APLICAÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS
DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE FONTES
DE INFORMAÇÃO NO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
BRUNA LESSA*
RESUMO
Tem-se como objetivo, neste trabalho, relatar o uso da metodologia
ativa de aprendizagem Problem Based Learning (PBL ou
aprendizagem baseada em projetos/problemas) na disciplina Fontes
de Informação do Curso de Biblioteconomia e Documentação, da
Universidade Federal da Bahia. Isso porque, considera-seque os
estudos voltados para o ensino do curso de Biblioteconomia têm se
debruçado muito mais sobre os resultados das atividades aplicadas
do que sobre as metodologias de ensino aplicadas nas disciplinas
oferecidas em seu currículo mínimo. Para isso, apresenta-se as
etapas desenvolvidas na aplicação do PBL em sala de aula.
O resultado foi a criação, pelos alunos, de um catálogo on-line de
fotonovelas a partir do problema apresentado. Concluiu-se que em
relação aos métodos tradicionais utilizados, a aplicação do método
Problem Based Learning possibilitou aos alunos vivenciar durante a
graduação uma prática cotidiana do profissional bibliotecário, além de
possibilitar uma abordagem interdisciplinar.
PALAVRAS-CHAVE: Metodologias de aprendizagem. Aprendizagem Baseada em
Problemas. Produtos Informacionais. Fontes secundárias de informação.
APPLICATION OF ACTIVE LEARNING METHODOLOGIES IN TEACHING
SOURCES OF INFORMATION IN THE LIBRARY COURSE
ABSTRACT
Considering that the studies directed to the teaching of the Librarianship
course have been much more focused on the results of the applied
activities than on the teaching methodologies applied in the disciplines
offered in its minimum curriculum, the objective is to present the use of
the active learning methodology – Problem Based Learning (PBL) in the
discipline Information Sources of the Course of Librarianship and
Documentation, Federal University of Bahia. For that, the steps
developed in the application of the PBL in the classroom are presented.
The result was the creation, by the students, of an online catalog
*
Professora Assistente B na Universidade Federal da Bahia. http://orcid.org/00000003-4485-203XInstituto de Ciência da Informação/Universidade Federal da Bahia.
Departamento de Documentação e Informação – ICI/UFBA
[email protected]
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of photonovels from the presented problem. It was concluded that in
relation to the traditional methods used, the application of the method
Problem Based Learning allowed the students to experience during the
graduation a daily practice of the professional librarian, besides allowing
an interdisciplinary approach.
KEYWORDS: Learning methodologies. Problem Based Learning. Information
Products. Secondary sources of information.
1 INTRODUÇÃO
O ensino da Biblioteconomia, no Brasil,no final do século XIX
e início do século XX, é marcado pela influência francesa
(humanista) e norte-americana (tecnicista).E a partir da década de
1960 começaram as discussões sobre o currículo mínimo do curso,
atentando-se para sua uniformização, fortalecimento, propagação,
uso de novas tecnologias e criação de cursos de pós-graduação,
relacionados à área, chegando-se ao período atual, caracterizado
pelas reformulações nos currículos.
Neste cenário, observa-se que os estudos voltados para o
ensino do curso de Biblioteconomia têm se debruçado muito mais
sobre os resultados das atividades aplicadas em sala de aula,
sobretudo, no âmbito curricular.Há tendências voltadas para o
trabalho do profissional da informação no mercado, a saber, seu perfil,
habilidades e competências para a gestão, organização, uso e difusão
da informação. Dá-se menor enfoque às metodologias de ensino
aplicadas nas disciplinas oferecidas em seu currículo mínimo.
De fato, as mudanças impulsionadas pela tecnologia
provocaram uma reflexão sobre as metodologias de ensino. Está em
curso a vivência através das redes, a possibilidade que se tem de se
intercomunicar por meio de mídias digitais, onde se aprende e
ensina ao mesmo tempo, de forma síncrona e assíncrona,
possibilitando ao aluno escolher como, quando e onde estudar.
A partir dessas transformações, as instituições de ensino superior
são condicionadas a ampliar seu papel em formar profissionais para
o mercado de trabalho, além disso, elas devem, agora, formar
sujeitos conscientes do seu papel social, tornando-se, com isso,
participantes ativos da sociedade.
Nesta perspectiva, algumas metodologias de ensino vêm
sendo aplicadas com o objetivo de preencher essa lacuna nos
cursos de graduação, contribuindo para o enfoque social, político e
ideológico, em detrimento ao enfoque individual. Destaca-se, aqui,
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o uso de metodologias ativas como instrumento didático na
formação crítica do estudante de nível superior, tais como: Model
Based Design (MBD ou projeto baseado em modelos), Flipped class
room (sala de aula invertida), Problem Based Learning (PBL ou
aprendizagem baseada em projetos ou problemas, Team-based
learning (TBL ou aprendizagem entre pares e times), Peer
Instruction (aprendizagem por pares), Writing Acrossthe Curriculum
(WAC ou escrita por meio das disciplinas), Study Case (estudo de
caso), Gamificação, entre outras.
Sob esta perspectiva, surge a problemática de como aplicar
metodologias ativas no ensino da Biblioteconomia, sabendo-se dos
benefícios que possibilitam tanto aos alunos quanto aos professores.
Essas metodologias almejam colaborar para uma perspectiva
formativa baseada em novos referenciais metodológicos que
envolvem uma análise mais acentuada dos contextos político-sociais
que relacionam termos natos da Biblioteconomia, a exemplo de
usuários de informação, unidades, fontes, produtos e serviços de
informação, bem como tecnologias de informação e comunicação
(TIC), entre outros termos que fazem parte do cotidiano dos
bibliotecários e profissionais da área.
Nesse sentido, apresentar-se-á o desenvolvimento de práticas
de ensino na disciplina Fontes de Informação, do Curso de
Biblioteconomia e Documentação, na Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Isso foi realizado com base na metodologia Problem Based
Learning, ao longo de quatro turmas em que foram aplicadas, entre
os anos de 2016e2019.
2 FONTES DE INFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA
NO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
O uso das fontes de informação, no contexto da pesquisa
científica, possui grande relevância, em especial, no entendimento
sobre os conceitos de fontes primárias, secundárias e terciárias.
Para Campello, Cendón e Kremer (2000), as fontes primárias
possuem informações novas, que ainda não foram publicadas ou
estão no início do processo da pesquisa e, por isso, em alguns
casos são mais difíceis de localizar, a exemplo de relatórios
técnicos, patentes, normas técnicas, etc. Já as fontes secundárias
reúnem informações de forma organizada, direcionando o leitor para
as fontes primárias e facilitando o seu uso, como é o caso dos
dicionários, livros e blogs. As fontes terciárias indicam a localização,
ou ainda, onde buscar fontes primárias e secundárias,
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representadas em forma de diretórios, guias bibliográficos, serviços
de indexação e resumos.
Esta compreensão coloca em evidência o papel do
bibliotecário enquanto mediador no processo de busca e
recuperação da informação, ao auxiliar usuários que necessitam do
uso diário de informação especializada para realizar suas pesquisas.
A partir disto, faz-se necessário, durante a graduação no curso de
Biblioteconomia, aprender sobre a tipologia das fontes de
informação para que se possa direcionar e orientar os usuários no
acesso, uso e recuperação da informação, de forma precisa,
competente e útil para o desenvolvimento de seus estudos.
No âmbito da Gestão da Informação, o conhecimento sobre
fontes de informação também se faz presente para observar as
funções de uma Unidade de Informação. Entre estas funções,
destaca-se a promoção do acesso à informação, possibilitando,
de forma estratégica que o usuário adquira competência em
informação ao manusear um item informacional, reconhecendo a
credibilidade da fonte, sabendo utilizá-la assertivamente.
No ambiente virtual, em que a possibilidade de ocorrer a
alteração da validação de documentos é maior que no ambiente
físico, as fontes digitais e virtuais demandam do usuário habilidades,
caso contrário, serão utilizadas fontes sem credibilidade em suas
pesquisas. Do mesmo modo, subtende-se que o bibliotecário
possua competências em informação e comunicação para localizar
a informação contida em fontes informacionais em qualquer meio,
impresso ou virtual, além de produzi-las de acordo com a
necessidade dos usuários.
Sobre esta relação entre competência em informação e o
ensino de Fontes de Informação, Correa, Lucas e Muller (2018),
a partir de uma análise documental, identificaram que a aplicação de
determinado modelo de competência em informação possibilita ao
estudante de Biblioteconomia o desenvolvimento de atitudes na
atuação como mediador no processo de busca, acesso e
apropriação da informação. Isso ocorre para que, quando se tornar
um bibliotecário, possa solucionar problemas e colaborar para a
construção de um espaço de conhecimento junto à comunidade que
esteja inserido. Para Almeida Júnior (2015, p. 25) a mediação da
informação é:
Toda ação de interferência realizada em um processo, por um
profissional da informação e na ambiência de equipamentos
informacionais, direta ou indireta; consciente ou inconsciente;
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singular ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de
informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea,
uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas
necessidades informacionais.
No conceito reformulado por Almeida Júnior (2015), a ação de
mediação realizada pelo profissional da informação acontece em
ambientes múltiplos e híbridos a partir da necessidade informacional
do usuário. Além disso, existem ações indiretas nesse processo que
incluem a seleção e análise de fontes de informação para sua
posterior disseminação e uso, tornando com isso, a mediação da
informação um processo amplo e complexo. Sob esta ótica,
percebe-se que o papel do mediador é de construir o caminho para
que o outro possa transformar a informação em conhecimento,
ou seja, não é apenas o de promover uma interação entre os
elementos envolvidos (informação e usuário) ou simplesmente
possibilitar a circulação de informação.
Tais atitudes mediadoras também incluem competências no
uso de linguagens documentárias somadas às estratégias de busca
de informação em sistemas automatizados. Associado a esta
habilidade necessária ao futuro bibliotecário, tem-se o tratamento e
organização da informação, atividade que está diretamente
associada a apropriação da informação pelo usuário, uma vez que a
informação organizada se torna mais acessível e pronta para uso,
sendo, portanto, imprescindível conhecer os tipos de fontes de
informação que se pretende disseminar.
Nesse sentido, o ensino da disciplina Fontes de informação
possui grande importância para as atividades que serão
desenvolvidas pelo profissional bibliotecário, pois trata-se de uma
disciplina voltada para a análise e uso de informações
disponibilizadas em diversos formatos e que, muitas vezes possuem
viés estratégico para tomada de decisões, seja numa pesquisa
científica, ou ainda, em diferentes tipos de organizações.
A criação e inovação em produtos e serviços de informação é
consequência do conhecimento sobre as fontes de informação
adequadas. Assim, a partir do ensino sobre Fontes de Informação é
possível, ao aluno do Curso de Biblioteconomia, aprender a elaborar
instrumentos bibliográficos para o auxílio na disseminação e acesso a
publicações. Em geral, tais instrumentos auxiliam o usuário na
recuperação da informação, classificados por Cunha (2001, XXI) como:
[...] documentos secundários: contêm informações sobre documentos
primários e são arranjados segundo um plano definitivo; são,
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na verdade, os organizadores dos documentos primários e guiam o
leitor para eles; documentos terciários: têm como função principal
ajudar o leitor na pesquisa de fontes primárias e secundárias, sendo
que, na maioria, não trazem nenhum conhecimento ou assunto como
um todo, isto é, são sinalizadores de localização ou indicadores
sobre os documentos primários ou secundários, além de informação
factual; este livro é um exemplo de documento terciário.
Nesta perspectiva, a elaboração desses instrumentos
caracteriza mais um dos produtos e serviços desenvolvidos pelo
profissional bibliotecário para facilitar a busca, acesso e uso da
informação.
3 O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NA DISCIPLINA FONTES
DE INFORMAÇÃO, DO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAÇÃO
O ensino da Biblioteconomia, no Brasil, surgiu a partir do
Decreto 8.835, de 11 de julho de 1911, que estabeleceu a criação
do primeiro Curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, iniciando, efetivamente, em abril de 1915. No ano de 1929,
em São Paulo, surgia o “Curso Elementar de Biblioteconomia”
no Mackenzie College, orientado pela bibliotecária americana
Dorothy Muriel Gedds Gropp. No entanto, foi a partir da década de
1930, que a profissão de bibliotecário ganha destaque,
principalmente após a aprovação da Lei 2.839, promulgada em 5 de
janeiro de 1937, Lei das Bibliotecas. Na referida Lei, fora
estabelecido que só seriam admitidos como bibliotecários aqueles
que apresentassem diploma de Curso Superior e de
Biblioteconomia. (CASTRO, 2000).
Com o desenvolvimento de novas reformas administrativas
voltadas para tal ofício, bem como o aumento de recursos
orçamentários para o ensino da Biblioteconomia, tornou-se
necessária à criação de novas Escolas em outras capitais
brasileiras. Assim, no ano de 1942, na Bahia, surge a terceira
Escola de Biblioteconomia do Brasil, dirigida por Bernadette Sinai
Neves. Desde então, a Biblioteconomia brasileira vem evoluindo de
forma significativa, nas ações e práticas voltadas para a formação
de profissionais cada vez mais capacitados a organizar e disseminar
a informação, levando em consideração as transformações sociais e
culturais na sociedade.
A Bahia, estado onde surgem as primeiras bibliotecas do
Brasil, possui grande relevância no cenário nacional em relação
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à importância social e educativa, no que se refere ao tema
Bibliotecas e Bibliotecários. O Curso de Biblioteconomia e
Documentação, que integra, hoje, os cursos de graduação
disponibilizados pelo Instituto de Ciência da Informação (ICI), da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), comemora 77 anos da sua
existência, no ano de 2019.
Na Bahia, o ensino sobre Fontes de informação surgiu em 1978,
não como uma disciplina do currículo mínimo, mas como um curso de
extensão intitulado “As fontes de informação na Biblioteca Pública”,
ministrado pela Profa. Maria de Lourdes do Carmo Conceição,
no município de Cachoeira/Ba. Isso correu através da parceria entre a
Escola de Biblioteconomia e Comunicação (EBC) e o Programa de
Desenvolvimento de Cachoeira (PRODESCA). Na década de 1980,
o currículo foi reformulado, e o então Departamento Documentação e
Informação, em 1987, passou a contar com 17 disciplinas
profissionalizantes, incluindo “Fontes Bibliográficas I: biomédicas”,
“Fontes Bibliográficas II: tecnologia” e “Fontes Bibliográficas III: ciências
sociais” como disciplinas optativas.
A partir de 1997, o currículo mínimo do curso passou a incluir
Fontes de Informação, como disciplina obrigatória, mantendo-a
como obrigatória até hoje.Nesse contexto, ao refletir sobre os
desdobramentos nas atividades do profissional bibliotecário a partir
do aprendizado na disciplina Fontes de Informação, decidiu-se
adotar outras metodologias ativas de ensino-aprendizagem na
referida disciplina. Esta foi ministrada com o objetivo de proporcionar
aos alunos o desenvolvimento da criatividade e da curiosidade, de
modo a favorecer o protagonismo e a autonomia e, estimulando a
tomada de decisões, de forma individual e coletiva, a partir do
contexto estudantil e da sociedade como um todo.
Para isso, num primeiro momento, construiu-se um mapa
(Figura 1), baseado no ementário da disciplina, a fim de categorizar
e organizar as estruturas lógicas de cada conteúdo e identificar suas
conexões, para que não houvesse nenhum choque com a mudança
na prática pedagógica, preservando cada etapa do conteúdo
programático. Este cuidado partiu das reflexões trazidas por Piaget
(2002), ao perceber que o conhecimento se dava por descobertas,
como resultado de uma interação, da qual o sujeito é sempre um
elemento ativo, que procura diligentemente compreender o mundo
que o cerca, e que busca resolver as interrogações que ele provoca.
Para Piaget (2002), todo ser humano é capaz de construir
conhecimento, denominando-o de “sujeito epistêmico”. Nesse
sentido, a motivação para a geração do conhecimento nasce a partir
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da interação do sujeito com o ambiente, permitindo a organização
dos significados em estruturas cognitivas.
Figura 1 – Mapa do componente curricular Fontes de Informação
FONTE: Elaboração da autora.
Seguindo a premissa anterior, baseada na interação, fez-se uma
associação com a dicotomia entre conhecimento tácito e explícito,
proposta por Nonaka e Takeuchi (1997). Os autores apontam a
socialização como um dos elementos existentes no início do processo
de construção do conhecimento, ou seja, o diálogo, observação,
experiência, com outros indivíduos possibilitam o compartilhamento do
conhecimento tácito. Para Piaget (2002) há, nesse processo, a
assimilação e o conflito cognitivo, que ocorrem quando a interação com
o objeto gera um conflito – lançando um desafio para que o indivíduo
busque o conhecimento. (RICHMOND, 1981).
Desse modo, o sujeito é o protagonista na aquisição do
conhecimento. Isto acontece devido a sua interação com o meio e a
ações mediadoras que o ambiente provoca, pois aprender
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é um processo ativo no qual o significado é desenvolvido com base
em experiências. Neste ponto, entra o papel do professor na
perspectiva de Piaget (2002) – o papel mediador – que orienta e cria
conflitos para possibilitar possíveis erros e, com isso, gerar
inovações e construções do novo. A compreensão da cognição,
em Piaget (2002), pode ser observada na relação entre cognição e
aprendizagem para a construção da inteligência, por meio de
operações mentais, na interação sujeito-objeto, numa concepção de
que o desenvolvimento cognitivo engloba a aprendizagem.
A conexão com outras áreas do saber é vista como algo positivo,
pois o autor considera a interdisciplinaridade como um
enriquecimento recíproco. (PIAGET, 1972).
É neste cenário que se inserem as metodologias ativas de
aprendizagem. Nelas “[...] o aprendizado se dá a partir de problemas e
situações reais; os mesmos que os alunos vivenciarão depois na vida
profissional, de forma antecipada, durante o curso.” (MORÁN, 2015,
p.19). Diante desses pressupostos, dentre as metodologias ativas de
aprendizagem, optou-se pela aplicação da Metodologia da
Problematização, ou ainda do PBL – Problem Based Learning
(aprendizagem baseada em problemas), que para Ribeiro (2008, p. 24)
[...] é uma metodologia de ensino e aprendizagem que utiliza
problemas coerentes para com a futura atuação dos alunos como
profissionais e cidadãos para iniciar, enfocar e motivar a
aprendizagem dos conhecimentos conceituais, procedimentais e
atitudinais objetivados [...] fundamenta-se em princípios educacionais
e em resultados da pesquisa em ciência cognitiva, os quais mostram
que a aprendizagem não é um processo de recepção passiva e
acumulação de informações, mas de construção de conhecimentos.
Considerando estes aspectos conceituais sobre o PBL,
é interessante perceber que, tanto o aluno quanto o docente, atores
principais neste processo pedagógico, estabelecem relações mais
próximas. Essas relações ocorrem quando o aluno desenvolve a
responsabilidade e curiosidade, a partir da motivação em solucionar
problemas e, o professor passa a ser mais que um transmissor de
conteúdos. Ele é encorajado a promover mudanças na estrutura
instrucional e avaliativa, valorizando o conhecimento dos alunos,
ensinando e apreendendo ao mesmo tempo.
A responsabilidade, neste método educacional, talvez possa
ser considerada um dos fatores mais positivos de sua aplicação,
já que os próprios alunos criam um ambiente de aprendizado,
na medida em que novos problemas vão sendo suscitados dentro de
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uma determinada problemática, ensinando-os, com isso, a serem
eternos aprendizes. Pois, acredita-se que, embora haja uma
reformulação curricular sempre que novas tendências surgem em
resposta às exigências, evolução e demandas da sociedade, muito
do conhecimento aprendido na graduação se tornará obsoleto em
sua vida profissional.
De acordo com Souza e Dourado (2015), para a aplicação do
PBL são consideradas características que contribuem para o
sucesso do método, descritas a seguir.
A primeira delas é o aluno como protagonista da
aprendizagem. A exposição de problemas estimula a participação
individual e em grupo, fomentando a criticidade e reflexão nas
discussões,
possibilitando
a
construção
de
soluções
transdisciplinares a partir das experiências de vida de cada aluno,
dos conceitos apresentados em sala de aula e conexões com o
cotidiano, oportunizando a criação de novos conhecimentos
mediados pela interação social. Tem-se ainda, o trabalho em grupo.
No PBL esta ação tem por objetivo a valorização da
convivência. O aluno assume o perfil de investigador, participando
das discussões, envolvendo outros em suas reflexões, corroborando
para uma formação pessoal e social baseada numa aprendizagem
colaborativa, a qual dá subsídios para a reconstrução do
conhecimento e atitudes solidárias, que surge com a correção
mútua, a espera pelo tempo de aprendizado do outro e o respeito
pelas ideias divergentes. Por último, uma das características do PBL
é o professor como tutor. Seu papel possui destaque para que o
processo de aprendizagem seja bem-sucedido. É necessário que
haja uma interação entre o professor, o aluno e o conteúdo aplicado
e discutido.
A importância do professor tutor pode ser resumida nas
seguintes atividades:
assumir a responsabilidade pela criação e apresentação do cenário
problemático; colaborar com o processo de aprendizagem; ajudar na
aprendizagem dos conhecimentos conceituais da disciplina;
acompanhar o processo de investigação e resolução dos problemas;
potencializar o desenvolvimento das competências de análise e
síntese da informação; ser corresponsável na organização do espaço
de encontro e relações no grupo; favorecer a criatividade que
proporciona a independência dos alunos ao abordar os processos
cognitivos. (SOUZA; DOURADO, 2015, p.190).
O professor cria situações de aprendizagem, contribuindo com
possíveis conexões entre a proposta curricular de ensino e as
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experiências de cada aluno, complementando todo o conhecimento
adquirido no conteúdo desenvolvido nas aulas. Assim, tem a função
de motivar a autonomia dos alunos na construção do conhecimento.
Na próxima seção, apresentaremos como se deu a aplicação do PBL
na disciplina Fontes de Informação, escolhendo-se a turma de 2018.
4 APLICAÇÃO
INFORMAÇÃO
DO
PBL
NA
DISCIPLINA
FONTES
DE
Para aplicação do método PBL na disciplina Fontes de
Informação foi, inicialmente, escolhido um tema a partir da estrutura
curricular da disciplina. Assim, antes da implantação da
metodologia, apresentaram-se aulas expositivas, visitas técnicas e
textos que possibilitassem uma fundamentação teórica e
experiências vivenciadas nas visitas, potencializando discussões
sobre a temática.
Após esta etapa, foi realizada a organização do grupo de
acordo com as funções de cada participante (Quadro 1):
Quadro 1 – Atribuições de cada participante no grupo de ensino
pelo método PBL
FUNÇÃO
Tutor
CATEGORIA
Professor
Coordenador
Aluno
Secretário
Aluno
Demais
participantes
Alunos
ATRIBUIÇÃO
Orientar os alunos nas discussões.
Desenvolver a liderança do grupo,
estimulando os outros alunos a
participarem da discussão, administrando
o tempo de cada um e assegurando o
cumprimento das atividades.
Registrar as ideias em relatórios, de
maneira a organizar as sugestões para
resolução do problema, facilitando com
isso o direcionamento das discussões.
Discutir a problemática.
FONTE: Elaboração da autora.
A organização do grupo de ensino pelo método PBL prevê
que os próprios alunos indiquem quem assumirá as funções de
coordenador e secretário em cada sessão de discussão, ou seja,
há um rodízio entre os participantes de modo que possibilite a todos
conhecer e desempenhar cada função.
Seguiu-se a fase da apresentação da temática
“Necessidade Informacional” e do projeto em formato de
problema,com base nos processos:
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1. apresentação do problema aos alunos. O problema em
questão partiu de uma situação fictícia, elaborada por esta
docente, recorrente em unidades de informação
relacionado a necessidades informacionais;
2. discussão sobre o problema;
3. debate sobre possíveis soluções para o problema. Nesta
fase, a análise e o registro das ideias foram importantes
para posteriormente verificar sua aplicabilidade;
4. organização das ideias coletadas para estruturar a
solução final;
5. discussão sobre possíveis lacunas de conhecimento e/ou
elementos e habilidades necessárias para compreensão
do problema e apresentação de uma possível solução.
Nesta fase, os alunos foram levados a sistematizar o
conteúdo aprendido em sala sobre fontes de informação
em grupo e individualmente;
6. após sistematização coletiva e individual, os alunos
sentiram-se preparados para definir estratégias para
resolução do problema, que foram a busca de novas
leituras relacionadas ao tema, visitas técnicas a possíveis
unidades de informação que poderiam contribuir para a
solução da problemática, entrevistas e outros recursos;
7. os alunos se reuniram para debater o cenário do problema
e definir como aplicar e apresentar a solução.
Importante salientar que, nesta etapa, todos os alunos foram
orientados a desenvolver uma prática coletiva para a resolução do
problema. Nesse momento, a figura do professor-tutor é de suma
importância, uma vez que fomenta a socialização e o trabalho em
grupo, estimulando os alunos a pensar e refletir sobre o tema,
mediando os conflitos e incentivando o lugar da escuta, possibilitando,
com isso, que todos os participantes possam contribuir e se sentir
protagonista na resolução da problemática em foco.
Com o término da etapa e contextualização do tema,
os alunos chegaram à solução do problema apresentado:
[...] um estudante de doutorado em Comunicação Social, decidiu
estudar sobre o assunto, no que tange à memória das principais
revistas de fotonovelas no Brasil e que possuem exemplares em
Salvador. Discutindo sobre a questão com alguns colegas, foi
sugerido por onde começar: um colega recomendou que o estudante
fizesse um levantamento em uma base de dados da Universidade,
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um outro disse que era melhor ir atrás de colecionadores de
fotonovelas, um terceiro questionou se haveria em Salvador alguma
Unidade de Informação que mantivesse a guarda e preservação de
alguns exemplares. No entanto, seu orientador aconselhou que o
estudante deveria analisar todas as considerações feitas pelos
colegas e listar, de forma ordenada, as referências ou inscrições que
registram as peças da coleção, de modo que posteriormente, tanto o
estudante, quanto os leitores de sua tese possam encontrar/localizar
as fotonovelas pela descrição temática, e/ou pela descrição física.
Surgiram mais dúvidas na cabeça do estudante: qual(is) fontes de
informação devo procurar? Onde localizá-las? Qual o produto final
deste levantamento? Como iniciar a pesquisa? Partir de uma
publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas?
As questões suscitadas no problema possibilitaram a
discussão de qual seria a solução mais adequada, de acordo com o
perfil do “estudante de doutorado”, citado no texto, a partir de sua
necessidade informacional. Para isso, os alunos chegaram à
seguinte estratégia:
1. escolha do tipo de fonte de informação adequada a
necessidade informacional do usuário;
2. localização de onde se encontram tais fontes;
3. definição da estratégia de busca e levantamento
bibliográfico;
4. definição do tipo e qual fonte de informação atenderia a
necessidade do usuário;
5. planejamento da elaboração de um produto informacional
especializado para o usuário em questão.
Para levantamento e coleta das fontes de informação, foram
realizadas visitas técnicas em Unidades de informação, tais como:
o Arquivo Histórico Municipal da Fundação Gregório de Mattos,
o Arquivo Público do Estado da Bahia, o Instituto de Radiodifusão
Educativa da Bahia, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia,
a Escola de Belas Artes, a Biblioteca Macêdo Costa da UFBA,
o Gabinete Português de Leitura, a Biblioteca Pública do Estado da
Bahia (BPEB), onde foi possível localizar a coleção da Revista Rainha
no período de 1960 a 1970. No problema apresentado, o período
indicado para a pesquisa do “estudante de doutorado” foi o das
décadas de 1950 a 1970, quando, no Brasil, as fotonovelas tiveram
um mercado cativo por mais de 25 anos, com milhões de leitores de
histórias publicadas em revistas com grande circulação nacional.
O produto final, como resultado para solução do problema
proposto, foi o Blog do acervo de fotonovelas (http://fotonovelasinfor.
blogspot.com/), produzido pelos próprios alunos (Figura 2).
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Figura 2 – Blog do Acervo Fotonovelas da BPEB
FONTE: Consultoria (ano, 2019).
O acervo utilizado para criação do blog foi o do Setor de
Periódicos BPEB, o qual possibilitou reunir alguns exemplares de
fotonovelas nacionais, localizados em território soteropolitano,
resgatando a memória da antiga mídia brasileira, já que não possui
nenhum recurso informacional que disponibilize esse acervo em
ambiente virtual.
4.1 O protagonismo dos estudantes do curso
Biblioteconomia na criação de fontes de informação
de
Com o desenvolvimento teórico ministrado na disciplina,
viu-se a necessidade de expandir a prática para além da sala de
aula. Assim, o uso de fontes de informação que retratam
aspectos culturais e morais de décadas passadas, a exemplo das
fotonovelas, contribuiu para a reflexão de outros temas sociais,
sobretudo os postos pré-determinados para cada gênero
(principalmente das mulheres que eram o público-alvo destas
publicações).
Desse modo, os alunos tiveram que mergulhar no teor
histórico, cultural e social do tema para desenvolver o produto
informacional, observando-se, com isso, a necessidade da
interdisciplinaridade na atuação do profissional bibliotecário.
O enfoque deu-se, sobretudo, na questão do empreendedorismo e
do intra-empreendedorismos, já que os estudantes foram
incentivados a fazer um levantamento bibliográfico personalizado e,
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consequentemente, a elaboração de um produto específico voltado
para a necessidade de um usuário, indicando outro viés da
profissão, que é a consulta informatológica.
Após a conclusão da atividade, o Blog do acervo de
fotonovelas da BPEB foi divulgado no Instituto de Ciência da
Informação e nos canais de comunicação da Fundação Pedro
Calmon (FPC), autarquia que administra a Biblioteca Pública do
Estado da Bahia. Além disso, a experiência de monitoria de uma das
alunas do Curso na disciplina foi apresentado no Congresso de
Pesquisa, Ensino e Extensão da UFBA, evento que tem como
objetivo promover“ [...] um espaço de interlocução entre os mais
diversos saberes produzidos nos programas de assistência
estudantil e de fomento à pesquisa, extensão e ensino na UFBA
[...]". (CONGRESSO...2018, on-line).
Importante considerar, nesse processo metodológico de
aprendizagem, no âmbito da graduação, que a formação teórica e
prática, como profissional do trabalho na área, não sejam
desassociadas. Nesse sentido, o maior desafio na construção de
bibliotecários é constituir práticas de ensino que se adéquem à nova
realidade mercadológica, frente aos avanços na criação, uso e
acesso da informação, promovendo dinâmicas que estimulem e
orientem novos aprendizados.
Alguns relatos sobre a experiência dos alunos com o método
PBL, aplicado, foram extraídos dos relatórios individuais da atividade
e acentuam a importância da manutenção de metodologias ativas no
ensino da graduação:
Foi, para mim, uma experiência incrível e proveitosa, de muito
aprendizado. (Estudante A)
“Ao meu ver, minha participação foi excelente, pois estive presente
em todos os encontros, opinei sobre os temas e tentei aprender
coisas novas para agregar valor à equipe. A experiência do projeto
foi muito gratificante, pois foi possível aprender na prática e interagir
com a comunidade externa.” (Estudante B)
“Este trabalho foi de suma importância, pois foi desempenhado por
toda equipe com total dedicação e comprometimento, além de todo
aprendizado sobre as fontes de informação. O que mais foi
gratificante nesse projeto, foi à relação direta com os usuários da
informação, e o papel do bibliotecário perante as necessidades
emergentes dos mais jovens em acessar e consumir uma informação
de qualidade.” (Estudante C)
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“[...] todos se envolveram e fizeram o trabalho no geral, a experiência
foi maravilhosa de grande aprendizado, conhecimento e crescimento
não só acadêmico, mas como pessoa também,” (Estudante D)
Por fim, a experiência na aplicação do método PBL, como
docente, permitiu refletir sobre o papel do professor na interação
entre aprendizado e desenvolvimento dos alunos. A atenção que se
deve ter com cada estudante para compreender sua forma de
aprender exige dedicação e esforço, todavia, o resultado deste
envolvimento retrata o comprometimento dos futuros profissionais
em suas ações no mercado de trabalho. Assim, despertar
possibilidades de aprendizado, incentivar futuras pesquisas,
ou ainda, favorecer a identificação de novas problemáticas e
possíveis soluções, representam o verdadeiro papel do professor,
enquanto agente mediador em uma sala de aula.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação aos métodos tradicionais utilizados, a aplicação
do método PBL, na disciplina de Fontes de Informação, possibilitou
aos alunos vivenciar uma prática do cotidiano do profissional
bibliotecário em sala de aula, e fora dela, quando tiveram que ir a
busca das fontes necessárias para o usuário trazido no problema.
Ademais, possibilitou uma abordagem interdisciplinar, ao utilizar o
conhecimento adquirido pelos alunos em outras disciplinas,
a exemplo das disciplinas de Editoração e Tecnologia da
Informação. Além disso, a autonomia dos alunos em definir suas
estratégias de aprendizagem possibilitou que assumissem o papel
de protagonistas nesse processo, utilizando ativar conhecimentos
adquiridos em outras disciplinas no curso e/ou ao longo de sua vida,
seja acadêmica ou não, transferindo seu aprendizado de uma
situação para outra.
O fato de trazer um problema a ser resolvido pelos alunos
como recurso de aprendizagem permitiu explorar, também, diversos
assuntos. Desse modo, conectando-os aos temas abordados na
disciplina, estimulando e motivando a discussão e o diálogo entre os
participantes.
Importante destacar que, ao final da disciplina, os alunos
estavam se relacionando mais uns com os outros e contribuindo
para a aprendizagem ao longo da vida. Isso porque,enquanto
profissionais, as habilidades de discussão, de escuta, de trabalho
em equipe e resolução de problemas serão imprescindíveis para o
sucesso em suas carreiras.
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Desse modo, a experiência no desenvolvimento do método
PBL alcançou seu objetivo principal, que foi o de favorecer o
desenvolvimento de habilidades em raciocínio científico,
autoestudo e autoavaliação. Vê-se, com isso, que novas
propostas metodológicas devem ser utilizadas nos cursos de
Biblioteconomia, de maneira que os futuros bibliotecários e
bibliotecárias possam viver experiências práticas ainda na
graduação, contribuindo, assim, para a formação de profissionais
cada vez mais competentes e dinâmicos em suas atividades.
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Recebido em: 06/02/2019
Aceito em: 20/06/2019
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