2020 – Estado da Questão
Coordenação editorial: José Morais Arnaud, César Neves e Andrea Martins
Design gráfico: Flatland Design
AAP – ISBN: 978-972-9451-89-8
CITCEM – ISBN: 978-989-8970-25-1
Associação dos Arqueólogos Portugueses e CITCEM
Lisboa, 2020
O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. Sendo assim a Associação dos
Arqueólogos Portugueses declina qualquer responsabilidade por eventuais equívocos ou questões
de ordem ética e legal.
Desenho de capa:
Planta do castro de Monte Mozinho (Museu Municipal de Penafiel).
Apoio:
Índice
15
Prefácio
José Morais Arnaud
1. Historiografia e Teoria
17
Território, comunidade, memória e emoção: a contribuição da história da arqueologia
(algumas primeiras e breves reflexões)
Ana Cristina Martins
25
Como descolonizar a arqueologia portuguesa?
Rui Gomes Coelho
41
Arqueologia e Modernidade: uma revisitação pessoal e breve de alguns aspetos da obra
homónima de Julian Thomas de 2004
Vítor Oliveira Jorge
57
Dados para a História das Mulheres na Arqueologia portuguesa, dos finais do século XIX
aos inícios do século XX: números, nomes e tabelas
Filipa Dimas / Mariana Diniz
73
Retractos da arqueologia portuguesa na imprensa: (in)visibilidades no feminino
Catarina Costeira / Elsa Luís
85
Arqueologia e Arqueólogos no Norte de Portugal
Jacinta Bugalhão
101
Vieira Guimarães (1864-1939) e a arqueologia em Tomar: uma abordagem sobre
o território e as gentes
João Amendoeira Peixoto / Ana Cristina Martins
115
Os memoráveis? A arqueologia algarvia na imprensa nacional e regional na presente
centúria (2001-2019): características, visões do(s) passado(s) e a arqueologia
enquanto marca
Frederico Agosto / João Silva
129
A Evolução da Arqueologia Urbana e a Valorização Patrimonial no Barlavento Algarvio:
Os casos de Portimão e Silves
Artur Mateus / Diogo Varandas / Rafael Boavida
2. Gestão, Valorização e Salvaguarda do Património
145
O Caderno Reivindicativo e as condições de trabalho em Arqueologia
Miguel Rocha / Liliana Matias Carvalho / Regis Barbosa / Mauro Correia / Sara Simões / Jacinta
Bugalhão / Sara Brito / Liliana Veríssimo Carvalho / Richard Peace / Pedro Peça / Cézer Santos
155
Os Estudos de Impacte Patrimonial como elemento para uma estratégia sustentável
de minimização de impactes no âmbito de reconversões agrícolas
Tiago do Pereiro
165
Salvaguarda de Património arqueológico em operações florestais: gestão e sensibilização
Filipa Bragança / Gertrudes Zambujo / Sandra Lourenço / Belém Paiva / Carlos Banha / Frederico Tatá
Regala / Helena Moura / Jacinta Bugalhão / João Marques / José Correia / Pedro Faria / Samuel Melro
179
Os valores do Património: uma investigação sobre os Sítios Pré-históricos de Arte
Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde
José Paulo Francisco
189
Conjugando recursos arqueológicos e naturais para potenciar as visitas ao Geoparque
Litoral de Viana do Castelo (Noroeste de Portugal)
Hugo A. Sampaio / Ana M.S. Bettencourt / Susana Marinho / Ricardo Carvalhido
203
Áreas de Potencial Arqueológico na Região do Médio Tejo: Modelo Espacial Preditivo
Rita Ferreira Anastácio / Ana Filipa Martins / Luiz Oosterbeek
223
Património Arqueológico e Gestão Territorial: O contributo da Arqueologia para
a revisão do PDM de Avis
Ana Cristina Ribeiro
237
A coleção arqueológica do extinto Museu Municipal do Porto – Origens, Percursos
e Estudos
Sónia Couto
251
Valpaços – uma nova carta arqueológica
Pedro Pereira / Maria de Fátima Casares Machado
263
Arqueologia na Cidade de Peniche
Adriano Constantino / Luís Rendeiro
273
Arqueologia Urbana: a cidade de Lagos como caso de Estudo
Cátia Neto
285
Estratégias de promoção do património cultural subaquático nos Açores. O caso
da ilha do Faial
José Luís Neto / José Bettencourt / Luís Borges / Pedro Parreira
297
Carta Arqueológica da Cidade Velha: Uma primeira abordagem
Jaylson Monteiro / Nireide Tavares / Sara da Veiga / Claudino Ramos / Edson Brito /
Carlos Carvalho / Francisco Moreira / Adalberto Tavares
311
Antropologia Virtual: novas metodologias para a análise morfológica e funcional
Ricardo Miguel Godinho / Célia Gonçalves
3. Didáctica da Arqueologia
327
Como os projetos de Arqueologia podem contribuir para uma comunidade
culturalmente mais consciente
Alexandra Figueiredo / Claúdio Monteiro / Adolfo Silveira / Ricardo Lopes
337
Educação Patrimonial – Um cidadão esclarecido é um cidadão ativo!
Ana Paula Almeida
351
A aproximação da Arqueologia à sala de aula: um caso de estudo no 3º ciclo
do Ensino Básico
Luís Serrão Gil
363
Arqueologia 3.0 – Pensar e comunicar a Arqueologia para um futuro sustentável
Mónica Rolo
377
“Conversa de Arqueólogos” – Divulgar a Arqueologia em tempos de Pandemia
Diogo Teixeira Dias
389
Escola Profissional de Arqueologia: desafios e oportunidades
Susana Nunes / Dulcineia Pinto / Júlia Silva / Ana Mascarenhas
399
Os Museus de Arqueologia e os Jovens: a oferta educativa para o público adolescente
Beatriz Correia Barata / Leonor Medeiros
411
O museu universitário como mediador entre a ciência e a sociedade: o exemplo
da secção de arqueologia no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade
do Porto (MHNC-UP)
Rita Gaspar
421
Museu de Lanifícios: Real Fábrica de Panos. Atividades no âmbito da Arqueologia
Beatriz Correia Barata / Rita Salvado
427
Arqueologia Pública e o caso da localidade da Mata (Torres Novas)
Cláudia Manso / Ana Rita Ferreira / Cristiana Ferreira / Vanessa Cardoso Antunes
431
Do sítio arqueológico ao museu: um percurso (também) didático
Lídia Fernandes
447
Estão todos convidados para a Festa! E para dançar também… O projecto do Serviço
Educativo do Museu Arqueológico do Carmo na 5ª Edição da Festa da Arqueologia
Rita Pires dos Santos
459
O “Clã de Carenque”, um projeto didático de arqueologia
Eduardo Gonzalez Rocha
469
Mediação cultural: peixe que puxa carroça nas Ruínas Romanas de Troia
Inês Vaz Pinto / Ana Patrícia Magalhães / Patrícia Brum / Filipa Santos
481
Didática Arqueológica, experiências do Projeto Mértola Vila Museu
Maria de Fátima Palma / Clara Rodrigues / Susana Gómez / Lígia Rafael
4. Arte Rupestre
497
Os inventários de arte rupestre em Portugal
Mila Simões de Abreu
513
O projeto FIRST-ART – conservação, documentação e gestão das primeiras manifestações
de arte rupestre no Sudoeste da Península Ibérica: as grutas do Escoural e Maltravieso
Sara Garcês / Hipólito Collado / José Julio García Arranz / Luiz Oosterbeek / António Carlos Silva /
Pierluigi Rosina / Hugo Gomes / Anabela Borralheiro Pereira / George Nash / Esmeralda Gomes /
Nelson Almeida / Carlos Carpetudo
523
Trabalhos de documentação de arte paleolítica realizados no âmbito do projeto
PalæoCôa
André Tomás Santos / António Fernando Barbosa / Luís Luís / Marcelo Silvestre / Thierry Aubry
537
Imagens fantasmagóricas, silhuetas elusivas: as figuras humanas na arte do Paleolítico
Superior da região do Côa
Mário Reis
551
Os motivos zoomórficos representados nas placas de tear de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal)
Andrea Martins / César Neves / José M. Arnaud / Mariana Diniz
571
Arte Rupestre do Monte de Góios (Lanhelas, Caminha). Síntese dos resultados dos
trabalhos efectuados em 2007-2009
Mário Varela Gomes
599
Gravuras rupestres de barquiformes no Monte de S. Romão, Guimarães, Noroeste
de Portugal
Daniela Cardoso
613
Círculos segmentados gravados na Bacia do Rio Lima (Noroeste de Portugal):
contributos para o seu estudo
Diogo Marinho / Ana M.S. Bettencourt / Hugo Aluai Sampaio
631
Equídeos gravados no curso inferior do Rio Mouro, Monção (NW Portugal).
Análise preliminar
Coutinho, L.M. / Bettencourt, A.M.S / Sampaio, Hugo A.S
645
Paletas na Arte Rupestre do Noroeste de Portugal. Inventário preliminar
Bruna Sousa Afonso / Ana M. S. Bettencourt / Hugo A. Sampaio
5. Pré-História
661
O projeto Miño/Minho: balanço de quatro anos de trabalhos arqueológicos
Sérgio Monteiro-Rodrigues / João Pedro Cunha-Ribeiro / Eduardo Méndez-Quintas / Carlos Ferreira /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
677
A ocupação paleolítica da margem esquerda do Baixo Minho: a indústria lítica do sítio
de Pedreiras 2 (Monção, Portugal) e a sua integração no contexto regional
Carlos Ferreira / João Pedro Cunha-Ribeiro / Sérgio Monteiro-Rodrigues / Eduardo Méndez-Quintas /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
693
O sítio acheulense do Plistocénico médio da Gruta da Aroeira
Joan Daura / Montserrat Sanz / Filipa Rodrigues / Pedro Souto / João Zilhão
703
As sociedades neandertais no Barlavento algarvio: modelos preditivos com recurso
aos SIG
Daniela Maio
715
A utilização de quartzo durante o Paleolítico Superior no território dos vales dos rios
Vouga e Côa
Cristina Gameiro / Thierry Aubry / Bárbara Costa / Sérgio Gomes / Luís Luís / Carmen Manzano /
André Tomás Santos
733
Uma perspetiva diacrónica da ocupação do concheiro do Cabeço da Amoreira (Muge,
Portugal) a partir da tecnologia lítica
Joana Belmiro / João Cascalheira / Célia Gonçalves
745
Novos dados sobre a Pré-história Antiga no concelho de Palmela. A intervenção
arqueológica no sítio do Poceirão I
Michelle Teixeira Santos
757
Problemas em torno de Datas Absolutas Pré-Históricas no Norte do Alentejo
Jorge de Oliveira
771
Povoamento pré-histórico nas áreas montanhosas do NO de Portugal: o Abrigo 1
de Vale de Cerdeira
Pedro Xavier / José Meireles / Carlos Alves
783
Apreciação do povoamento do Neolítico Inicial na Baixa Bacia do Douro. A Lavra I
(Serra da Aboboreira) como caso de estudo
Maria de Jesus Sanches
797
O Processo de Neolitização na Plataforma do Mondego: os dados do Sector C do Outeiro
dos Castelos de Beijós (Carregal do Sal)
João Carlos de Senna-Martinez / José Manuel Quintã Ventura / Andreia Carvalho / Cíntia Maurício
823
Novos trabalhos na Lapa da Bugalheira (Almonda, Torres Novas)
Filipa Rodrigues / Pedro Souto / Artur Ferreira / Alexandre Varanda / Luís Gomes / Helena Gomes /
João Zilhão
837
A pedra polida e afeiçoada do sítio do Neolítico médio da Moita do Ourives
(Benavente, Portugal)
César Neves
857
Casal do Outeiro (Encarnação, Mafra): novos contributos para o conhecimento
do povoamento do Neolítico final na Península de Lisboa.
Cátia Delicado / Carlos Maneira e Costa / Marta Miranda / Ana Catarina Sousa
873
Stresse infantil, morbilidade e mortalidade no sítio arqueológico do Neolítico Final/
Calcolítico (4º e 3º milénio a.C.) do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo, Beja)
Liliana Matias de Carvalho / Sofia N. Wasterlain
885
Come together: O Conjunto Megalítico das Motas (Monção, Viana do Castelo) e as
expressões Campaniformes do Alto Minho
Ana Catarina Basílio / Rui Ramos
899
Trabalhos arqueológicos no sítio Calcolítico da Pedreira do Poio
Carla Magalhães / João Muralha / Mário Reis / António Batarda Fernandes
913
O sítio arqueológico de Castanheiro do Vento. Da arquitectura do sítio à arquitectura
de um território
João Muralha Cardoso
925
Estudo zooarqueológico das faunas do Calcolítico final de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal): Campanhas de 2017 e 2018
Cleia Detry / Ana Catarina Francisco / Mariana Diniz / Andrea Martins / César Neves /
José Morais Arnaud
943
As faunas depositadas no Museu Arqueológico do Carmo provenientes de Vila Nova
de São Pedro (Azambuja): as campanhas de 1937 a 1967
Ana Catarina Francisco / Cleia Detry / César Neves / Andrea Martins / Mariana Diniz /
José Morais Arnaud
959
Análise funcional de material lítico em sílex do castro de Vila Nova de S. Pedro
(Azambuja, Portugal): uma primeira abordagem
Rafael Lima
971
O recinto da Folha do Ouro 1 (Serpa) no contexto dos recintos de fossos calcolíticos
alentejanos
António Carlos Valera / Tiago do Pereiro / Pedro Valério / António M. Monge Soares
6. Proto-História
987
Produção de sal marinho na Idade do Bronze do noroeste Português. Alguns dados
para uma reflexão
Ana M. S. Bettencourt / Sara Luz / Nuno Oliveira / Pedro P. Simões / Maria Isabel C. Alves /
Emílio Abad-Vidal
1001
A estátua-menir do Pedrão ou de São Bartolomeu do Mar (Esposende, noroeste de Portugal)
no contexto arqueológico da fachada costeira de entre os rios Neiva e Cávado
Ana M. S. Bettencourt / Manuel Santos-Estévez / Pedro Pimenta Simões / Luís Gonçalves
1015
O Castro do Muro (Vandoma/Baltar, Paredes) – notas para uma biografia de ocupação
da Idade do Bronze à Idade Média
Maria Antónia D. Silva / Ana M. S. Bettencourt / António Manuel S. P. Silva / Natália Félix
1031
Do Bronze Final à Idade Média – continuidades e hiatos na ocupação de Povoados
em Oliveira de Azeméis
João Tiago Tavares / Adriaan de Man
1041
As faunas do final da Idade do Bronze no Sul de Portugal: leituras desde o Outeiro
do Circo (Beja)
Nelson J. Almeida / Íris Dias / Cleia Detry / Eduardo Porfírio / Miguel Serra
1055
A Espada do Monte das Oliveiras (Serpa) – uma arma do Bronze Pleno do Sudoeste
Rui M. G. Monge Soares / Pedro Valério / Mariana Nabais / António M. Monge Soares
1065
São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha) - Investigação e valorização de um povoado
do Bronze Final
António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Sara Almeida e Silva / Edite Martins de Sá
1083
Do castro de S. João ao Mosteiro de Santa Clara: notícia de uma intervenção arqueológica,
em Vila do Conde
Rui Pinheiro
1095
O castro de Ovil (Espinho), um quarto de século de investigação – resultados e questões
em aberto
Jorge Fernando Salvador / António Manuel S. P. Silva
1111
O Castro de Salreu (Estarreja), um povoado proto-histórico no litoral do Entre Douro
e Vouga
Sara Almeida e Silva / António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Edite Martins de Sá
1127
Castro de Nossa Senhora das Necessidades (Sernancelhe): uma primeira análise artefactual
Telma Susana O. Ribeiro
1141
A cividade de Bagunte. O estado atual da investigação
Pedro Brochado de Almeida
1153
Zoomorfos na cerâmica da Idade do Ferro no NW Peninsular: inventário, cronologias
e significado
Nuno Oliveira / Cristina Seoane
1163
Vasos gregos em Portugal: diferentes maneiras de contar a história do intercâmbio
cultural na Idade do Ferro
Daniela Ferreira
1175
Os exotica da necrópole da Idade do Ferro do Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer
do Sal) no seu contexto regional
Francisco B. Gomes
7. Antiguidade Clássica e Tardia
1191
O uso de madeira como combustível no sítio da Quinta de Crestelos (Baixo Sabor):
da Idade do Ferro à Romanização
Filipe Vaz / João Tereso / Sérgio Simões Pereira / José Sastre / Javier Larrazabal Galarza /
Susana Cosme / José António Pereira / Israel Espi
1207
Cultivos de Época Romana no Baixo Sabor: continuidade em tempos de mudança?
João Pedro Tereso / Sérgio Simões Pereira / Filipe Santos / Luís Seabra / Filipe Vaz
1221
A casa romana na Hispânia: aplicação dos modelos itálicos nas províncias ibéricas
Fernanda Magalhães / Diego Machado / Manuela Martins
1235
As pinturas murais romanas da Rua General Sousa Machado, n.º 51, Chaves
José Carvalho
1243
Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) – Uma exploração agrícola romana
do Douro
Tony Silvino / Pedro Pereira
1255
A sequência de ocupação no quadrante sudeste de Bracara Augusta: as transformações
de uma unidade doméstica
Lara Fernandes / Manuela Martins
1263
Os Mosaicos com decoração geométrica e geométrico-vegetalista dos sítios arqueológicos
da área do Conuentus Bracaraugustanus. Novas abordagens quanto à conservação,
restauro, decoração e datação
Maria de Fátima Abraços / Licínia Wrench
1277
“Casa Romana” do Castro de São Domingos (Cristelos, Lousada): Escavação, Estudo
e Musealização
Paulo André de P. Lemos
1291
A arqueobotânica no Castro de Guifões (Matosinhos, Noroeste de Portugal): O primeiro
estudo carpológico
Luís Seabra / Andreia Arezes / Catarina Magalhães / José Varela / João Pedro Tereso
1305
Um Horreum Augustano na Foz do Douro (Monte do Castelo de Gaia, Vila Nova de Gaia)
Rui Ramos
1311
Ponderais romanos na Lusitânia: padrões, formas, materiais e contextos de utilização
Diego Barrios Rodríguez
1323
Um almofariz centro-itálico na foz do Mondego
Marco Penajoia
1335
Estruturas romanas de Carnide – Lisboa
Luísa Batalha / Mário Monteiro / Guilherme Cardoso
1347
O contexto funerário do sector da “necrópole NO” da Rua das Portas de S. Antão (Lisboa):
o espaço, os artefactos, os indivíduos e a sua interconectividade na interpretação do passado
Sílvia Loja, José Carlos Quaresma, Nelson Cabaço, Marina Lourenço, Sílvia Casimiro,
Rodrigo Banha da Silva, Francisca Alves-Cardoso
1361
Povoamento em época Romana na Amadora – resultados de um projeto pluridisciplinar
Gisela Encarnação / Vanessa Dias
1371
A Arquitectura Residencial em Mirobriga (Santiago do Cacém): contributo a partir
de um estudo de caso
Filipe Sousa / Catarina Felício
1385
1399
O fim do ciclo. Saneamento e gestão de resíduos nos edifícios termais de Mirobriga
(Santiago do Cacém)
Catarina Felício / Filipe Sousa
Balsa, Topografia e Urbanismo de uma Cidade Portuária
Vítor Silva Dias / João Pedro Bernardes / Celso Candeias / Cristina Tété Garcia
1413
No Largo das Mouras Velhas em Faro (2017): novas evidências da necrópole norte
de Ossonoba e da sua ocupação medieval
Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho / Fernando Santos / Liliana Nunes
1429
Instrumentos de pesca recuperados numa fábrica de salga em Ossonoba (Faro)
Inês Rasteiro / Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho
1439
A Necrópole Romana do Eirô, Duas Igrejas (Penafiel): intervenção arqueológica de 2016
Laura Sousa / Teresa Soeiro
1457
Ritual, descarte ou afetividade? A presença de Canis lupus familiaris na Necrópole
Noroeste de Olisipo (Lisboa)
Beatriz Calapez Santos / Sofia Simões Pereira / Rodrigo Banha da Silva / Sílvia Casimiro /
Cleia Detry / Francisca Alves Cardoso
1467
Dinâmicas económicas em Bracara na Antiguidade Tardia
Diego Machado / Manuela Martins / Fernanda Magalhães / Natália Botica
1479
Cerâmicas e Vidros da Antiguidade Tardia do Edifício sob a Igreja do Bom Jesus
(Vila Nova de Gaia)
Joaquim Filipe Ramos
1493
Novos contributos para a topografia histórica de Mértola no período romano e na
Antiguidade Tardia
Virgílio Lopes
8. Época Medieval
1511
Cerâmicas islâmicas no Garb setentrional “português”: algumas evidências e incógnitas
Constança dos Santos / Helena Catarino / Susana Gómez / Maria José Gonçalves / Isabel Inácio /
Gonçalo Lopes / Jacinta Bugalhão / Sandra Cavaco / Jaquelina Covaneiro / Isabel Cristina Fernandes /
Ana Sofia Gomes
1525
Contributo para o conhecimento da cosmética islâmica, em Silves, durante a Idade Média
Rosa Varela Gomes
1537
Yábura e o seu território – uma análise histórico-arqueológica de Évora entre os séculos VIII-XII
José Rui Santos
1547
A encosta sul do Castelo de Palmela – resultados preliminares da escavação arqueológica
Luís Filipe Pereira / Michelle Teixeira Santos
1559
A igreja de São Lourenço (Mouraria, Lisboa): um conjunto de silos e de cerâmica medieval
islâmica
Andreia Filipa Moreira Rodrigues
1571
O registo material de movimentações populacionais no Médio Tejo, durante os séculos
XII-XIII. Dois casos de “sunken featured buildings”, nos concelhos de Cartaxo e Torres Novas
Marco Liberato / Helena Santos / Nuno Santos
1585
O nordeste transmontano nos alvores da Idade média. Notas para reflexão
Ana Maria da Costa Oliveira
1601
Sepulturas escavadas na rocha do Norte de Portugal e do Vale do Douro: primeiros
resultados do Projecto SER-NPVD
Mário Jorge Barroca / César Guedes / Andreia Arezes / Ana Maria Oliveira
1619
“Portucalem Castrum Novum” entre o Mediterrâneo e o Atlântico: o estudo dos materiais
cerâmicos alto-medievais do arqueossítio da rua de D. Hugo, nº. 5 (Porto)
João Luís Veloso
1627
A Alta Idade Média na fronteira de Lafões: notas preliminares sobre a Arqueologia
no Concelho de Vouzela
Manuel Luís Real / Catarina Tente
1641
Um conjunto cerâmico medieval fora de portas: um breve testemunho aveirense
Susana Temudo
1651
Os Lóios do Porto: uma perspetiva integrada no panorama funerário da Baixa Idade Média
à Época Moderna em meios urbanos em Portugal
Ana Lema Seabra
1659
O Caminho Português Interior de Santiago como eixo viário na Idade Média
Pedro Azevedo
1665
Morfologia Urbana: Um exercício em torno do Castelo de Ourém
André Donas-Botto / Jaqueline Pereira
1677
Intervenção arqueológica na Rua Marquês de Pombal/Largo do Espírito Santo
(Bucelas, Loures)
Florbela Estêvão / Nathalie Antunes-Ferreira / Dário Ramos Neves / Inês Lisboa
1691
O Cemitério Medieval do Poço do Borratém e a espacialidade funerária na cidade de Lisboa
Inês Belém / Vanessa Filipe / Vasco Noronha Vieira / Sónia Ferro / Rodrigo Banha da Silva
1705
Um Espaço Funerário Conventual do séc. XV em Lisboa: o caso do Convento de São
Domingos da Cidade
Sérgio Pedroso / Sílvia Casimiro / Rodrigo Banha da Silva / Francisca Alves Cardoso
9. Época Moderna e Contemporânea
1721
Arqueologia Moderna em Portugal: algumas reflexões críticas em torno da quantificação
de conjuntos cerâmicos e suas inferências históricas e antropológicas
Rodrigo Banha da Silva / André Bargão / Sara da Cruz Ferreira
1733
Faianças de dois contextos entre os finais do século XVI e XVIII do Palácio dos Condes
de Penafiel, Lisboa
Martim Lopes / Tomás Mesquita
1747
Um perfil de consumo do século XVIII na foz do Tejo: O caso do Mercado da Ribeira, Lisboa
Sara da Cruz Ferreira / Rodrigo Banha da Silva / André Bargão
1761
Os Cachimbos dos Séculos XVII e XVIII do Palácio Mesquitela e Convento dos Inglesinhos
(Lisboa)
Inês Simão / Marina Pinto / João Pimenta / Sara da Cruz Ferreira / André Bargão / Rodrigo Banha da Silva
1775
«Tomar os fumos da erua que chamão em Portugal erua sancta». Estudo de Cachimbos
provenientes da Rua do Terreiro do Trigo, Lisboa
Miguel Martins de Sousa / José Pedro Henriques / Vanessa Galiza Filipe
1787
Cachimbos de Barro Caulínitico da Sé da Cidade Velha (República de Cabo Verde)
Rodrigo Banha da Silva / João Pimenta / Clementino Amaro
1801
Algumas considerações sobre espólio não cerâmico recuperado no Largo de Jesus (Lisboa)
Carlos Boavida
1815
Adereços de vidro, dos séculos XVI-XVIII, procedentes do antigo Convento de Santana
de Lisboa (anéis, braceletes e contas)
Joana Gonçalves / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes
1837
Da ostentação, luxo e poder à simplicidade do uso quotidiano: arqueologia e simbologia
de joias e adornos da Idade Moderna Portuguesa
Jéssica Iglésias
1849
Os amuletos em Portugal – dos objetos às superstições: o coral vermelho
Alexandra Vieira
1865
Cerâmicas de Vila Franca de Xira nos séculos XV e XVI
Eva Pires
1879
«Não passa por teu o que me pertence». Marcas de individualização associadas a faianças
do Convento de Nossa Senhora de Aracoeli, Alcácer do Sal
Catarina Parreira / Íris Fragoso / Miguel Martins de Sousa
1891
Cerâmica de Leiria: alguns focos de produção
Jaqueline Pereira / André Donas-Botto
1901
Os Fornos na Rua da Biquinha, em Óbidos
Hugo Silva / Filipe Oliveira
1909
A casa de Pêro Fernandes, contador dos contos de D. Manuel I: o sítio arqueológico da Silha
do Alferes, Seixal (século XVI)
Mariana Nunes Ferreira
1921
O Alto da Vigia (Sintra) e a vigilância e defesa da costa
Alexandre Gonçalves / Sandra Santos
1937
O contexto da torre sineira da Igreja de Santa Maria de Loures
Paulo Calaveira / Martim Lopes
1949
A Necrópole do Hospital Militar do Castelo de São Jorge e as práticas funerárias na Lisboa
de Época Moderna
Susana Henriques / Liliana Matias de Carvalho / Ana Amarante / Sofia N. Wasterlain
1963
SAND – Sarilhos Grandes Entre dois Mundos: o adro da Igreja e a Paleobiologia dos ossos
humanos recuperados
Paula Alves Pereira / Roger Lee Jesus / Bruno M. Magalhães
1975
Expansão urbana da vila de Cascais no século XVII e XVIII: a intervenção arqueológica
na Rua da Vitória nº 15 a 17
Tiago Pereira / Vanessa Filipe
1987
Novos dados para o conhecimento do Urbanismo de Faro em época Moderna
Ana Rosa
1995
Um exemplo de Arqueologia Urbana em Alcoutim: o Antigo Edifício dos CTT
Marco Fernandes / Marta Dias / Alexandra Gradim / Virgílio Lopes / Susana Gómez Martínez
2007
Palácio dos Ferrazes (Rua das Flores/Rua da Vitória, Porto): a cocheira de Domingos
Oliveira Maia
Francisco Raimundo
2021
As muitas vidas de um edifício urbano: História, Arqueologia e Antropologia no antigo
Recreatório Paroquial de Penafiel
Helena Bernardo / Jorge Sampaio / Marta Borges
2035
O convento de Nossa Senhora da Esperança de Ponta Delgada: o contributo da arqueologia
para o conhecimento de um monumento identitário
João Gonçalves Araújo / N’Zinga Oliveira
2047
Arqueologia na ilha do Corvo… em busca da capela de Nossa Senhora do Rosário
Tânia Manuel Casimiro / José Luís Neto / Luís Borges / Pedro Parreira
2059
Perdidos à vista da Costa. Trabalhos arqueológicos subaquáticos na Barra do Tejo
Jorge Freire / José Bettencourt / Augusto Salgado
2071
Arqueologia marítima em Cabo Verde: enquadramento e primeiros resultados do
projecto CONCHA
José Bettencourt / Adilson Dias / Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Cristóvão Fonseca /
Dúnia Pereira / Gonçalo Lopes / Inês Coelho / Jaylson Monteiro / José Lima / Maria Eugénia Alves /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2085
Trabalhos arqueológicos na Cidade Velha (Ribeira Grande de Santiago, Cabo Verde):
reflexões sobre um projecto de investigação e divulgação patrimonial
André Teixeira / Jaylson Monteiro / Mariana Mateus / Nireide Tavares / Cristovão Fonseca /
Gonçalo C. Lopes / Joana Bento Torres / Dúnia Pereira / André Bargão / Aurélie Mayer / Bruno Zélie /
Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Inês Henriques / Inês Pinto Coelho / José Lima /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2103
A antiga fortificação de Quelba / Khor Kalba (E.A.U.). Resultados de quatro campanhas
de escavações, problemáticas e perspectivas futuras
Rui Carita / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes / Kamyar Kamyad
2123
Colónias para homens novos: arqueologia da colonização agrária fascista no noroeste ibérico
Xurxo Ayán Vila / José Mª. Señorán Martín
DOI: https://doi.org/10.21747/978-989-8970-25-1/arqa95
um horreum augustano na foz
do douro (monte do castelo
de gaia, vila nova de gaia)
Rui Ramos1
RESUMO
A escavação arqueológica realizada entre Fevereiro de 2016 e Novembro de 2018 pela Era Arqueologia S.A. na
vertente Nordeste do Monte do Castelo de Gaia, pôs em evidência uma lata sequência ocupacional cuja génese
remonta ao século IV a.C. e que se prolongou – entre hiatos mais ou menos prolongados – até ao século XX. Das
ocupações mais relevantes dentro desta ampla diacronia (idade do ferro, romana e medieval), optamos ora por
nos debruçar sobre a que nos parece mais significativa, porquanto inédita neste âmbito geográfico: um grande
edifício de planta rectangular com aproximadamente 300 metros quadrados, datado de entre 30 a 15 a.C. que
interpretamos como um Horreum, que poderá ter sido construído no âmbito das campanhas relacionadas com
a pacificação da Hispânia Setentrional empreendidas por Augusto.
Palavras-chave: Douro, Castelo de Gaia, Horreum, Romano, Augusto.
ABSTRACT
The archaeological excavation carried out between February 2016 and November 2018 by Era Arqueologia S.A.
in the Northeast side of Monte do Castelo de Gaia, highlighted a wide occupational sequence whose genesis
dates back to the 4th century BC. and that it extended until the 20th century. Of the most relevant occupations
within this wide diachrony (iron age, roman and medieval), we have now chosen to focus on the one that
seems most significant to us, since it is unprecedented in this geographical scope: a large rectangular building
with approximately 300 square meters, dated from 30 to 15 BC that we interpret as a Horreum, which may
have been built in the context of the campaigns related to the pacification of Northern Hispania undertaken
by Augustus.
Keywords: Douro, Castelo de Gaia hill, Horreum, Roman, Augustus.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
O Monte do Castelo de Gaia localiza-se na margem
esquerda do Douro, a cerca de 4 quilómetros da sua
foz e constitui um marco proeminente na paisagem
ribeirinha do curso final do rio. (Figura 1 e Figura 2).
Esta colina domina a montante um fundeadouro natural, junto ao qual foram construídos a maior parte
dos – hoje célebres – armazéns de Vila Nova de Gaia
e constituiria um importante ponto de passagem
entre as duas margens até à construção das primeiras travessias fixas desta parte do rio.
Desde a hipotética localização neste local do Portus
ou da Cale do Itinerário de Antonino até à existência
1. Era Arqueologia, S.A.;
[email protected]
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
da fortificação medieva que perdurou na memória
e na toponímia da cidade, o Monte do Castelo tem
cativado o interesse de cronistas e historiadores ao
longos dos séculos e ainda que a arqueologia tenha
tardado a entrar em cena, as diversas intervenções
realizadas em vários pontos deste monte desde os
anos 80 do século XX, (Silva,2020) ainda que não
tenham conseguido resgatar ao oblívio o nome antigo do lugar, vieram confirmar um sítio arqueológico
de excepcional valor e um importante manancial de
informação para o estudo das rotas comerciais costeiras que ligavam o Sul e o Norte da Península desde a antiguidade.
A escavação arqueológica, realizada no âmbito do
plano de minimizações prévias a um projecto de
construção, localiza-se na vertente Nordeste do
monte, fronteira a Miragaia na margem oposta e
a escassos metros do rio. A área intervencionada
ocupa um socalco de planta rectangular à cota de 21
metros no logradouro de um antigo armazém, onde
entre 1998 e 2006 funcionou o Hard Club.
Os níveis ocupacionais postos em evidência, intercalados por depósitos coluvionares mais ou menos espessos, abrangem uma longa diacronia balizada entre
os séculos IV a.C. e o século XX, (Ramos; Carvalho,
2020) com particular destaque para um habitat da II
idade do ferro composto por casas e cabanas de planta circular e um grande edifício de planta rectangular,
do tipo horreum, construído em finais do século I a.c.
e que sendo o mote da nossa comunicação, passaremos a descrever nos parágrafos seguintes.
As condicionantes impostas pela necessidade de
garantir a estabilidade do socalco, cujo muro de
contenção ruiu parcialmente em Abril de 2016 e
obrigou à interrupção dos trabalhos durante alguns
meses, levou a que parte do edifício não fosse intervencionado nesta fase dos trabalhos, nomeadamente a área localizada a Este, junto a um segmento
do muro de contenção que apresenta problemas de
estabilidade e a área Sul, na confluência com um caminho público.
Uma vez que que a planta do edifício extravasa os
limites da área intervencionada, as medidas aqui
apresentadas são uma tentativa de padronização
das medidas observáveis nos muros postos em
evidência no decurso da escavação, com vista a uma
aproximação à reconstituição da sua planta original.
Assim, foi intervencionada uma área de aproximadamente 140 metros quadrados correspondentes ao
espaço interior e muro perimetral do edifício embora as evidências apontem para que o edifício terá
pelo menos o dobro desta área.
2. DESCRIÇÃO DO EDIFÍCIO
A génese da ocupação romana deste espaço corresponde a um grande edifício de planta rectangular,
construído e utilizado entre os anos 30 e 15 a.C. ainda que nos depósitos coluvionares sobre os quais foi
fundado tenhamos registado a presença de ânforas
itálicas produzidas a partir da segunda metade do
século II a.C. , o que denuncia a gradual aproximação desta finisterra à órbita romana. (Figura 3)
O edifício é composto por um único volume, com
o embasamento construído em alvenaria de pedra,
sem evidências que possam indiciar mais de uma
fase construtiva ou remodelações posteriores à sua
génese. Durante o período em que o edifício se encontrava funcional ou pouco depois do seu abandono, a fachada Este – virada ao rio – foi obliterada por
uma derrocada, pelo que não identificamos qualquer indício da mesma.
O eixo maior do edifício, com orientação Norte-Sul,
apresenta um comprimento de pelo menos 33,20
metros. Apesar de não termos identificado indícios
da fachada Este, pressupomos que teria a mesma espessura da fachada Oeste – cerca de 80 centímetros
– e tendo em consideração que um dos muros internos perpendiculares ao eixo maior apresenta 7,60
metros de comprimento, o edifício teria pelo menos 9,20 metros de largura. Assim, a 33,20 metros
de comprimento e 9,20 metros de largura, corresponde uma área de implantação de 305,44 metros
quadrados. (Figura 4)
O edifício encontrava-se dividido em 6 cellae às
quais atribuímos a designação de Ambiente 1, Ambiente 2, Ambiente 3, Ambiente 4, Ambiente 5 e ambiente 6. Em todas as cellae existiam 3 muretes longitudinais, 2 adossados aos muros divisórios internos
e um murete axial, que teriam como função suportar um tabuado. Estas 6 cellae, de planta rectangular,
apresentavam 4,90 metros de largura. A ruína da
fachada Este não nos permite aferir o comprimento
original dos mesmos, mas o maior segmento conservado de um dos muretes internos, identificado
no Ambiente 2, tinha 7,60 metros de comprimento,
o que nos permite extrapolar que todos os compartimentos teriam no mínimo esta dimensão. Considerando estas medidas, cada compartimento teria pelo
menos uma área de 37,24 metros quadrados, o que
corresponde a uma área útil total de 223,44 metros
quadrados. (Figura 5)
Em relação à altura do edifício, não nos foi possível
identificar qualquer elemento que nos fornecesse
informação, já que os muros conservados não excediam os 170 centímetros de altura, sendo que destes,
70 a 80 centímetros correspondem ao alicerce.
Os alicerces distinguem-se do aparelho dos muros pela inclusão de blocos de granito irregulares
de maiores dimensões, sendo que em alguns dos
alicerces foi colocada uma camada de argila sobre a
última fiada de pedra, com o intuito de a regularizar
para assentar a primeira fiada de pedra do aparelho
do muro. Os muretes longitudinais, talvez por não
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se constituírem como elementos estruturais, não tinham alicerce.
O muro perimetral que constitui a fachada Oeste e
a Norte é construído em alvenaria de granito, de dupla face, com 80 centímetros de espessura. O aparelho é composto por blocos poligonais de granito de
pequena e média dimensão que formam duas faces
regulares e bem aparelhadas e o miolo é composto por blocos toscos de pequena dimensão ligados
com argila.
Os 5 muros internos, paralelos ao eixo menor do
edifício, delimitavam os 6 compartimentos identificados e eram compostos por alvenaria de granito de
dupla face, com 50 centímetros de espessura. Os paramentos destes muros são constituídos por blocos
poligonais de pequena e média dimensão bem aparelhados, ligados com argila e argamassa de saibro.
O miolo é composto por blocos toscos de granito de
pequena e média dimensão e argila. Apenas os muros divisórios entre o Ambiente 3 e o Ambiente 4 e
o Ambiente 4 e o Ambiente 5 estão imbricados na
fachada Oeste, estando os restantes muros encostados à fachada sem qualquer travamento.
No aparelho de um dos muros internos melhor conservados, entre o Ambiente 2 e o Ambiente 3 identificamos uma fiada horizontal de lajes de granito
de pequena e dimensão que parecem indiciar uma
transição de aparelho ou de técnica construtiva, mas
não identificamos quaisquer indícios preservados
do tipo de construção que se desenvolveria acima
desta cota.
Os muretes longitudinais identificados apresentam
dupla face, com 30 centímetros de espessura e são
constituídos por blocos poligonais de granito de
pequena dimensão assentes a seco. Estes muretes
apresentam entre 30 e 40 centímetros de altura nos
Ambientes 6, 1, 2 e 3 e cerca de 60 e 70 centímetros
de altura nos Ambientes 4 e 5.
Não identificamos cerâmica de construção, reutilizada ou não, nos paramentos e no miolo dos muros
e dos muretes, sendo que o único material que parece ter sido reutilizada foram fragmentos de mós
rotatórias inclusas em alguns dos muros divisórios
e muretes e um bloco de uma rocha sedimentar exógena a esta região.
3. DESCRIÇÃO DA ESTRATIGRAFIA
Ao contrário de tantos outros sítios de cronologia
afins, não identificamos níveis pétreo relacionados
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
com a ruída das paredes ou níveis de telha relacionados com a ruína do tecto, no interior ou no exterior
do edifício, A sequência estratigráfica identificada
no interior é composta por um depósito areno-argiloso de coloração alaranjada, com 50 a 70 centímetros de espessura provavelmente relacionado com a
ruína das paredes, que cobre um depósito arenoso
de coloração cinzenta com inclusão de carvões, com
10 a 20 centímetros de espessura e que parece corresponder a um nível de abandono do edifício.
No Ambiente 3 e no Ambiente 4, sob o nível de
abandono, identificamos um depósito muito compacto de composição argilosa e coloração laranja
com cerca de 5 a 10 centímetros de espessura que
se desenvolve em praticamente toda a superfície do
compartimento que parece corresponder a um nível
coetâneo com a construção ou utilização do edifício, porquanto os muretes longitudinais terem sido
construídos por cima dele.
No exterior do edifício, os únicos indícios coevos
com a sua construção e utilização são um nível de
circulação em saibro, contíguo à fachada Oeste do
edifício, um depósito pétreo bastante concentrado
que parece resultar do descarte intencional de pedra
relacionado com a construção do edifício e uma pequena lareira constituída por fragmentos de ânforas.
4. INTERPRETAÇÃO
Os 3 muretes longitudinais identificados em cada
uma das 6 cellae escavadas parecem corresponder
a apoios para um tabuado que constituiria o nível
de circulação do edifício, com paralelos documentados em horrea construídos na Hispânia durante
o período Republicano (Domínguez, 2009). Este
tipo de estrutura enquadra-se na descrição de Varrão e Columela dos Tabulatum/a, isto é, pavimentos
sobre-elevados construídos em madeira que se destinavam a armazenar grão e mantê-lo isolado da humidade e dos roedores. (Domínguez, 2003-2004).
O material arqueológico associado aos depósitos
coetâneos com a construção e uso do horreum é
muito residual, sendo composto maioritariamente
por cerâmica de tradição indígena e material anfórico, este de suma importância para o enquadramento temporal do edifício. No interior do Ambiente 4
identificamos vários fragmentos de ânforas da Bética Costeira, 2 fundos de ovóides lusitanas, 2 fragmentos de ânforas Itálicas produzidas no Lácio/
Campânia e 1 fragmento de uma ânfora ovóide gadi-
tana, produzida entre os primeiros anos do segundo
quartel do século I a.C. até ao início do Século I d.C.
Na pequena lareira enquadrável temporalmente na
fase de construção ou utilização do grande edifício
identificamos fragmentos de ânforas produzidas na
Bética Costeira e no Vale do Guadalquivir, onde está
presente a forma Haltern 70, produzida entre 50
a.C. e o reinado de Augusto e uma Dressel 1 Bética
Costeira Ulterior produzida entre 140/130 a.C. e 30
a 25 a.C. e 1 fragmento de produção Lusitana de tipologia indeterminada.
O espólio datável leva-nos a enquadrar a construção e a utilização deste edifício entre 30 e 15 a.C.,
intervalo de tempo que abrange a última campanha de pacificação da Hispânia, empreendida por
Augusto entre 29 e 19 a.C. contra Cântabros e Astures. O vasto teatro de operações, para onde foram
mobilizadas 6 legiões, abrangeu todo o Noroeste
Peninsular, sendo que o Douro, na retaguarda dos
avanços e afastado das principais bases do exército
romano (González, 1998) terá sido pouco mais do
que um ponto de passagem nas rotas que se dirigiam ao Norte, através das quais se abasteciam as legiões que lutavam na frente com o grão proveniente
do Sul da Hispânia (Echegaray, 1999). Aventamos a
possibilidade do horreum que ora apresentamos se
possa ter constituído como um dos entrepostos de
apoio à circulação de mantimentos até às frentes de
combate, construído nas margens de um rio caudaloso e tantas vezes de difícil travessia nos meses
de invernagem, mas ainda assim navegável por 140
quilómetros. O único testemunho da presença de
militares no Monte do Castelo de Gaia é atestada
pela existência de um cipo funerário identificado a
100 metros do sítio, nas Escadas da Boa Passagem,
de L. Lavius Tuscus, natural de Olissipo, militar da
X Gemina, uma das legiões que Augusto deslocou
para a Hispânia no decurso da campanha Cantábrica (Cérdan, 2017) e que foi datado de entre Augusto
a Tibério por Vasco Mantas (Mantas, 2013).
Os dados recolhidos no decurso da escavação levam-nos a considerar que o embasamento pétreo
posto em evidência constituiria a base de um edifício parcialmente construído em madeira ou em
argila, materiais que permitiam levantar estruturas de maneira rápida e eficiente ao mesmo tempo
que garantiam um bom isolamento dos elementos
(Domínguez, 2015), obedecendo assim aos critérios de outras construções erguidas durante campanhas militares. Sendo as construções em argila
mais comuns em regiões secas, não é despicienda
a ocorrência de construções em terra neste sítio já
que pelo menos uma das casas do habitat da Idade
do Ferro seria construída com tijolos de adobe, o
que demonstra que esta técnica não era estranha à
comunidade local.
A homogeneidade do material arqueológico identificado nos depósitos relacionados com o edifício,
leva-nos a considerar também que este terá sido
utilizado durante poucos anos, não sendo possível
distinguir a sua construção da sua utilização, o que
poderia significar que foi abandonado após o fim da
guerra, depois de deixar de ser útil.
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