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1 Arqueologia Urbana em Campinas: diversidade e participação popular A propósito da Arqueologia urbana pela Zanettini em Campinas DOI: 10.13140/RG.2.2.31248.76807 Pedro Paulo A Funari1 A Arqueologia urbana é um campo de pesquisa que tem se destacado, na América Latina. Diversos sítios urbanos foram escavados e, mesmo se na maioria dos casos, não é possível reconstruir o contexto urbano como um todo e suas mudanças com o tempo, as escavações produziram evidência material que pode ajudar a um melhor entendimento da cidade no mundo ibero-americano. A Arqueologia das cidades portuguesas na América não se desenvolveu tanto como o das cidades fundadas pelos espanhóis, por diversos motivos, não sendo o menor a falta de interesse pelas coisas antigas, em nosso meio, e a busca constante da modernidade. A imagem do Brasil é a da capital federal, cidade ex novo, sem passado. As cidades antigas, como São Paulo ou Rio de Janeiro, pouco fazem para preservar ou escavar seus vestígios materiais. No entanto, as cidades coloniais, como Ouro Preto, patrimônio da humanidade, foram estudadas por arquitetos e historiadores da arte. Nessas cidades, todas estabelecidas em colinas, as ruas curvas não permitiam aos habitantes enxergar muito longe ou ter uma idéia clara do traçado da cidade, absolutamente irregular. A localização dava-se pelas Igrejas, compostas de duas estruturas básicas: uma capela retangular e uma torre para o sino, a primeira com telhado de duas águas e as segunda sendo, em geral, duplicada, com uma torre de cada lado. A sociedade era dominada pela Igreja, nos dois sentidos, como instituição cujas regras eram 1 Coordenador-Associado do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas. 2 aceitas como naturais, e como forma física, o edifício da Igreja, espalhado pelo tecido urbano e conformando as paisagens reais e imaginárias. As cidades brasileiras sofreram muitas transformações, nos últimos dois séculos e mesmo as partes centrais mais antigas preservam muito pouco da suas ruas e edificações antigas. Menos ainda foi preservado em termos de mobiliário e restante de material de uso quotidiano. A Arqueologia urbana pode, neste contexto, ser importante por ajudar a revelar uma miríade de facetas urbanas pouco conhecidas e mal documentadas. Os vestígios de edifícios grandiosos do passado podem ser estudados, assim como os restos muito mais numerosos de construções e artefatos quotidianos, usados pelas pessoas comuns. É neste contexto que a pesquisa arqueológica urbana em centros metropolitanos como Campinas adquire importância capital. A Arqueologia, ao permitir-nos o acesso aos iletrados, escravos, pobres, a pessoas de diversas origens étnicas e geográficas, fornece-nos uma visão do passado menos unilateral, aberta à diversidade cultural. Campinas, em toda sua História, caracterizou-se por esse caráter cosmopolita que resultou em uma metrópole na qual convivem múltiplas identidades. Associações de mineiros, gaúchos, italianos, baianos, de afro-descendentes, atestam uma diversidade ímpar que se reflete na variedade da cidade. A Arqueologia urbana mostra como o passado de Campinas também era variado, plural, multifacetado, mesmo quando contraditório e prenhe de conflitos. A participação de estudantes nas escavações, assim como de prisioneiros, além das palestras para o público em geral, demonstram como diversidade e conflito estão no cerne de uma intervenção pública no ambiente urbano, por parte de uma pesquisa arqueológica. A diversidade, valor ressaltado pela UNESCO, encontra-se retratada em vestígios materiais do passado, recuperados e valorizados, como patrimônio hoje, pela Arqueologia urbana. 3 2008