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Lazer e culturaProjeto "O que te Assombra?"Conheça a Santinha de Jacuba, de Hortolândia

Conheça a Santinha de Jacuba, de Hortolândia

Thiago de Souza conta a história de Apolônia Felissetti Pereira, a Santinha de Jacuba; jovem ganhou a mídia nacional na década de 1930

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Você já ouviu falar sobre a Santinha de Jacuba, de Hortolândia (SP)? É difícil não criar hipóteses conspiratórias para desacreditar a ideia de que a história que contarei a vocês não foi escondida no tempo por algum motivo ou interesse.

Quem foi a Santinha de Jacuba?

Primeiro, é importante dizer que a protagonista dessa incrível epopeia, para seus devotos e para os órgãos de imprensa da época, não era Apolônia Felissetti, mas sim Maria Appolonia de Jesus, a Santinha de Jacuba.

Ela vivia na zona rural, em um local conhecido por dois nomes: Sítio da Serra ou Sítio dos Rodrigues, aliás, a denominação “Santinha de Jacuba” vem da localização geográfica de sua casa, já que o bairro rural onde vivia era chamado Jacuba, pela proximidade do Ribeirão Jacuba.

À época dos acontecimentos, o território pertencia ao município de Campinas, que depois passou a pertencer à Cidade de Sumaré nos anos 1950, para só nos anos 1990, após emancipação, virar o Município de Hortolândia.

Premonições e curas

Relatos dão conta de que Apolônia, após completar 12 anos, começou a ter premonições muito precisas.
Além disso, apenas com orações curou sua mãe de terríveis dores abdominais.

Não demorou para que a menina que caminhava para a puberdade começasse a ser procurada por pessoas enfermas, para que as ajudasse a aliviar suas angústias.

Sempre muito atenciosa, Apolônia atendia vizinhos que, a cada graça alcançada, expandiam sua fama milagrosa pelas cidades da região de Campinas.

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Dizia-se que Apolônia abençoava seus assistidos com águas de uma nascente do Ribeirão Jacuba, sempre benzidas por ela.

Mesmo com tanta gratidão de seus devotos, a jovem milagreira fazia questão de dizer que nada fazia e que era apenas um instrumento das ações de Nossa Senhora Aparecida.

Fama nacional

Milagreira foi notícia em jornais de todo o Brasil (Foto: Reprodução)

Não demorou para a fama da menina milagreira ultrapassar as fronteiras da antiga Campinas.

Ela se tornou conhecida em todo o Estado de São Paulo, mas houve uma ocasião marcante para uma massiva divulgação de seus poderes milagrosos para todo o país.

No domingo de Páscoa de 1930, ao que se sabe, uma multidão foi saudar Apolônia em sua casa. Em tom messiânico, a Santinha recebeu a multidão com um vestido branco limpíssimo, pés descalços, e expôs que estava trabalhando sob instruções de Nossa Senhora Aparecida.

Essa manifestação gigante de fé de seus devotos foi tão bombástica, que virou notícia no Brasil inteiro.

Para se ter ideia, no dia 22 de abril de 1930, uma matéria sobre a história foi publicada no jornal carioca “Crítica”. Esse jornal do Rio de Janeiro pertencia ao jornalista Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues, e de Mário Filho, também jornalista e que simplesmente batiza o Maracanã.

É bom dizer que grupos de comunicação de várias partes do Brasil mandaram correspondentes para cobrirem a história sobrenatural na cidade de Campinas.

Mas…

Perseguição

A existência de uma menina com dons sobrenaturais não agradou todo mundo. A família humilde de Maria Appolônia começou a ser observada com suspeição pelas autoridades judiciais e administrativas da cidade.

Os pais da Santinha, Miguel e Antônia, começaram a ser chamados de charlatões e mercenários, sob o argumento de que cobravam os atendimentos feitos pela divina menina. É bom dizer que não há qualquer indício destas acusações nos relatos de devotos. Também não há registros de mudanças no padrão de vida da família, ao menos enquanto a Santinha estava ativa em seus atendimentos.

Ao contrário, o que se diz é que a vida dos familiares continuou a mesma, apesar da revelação miraculosa que cercaram a vida da Filha.

Mas os apelos populares não impediram as autoridades de Campinas em empreenderem uma busca incessante pela menina.

Diante de um suposto aviso de Nossa Senhora Aparecida à garota, ela informou os pais o que ocorreria e, por medida de cautela, seus genitores decidiram escondê-la na casa de uma vizinha.

Segundo a garota, Nossa Senhora teria lhe dito o seguinte:

A tua missão vai ser interrompida.

Terás que abandonar os teus enfermos, porque os homens que não acreditam nos milagres de tua fé, vão te arrancar do convívio dos teus!

Terás que deixá-los. Amanhã pela manhã, eles te levaram daqui

Suposta previsão da Santinha de Jacuba

Em 23 de abril de 1930, o pai da menina foi preso após uma infrutífera busca pela menor em sua casa, no sítio da família. Na diligência no sítio vizinho, intimidado pela possibilidade de prisão, o proprietário da área decidiu entregar Apolônia às autoridades, que mantiveram a menina de 12 anos presa por 6 meses em duas instituições religiosas.

O que aconteceu com a santinha?

Embora a história tenha muito lastro jornalístico, não há registros sobre Apolônia no Colégio Ave Maria, instituição que tomou lugar do Patronato São Francisco, última instituição que Maria ficou recolhida, ao menos, que se tem notícia.

Popularmente, dizem que a Apolônia viveu até o ano de 1994, quando faleceu, na região do Taquara Branca, entre Hortolândia e Nova Odessa, sendo enterrada no segundo município.

Eu fui até o cemitério municipal de Nova Odessa e encontrei o local de sepultamento da Santinha de Jacuba que, diferente do nome atribuído à sua persona divina, foi registrada nos livros de óbito com seu nome civil: Apolônia Felissetti Pereira.

A menina que nasceu no dia 07 de janeiro de 1918 e a quem se atribui centenas de graças alcançadas, cresceu no quase absoluto anonimato e morreu idosa em 20 de setembro de 1994.

Não há mausoléu e nem sequer um túmulo, ainda que simples.

No Cemitério Municipal de Nova Odessa, ninguém conhecia a incrível história guardada no túmulo 1026 da quadra 4, que mobilizou a imprensa do país e o imaginário do povo brasileiro nos anos 1930.

Quem é Thiago de Souza

Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas cidades de Campinas e Piracicaba. Tem mais histórias assombrosas no Tudo EP (clique aqui pra acessar).

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Thiago Souza | Colunista
Thiago Souza | Colunista
Você tem medo de quê? Thiago de Souza que é compositor, escritor, roteirista, humorista, colunista do acidade on e idealizador do projeto “O que te Assombra?” conhecido por fazer passeios noturnos ‘assombrosos’ pela cidade. Nesse espaço vai trazer um pouco das histórias de 'fantasmas' da cidade. Imaginário popular, lendas urbanas ou folclore local? Confira as principais que permeiam o imaginário da população.
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