ESPECIAL DE NATAL – A tatuagem eterniza na pele da esteticista Pamela Morais Bego, de 39 anos, como foi a gestação do filho Loui: “um dia de cada vez”. Sete meses difíceis, de dúvidas, medo, esperança, mas, acima de tudo, de muito amor.
Nesta semana, o acidade on Araraquara publica o especial NATAL DO reNASCIMENTO, com histórias de quem renasceu, e renasce, diante dos obstáculos da vida e, hoje, são exemplos de superação.
Como um presente de Natal inesperado, mas muito desejado, Pamela e o marido, Amadeu Moura Bego, de 44, descobriram no dia 24 de dezembro de 2020, há exatamente quatro anos, que o pequeno estava a caminho.
“Tanto para mim, quanto para o Amadeu e toda a família, foi muito bem-vindo, a maior alegria da nossa vida, porque, embora tenha sido inesperada a situação, ele já era uma criança esperada”, lembra.
A gestação evoluía tranquila. Foi assim até o segundo exame morfológico, realizado no quinto mês, apontar uma alteração, uma doença rara, chamada de hidropsia fetal, que provoca acúmulo de fluidos nos tecidos e órgãos, gerando edemas.
“O que aconteceu com o meu bebê foi um caso atípico, que poderia acontecer com qualquer outra família. Sabe aquela probabilidade que, entre tantas mulheres, uma vai ter uma criança assim? Eu fui a escolhida. Ele teve Síndrome de Down muito severa, que acometeu a hidropsia. Geralmente, quando as duas coisas acontecem juntas, os bebês não conseguem passar de 25 semanas de gestação”, conta.
Do diagnóstico, que foi longo e demorado, até a certeza da despedida, foram dois meses. Certa noite, em casa, Pamela, o marido e o filho transformaram a dor da iminente partida em um momento de afeto e amor em família.
“A gente está chorando por um luto que ainda não aconteceu. O bebê está aqui, está vivo, nós somos os pais dele. Vamos aproveitar hoje, independente de ele morrer ou não. Então, foi um processo que a gente curtiu e, ao mesmo tempo, foi se despedindo”, lembra.
Loui lutou bravamente até o seu coraçãozinho desacelerar lentamente. “Para mim, ele veio nesse plano só para se sentir amado, e ele se sentiu amado dentro da minha barriga”, se emociona.
Como forma de eternizar e manter a lembrança do filho sempre viva, as cinzas e a placenta de Loui foram colocadas aos pés de uma enorme paineira, plantada há quase 15 anos pelo casal em frente à casa da família, no Jardim Cambuy, em Araraquara.
“Eu sinto que meu filho está ali, que meu filho é pertencente a esse mundo. Meu filho, mesmo que não tenha nascido com vida, ele tem uma história. Quando eu vejo crianças brincando ali, tenho a sensação de que estão brincando com meu filho”, conta.
O terreno se transformou em uma praça, que recebeu o nome de Loui Morais Bego, inaugurada neste ano e dedicada a pais e mães que perderam seus filhos na gravidez ou no neonatal, assim como Pamela, Amadeu e tantas outras famílias, que fazem parte do grupo Transformação.
“Eu quero que as pessoas se sintam acolhidas aqui, pertencentes a este espaço, sintam que seu filho é pertencente à sociedade, que ele existiu, que ele existe e que faz diferença na vida de cada um, que preenche o coração de cada um”, diz.
Após a perda do primeiro filho, o casal fez uma bateria de exames, que não apontaram qualquer incompatibilidade genética. Hoje, além do Loui, o casal também é pai do Liam, que nasceu com uma diferença de dois anos e meio do irmão.
“O Loui me despertou uma maternidade que eu não sabia que existia dentro de mim. Então, quando o Liam veio, realmente, foi uma mistura de sentimentos, de alegria e medo. Não se substitui um filho pelo outro. É o filho que eu tanto amei, que eu amo. Ainda tem o luto até hoje, mas eu venho trabalhando e ressignificando de várias formas”, conclui.