EUA, Assange não passará nenhum tempo sob custódia dos EUA e receberá crédito pelo tempo encarcerado no Reino Unido.

As remotas ilhas do Pacífico, onde deverá ser concluído o acordo, são associadas aos EUA (parte da Commonwealth) e estão muito mais próximas da Austrália do que os tribunais federais no Havaí ou nos EUA continental.

A agência France Press citou a fala de um porta-voz do governo australiano dizendo que o caso “se arrastou por muito tempo”.

A CBS e a BBC entraram em contato com a defesa de Assange, mas não receberam posicionamento.

O réu e seus advogados há muito argumentam que o processo tem motivação política.

Em abril, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que estava analisando um pedido da Austrália para retirar o processo contra Assange.

Pessoa segura cartaz com foto de Assange, pedindo que ele não seja extraditado para os EUA

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Protesto em Londres em março desse ano pediu que Assange não fosse extraditado para os EUA
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Numa vitória no mês seguinte, o Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu que Assange poderia interpor um novo recurso contra a extradição para os EUA, permitindo-lhe desafiar as garantias dos EUA sobre a forma como o seu futuro julgamento seria conduzido e se o seu direito à liberdade de expressão seria respeitado.

Após a decisão, sua esposa Stella disse a repórteres e apoiadores que o governo Biden “deveria se distanciar deste processo vergonhoso”.

Os promotores dos EUA queriam originalmente julgar o fundador do Wikileaks por 18 acusações — a maioria sob a Lei de Espionagem — ligadas à divulgação de registros militares confidenciais e mensagens diplomáticas sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque.

O projeto Wikileaks, fundado por Assange em 2006, afirma ter revelado ao público mais de 10 milhões de documentos — no que o governo dos EUA mais tarde descreveu como “um dos maiores comprometimentos de informações confidenciais na história dos Estados Unidos”.

Em 2010, o site publicou um vídeo da ação de um helicóptero militar dos EUA na qual mais de uma dúzia de civis iraquianos e dois repórteres da agência Reuters foram mortos em Bagdá.

Uma das colaboradoras mais conhecidas de Assange, a analista de inteligência do Exército dos EUA Chelsea Manning, foi condenada a 35 anos de prisão antes do então presidente Barack Obama comutar (alterar — no caso, para diminuir) sua pena em 2017.

Assange também enfrentou outras acusações na Suécia, por violação e agressão sexual, as quais ele nega.

Ele passou sete anos escondido na embaixada do Equador em Londres, alegando que os casos na Suécia o fariam ser mandado para os EUA.

As autoridades suecas desistiram dos processos em 2019 e argumentaram que muito tempo já tinha se passado desde as denúncias originais. Mesmo assim, depois, autoridades do Reino Unido o colocaram sob custódia.

Assange foi julgado por não se entregar aos tribunais para ser extraditado para a Suécia.

Mesmo no meio de longas batalhas legais, Assange raramente foi visto em público e durante anos sofreu de problemas de saúde, incluindo um pequeno acidente vascular cerebral (AVC) na prisão em 2021.