Como proteger crianças de imagens traumáticas de guerra
- Author, Kristen Choi
- Role, The Conversation
No mundo atual, repleto de telas, muitas crianças e adolescentes têm acesso quase contínuo a conteúdos online. Estimativas dos Estados Unidos sugerem que as crianças em idade escolar passam de quatro a seis horas por dia assistindo ou usando telas.
Os adolescentes passam até nove horas por dia usando aparelhos eletrônicos.
Embora os meios de comunicação social possam abrir portas à aprendizagem e e às conexões das crianças, eles também trazem um risco de exposição à violência.
Os meios de comunicação, em particular, apresentam riscos com reportagens sobre guerra, genocídio, mortes violentas, terrorismo e sofrimento cobertas exaustivamente em um ciclo de notícias de 24 horas por dia. Pesquisas mostram que a violência e o crime recebem uma cobertura desproporcional pelos veículos de imprensa. E isso ocorre em parte porque somos atraídos por essas histórias.
Descobriu-se que manchetes de notícias negativas recebem mais engajamento e cliques do que manchetes positivas.
Hoje, na internet, crianças e adolescentes têm acesso a imagens de conflitos armados, ataques terroristas, violência policial, tiroteios em massa e homicídios. As informações violentas impressas, em vídeo ou áudio, podem ser acessadas a qualquer momento e reproduzidas repetidamente – acompanhadas de comentários, análises e enfoques que as crianças mais suscetíveis podem internalizar.
Como pesquisadora de traumas e enfermeira psiquiátrica, estudei o impacto do trauma e do trauma vicário (trauma sentido pela experiência traumática de outra pessoa) nas crianças.
Os meios de comunicação violentos e o seu enquadramento na internet não podem ser ignorados quando se trata da saúde mental das crianças. Mesmo os pais mais conhecedores desses meios não conseguem controlar totalmente o conteúdo que os seus filhos consomem ou as informações que eles internalizam.
No entanto, na minha opinião, existem medidas que podem ser tomadas para mitigar os efeitos.
Amplificando o medo
Uma tonelada de cocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
A análise de notícias oferecida por meios de comunicação pode ser útil na compreensão de alguns casos. Mas qualquer pessoa com acesso à internet pode dar a sua opinião – desde especialistas reconhecidos a adolescentes influenciadores das redes sociais. Eles podem amplificar o medo de uma criança sem contexto.
Após os ataques terroristas de 11 de Setembro nos Estados Unidos, os pesquisadores cunharam o termo “terrorismo secundário” para descrever a forma como a abordagem dos meios de comunicação social contribuiu para a percepção de ameaça e de angústia.
Como resultado da exposição a conteúdos midiáticos violentos e às abordagens que os acompanham, as crianças podem desenvolver uma visão distorcida do mundo como um lugar perigoso e hostil. Isso, por sua vez, pode causar ansiedade e prejudicar a capacidade delas de confiar e interagir com o mundo.
Também pode prejudicar o sentimento de segurança e proteção das crianças, dificultando-lhes o desenvolvimento de um sentimento de otimismo.
Estudos revelaram risco de dessensibilização, medo, ansiedade, perturbações do sono, agressão e sintomas de stress traumático entre crianças, associados à exposição a conteúdos de mídia violentos nas suas diversas formas.
Como os pais podem reagir?
Os pais precisam equilibrar duas propriedades opostas.
Por um lado, é importante criar filhos que sejam cidadãos informados, cultivando competências adequadas à idade para se envolverem criticamente com os acontecimentos e as injustiças no mundo. Existe a realidade devastadora dos tiroteios em massa em escolas e outros locais públicos que representam ameaças reais para as crianças, assim como os conflitos armados e os ataques terroristas em muitas partes do mundo.
Por outro lado, os pais devem monitorar o consumo de meios de comunicação para reduzir a exposição à violência e a internalização de perspectivas baseadas no medo sobre eventos que prejudicam o bem-estar psicológico das crianças.
Pais, avós, professores e outros líderes adultos nas comunidades podem tomar medidas para atingir esse delicado equilíbrio. Eles devem oferecer uma fonte consistente de segurança e contexto nas vidas das crianças, repletas de fontes de informação.
Em primeiro lugar, é importante que os adultos promovam o pensamento crítico sobre o que as crianças veem e ouvem na internet e nos meios de comunicação.
As crianças e adolescentes devem participar de conversas adequadas à sua idade sobre o que estão testemunhando e o contexto dos acontecimentos violentos, especialmente quando ocorrem perto da casa delas. Conversas abertas, exploração de sentimentos e validação das experiências de tristeza, preocupação, raiva ou medo das crianças podem promover um diálogo atencioso e segurança psicológica.
Em segundo lugar, os adultos devem estar atentos ao estabelecimento de limites no consumo de meios de comunicação e à monitorização dos conteúdos aos quais as crianças estão expostas. Assistir ou ouvir os assuntos juntos e criar espaço para discussão pode oferecer às crianças apoio para compreender conteúdos noticiosos difíceis e permite que os pais monitorem como a criança reage a eles.
Finalmente, os adultos devem ser modelos de comunicação para os filhos. As crianças frequentemente copiam o comportamento dos pais e de outros adultos. Nossos próprios hábitos de consumo de mídia, reações e capacidade de equilibrar a vida online com atividades positivas na vida real falam muito para as crianças.
Com a violência mundial nas mãos de crianças e adolescentes, é responsabilidade dos adultos orientá-las para uma compreensão diferenciada do mundo, ao mesmo tempo que proporcionam uma segurança psicológica.
É essencial promover o pensamento crítico, estabelecer limites e modelar o consumo responsável de mídia.
Essas ações dos adultos podem capacitar a próxima geração a navegar num mundo cada vez mais complexo e interligado com empatia, resiliência emocional e pensamento crítico.
*Kristen Choi é professora-assistente de enfermagem e saúde pública na Universidade da Califórnia, em Los Angeles