O mundo realmente encolheu com a internet. Desde que o WWW (World Wide Web) entrou para o domínio público na década de 1990, as distâncias, fronteiras, limites entre pessoas e países vem diminuindo. Se para ser uma celebridade antes, ser conhecido internacionalmente, era preciso fazer parte da indústria de comunicação de massa (leia-se Hollywood e grandes redes de televisão), hoje é possível ganhar visibilidade mundial sem nunca ter aparecido em uma grande tela – os visores de celulares e computadores são suficientes para escalar a notoriedade.
“A mídia social transformou o conceito de celebridade internacional. Hoje, o acesso à informação é global. Influenciadoras de países que não fazem parte do tradicional eixo fashion (Milão, Paris, Londres, Nova York…), como México, Índia, Arábia Saudita, por exemplo, conseguem alcançar muita visibilidade e agora estão presentes nas principais semanas de moda, participam de campanhas de marcas de luxo e estampam revistas internacionais”, diz Luisa Vautier Franco, fundadora da Vautier Communications, consultoria de marketing multicanal, relações públicas e gestão de talentos baseada em Londres, no Reino Unido.
As redes sociais, sem dúvida alguma, ajudam a colocar holofote em pessoas que, sem a existência dessas mídias, poderiam ver a extensão de seus talentos limitados por falta de exposição. Mas, da mesma forma – meteórica e instantânea – que a visibilidade alcança números estratosféricos, ela pode sumir com a mesma rapidez. A influência digital tem também seus 5 minutos de fama. “A internet provocou uma mudança muito grande na cultura do entretenimento. As pessoas passaram a ter vontade de assistir conteúdos mais dinâmicos, rápidos, com outros tipos de narrativa. Mas, para ganhar visibilidade internacional de forma consistente e duradoura, é preciso que a imagem seja igualmente consistente”, pondera Juliana Montesanti, sócia-fundadora da Coolab Digital, agência especializada em marketing de moda e influência digital
Construção de imagem
Responsável pela construção da imagem internacional da atriz e influenciadora Bruna Marquezine, que está no elenco do novo filme da DC Besouro Azul, com previsão de lançamento para 2023, e agora cuidando também da influenciadora e empresária Camila Coelho, que conquistou fama em vários continentes com seu conteúdo sobre moda e beleza, Juliana conta que é preciso todo um planejamento estratégico para que uma transição de influência overseas tenha sucesso. “Mas não existe uma cartilha. Cada caso vai pedir uma estratégia diferente. O que se precisa ter em mente é que, nessa indústria, a imagem é construída também fora das telas, com credibilidade, coerência e valores claros”, avisa. E é aqui onde muitas carreiras que poderiam ter sucesso no exterior derrapam. Na ânsia de aumentar a visibilidade – ou os dígitos da conta bancária –, algumas pessoas acabam seduzidas pelo glamour de marcas importantes mas que não têm afinidade com a sua imagem. A mensagem fica confusa e a conexão enfraquece – tanto com os seguidores quanto com as marcas.
Outro ponto fundamental: entender que influência é um negócio – e um business que tem movimentado milhões de dólares. “Um influenciador pode ganhar notoriedade de forma 100% espontânea. Mas chega um momento, que se ele não tiver um apoio profissional, o crescimento fica estagnado”, explica Luisa Vautier. “A presença no mercado internacional, assim como no nacional, demanda uma série de trabalhos burocráticos, como criação/aprovação de contratos com as marcas, emissão de invoices [notas de pagamento], aprovação de fotos, controle de entregas… Uma pessoa sozinha, ainda mais cuidando disso em outro país, não conseguiria fazer de forma eficaz”, completa.
Para a especialista, que cuida da carreira internacional das brasileiras Thássia Naves e Julia Tibério, além de influenciadores como Abdulla al Abdulla, do Qatar, e Abla Sofy, marroquina que vive em Los Angeles, para o fortalecimento da imagem no exterior, o trabalho precisa ser constante e ter um direcionamento 360 graus. “Por ser um mercado muito novo ainda, estamos todos aprendendo a desenhar a melhor estratégia. Mas já percebemos que é fundamental entender o perfil de cada pessoa e, a partir daí, determinar as áreas e marcas de atuação e criar um planejamento em que ela possa estar presente em eventos que façam sentindo para o nicho dela o ano inteiro. A constância nesse segmento é muito importante para não perder a visibilidade internacional”, completa Luisa.
A influência da moda
Entre os pontos de atenção mais importantes que esse mercado exige, está o fortalecimento contínuo da marca pessoal. É isso que diferencia os influenciadores e artistas na internet e que cria conexão com as pessoas, além de gera interesse das marcas para iniciar uma relação. “Quando a gente pensa em uma pessoa famosa, seja artista, seja influenciador, automaticamente pensamos na sua imagem. Não dá para separar alguém que está nessa indústria da associação da imagem”, avalia Juliana Montesanti.
Muito por conta disso, a visibilidade internacional está intrinsecamente ligada ao universo da moda. “O estilo de uma pessoa, as roupas que usa, é a forma como ela se comunica, é a mensagem que ela quer passar. E essa imagem se conecta não apenas com os seguidores e fãs dela, como também com as marcas que podem ter interesse em se aproximar dela”, explica Juliana.
Dentro da estratégia de transição de influência para outros continentes está, invariavelmente, o contato com importantes marcas de moda e presença em eventos do setor, como fashion weeks, desfiles internacionais, red carpet. “No segmento de influência de luxo, estar presente nesse calendário é fundamental, porque é onde você consegue ser visto e tem oportunidade de criar conexão com pessoas e marcas globais”, avalia Luisa.
Identificar labels que tenham afinidade com o estilo, que compartilhem dos mesmos valores, da mesma estética, e que queiram passar a mesma mensagem é um dos melhores caminhos para pavimentar uma presença sólida no mercado internacional, segundo Juliana Montesanti. “As marcas precisam dessa imagem que vai além das campanhas. Precisam se associar com pessoas de verdade para contar sua história no mundo real”, diz a especialista. Quando essa conexão verdadeira acontece, a imagem – tanto do influenciador quanto da marca – se espalha de forma muito consistente. E é isso o que podemos ver em influenciadores que estão ganhando o mundo, independentemente de suas nacionalidades". Definitivamente, não há fronteira para a influência.