Fisiculturismo

o estudo aqui apresentado é resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica,
e tem como objetivo compreender a relação existente entre a construção dos corpos das atletas de
fisiculturismo e o mercado de consumo voltado para o corpo. O objeto do estudo é a lógica do risco
na construção das práticas corporais entre as atletas desse esporte. Essas mulheres buscam, através
de seus corpos, elaborar projetos individuais, que se apóiam no desafio de limites físicos pessoais, e
construir marcas de diferenciação pessoal. A pesquisa foi realizada no ciberespaço, em páginas
pessoais das atletas e comunidades do Orkut que reúnem praticantes do fisiculturismo e discutem
treinos, dietas e o uso de esteróides anabolizantes. A discussão teórica se apóia na Antropologia do
Corpo, principalmente nos trabalhos de Le Breton.

O trabalho propõe uma alternativa discursiva acerca do fisiculturismo, utilizando como base as obras Sol e aço (1968) do artista japonês Yukio Mishima (1925-1970) e A construção de um corpo pornográfico (2005) da artista belga Nathalie Gassel (1964). Ambos defendem a prática fisiculturista como processo artístico. Por meio da literatura e da modelagem do corpo esses artistas buscam lidar com a dicotomia corpo/mente, evidenciando a hierarquia entre os ações intelectuais e as corporais. A medida em que essas práticas se tornam uma via de experimentação para eles, o estudo de suas obras possibilita o contato com discursos não hegemônicos sobre o corpo, demonstrando uma percepção subjetiva e artística do fisiculturismo. Mishima e Gassel defendem a si mesmos como esculturas, como obras de arte. Tal entendimento potencializa a aproximação entre o esporte e a arte, em que as relações “artista-obra” e “atleta-corpo” se tornam evidentes, e traz uma reflexão da construção social do gênero, assumindo o fisiculturismo como ferramenta subversiva aos modelos preconcebidos de feminilidade e masculinidade.

O artigo pretende investigar a apropriação do fisiculturismo como processo artístico realizada por Yukio Mishima (Japão, 1925–1970) e Nathalie Gassel (Bélgica, 1964).  Por meio de suas práticas corporais e de suas obras literárias — Sol e aço (1968) e A construção de um corpo pornográfico (2005) — é possível a análise de um discurso artístico fora de um espaço institucionalizado. O intuito principal desses artistas é o questionamento do lugar do corpo na prática intelectual. Ao buscarem o fim da dicotomia entre corpo e mente eles possibilitam o entendimento do fisiculturismo em consonância com arte e filosofia; redefinem as fronteiras até então “supostamente” demarcadas dessa prática e contestam a noção de artístico pré-estabelecida e historicamente sedimentada. Articulam uma prática não inserida no meio da arte e a permeiam de conceitos filosóficos, instaurando a impossibilidade de demarcar, em suas produções, uma separação entre arte e vida.

Esta dissertação parte da investigação das obras Sol e aço (1968), do artista japonês Yukio Mishima (1925-1970), e A construção de um corpo pornográfico (2005) da artista belga Nathalie Gassel (1964). Ambos praticaram o fisiculturismo enquanto processo artístico a fim de construir uma obra de arte orgânica. Por meio da literatura, eles reconfiguraram essa prática e produziram um sentido de criação particular para ela. Em diálogo com estas obras, são utilizados conceitos e perspectivas provenientes das artes, da literatura, das ciências sociais e da filosofia, visando compreender como o trabalho desses artistas que têm por base o fisiculturismo pode problematizar as abordagens sobre o culto ao corpo e sua utilização como forma de arte.

Esta dissertacao parte da investigacao das obras Sol e aco (1968), do artista japones Yukio Mishima (1925-1970), e A construcao de um corpo pornografico (2005) da artista belga Nathalie Gassel (1964). Ambos praticaram o fisiculturismo enquanto processo artistico a fim de construir uma obra de arte orgânica. Por meio da literatura, eles reconfiguraram essa pratica e produziram um sentido de criacao particular para ela. Em dialogo com estas obras, sao utilizados conceitos e perspectivas provenientes das artes, da literatura, das ciencias sociais e da filosofia, visando compreender como o trabalho desses artistas que tem por base o fisiculturismo pode problematizar as abordagens sobre o culto ao corpo e sua utilizacao como forma de arte.

Ao longo dos anos, as mulheres foram adentrando espaços profissionais anteriormente ocupados exclusivamente por homens. O século XX trouxe um avanço muito importante na inserção de mulheres tanto no mercado de trabalho quanto na atuação em esportes. As mulheres atletas, e especialmente as do fisiculturismo, são vistas como desafiadoras das noções de feminilidade normativa devido à prática de esportes; porém, atributos como feminilidade, graciosidade e delicadeza são critérios de avaliação das atletas nas competições organizadas pelas federações de fisiculturismo, sendo, portanto, constitutivas do esporte nas categorias femininas. Além disso, essas atletas são constantemente confrontadas com dificuldades impostas à sua atuação no esporte, desde a falta de patrocínio até medidas das próprias confederações para limitar o volume muscular desenvolvido por elas.