2020 – Estado da Questão
Coordenação editorial: José Morais Arnaud, César Neves e Andrea Martins
Design gráfico: Flatland Design
AAP – ISBN: 978-972-9451-89-8
CITCEM – ISBN: 978-989-8970-25-1
Associação dos Arqueólogos Portugueses e CITCEM
Lisboa, 2020
O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. Sendo assim a Associação dos
Arqueólogos Portugueses declina qualquer responsabilidade por eventuais equívocos ou questões
de ordem ética e legal.
Desenho de capa:
Planta do castro de Monte Mozinho (Museu Municipal de Penafiel).
Apoio:
Índice
15
Prefácio
José Morais Arnaud
1. Historiografia e Teoria
17
Território, comunidade, memória e emoção: a contribuição da história da arqueologia
(algumas primeiras e breves reflexões)
Ana Cristina Martins
25
Como descolonizar a arqueologia portuguesa?
Rui Gomes Coelho
41
Arqueologia e Modernidade: uma revisitação pessoal e breve de alguns aspetos da obra
homónima de Julian Thomas de 2004
Vítor Oliveira Jorge
57
Dados para a História das Mulheres na Arqueologia portuguesa, dos finais do século XIX
aos inícios do século XX: números, nomes e tabelas
Filipa Dimas / Mariana Diniz
73
Retractos da arqueologia portuguesa na imprensa: (in)visibilidades no feminino
Catarina Costeira / Elsa Luís
85
Arqueologia e Arqueólogos no Norte de Portugal
Jacinta Bugalhão
101
Vieira Guimarães (1864-1939) e a arqueologia em Tomar: uma abordagem sobre
o território e as gentes
João Amendoeira Peixoto / Ana Cristina Martins
115
Os memoráveis? A arqueologia algarvia na imprensa nacional e regional na presente
centúria (2001-2019): características, visões do(s) passado(s) e a arqueologia
enquanto marca
Frederico Agosto / João Silva
129
A Evolução da Arqueologia Urbana e a Valorização Patrimonial no Barlavento Algarvio:
Os casos de Portimão e Silves
Artur Mateus / Diogo Varandas / Rafael Boavida
2. Gestão, Valorização e Salvaguarda do Património
145
O Caderno Reivindicativo e as condições de trabalho em Arqueologia
Miguel Rocha / Liliana Matias Carvalho / Regis Barbosa / Mauro Correia / Sara Simões / Jacinta
Bugalhão / Sara Brito / Liliana Veríssimo Carvalho / Richard Peace / Pedro Peça / Cézer Santos
155
Os Estudos de Impacte Patrimonial como elemento para uma estratégia sustentável
de minimização de impactes no âmbito de reconversões agrícolas
Tiago do Pereiro
165
Salvaguarda de Património arqueológico em operações florestais: gestão e sensibilização
Filipa Bragança / Gertrudes Zambujo / Sandra Lourenço / Belém Paiva / Carlos Banha / Frederico Tatá
Regala / Helena Moura / Jacinta Bugalhão / João Marques / José Correia / Pedro Faria / Samuel Melro
179
Os valores do Património: uma investigação sobre os Sítios Pré-históricos de Arte
Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde
José Paulo Francisco
189
Conjugando recursos arqueológicos e naturais para potenciar as visitas ao Geoparque
Litoral de Viana do Castelo (Noroeste de Portugal)
Hugo A. Sampaio / Ana M.S. Bettencourt / Susana Marinho / Ricardo Carvalhido
203
Áreas de Potencial Arqueológico na Região do Médio Tejo: Modelo Espacial Preditivo
Rita Ferreira Anastácio / Ana Filipa Martins / Luiz Oosterbeek
223
Património Arqueológico e Gestão Territorial: O contributo da Arqueologia para
a revisão do PDM de Avis
Ana Cristina Ribeiro
237
A coleção arqueológica do extinto Museu Municipal do Porto – Origens, Percursos
e Estudos
Sónia Couto
251
Valpaços – uma nova carta arqueológica
Pedro Pereira / Maria de Fátima Casares Machado
263
Arqueologia na Cidade de Peniche
Adriano Constantino / Luís Rendeiro
273
Arqueologia Urbana: a cidade de Lagos como caso de Estudo
Cátia Neto
285
Estratégias de promoção do património cultural subaquático nos Açores. O caso
da ilha do Faial
José Luís Neto / José Bettencourt / Luís Borges / Pedro Parreira
297
Carta Arqueológica da Cidade Velha: Uma primeira abordagem
Jaylson Monteiro / Nireide Tavares / Sara da Veiga / Claudino Ramos / Edson Brito /
Carlos Carvalho / Francisco Moreira / Adalberto Tavares
311
Antropologia Virtual: novas metodologias para a análise morfológica e funcional
Ricardo Miguel Godinho / Célia Gonçalves
3. Didáctica da Arqueologia
327
Como os projetos de Arqueologia podem contribuir para uma comunidade
culturalmente mais consciente
Alexandra Figueiredo / Claúdio Monteiro / Adolfo Silveira / Ricardo Lopes
337
Educação Patrimonial – Um cidadão esclarecido é um cidadão ativo!
Ana Paula Almeida
351
A aproximação da Arqueologia à sala de aula: um caso de estudo no 3º ciclo
do Ensino Básico
Luís Serrão Gil
363
Arqueologia 3.0 – Pensar e comunicar a Arqueologia para um futuro sustentável
Mónica Rolo
377
“Conversa de Arqueólogos” – Divulgar a Arqueologia em tempos de Pandemia
Diogo Teixeira Dias
389
Escola Profissional de Arqueologia: desafios e oportunidades
Susana Nunes / Dulcineia Pinto / Júlia Silva / Ana Mascarenhas
399
Os Museus de Arqueologia e os Jovens: a oferta educativa para o público adolescente
Beatriz Correia Barata / Leonor Medeiros
411
O museu universitário como mediador entre a ciência e a sociedade: o exemplo
da secção de arqueologia no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade
do Porto (MHNC-UP)
Rita Gaspar
421
Museu de Lanifícios: Real Fábrica de Panos. Atividades no âmbito da Arqueologia
Beatriz Correia Barata / Rita Salvado
427
Arqueologia Pública e o caso da localidade da Mata (Torres Novas)
Cláudia Manso / Ana Rita Ferreira / Cristiana Ferreira / Vanessa Cardoso Antunes
431
Do sítio arqueológico ao museu: um percurso (também) didático
Lídia Fernandes
447
Estão todos convidados para a Festa! E para dançar também… O projecto do Serviço
Educativo do Museu Arqueológico do Carmo na 5ª Edição da Festa da Arqueologia
Rita Pires dos Santos
459
O “Clã de Carenque”, um projeto didático de arqueologia
Eduardo Gonzalez Rocha
469
Mediação cultural: peixe que puxa carroça nas Ruínas Romanas de Troia
Inês Vaz Pinto / Ana Patrícia Magalhães / Patrícia Brum / Filipa Santos
481
Didática Arqueológica, experiências do Projeto Mértola Vila Museu
Maria de Fátima Palma / Clara Rodrigues / Susana Gómez / Lígia Rafael
4. Arte Rupestre
497
Os inventários de arte rupestre em Portugal
Mila Simões de Abreu
513
O projeto FIRST-ART – conservação, documentação e gestão das primeiras manifestações
de arte rupestre no Sudoeste da Península Ibérica: as grutas do Escoural e Maltravieso
Sara Garcês / Hipólito Collado / José Julio García Arranz / Luiz Oosterbeek / António Carlos Silva /
Pierluigi Rosina / Hugo Gomes / Anabela Borralheiro Pereira / George Nash / Esmeralda Gomes /
Nelson Almeida / Carlos Carpetudo
523
Trabalhos de documentação de arte paleolítica realizados no âmbito do projeto
PalæoCôa
André Tomás Santos / António Fernando Barbosa / Luís Luís / Marcelo Silvestre / Thierry Aubry
537
Imagens fantasmagóricas, silhuetas elusivas: as figuras humanas na arte do Paleolítico
Superior da região do Côa
Mário Reis
551
Os motivos zoomórficos representados nas placas de tear de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal)
Andrea Martins / César Neves / José M. Arnaud / Mariana Diniz
571
Arte Rupestre do Monte de Góios (Lanhelas, Caminha). Síntese dos resultados dos
trabalhos efectuados em 2007-2009
Mário Varela Gomes
599
Gravuras rupestres de barquiformes no Monte de S. Romão, Guimarães, Noroeste
de Portugal
Daniela Cardoso
613
Círculos segmentados gravados na Bacia do Rio Lima (Noroeste de Portugal):
contributos para o seu estudo
Diogo Marinho / Ana M.S. Bettencourt / Hugo Aluai Sampaio
631
Equídeos gravados no curso inferior do Rio Mouro, Monção (NW Portugal).
Análise preliminar
Coutinho, L.M. / Bettencourt, A.M.S / Sampaio, Hugo A.S
645
Paletas na Arte Rupestre do Noroeste de Portugal. Inventário preliminar
Bruna Sousa Afonso / Ana M. S. Bettencourt / Hugo A. Sampaio
5. Pré-História
661
O projeto Miño/Minho: balanço de quatro anos de trabalhos arqueológicos
Sérgio Monteiro-Rodrigues / João Pedro Cunha-Ribeiro / Eduardo Méndez-Quintas / Carlos Ferreira /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
677
A ocupação paleolítica da margem esquerda do Baixo Minho: a indústria lítica do sítio
de Pedreiras 2 (Monção, Portugal) e a sua integração no contexto regional
Carlos Ferreira / João Pedro Cunha-Ribeiro / Sérgio Monteiro-Rodrigues / Eduardo Méndez-Quintas /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
693
O sítio acheulense do Plistocénico médio da Gruta da Aroeira
Joan Daura / Montserrat Sanz / Filipa Rodrigues / Pedro Souto / João Zilhão
703
As sociedades neandertais no Barlavento algarvio: modelos preditivos com recurso
aos SIG
Daniela Maio
715
A utilização de quartzo durante o Paleolítico Superior no território dos vales dos rios
Vouga e Côa
Cristina Gameiro / Thierry Aubry / Bárbara Costa / Sérgio Gomes / Luís Luís / Carmen Manzano /
André Tomás Santos
733
Uma perspetiva diacrónica da ocupação do concheiro do Cabeço da Amoreira (Muge,
Portugal) a partir da tecnologia lítica
Joana Belmiro / João Cascalheira / Célia Gonçalves
745
Novos dados sobre a Pré-história Antiga no concelho de Palmela. A intervenção
arqueológica no sítio do Poceirão I
Michelle Teixeira Santos
757
Problemas em torno de Datas Absolutas Pré-Históricas no Norte do Alentejo
Jorge de Oliveira
771
Povoamento pré-histórico nas áreas montanhosas do NO de Portugal: o Abrigo 1
de Vale de Cerdeira
Pedro Xavier / José Meireles / Carlos Alves
783
Apreciação do povoamento do Neolítico Inicial na Baixa Bacia do Douro. A Lavra I
(Serra da Aboboreira) como caso de estudo
Maria de Jesus Sanches
797
O Processo de Neolitização na Plataforma do Mondego: os dados do Sector C do Outeiro
dos Castelos de Beijós (Carregal do Sal)
João Carlos de Senna-Martinez / José Manuel Quintã Ventura / Andreia Carvalho / Cíntia Maurício
823
Novos trabalhos na Lapa da Bugalheira (Almonda, Torres Novas)
Filipa Rodrigues / Pedro Souto / Artur Ferreira / Alexandre Varanda / Luís Gomes / Helena Gomes /
João Zilhão
837
A pedra polida e afeiçoada do sítio do Neolítico médio da Moita do Ourives
(Benavente, Portugal)
César Neves
857
Casal do Outeiro (Encarnação, Mafra): novos contributos para o conhecimento
do povoamento do Neolítico final na Península de Lisboa.
Cátia Delicado / Carlos Maneira e Costa / Marta Miranda / Ana Catarina Sousa
873
Stresse infantil, morbilidade e mortalidade no sítio arqueológico do Neolítico Final/
Calcolítico (4º e 3º milénio a.C.) do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo, Beja)
Liliana Matias de Carvalho / Sofia N. Wasterlain
885
Come together: O Conjunto Megalítico das Motas (Monção, Viana do Castelo) e as
expressões Campaniformes do Alto Minho
Ana Catarina Basílio / Rui Ramos
899
Trabalhos arqueológicos no sítio Calcolítico da Pedreira do Poio
Carla Magalhães / João Muralha / Mário Reis / António Batarda Fernandes
913
O sítio arqueológico de Castanheiro do Vento. Da arquitectura do sítio à arquitectura
de um território
João Muralha Cardoso
925
Estudo zooarqueológico das faunas do Calcolítico final de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal): Campanhas de 2017 e 2018
Cleia Detry / Ana Catarina Francisco / Mariana Diniz / Andrea Martins / César Neves /
José Morais Arnaud
943
As faunas depositadas no Museu Arqueológico do Carmo provenientes de Vila Nova
de São Pedro (Azambuja): as campanhas de 1937 a 1967
Ana Catarina Francisco / Cleia Detry / César Neves / Andrea Martins / Mariana Diniz /
José Morais Arnaud
959
Análise funcional de material lítico em sílex do castro de Vila Nova de S. Pedro
(Azambuja, Portugal): uma primeira abordagem
Rafael Lima
971
O recinto da Folha do Ouro 1 (Serpa) no contexto dos recintos de fossos calcolíticos
alentejanos
António Carlos Valera / Tiago do Pereiro / Pedro Valério / António M. Monge Soares
6. Proto-História
987
Produção de sal marinho na Idade do Bronze do noroeste Português. Alguns dados
para uma reflexão
Ana M. S. Bettencourt / Sara Luz / Nuno Oliveira / Pedro P. Simões / Maria Isabel C. Alves /
Emílio Abad-Vidal
1001
A estátua-menir do Pedrão ou de São Bartolomeu do Mar (Esposende, noroeste de Portugal)
no contexto arqueológico da fachada costeira de entre os rios Neiva e Cávado
Ana M. S. Bettencourt / Manuel Santos-Estévez / Pedro Pimenta Simões / Luís Gonçalves
1015
O Castro do Muro (Vandoma/Baltar, Paredes) – notas para uma biografia de ocupação
da Idade do Bronze à Idade Média
Maria Antónia D. Silva / Ana M. S. Bettencourt / António Manuel S. P. Silva / Natália Félix
1031
Do Bronze Final à Idade Média – continuidades e hiatos na ocupação de Povoados
em Oliveira de Azeméis
João Tiago Tavares / Adriaan de Man
1041
As faunas do final da Idade do Bronze no Sul de Portugal: leituras desde o Outeiro
do Circo (Beja)
Nelson J. Almeida / Íris Dias / Cleia Detry / Eduardo Porfírio / Miguel Serra
1055
A Espada do Monte das Oliveiras (Serpa) – uma arma do Bronze Pleno do Sudoeste
Rui M. G. Monge Soares / Pedro Valério / Mariana Nabais / António M. Monge Soares
1065
São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha) - Investigação e valorização de um povoado
do Bronze Final
António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Sara Almeida e Silva / Edite Martins de Sá
1083
Do castro de S. João ao Mosteiro de Santa Clara: notícia de uma intervenção arqueológica,
em Vila do Conde
Rui Pinheiro
1095
O castro de Ovil (Espinho), um quarto de século de investigação – resultados e questões
em aberto
Jorge Fernando Salvador / António Manuel S. P. Silva
1111
O Castro de Salreu (Estarreja), um povoado proto-histórico no litoral do Entre Douro
e Vouga
Sara Almeida e Silva / António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Edite Martins de Sá
1127
Castro de Nossa Senhora das Necessidades (Sernancelhe): uma primeira análise artefactual
Telma Susana O. Ribeiro
1141
A cividade de Bagunte. O estado atual da investigação
Pedro Brochado de Almeida
1153
Zoomorfos na cerâmica da Idade do Ferro no NW Peninsular: inventário, cronologias
e significado
Nuno Oliveira / Cristina Seoane
1163
Vasos gregos em Portugal: diferentes maneiras de contar a história do intercâmbio
cultural na Idade do Ferro
Daniela Ferreira
1175
Os exotica da necrópole da Idade do Ferro do Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer
do Sal) no seu contexto regional
Francisco B. Gomes
7. Antiguidade Clássica e Tardia
1191
O uso de madeira como combustível no sítio da Quinta de Crestelos (Baixo Sabor):
da Idade do Ferro à Romanização
Filipe Vaz / João Tereso / Sérgio Simões Pereira / José Sastre / Javier Larrazabal Galarza /
Susana Cosme / José António Pereira / Israel Espi
1207
Cultivos de Época Romana no Baixo Sabor: continuidade em tempos de mudança?
João Pedro Tereso / Sérgio Simões Pereira / Filipe Santos / Luís Seabra / Filipe Vaz
1221
A casa romana na Hispânia: aplicação dos modelos itálicos nas províncias ibéricas
Fernanda Magalhães / Diego Machado / Manuela Martins
1235
As pinturas murais romanas da Rua General Sousa Machado, n.º 51, Chaves
José Carvalho
1243
Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) – Uma exploração agrícola romana
do Douro
Tony Silvino / Pedro Pereira
1255
A sequência de ocupação no quadrante sudeste de Bracara Augusta: as transformações
de uma unidade doméstica
Lara Fernandes / Manuela Martins
1263
Os Mosaicos com decoração geométrica e geométrico-vegetalista dos sítios arqueológicos
da área do Conuentus Bracaraugustanus. Novas abordagens quanto à conservação,
restauro, decoração e datação
Maria de Fátima Abraços / Licínia Wrench
1277
“Casa Romana” do Castro de São Domingos (Cristelos, Lousada): Escavação, Estudo
e Musealização
Paulo André de P. Lemos
1291
A arqueobotânica no Castro de Guifões (Matosinhos, Noroeste de Portugal): O primeiro
estudo carpológico
Luís Seabra / Andreia Arezes / Catarina Magalhães / José Varela / João Pedro Tereso
1305
Um Horreum Augustano na Foz do Douro (Monte do Castelo de Gaia, Vila Nova de Gaia)
Rui Ramos
1311
Ponderais romanos na Lusitânia: padrões, formas, materiais e contextos de utilização
Diego Barrios Rodríguez
1323
Um almofariz centro-itálico na foz do Mondego
Marco Penajoia
1335
Estruturas romanas de Carnide – Lisboa
Luísa Batalha / Mário Monteiro / Guilherme Cardoso
1347
O contexto funerário do sector da “necrópole NO” da Rua das Portas de S. Antão (Lisboa):
o espaço, os artefactos, os indivíduos e a sua interconectividade na interpretação do passado
Sílvia Loja, José Carlos Quaresma, Nelson Cabaço, Marina Lourenço, Sílvia Casimiro,
Rodrigo Banha da Silva, Francisca Alves-Cardoso
1361
Povoamento em época Romana na Amadora – resultados de um projeto pluridisciplinar
Gisela Encarnação / Vanessa Dias
1371
A Arquitectura Residencial em Mirobriga (Santiago do Cacém): contributo a partir
de um estudo de caso
Filipe Sousa / Catarina Felício
1385
1399
O fim do ciclo. Saneamento e gestão de resíduos nos edifícios termais de Mirobriga
(Santiago do Cacém)
Catarina Felício / Filipe Sousa
Balsa, Topografia e Urbanismo de uma Cidade Portuária
Vítor Silva Dias / João Pedro Bernardes / Celso Candeias / Cristina Tété Garcia
1413
No Largo das Mouras Velhas em Faro (2017): novas evidências da necrópole norte
de Ossonoba e da sua ocupação medieval
Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho / Fernando Santos / Liliana Nunes
1429
Instrumentos de pesca recuperados numa fábrica de salga em Ossonoba (Faro)
Inês Rasteiro / Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho
1439
A Necrópole Romana do Eirô, Duas Igrejas (Penafiel): intervenção arqueológica de 2016
Laura Sousa / Teresa Soeiro
1457
Ritual, descarte ou afetividade? A presença de Canis lupus familiaris na Necrópole
Noroeste de Olisipo (Lisboa)
Beatriz Calapez Santos / Sofia Simões Pereira / Rodrigo Banha da Silva / Sílvia Casimiro /
Cleia Detry / Francisca Alves Cardoso
1467
Dinâmicas económicas em Bracara na Antiguidade Tardia
Diego Machado / Manuela Martins / Fernanda Magalhães / Natália Botica
1479
Cerâmicas e Vidros da Antiguidade Tardia do Edifício sob a Igreja do Bom Jesus
(Vila Nova de Gaia)
Joaquim Filipe Ramos
1493
Novos contributos para a topografia histórica de Mértola no período romano e na
Antiguidade Tardia
Virgílio Lopes
8. Época Medieval
1511
Cerâmicas islâmicas no Garb setentrional “português”: algumas evidências e incógnitas
Constança dos Santos / Helena Catarino / Susana Gómez / Maria José Gonçalves / Isabel Inácio /
Gonçalo Lopes / Jacinta Bugalhão / Sandra Cavaco / Jaquelina Covaneiro / Isabel Cristina Fernandes /
Ana Sofia Gomes
1525
Contributo para o conhecimento da cosmética islâmica, em Silves, durante a Idade Média
Rosa Varela Gomes
1537
Yábura e o seu território – uma análise histórico-arqueológica de Évora entre os séculos VIII-XII
José Rui Santos
1547
A encosta sul do Castelo de Palmela – resultados preliminares da escavação arqueológica
Luís Filipe Pereira / Michelle Teixeira Santos
1559
A igreja de São Lourenço (Mouraria, Lisboa): um conjunto de silos e de cerâmica medieval
islâmica
Andreia Filipa Moreira Rodrigues
1571
O registo material de movimentações populacionais no Médio Tejo, durante os séculos
XII-XIII. Dois casos de “sunken featured buildings”, nos concelhos de Cartaxo e Torres Novas
Marco Liberato / Helena Santos / Nuno Santos
1585
O nordeste transmontano nos alvores da Idade média. Notas para reflexão
Ana Maria da Costa Oliveira
1601
Sepulturas escavadas na rocha do Norte de Portugal e do Vale do Douro: primeiros
resultados do Projecto SER-NPVD
Mário Jorge Barroca / César Guedes / Andreia Arezes / Ana Maria Oliveira
1619
“Portucalem Castrum Novum” entre o Mediterrâneo e o Atlântico: o estudo dos materiais
cerâmicos alto-medievais do arqueossítio da rua de D. Hugo, nº. 5 (Porto)
João Luís Veloso
1627
A Alta Idade Média na fronteira de Lafões: notas preliminares sobre a Arqueologia
no Concelho de Vouzela
Manuel Luís Real / Catarina Tente
1641
Um conjunto cerâmico medieval fora de portas: um breve testemunho aveirense
Susana Temudo
1651
Os Lóios do Porto: uma perspetiva integrada no panorama funerário da Baixa Idade Média
à Época Moderna em meios urbanos em Portugal
Ana Lema Seabra
1659
O Caminho Português Interior de Santiago como eixo viário na Idade Média
Pedro Azevedo
1665
Morfologia Urbana: Um exercício em torno do Castelo de Ourém
André Donas-Botto / Jaqueline Pereira
1677
Intervenção arqueológica na Rua Marquês de Pombal/Largo do Espírito Santo
(Bucelas, Loures)
Florbela Estêvão / Nathalie Antunes-Ferreira / Dário Ramos Neves / Inês Lisboa
1691
O Cemitério Medieval do Poço do Borratém e a espacialidade funerária na cidade de Lisboa
Inês Belém / Vanessa Filipe / Vasco Noronha Vieira / Sónia Ferro / Rodrigo Banha da Silva
1705
Um Espaço Funerário Conventual do séc. XV em Lisboa: o caso do Convento de São
Domingos da Cidade
Sérgio Pedroso / Sílvia Casimiro / Rodrigo Banha da Silva / Francisca Alves Cardoso
9. Época Moderna e Contemporânea
1721
Arqueologia Moderna em Portugal: algumas reflexões críticas em torno da quantificação
de conjuntos cerâmicos e suas inferências históricas e antropológicas
Rodrigo Banha da Silva / André Bargão / Sara da Cruz Ferreira
1733
Faianças de dois contextos entre os finais do século XVI e XVIII do Palácio dos Condes
de Penafiel, Lisboa
Martim Lopes / Tomás Mesquita
1747
Um perfil de consumo do século XVIII na foz do Tejo: O caso do Mercado da Ribeira, Lisboa
Sara da Cruz Ferreira / Rodrigo Banha da Silva / André Bargão
1761
Os Cachimbos dos Séculos XVII e XVIII do Palácio Mesquitela e Convento dos Inglesinhos
(Lisboa)
Inês Simão / Marina Pinto / João Pimenta / Sara da Cruz Ferreira / André Bargão / Rodrigo Banha da Silva
1775
«Tomar os fumos da erua que chamão em Portugal erua sancta». Estudo de Cachimbos
provenientes da Rua do Terreiro do Trigo, Lisboa
Miguel Martins de Sousa / José Pedro Henriques / Vanessa Galiza Filipe
1787
Cachimbos de Barro Caulínitico da Sé da Cidade Velha (República de Cabo Verde)
Rodrigo Banha da Silva / João Pimenta / Clementino Amaro
1801
Algumas considerações sobre espólio não cerâmico recuperado no Largo de Jesus (Lisboa)
Carlos Boavida
1815
Adereços de vidro, dos séculos XVI-XVIII, procedentes do antigo Convento de Santana
de Lisboa (anéis, braceletes e contas)
Joana Gonçalves / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes
1837
Da ostentação, luxo e poder à simplicidade do uso quotidiano: arqueologia e simbologia
de joias e adornos da Idade Moderna Portuguesa
Jéssica Iglésias
1849
Os amuletos em Portugal – dos objetos às superstições: o coral vermelho
Alexandra Vieira
1865
Cerâmicas de Vila Franca de Xira nos séculos XV e XVI
Eva Pires
1879
«Não passa por teu o que me pertence». Marcas de individualização associadas a faianças
do Convento de Nossa Senhora de Aracoeli, Alcácer do Sal
Catarina Parreira / Íris Fragoso / Miguel Martins de Sousa
1891
Cerâmica de Leiria: alguns focos de produção
Jaqueline Pereira / André Donas-Botto
1901
Os Fornos na Rua da Biquinha, em Óbidos
Hugo Silva / Filipe Oliveira
1909
A casa de Pêro Fernandes, contador dos contos de D. Manuel I: o sítio arqueológico da Silha
do Alferes, Seixal (século XVI)
Mariana Nunes Ferreira
1921
O Alto da Vigia (Sintra) e a vigilância e defesa da costa
Alexandre Gonçalves / Sandra Santos
1937
O contexto da torre sineira da Igreja de Santa Maria de Loures
Paulo Calaveira / Martim Lopes
1949
A Necrópole do Hospital Militar do Castelo de São Jorge e as práticas funerárias na Lisboa
de Época Moderna
Susana Henriques / Liliana Matias de Carvalho / Ana Amarante / Sofia N. Wasterlain
1963
SAND – Sarilhos Grandes Entre dois Mundos: o adro da Igreja e a Paleobiologia dos ossos
humanos recuperados
Paula Alves Pereira / Roger Lee Jesus / Bruno M. Magalhães
1975
Expansão urbana da vila de Cascais no século XVII e XVIII: a intervenção arqueológica
na Rua da Vitória nº 15 a 17
Tiago Pereira / Vanessa Filipe
1987
Novos dados para o conhecimento do Urbanismo de Faro em época Moderna
Ana Rosa
1995
Um exemplo de Arqueologia Urbana em Alcoutim: o Antigo Edifício dos CTT
Marco Fernandes / Marta Dias / Alexandra Gradim / Virgílio Lopes / Susana Gómez Martínez
2007
Palácio dos Ferrazes (Rua das Flores/Rua da Vitória, Porto): a cocheira de Domingos
Oliveira Maia
Francisco Raimundo
2021
As muitas vidas de um edifício urbano: História, Arqueologia e Antropologia no antigo
Recreatório Paroquial de Penafiel
Helena Bernardo / Jorge Sampaio / Marta Borges
2035
O convento de Nossa Senhora da Esperança de Ponta Delgada: o contributo da arqueologia
para o conhecimento de um monumento identitário
João Gonçalves Araújo / N’Zinga Oliveira
2047
Arqueologia na ilha do Corvo… em busca da capela de Nossa Senhora do Rosário
Tânia Manuel Casimiro / José Luís Neto / Luís Borges / Pedro Parreira
2059
Perdidos à vista da Costa. Trabalhos arqueológicos subaquáticos na Barra do Tejo
Jorge Freire / José Bettencourt / Augusto Salgado
2071
Arqueologia marítima em Cabo Verde: enquadramento e primeiros resultados do
projecto CONCHA
José Bettencourt / Adilson Dias / Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Cristóvão Fonseca /
Dúnia Pereira / Gonçalo Lopes / Inês Coelho / Jaylson Monteiro / José Lima / Maria Eugénia Alves /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2085
Trabalhos arqueológicos na Cidade Velha (Ribeira Grande de Santiago, Cabo Verde):
reflexões sobre um projecto de investigação e divulgação patrimonial
André Teixeira / Jaylson Monteiro / Mariana Mateus / Nireide Tavares / Cristovão Fonseca /
Gonçalo C. Lopes / Joana Bento Torres / Dúnia Pereira / André Bargão / Aurélie Mayer / Bruno Zélie /
Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Inês Henriques / Inês Pinto Coelho / José Lima /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2103
A antiga fortificação de Quelba / Khor Kalba (E.A.U.). Resultados de quatro campanhas
de escavações, problemáticas e perspectivas futuras
Rui Carita / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes / Kamyar Kamyad
2123
Colónias para homens novos: arqueologia da colonização agrária fascista no noroeste ibérico
Xurxo Ayán Vila / José Mª. Señorán Martín
DOI: https://doi.org/10.21747/978-989-8970-25-1/arqa64
come together: o conjunto
megalítico das motas (monção,
viana do castelo) e as expressões
campaniformes do alto minho
Ana Catarina Basílio1, Rui Ramos2
RESUMO
O Complexo Megalítico das Motas, intervencionado entre 2014/2015, possibilitou o incremento do conhecimento deste tipo de fenómeno funerário na região do Alto Minho, preenchendo uma lacuna espacial entre
os núcleos da Portela do Pau e Litoral Minhoto. Apresenta características e dinâmicas construtivas únicas que
podem, eventualmente, explicar a sua larga utilização/reutilização.
Neste núcleo, a cerâmica Campaniforme foi identificada em duas das estruturas, uma delas portadora do maior
conjunto de recipientes até agora identificado no Alto Minho. Esta existência conecta o sítio com o Fenómeno
Campaniforme a nível regional, sendo possível entender que as comunidades com esta cerâmica, que recorreram ao Complexo das Motas, seriam extremamente abertas e permeáveis a novas ideias, tendo reinterpretado
e tornado seu, um fenómeno geograficamente amplo.
Palavras-chave: Campaniforme, Alto Minho, Megalitismo, Conjunto Megalítico das Motas.
ABSTRACT
The Motas Megalithic Complex, intervened between 2014-2015, made it possible to increase the existing
knowledge of this type of funerary phenomenon in the Alto Minho region, filling a spatial gap between the
Portela do Pau and Litoral Minhoto nucleus. It presents unique constructive characteristics and dynamics,
which may, eventually, explain its broad use/reuse.
In this Complex, Bell Beakers were identified in two of the structures, one of them carrying the most extensive
set of containers so far identified in Alto Minho. This existence connects the site with the Bell Beaker phenomenon at a regional level, making it possible to understand that the “Bell Beaker communities” who used Motas’
Complex, would be extremely open and permeable to new ideas, having reinterpreted, and made it theirs, a
geographically extensive phenomenon.
Keywords: Bell Beaker, Alto Minho, Megalithism, Motas Megalithic Complex.
1. INTRODUÇÃO
A intervenção do Conjunto Megalítico das Motas
(Monção, Viana do Castelo) decorreu no âmbito
do projecto de Construção do Minho Park Monção
promovido pela Associação Industrial do Minho e o
Município de Monção. Os trabalhos de campo ficaram a cargo da empresa Omniknos, cujo objectivo
principal passava pela minimização dos impactes
sobre os já referenciados monumentos megalíticos das Motas (Fontinha, 2014), numa área total de
1646,6 m².
Entre 2014/2015 foram realizadas seis sondagens
de diagnóstico (Motas 1, Motas 2, Motas 3, Motas 4, Motas 5 e Soalhosa 1) que permitiram aferir
a natureza artificial das estruturas. Considerando a
impossibilidade de conciliar a execução do projecto com a presença e preservação das arquitecturas,
1.ICArEHB – Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour / FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia;
[email protected]
2. Omniknos Arqueologia Lda.;
[email protected]
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
encontrava-se preconizada a escavações integral de
todas as realidades. Todavia, com a interrupção do
empreendimento, apenas foram intervencionados
três dos monumentos (Motas 1, Motas 5 e Soalhosa 1), não sendo conhecidas as dinâmicas ocupacionais dos restantes. Ainda assim, a sua importância
foi prontamente identificada, tendo sido possível
enquadrar as dinâmicas construtivas e materiais no
Calcolítico/Idade do Bronze, destacando-se a integração de cerâmicas com decoração campaniforme
tanto em Soalhosa 1 e Motas 5. No caso de Motas 1, a
identificação de cerâmica com decoração incisa metopada de “tipo Penha” corrobora as tendências dos
restantes monumentos e a sua contemporaneidade
com o Campaniforme (Jorge, 1983-84).
Porém, e considerando o carácter múltiplo e complexo do “Campaniforme”, é necessário ler o conjunto recuperado no Complexo das Motas a uma
escala local e com o seu entorno paisagístico, cultural e humano, fomentando o incremento das biografias, trajectórias e estórias deste fenómeno na região
do Alto Minho (Norte do Rio Lima).
2. A NECRÓPOLE MEGALÍTICA DAS MOTAS
(MONÇÃO, VIANA DO CASTELO):
ENQUADRAMENTOS, BIOGRAFIAS
E MATERIALIDADES
2.1. Enquadramento geográfico e geológico
A Necrópole Megalítica das Motas implanta-se no
lugar das Motas que abrange a freguesia de Lara e
Tropiz, no concelho de Monção, distrito de Viana do Castelo. As suas coordenadas centrais são X:
4691051.099951; Y: -702678.121144 (ERTS89, EPSG:
4936). (Figura 1)
Desenvolve-se num plateaux em contexto de vale,
com aproximadamente 1 km2, numa área que apresenta um controlo visual essencialmente dirigido a
Oeste, Noroeste e Norte. Nestas áreas desenvolvem-se os vales do rio Gadanha (Norte), com vertentes
muito acentuadas, e o vale da ribeira da Lara (Oeste),
afluente do rio Minho, com declives mais suaves. Em
oposição, a visibilidade para Sul, Este, Sudoeste, Sudeste e Nordeste encontra-se limitada pela primeira
elevação das serranias presentes nesta região.
A nível geológico (cartas geológicas 01-A e 01-B), a
área onde se desenvolve o complexo megalítico apresenta um substrato geológico granítico relacionado
com fracturas frágeis, também conhecido como Granito de Monção (Carta Geológica 1:200000). Estes
são recobertos por depósitos da Orla Ocidental, fluviais e lacustres Plio-plistocénicos (terraços fluviais).
Estes cobrem áreas importantes da região marginal
do rio Minho. São essencialmente de tipologia conglomerática, sendo constituídos por areias grosseiras e calhaus rolados de quartzito e algum quartzo,
intercalados por horizontes mais finos, com siltes e
argilas arenosas, originados pela meteorização e erosão das vertentes e posterior deposição em meio fluvial (Esteves, Fernandes e Vasconcelos, 2010).
Resta ressaltar que a implantação deste conjunto
funerário, junto a uma área de vale, é relativamente
incomum no panorama megalítico do Alto Minho.
Nesta região as ocupações sepulcrais apresentam
uma preferência de implantação nas áreas litorais
e/ou em altura com alta visibilidade (Bettencourt e
Vilas Boas, 2019), contrastando com o enclave dos
monumentos megalíticos em estudo. Este é ainda
mais acentuado quando consideramos as várias limitações visuais e paisagísticas identificadas.
2.2. Monumentos e Arquitecturas
O Conjunto das Motas era desconhecido da comunidade científica até à elaboração do Estudo Histórico e Arqueológico de Caracterização (Fontinha,
2014). Este trabalho, bem como as intervenções
arqueológicas desenvolvidas pela Omniknos, entre
2014 e 2015, permitiram caracterizar algumas das
práticas e ritmos deste aglomerado de monumentos
que, pela sua dimensão e extrema complexidade,
carecem de trabalhos especializados e particularizados em componentes específicas – como é o caso do
Campaniforme no presente trabalho3.
De forma genérica, a necrópole corresponde a um
conjunto de pelo menos sete monumentos megalíticos, não sendo descartada a existência de mais
estruturas. A maioria destas foi identificada pela
presença de montículos de terra correspondentes
às mamoas das estruturas. As afinidades compartilhadas entre si foram prontamente identificadas no
decurso das intervenções, particularmente no que
concerne à organização espacial e aos elementos ar-
3. A demora na publicação e apresentação de resultados
referentes ao Complexo Megalítico das Motas deveu-se ao
extenso período de espera para o recomeço do processo de
minimização e ao demorado cumprimento dos compromissos contratuais. Assim, encontrando-se a situação esclarecida, procede-se à publicação de parte da intervenção,
como é normal no grupo Era Arqueologia S.A.
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quitectónicos dos monumentos. A presença de anéis
de contenção, mamoas térreas, câmaras e corredores
aparenta ser comum a todas as construções – sepulturas de corredor diferenciado (Silva, 2007) – ainda
que se identifiquem, igualmente, algumas variações
internas. Estas, espectáveis em conjuntos megalíticos com biografias que podem atingir milénios, serão o resultado das trajectórias individuais de cada
monumento, sendo mesmo assim possível discernir relações entre as diversas estruturas funerárias
e uma possível contemporaneidade nas suas utilizações. De forma geral, e baseando estas considerações nos dados dos três monumentos integralmente
intervencionados, a utilização arqueologicamente
mais visível das estruturas pode ser balizada entre o
Calcolítico e a Idade do Bronze regional. No entanto, esta caracterização deve ser meramente indicativa. Por um lado, porque não foi possível clarificar a
temporalidade da construção dos monumentos das
Motas. No Alto Minho são conhecidas estruturas de
construção Neolítica, mas também datadas do período Calcolítico (Bettencourt e Vilas Boas, 2019).
Esta incerteza na cronologia tem impacto nas leituras relativas ao papel e à agência que as estruturas
têm tanto na paisagem, como nas comunidades em
si, afectando também as aproximações às dinâmicas
dos monumentos. Por outro lado, a impossibilidade
de obtenção de elementos datantes, devido à total
ausência de vestígios orgânicos, impediu (até à data
do presente trabalho) uma caracterização radiométrica mais aprofundada.
A nível da conservação, é necessário referir que no
Complexo Megalítico das Motas foram identificados
momentos de violação e saque nas áreas centrais das
mamoas, que atingiram as câmaras das estruturas.
Numa perspectiva biográfica, e focando a abordagem
na área aplanada de terraço das Motas, a história dos
monumentos não se inicia apenas aquando da edificação destas estruturas. Isto porque a sua implantação encontra-se influenciada, ou mesmo pré-definida, pela presença de um paleosolo que conta com
uma preservação diferenciada ao longo do complexo
megalítico. Esta fina evidência de presença humana
assenta, segundo os dados de alguns dos monumentos integralmente intervencionados, directamente no terraço fluvial que constitui a base geológica
do sítio das Motas. Para além de alguns elementos
materiais, como artefacto líticos (geométricos) e
cerâmicos (decorações tipo boquique), não foram
registadas estruturas ou outro tipo de evidências an-
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
trópicas datáveis desta fase recuada, eventualmente
enquadrada no 5ºmilénio a.C.
Já no que concerne os monumentos em si, apenas é
possível caracterizar mais extensamente as dinâmicas de Motas 1, 5 e Soalhosa 1, sendo que em apenas
dois deles (Motas 5 e Soalhosa 1) foi detectada a presença de cerâmica Campaniforme. Como tal, e considerando o objectivo do presente trabalho, serão
apenas apresentadas extensamente as duas estruturas com elementos Campaniformes, sendo que muitas das características e dinâmicas são partilhadas
entre os diversos monumentos desta área aplanada
de terraço.
A estrutura Motas 5 apresenta-se mal preservada
comparativamente aos outros dois monumentos
integralmente intervencionados. Contava com um
montículo de 18 metros de diâmetro, que atingia
os 1,40 metros de altura a cima do solo actual, não
tendo sido identificada a presença do paleosolo na
sua base. Ainda assim, apresentava um nível de base
composto por cinzas que pode ser lido como o resultado de um processo prévio de desflorestação e
preparação do terreno para a construção do monumento, uma vez que o primeiro depósito da mamoa
assenta directamente neste nível, não se registando
evidências de hiato. No entanto, a ausência deste
tipo de solução nos outros monumentos do plateaux
obriga a cautela no processo de associação directa
entre ambas as realidades, já que podem igualmente
corresponder a momentos e acções temporalmente
desconexas. (Figura 2)
Já na fase de construção e posterior utilização do
monumento, detectou-se a existência de uma câmara ortostática e um possível corredor, ambos muito
afectados pelo momento de saque de cronologia incerta. Sem embargo, a câmara atinge os 2,50 metros
de largura e os 20 centímetros de profundidade, não
tendo sido identificados alvéolos de implantação de
esteios. No entanto, um deles encontrar-se-á próximo da que seria a sua possível posição original.
Este, com 2 metros de comprimento e 1,40 metros
de largura, poderá corresponder à laje de cabeceira
do monumento. Apresenta um sulco latitudinal nas
suas duas faces, ao qual se somam duas pequenas
perturberâncias longitudinais, uma delas na base
do esteio e outra imediatamente sobre o sulco. Estas pré-existências sugerem que o elemento pétreo,
incluído na construção do monumento, apresenta
uma biografia prévia, mais rica, podendo corresponder a uma antiga estela reutilizada. Este tipo de
incorporação, com uma carga ideológica, adiciona
conteúdos, histórias e valores prévios à biografia geral da estrutura, podendo gerar novos sentidos em
relação à maneira como estes grupos compreendiam
e construíam o seu passado, presente ou mesmo futuro (Valera, 2019; Bueno Ramírez et al. 2016).
Do corredor foram apenas recuperados dois esteios
remobilizados, implantados numa interface de
planta irregular escavada no terraço fluvial. Sobre
este, pode sugerir-se que seria relativamente curto
e diferenciado da câmara, possivelmente orientado
a Oeste, não se compreendendo se já se encontraria
colmatado aquando da formação do tumulus.
A mamoa do monumento funerário é composta por
dois grandes depósitos que o vão cobrindo do centro para a periferia. Estas terras eram contidas por
um anel pétreo incipiente, composto por blocos de
granito de pequena dimensão, directamente assente
no substracto geológico. Já em época indeterminada, mas possivelmente coeva com a utilização da estrutura, o perímetro da mamoa é aumentado, com a
adição de uma nova camada que cobre o anel pétreo
anterior, mas que não se espalha por toda a área da
mamoa. Sobre este adoçamento foi construído um
segundo anel pétreo em granito, que acompanhava
o novo perímetro do monumento.
Em suma, o elevado grau de afectação detectado
no monumento Motas 5 impossibilitou uma maior
compreensão da arquitectura e das dinâmicas inerentes à utilização desta estrutura, não tendo sido
recuperados contextos preservados no interior da
câmara e corredor. No entanto, foi possível discernir quatro grandes momentos: uma possível fase
de preparação do terreno para a implantação da
estrutura funerária (com a realização de uma possível desflorestação), um momento de construção
e utilização da estrutura enquanto monumento
funerário, uma reformulação provavelmente pré-histórica do espaço tumular (acrescento de perímetro na mamoa) e um momento do saque de
cronologia indeterminada.
No que toca a Soalhosa 1, esta é uma das maiores
estruturas da necrópole, com um tumulus cujo diâmetro ronda os 18,50 metros e uma altura de 1,20
metros. Localiza-se no extremo Norte do plateaux
e, tal como os restantes monumentos, apresentava
uma depressão irregular na área central da mamoa,
que indiciava a sua violação.
Contrariamente a Motas 5, em Soalhosa 1 foram detectadas algumas evidências da presença do paleo-
solo, que não fará parte dos três grandes momentos
individualizados na biografia da estrutura em análise. O primeiro corresponde à fase de construção e
utilização antrópica da estrutura funerária. A nível
arquitectónico a câmara do monumento apresentaria uma planta poligonal, composta por oito esteios
de granito, dos quais dois se encontravam ligeiramente remobilizados (tombados) e ainda outros
dois, muito fragmentados, mas na sua posição original. Neste último caso foi possível compreender que
os esteios se encontravam implantados em alvéolos,
sendo sustentados por meio de calços de seixos de
quartzito e blocos toscos de granito de pequena dimensão. Foi igualmente detectada a existência de
uma contrafortagem no exterior da câmara, que
terá sido posteriormente coberta pelos depósitos da
mamoa. (Figura 3)
Esta câmara foi afectada por uma vala de saque que
não truncou a totalidade do seu preenchimento,
tendo-se detectado uma pequena área inalterada
que preservou deposições in situ de artefactos possivelmente relacionados com a utilização funerária.
O depósito preservado estender-se-ia também para
o corredor da estrutura, através da entrada na câmara,
com cerca de um metro de largura. Esta estabeleceria
a conexão entre o espaço tumular e o corredor, que
conta com uma extensão de 4,50 metros de comprimento, por dois metros de largura, com uma orientação Es-Sudeste. O seu enchimento é realizado de
forma faseada, com deposições de níveis pétreos
mais ou menos abrangentes, culminando na construção de um murete perpendicular ao corredor, que
condena o acesso a esta “divisão”. É de notar também
a presença de uma possível cista, sem espólio (material ou osteológico), junto à entrada da câmara, sendo
que inclusões semelhantes foram detectadas noutros contextos, tal como o caso da Mamoa da Chã da
Mourisca, em Ponte de Lima (Vilas Boas e Oliveira,
2018; Bettencourt e Vilas Boas, 2019).
Sugere-se a existência de um pequeno átrio incipiente, materializado em três estruturas de combustão que ladeiam o corredor de Soalhosa 1, ainda que
a presença desta característica arquitectónica seja
muito ténue. O mesmo ocorre na Mamoa 2 do Alto
da Portela do Pau, com a presença de lareiras junto
à área da entrada do monumento (Jorge et al. 1997).
Esta inclusão, bem como a já mencionada possível
desflorestação com recurso a queimadas de Motas 5,
vem acentuar a importância e o papel desempenhado pelo fogo nas práticas funerárias das comunida-
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des Neo-Calcolíticas, não só do Alto Minho como,
de forma mais abrangente, do mundo nortenho
(Bettencourt e Vilas Boas, 2019).
O tumulus é composto por três momentos de formação. Um primeiro montículo delimitado por
um anel pétreo, no qual tanto a câmara, corredor e
o possível átrio se encontrariam em funcionamento. Uma segunda fase em que o corredor estaria já
colmatado e condenado, corresponde à oclusão do
anel pétreo prévio, com a construção de um segundo anel que abarca o novo perímetro do monumento. Por fim, a adição de um terceiro depósito que não
abrange a totalidade da área desenhada pelo segundo anel externo e que é coberto por uma couraça de
seixos de quartzito.
De forma resumida, a biografia de Soalhosa 1 é composta por três grandes momentos: a construção e
utilização funerária da estrutura em si que, numa segunda fase, se vê profundamente reformulada arquitectonicamente. Por fim, tal como em Motas 5, também Soalhosa 1 foi alvo de um violento saque que,
neste caso, não truncou a totalidade dos contextos.
Os restantes contextos intervencionados na área
aplanada de terraço (Motas 1), apresentam um faseamento semelhante aos de Soalhosa 1 e Motas 5. No
entanto, esta terceira estrutura vê a sua biografia ser
“perlongada” pela presença de revisitações e ocupações posteriores à finalização da estrutura tumular.
As revisitações esporádicas encontram-se materializadas tanto na deposição de elementos cerâmicos
de cronologias não compatíveis com a utilização
principal dos monumentos, como na presença de
oito estruturas de combustão do tipo forno. Todas
estas realidades perturbam o tumulus de Motas 1,
destacando-se os oito fornos pelo seu caracter exclusivo no panorama do megalitismo nacional. Porém, e de forma mais abrangente, parece relativamente seguro afirmar que os monumentos, pelas
suas biografias e trajectórias minimamente partilhadas, terão sido agentes contemporâneos quer em
práticas e discursos sociais do Calcolítico da região,
como também elementos transformadores na paisagem circundante.
2.3. As materialidades das estruturas e os elementos campaniformes
O conjunto de artefactos recuperado na intervenção
do Conjunto Megalítico das Motas apresenta uma
notável variabilidade formal e cronológica. Esta diversidade permite compreender que o plateaux terá
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
sido experienciado pelo menos desde o Neolítico
Antigo. Os monumentos em si vão sofrendo constantes processos de transformação arquitectónica,
sendo compreensíveis e justificáveis as deformações
e deturpações das realidades estratigráficas, agravadas pelas acções antrópicas mais recentes. Estas,
essencialmente reconhecidas devido à presença de
artefactos, podem remontar até ao século I a.C., com
evidências de ocupação Romana. Todavia, actividades como a abertura das valas de saque, amplamente
presentes em todos os monumentos, são impossíveis de datar neste contexto. (Figura 4)
No caso dos materiais do monumento Soalhosa 1,
estes correspondem ao maior conjunto artefactual
recuperado, atingindo as 70 peças arqueológicas.
Destas salientam-se os artefactos em pedra lascada (47%), principalmente em sílex, e os elementos
cerâmicos (46%), distribuindo-se pela câmara e o
tumulus da estrutura. As tipologias artefactuais são
compatíveis com uma utilização em fase plena/final do Calcolítico Peninsular (com cerâmica com
decoração incisa metopada de “tipo Penha” e elementos campaniformes). 26% do total do conjunto
é proveniente do paleosolo, nos qual ressalta a presença de geométricos (crescentes e trapézios). Uma
breve nota vai para o pequeno nicho conservado
no interior da câmara de Soalhosa 1, que preservou
a deposição de parte do espólio funerário original
in situ – um esférico com boca muito fechada com
acentuação do colo, uma taça em calote completa
com decoração incisa metopada de “tipo Penha”,
duas lâminas em sílex, uma lasca, também em sílex, com marcas de uso e seis pontas de seta de base
triangular em quartzo-leitoso.
Já no que concerne os elementos campaniformes,
foram referenciados cinco recipientes, recuperados
na forma de nove fragmentos aparentemente descontextualizados. Dois deles são provenientes dos
contextos revolvidos da câmara, correspondendo a
um recipiente com linhas pontilhadas horizontais
e paralelas entre si (Fig.4: 3) e ainda um vaso com
linhas pontilhadas iguais ao exemplar anterior, mas
às quais é adicionada uma banda preenchida com linhas “semi-oblíquas” (Fig.4: 1). Os restantes exemplares, foram descobertos no tumulus da estrutura,
formando dois campaniformes com motivos internacionais (Fig.4: 4 e 5) e ainda um campaniforme
com uma aparente afinidade aos motivos decorativos Ciempozuelos mas que neste caso, se desenvolve com recurso à técnica pontilhada (Fig.4: 2).
Em Motas 5, os materiais recuperados são numericamente inferiores, contando-se somente oito
artefactos na sua totalidade. Destacam-se dois fragmentos de lâmina, uma ponta de seta de base recta
e uma outra de base triangular, ambas em quartzo,
bem como um bordo de um recipiente com decoração incisa metopada de “tipo Penha”. Foi igualmente individualizado um possível bojo com decoração
campaniforme que, pela sua reduzida dimensão,
não permite uma descrição ou atribuição decorativa mais concreta, sendo exclusivamente possível
avançar o recurso à técnica da impressão (Fig.4: 6).
Outros materiais, estes já provenientes do monumento Motas 1, correspondem a elementos de destaque merecido pelo seu valor cronológico, ou pela
sua conservação. É disto exemplo a deposição primária identificada no corredor/átrio desta terceira
estrutura, composta por duas taças em calote de
esfera, ambas profusamente ornamentadas com decoração incisa metopada de “tipo Penha”. Também
é de referir a presença de um vaso de largo bordo
horizontal. Este, depositado numa fossa pouco profunda escavada no tumulus da estrutura aquando
de uma revisitação tardia, encontra paralelos em
diversos contextos da Idade do Bronze (Médio e
Final) no Noroeste peninsular. Nesta área, os vasos
de largo bordo horizontal encontram-se associados
a deposições funerárias, enquanto espólios votivos
(Bettencourt, 2010; Ataíde e Teixeira, 1940). No
caso do monumento Motas 1 do Complexo Megalítico das Motas, segundo os dados estratigráficos,
o recipiente não estaria enquadrado em nenhum
contexto funerário, representando uma deposição
isolada. Outro exemplo semelhante é o do recipiente do século I a.C. cujo contexto e intencionalidade da deposição na área tumular é, e possivelmente contrariamente ao que acontece com o vaso
anterior, indeterminada.
Em suma, e na prática, as materialidades recuperadas nos monumentos que compõem o Complexo
Megalítico das Motas permitem reforçar as sugestões cronológicas avançadas na análise das biografias
e arquitecturas das estruturas. Assim, a ocupação
prévia ao conjunto megalítico em si será possivelmente atribuível ao 5ºmilénio a.C. – Neolítico Antigo – pela presença de geométricos e cerâmica de
tipo boquique. O principal momento construtivo e
de utilização será enquadrável no Calcolítico regional, com uma particular visibilidade da segunda metade do 3º milénio a.C. A esta realidade seguem-se
momentos de revisitação que se estendem desde a
Idade do Bronze (Média e Final) até ao período romano, estando ainda por clarificar a temporalidade
da realização das valas de saque.
Focando especificamente as expressões Campaniformes no Complexo Megalítico das Motas, estas
são notoriamente escassas. Deste modo, considerações mais extensas acerca das dinâmicas, ritmos
e temporalidades deste fenómeno e manifestação
cultural e identitária estão limitadas, ainda que algumas questões e problemas possam ser explorados, focando-se a intencionalidade da inclusão e o
possível papel destes elementos decorados nos monumentos funerários.
O estado fragmentado dos recipientes recuperados,
o reduzido número de fragmentos decorados por
recipiente, a sua própria dimensão e a incerta proveniência contextual permitem questionar a natureza
e temporalidade da sua inclusão nas estruturas em
estudo. Ou seja, equacionar se os recipientes com
decoração campaniforme incluídos em Soalhosa 1
e Motas 5 terão sido parte integrante do espólio funerário, em contemporaneidade, por exemplo, com
elementos de “tipo Penha” depositados em ambos
os monumentos. Por outro lado, é possível inquirir
se estes materiais correspondem a itens depositados
no tumulus das estruturas, em eventuais revisitações, como detectado no recipiente de largo bordo
horizontal (depositado em Motas 1).
Assim, e segundo o grau de informações disponíveis para Motas 5 e Soalhosa 1, é impossível optar,
de forma minimamente segura, por algumas das
hipóteses. Verifica-se então a necessidade futura
de proceder a intervenções mais extensas noutros
monumentos do complexo megalítico, que possibilitem, eventualmente, clarificar se o Campaniforme
é uma intrusão nas tradições e práticas construtivas
ou, pelo contrário, uma adição em continuidade
(Rodriguez Casal, 1990; Sousa, 2012; Bettencourt,
2011), como já identificado noutras regiões nacionais (Basílio, no prelo a).
3. O “MUNDO CAMPANIFORME” DO ALTO
MINHO E O COMPLEXO MEGALÍTICO
DAS MOTAS
A expressão cultural Campaniforme é uma das
mais estudadas da Pré-História europeia. Esta realidade deve-se à sua extensa abrangência geográfica
que, ainda hoje, é lida como sendo o reflexo de um
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“povo” – esta perspectiva tem vindo a ser suportada pelos recentes dados de ADN antigo, ainda incipientes e insuficientes (Linden, 2019; Basílio, no
prelo b). No entanto, e mesmo que novas revisões
e leituras sejam necessárias para integrar, de forma
crítica, estes dados, as correntes actualmente dominantes tendem a compreender o “Mundo Campaniforme” como o reflexo de processos de intensificação de contactos entre grupos, o que possibilita a
disseminação de um conjunto coeso de ideias, práticas, tradições, materialidades, mensagens e cosmologias que estão por trás do “Campaniforme”
(Linden, 2013; Prieto Martínez, 2013). Este conjunto “original” sofre processos de rejeição e/ou aceitação, podendo ser reinterpretado, reconceptualizado, operacionalizado e utilizado pelos grupos
humanos de forma múltipla e variada.
Assim, é expectável que a negociação e a maior ou
menor adesão ao Fenómeno Campaniforme se encontre fortemente influenciada, e mesmo condicionada, pela matriz e trajectória histórica de cada
comunidade, bem como pela visão que têm de si
próprias e do mundo onde se inserem (Rebuge,
2004; Sanches e Barbosa, 2018; Bettencourt, 2011).
Isto pode auxiliar na explicação, por exemplo, das
disparidades notórias que o Campaniforme adquire num território tão pequeno como o contido nas
actuais fronteiras de Portugal, com dicotomias sociais, temporais, funcionais e estilísticas entre o
Norte, Sul e a área da Estremadura, que podem remontar ao início do Neolítico, ou mesmo a períodos
históricos mais recuados.
No caso do estudo do Fenómeno Campaniforme no
Norte de Portugal, as pré-existências sociais e os distintos influxos culturais, ditam comportamentos e
práticas intimamente relacionadas com o espaço
(Sanches e Barbosa, 2018; Bettencourt, 2011). O Alto
Minho, a área onde se implanta o Complexo Megalítico das Motas, insere-se na “sub-região cultural”
do Noroeste (NO). Aqui as influências atlânticas são
notoriamente mais expressivas, ganhando destaque
os estudos referentes à Idade do Bronze, com uma
maior visibilidade dos contextos sepulcrais, numa
paisagem marcada por relevos acidentados e montanhosos (Bettencourt, 2011). A nível dos elementos campaniformes, esta expressão é compreendida
como um elemento que é aplicado pelas comunidades do passado no estabelecimento e construção das
identidades, tanto a nível local, como regional (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa, 2018). Apresenta
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
uma cronologia bastante recuada, ainda dentro do 2º
quartel do 3º milénio a.C. (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa, 2018), o que lhe confere uma antiguidade aparentemente coincidente com algumas
datas da Estremadura Portuguesa (Cardoso, 2015),
mas atípica quando introduzidas na análise as cronologias de sítios do Sul, com trabalhos mais recentes (Valera, Mataloto e Basílio, 2019). Todavia, e ainda que várias dúvidas possam ser levantadas quanto
à temporalidade e origem do Campaniforme a nível
nacional, este será um fenómeno necessariamente
de longa duração nesta região, que não terá sido responsável pela unificação e aproximação das comunidades, mas sim pela manutenção das diferenças já
instauradas (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa,
2018). Isto porque, no Norte de Portugal, são conhecidos processos de reinterpretação e refuncionalização através da aplicação de técnicas/formas tradicionalmente campaniformes a estilos e motivos de
fácies local, que são empregues consoante as áreas,
grupos e contextos (Bettencourt, 2011; Sanches e
Barbosa, 2018). Esta característica volta a sublinhar
a multiplicidade deste fenómeno, sendo o comportamento aqui detectado contrário ao que ocorre em
certas áreas peninsulares e da Europa Central, com
altos níveis de homogeneização e padronização das
práticas, principalmente funerárias (Linden, 2013).
Em termos contextuais, e focando mais particularmente o NO, denota-se uma tendência de associação entre elementos campaniformes e estruturas
funerárias, ainda que esta realidade possa materializar um enviesamento inerente, em primeira instância, ao número de trabalhos que versam o mundo
sepulcral e, em segunda, a própria visibilidade, importância e caracter estrutural destes elementos arquitectónicos (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa, 2018; Bettencourt e Vilas Boas, 2019). Já a nível
estilístico, a primazia é dada a estilos realizados com
recurso à técnica da impressão, com o predomínio
dos motivos do estilo Internacional, tanto nas suas
variantes linear e de bandas, e pelos motivos Pontilhados Geométricos (Bettencourt, 2011; Sanches e
Barbosa, 2018; Rebuge, 2004). As variáveis incisas,
e mesmo os elementos não decorados, são extremamente raros (Bettencourt, 2011), ainda que motivos
de clara inspiração no grupo Ciempozuelos tenham
sido recuperados – por exemplo, em Soalhosa 1.
Este panorama permite compreender que os contactos e influências desta área podem ser ampliadas até ao ambiente calcolítico estremenho (onde
predominam os estilos Internacional e Pontilhado
Geométrico) e ainda ao interior peninsular (onde
constam exemplares incisos e Ciempozuelos) (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa, 2018; Rebuge,
2004). (Figura 5)
Particularizando a abordagem no Alto Minho, esta
região padece igualmente de um conhecimento deficitário não só relativamente ao Fenómeno Campaniforme em si, como às próprias dinâmicas do
3º milénio a.C., nas quais se incluem as expressões
megalíticas compostas por conjuntos semelhantes ao das Motas (Bettencourt e Vilas Boas, 2019).
Na área em estudo, a norte do Rio Lima, são apenas conhecidos dez contextos nos quais cerâmica
campaniforme decorada foi recuperada, com um
número mínimo de 17 recipientes. Destes, um é
proveniente do sítio de funcionalidade indeterminada do Castelo de Fraião (Valença), possivelmente correspondente a um habitat, ainda que apenas
sejam conhecidas três estruturas negativas do tipo
fossa, de cronologia pré-histórica (Almeida, Soeiro
e Barroca, 1995). Os restantes nove contextos (e 16
recipientes) correspondem a estruturas funerárias
que, quando agrupadas, materializam elementos
recuperados em três grandes conjuntos sepulcrais
– núcleo das Motas, da Portela do Pau e do Litoral
Minhoto. Todavia, será necessário compreender se
estas presenças estão directamente relacionadas
com o âmbito funerário ou, pelo contrário, se reflectem revisitações posteriores. Uma vez que poucos
são os exemplares completos, o estado fragmentado
dos recipientes permite também pensar se a agência
e mensagem por detrás destes elementos decorativos e formais é passada não só em forma de recipientes integralmente preservados, como também
enquanto elementos fragmentados (Bettencourt,
2011; Valera, Mataloto e Basílio, 2019; Valera, 2010).
No que concerne aos motivos e grupos decorativos, as tendências já definidas para a região NO são
mantidas, sendo exclusiva a técnica pontilhada,
utilizada na produção de decorações Internacionais (maioritariamente na variável bandas) e Pontilhadas Geométricas (Bettencourt, 2011; Sanches e
Barbosa, 2018; Rebuge, 2004). Assim, tanto a nível
contextual, como decorativo, o quadro desenhado
para o Alto Minho parece replicar e perpetuar o que
é apontado para a região mais ampla do NO (Bettencourt, 2011), ainda que a quantidade dos dados disponíveis seja reduzida para compreender comportamentos significativamente desviantes.
Uma característica dissonante do conjunto campaniforme das Motas, em relação aos sítios do Alto
Minho, prende-se com o elevado número mínimo
de recipientes sugerido para Soalhosa 1. Esta proposta baseou-se na relação entre os estilos decorativos, formas e contextos de identificação, tendo sido
sugerida a presença de cinco recipientes. A Soalhosa
1, segue-se o conjunto da Mamoa 1 da Portela do Pau,
com três elementos (Rebuge, 2004). (Quadro 1)
Paralelos foram também procurados com os territórios mais imediatos na região da Galiza, onde
extensos conjuntos campaniformes têm sido identificados e estudados (Prieto Martínez, 2013; Criado
Boado e Vázquez Varela, 1982). Todavia, em zonas
próximas, não foram detectados sítios arqueológicos de qualquer natureza, com registo de cerâmica
Campaniforme, sendo apenas de salientar que, de
forma genérica, as tendências apresentadas para a
área NO são essencialmente semelhantes, com uma
concentração nas áreas litorais e presença de estilos
regionais (Vázquez Liz e Prieto Martínez, 2016).
Estas semelhanças entre NO e o Alto Minho alargam-se também para as vertentes mais interpretativas
relativamente ao Fenómeno Campaniforme, sendo este elemento material compreendido como um
agente, determinante por si só, na manutenção dos
distintos caminhos históricos e sociais das comunidades desta região (Bettencourt, 2011; Sanches e Barbosa, 2018; Rebuge, 2004). É, então, um elemento
que ao ser aparentemente absorvido, repensado ou
mesmo diluído nos discursos dos grupos humanos,
é também activado como um ícone que pode materializar as distintas identidades em acção (Bettencourt, 2011). Pode ser assim utilizado na perpetuação de eventuais dicotomias, discórdias e escolhas
dissonantes, funcionando como mais um elemento
que é adicionado a uma trajectória Neo-Calcolítica
regional de continuidade. No entanto, há que considerar que a presença e utilização destes artefactos
em construções e práticas sociais torna as comunidades mais dependentes das redes inerentes à circulação destes bens, podendo esta mesma sujeição criar
pontos de tenção no sistema vigente, contribuindo
para a sua ruptura – eventualmente a transição entre
Calcolítico e Idade do Bronze (Jorge, 1983-84). Estas
hipóteses têm sido exploradas noutras áreas onde,
como no Alto Minho, o Campaniforme é lido em
continuidade com as realidades imediatamente antecedentes, mesmo sendo compreendido como uma
novidade material (Valera, Mataloto e Basílio, 2019).
892
Contrastando com estas mesmas abordagens, nas
quais os sentidos “originais” do campaniforme poderão ser desvirtuados e posto em acção em contextos não funerários, no Alto Minho e no NO a cerâmica Campaniforme parece ser maioritariamente
associada a sítios funerários, sejam eles isolados ou
agrupados em núcleos sepulcrais (Bettencourt, 2011;
Sanches e Barbosa, 2018; Rebuge, 2004). Denota-se, e isto a nível regional (NO), uma aparente primazia para a presença em revisitações posteriores
destes lugares monumentais, o que acentua a multiplicidade de interpretações passíveis de associar
a este fenómeno e, em simultâneo, o ainda grande
desconhecimento que paira quer sobre si, como do
próprio movimento megalítico (Bettencourt, 2011;
Sanches e Barbosa, 2018; Rebuge, 2004; Bettencourt e Vilas Boas, 2019). Assim, esta pluralidade de
significados e sentidos permite sugerir não só eventuais fenómenos de legitimação de novas ordens ou
identidades, como amplamente sugerido por outros
autores, como também eventos de resistência a mudanças em curso, numa cronologia possivelmente já
avançada no 3º milénio a.C.
4. NOTAS FINAIS
Para a discussão do papel (ou papéis) da cerâmica
Campaniforme no Alto Minho, os parcos dados de
Motas 5 e Soalhosa 1 permitiram confirmar e reafirmar o cenário já conhecido para a região. Este é, sem
dúvida, um fenómeno que ainda se encontra relativamente mal conhecido e caracterizado, podendo
esta realidade ser o reflexo de poucos projectos de
investigação específicos ou, em simultâneo, da real
ausência destes elementos no território. Também o
próprio flagelo das violações, de cronologia indeterminada, de estruturas tumulares semelhantes aos
monumentos do Complexo Megalítico das Motas,
torna as abordagens à biografia e dinâmicas das estruturas muito difícil. Todavia foi identificada uma
extensão ocupação (Neolítico Antigo – Idade do
Bronze), e reocupação do espaço (Idade do Ferro e
Período Romano), que enfatizam a importância destes locais e das suas paisagens ao longo da História.
Ainda assim, a grande correspondência deste conjunto artefactual e contextual com o conhecido e
apontado para o Campaniforme no Norte de Portugal, alinha os monumentos em estudo com as várias teorias interpretativas e explicativas, ainda que
não se possa afirmar com certezas, por exemplo, a
893
Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
própria proveniência contextual dos elementos de
Soalhosa 1 e Motas 5. São, como tal, necessários mais
trabalhos e revisões pormenorizadas dos sítios, bem
como datações que permitam explorar também a
antiguidade deste fenómeno na região.
Como principal conclusão, o Complexo Megalítico das Motas reflecte a existência de comunidades
abertas e permeáveis a novas materialidades, ideias
e, possivelmente, indivíduos, que parecem gerir, incorporar e refuncionalizar as novidades (neste caso
o Campaniforme) a nível identitário e em continuidade com as trajectórias em vigência, sem alterar de
forma determinante, os seus percursos.
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894
Quadro 1 – Sítios com cerâmica Campaniforme decorada no Alto Minho.
Figura 1 – Localização do Complexo Megalítico das Motas no google Earth (1) e nas cartas militares 1:25000 nº 3 e 4. Espacialidade
dos monumentos no planalto (3).
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
Figura 2 – Planta geral do monumento Motas 5. Pormenores do estado de conservação da câmara (1), da possível estela reaproveitada (2) e do anel pétreo (3).
Figura 3 – Planta geral do monumento Soalhosa 1. Pormenores da condenação do corredor (1), das lareiras associadas ao átrio
da estrutura (2) e da deposição de um recipiente completo com decoração incisa metopada de “tipo Penha” (3). Sublinha-se
também a inclusão de calços de sustentação os esteios (4) na câmara da estrutura (5) e no corredor (6).
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Figura 4 – Elementos Campaniformes do Complexo Megalítico das Motas: 1-5 provenientes de Soalhosa 1. 6 pertencente aos
contextos de Motas 5.
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Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
Figura 5 – Distribuição espacial dos sítios com cerâmica Campaniforme decorada no Norte de Portugal e, de forma
breve, na Galiza. Pormenor da área do Alto Minho, com o Complexo Megalítico das Motas a vermelho. Mapa baseado
nos dados de Sanches e Barbosa (2018), Bettencourt (2011) e Prieto Martinez (2013).
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