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O descanso do Mané Fala Ó

Uma das personalidades mais emblemáticas do centro de Campinas, Mané Fala Ó morreu atropelado no dia 23 de dezembro de 2003

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Fala Ó! Não precisa de muita observação para perceber que o hábito de saudar alguém está em total em desuso.

Nem sei se isso é um dado da atualidade, que atesta que nos tratamos cada vez mais com indiferença, ou se nossos universos guardados em celulares são mais cativos do que a realidade ou, ainda, se ficamos mais mal-educados, mesmo.

Claro, em campos visuais a gente se vê, mas não se enxerga. Para mim, ver é um ato ligado à situação geográfica. Vejo algo ali que até pode ser alguém, mas como não é alguém para mim, logo volta a ser só algo.
Enxergar é mais conectivo, interpretativo e generoso. É um tipo de ver além, como se enxergar nos conferisse certa condição de comunidade.

Precisava dessa filosofada fajuta para falar de um cara que enxergava e que, por enxergar, também queria ser enxergado. Esse cara se chamava João Lopes de Camargo e foi onipresente no centro de Campinas dos anos 1940 até 2003.

Quem foi Mané Fala Ó?

A geração que não assistiu ao Brasil ser campão da Copa do Mundo de 1994, não teve a oportunidade de conhecer o “Mané Fala Ó”. Filho de Antonio Lopes e Maria Alves, João nasceu no dia 23 de junho de 1931, em Campinas.

Dizem que ele teve uma intercorrência médica em seus primeiros dias de vida, o que fez ter uma relação com vida diferente. Por décadas ele vendeu jornal e prestava serviços aos lojistas do Centro de Campinas, quando o Centro era o centro de tudo.

O “fala Ó” do Mané diz respeito a uma forma muito campineira de se cumprimentar. Em Campinas ninguém falava “Oi”, só se falava “Ó”. E a “brisa” do mané era pedir que as moças lhe dissessem “Ó”.

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Era insistente e as moças que não conheciam o mais famoso personagem das ruas de Campinas no século XX, se assustavam e corriam, com mané no encalço, pedindo que elas dissessem “Ó” para ele.

Mas, era só isso:

-Menina, fala ó pra mim!

Falado o “Ó’ ele seguia seu rumo.

Não existia qualquer outro interesse de Mané para com as moças, a não ser o “Ó” literal.
O tempo foi passando e, com o avanço da idade, Mané parou de pedir e passou a receber pedidos para que dissesse “Ó.

A figura foi atropelada por um Monza. Mané não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 23 de dezembro de 2023.

João Lopes de Camargo foi sepultado no Cemitério da Saudade de Campinas, junto ao Mané e o cumprimento mais Campineiro da história.

Virou samba, enredo e inspiração para outras manifestações artísticas. Passou um tempinho sumido, mas hoje ele ressurgiu no Cemitério da Saudade, com uma placa que destaca sua presença e memória.

E se alguém for lá, já sabe como cumprimentá-lo, né?!

Quem é Thiago de Souza?

Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas cidades de Campinas e Piracicaba. Tem mais histórias assombrosas no Tudo EP (clique aqui pra acessar).

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Marcos André Andrade
Marcos André Andrade
Marcos André Andrade é formado em jornalismo pela Unesp e pós-graduado em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pelo Senac. No Grupo EP desde 2022, é editor do Tudo EP e foi repórter do acidade on Campinas. Tem passagens pela Band Campinas, Rádio Bandeirantes de Campinas e Rádio Band News de Campinas, onde desempenhou as funções de âncora, editor, produtor e repórter.
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