Falar de moda sem falar de sustentabilidade é inconcebível em 2024. Mesmo assim, diversas grifes pelo mundo decidem por ignorar fatores tão fundamentais para a indústria e avanços conquistados nos últimos anos. Felizmente, aqui no Brasil temos bons exemplos de marcas que tem levado esse assunto a sério.
No SPFW N58, não faltaram técnicas e materiais mais sustentáveis nas coleções apresentadas na última semana, mostrando que expertise e consciência podem (e devem) caminhar lado a lado nas passarelas. Abaixo, confira alguns exemplos!
Ponto Firme
Resultado das pesquisas do estilista Gustavo Silvestre, a mais nova coleção da Ponto Firme usou paetês sustentáveis, feitos do descarte da indústria de plástico, em grande parte das peças apresentadas.
Normando
A Normando usou para a sua coleção de estreia no SPFW, a fibra de juta e malva. A plantação destas matérias-primas acontece nas várzeas dos rios, respeitando o ciclo natural das águas, sem desmatar a floresta e sem utilizar fertilizantes.
A grife também usou o látex amazônico, em um processo que mantém a floresta Amazônica em pé ao mesmo tempo que gera renda para comunidades do sul de Rondônia. Além disso, incorporaram cuias em sua coleção. Esse item, que tradicionalmente tem uso doméstico, é feito a partir de fruto da cuieira, uma árvore amazônica, e tingido com o pigmento natural cumatê, que se assemelha a um verniz sintético, porém é 100% natural.
Botões utilizados nessa coleção também foram feitos de cuia e pigmento natural de cumatê, além de botões de jarina (semente conhecida como o marfim vegetal da Amazônia).
Amapô Jeans
Para seguir celebrando uma década de Amapô Jeans, o upcycling e o denim em versão com menor impacto ambiental (com jeans sem tingimento, ou feitos com um tingimento ecológico menos nocivo ao ambiente) foram usados no desfile da grife. As estilistas Pitty Taliani e Carolina Gold também resgataram peças de temporadas passadas para dar vida a novas roupas.
Heloisa Faria
Nesta coleção, Heloisa Faria, que sempre aposta no upcycling, armou uma parceria com tecelagens brasileiras que abriram seus estoques e disponibilizaram tecidos de seus acervos que já não estavam em uso, para que a estilista usasse na construção de novos looks.
Além disso, em parceria com o Revelando SP, festival de economia criativa do estado de São Paulo, Heloísa mapeou mulheres artesãs nos municípios de Bauru, Apiaí e Lorena, e desenvolveu acessórios que como broches de palha de milho.
Catarina Mina
A marca Catarina Mina trabalhou com a marca DaTribu, empreendimento social de moda de Belém, no Pará, cuja produção se baseia nos princípios da sustentabilidade, com foco na valorização dos saberes tradicionais dos povos da floresta.
A iniciativa produz joias orgânicas, e biomateriais como fios e tecidos emborrachados para o mercado B2B a partir da Borracha Amazônica, colaborando para o fortalecimento da socio biodiversidade por meio de parcerias com famílias de comunidades ribeirinhas.
À La Garçonne
No retorno da À La Garçonne aos desfiles presenciais, Fábio Souza apresentou casacos dos anos 30 e 40 que foram atualizados com broches e penduricalhos metálicos. A marca também usou tecidos deadstock para apresentar sua mais nova coleção.
Martins
Em uma coleção inspirada pelos filmes da saga "Matrix" e do estilo hippie dos anos 60 e 70, a Martins utilizou a técnica da reconstrução, ao pegar calças da Levi’s e customizá-las com restos de tecidos de outras peças da coleção.
Weider Silverio
Weider Silveiro utilizou o denim da canatiba, que não precisa de lavagem. Malhas que usam amaciante feito da casca de arroz evitando químicos também foram incluídas no processo de confecção.
Apartamento 03
Os acessórios de cobra coral apresentados pela Apartamento 03 foram feitos à mão com fibra vegetal de tucum pela artesã indígena Barí, Elisete Fontes.
Another Place
Nas peças com estampa camuflada, a Another Place utilizou jeans engomados com produtos biodegradáveis. O denim da grife é isento de compostos químicos presentes na anilina, e a marca utiliza um amaciante derivado de fontes renováveis, com 74% de matéria-prima isenta de carbono fóssil.
Dendezeiro
A Dendezeiro usou peças de palha feitas por uma comunidade de mulheres que fazem trama de palha há mais de 80 anos no interior da Bahia, e as miçangas da coleção foram feitas por um ateliê no interior de Cruz das Almas.
Lilly Sarti
Alguns dos jacquards da coleção de Lilly Sarti foram feitos com parte de tecido reciclado. A matéria-prima consiste em um trabalho minucioso que reúne fios desenvolvidos a partir de PET reciclado (equivalente a cerca de 8 garrafas PET por metro de tecido) com algodão reciclado produzido na Paraíba, que em seu primeiro estágio elimina o processo tingimento, uma vez que a fibra é naturalmente colorida — promovendo, dessa forma, um uso mais consciente de água. A linha produtiva desse algodão não utiliza agrotóxicos nem pesticidas, garantindo menos danos ao solo e ao meio ambiente.
Foz
A Foz, do alagoano Antonio Castro, utilizou algodão orgânico agroecológico e tingimento natural do Vale do Jequitinhonha. Tecidos da coleção “O Arraial” também foram reaproveitados para virarem fuxicos.
Led
Célio Dias, da Led, usou tecidos jeans pré lavados, que não passam por mais nenhuma lavanderia, e por isso possuem um uso reduzido de água.
A estilista Isa Silva utilizou peças de algodão orgânico para iniciar suas celebrações de dez anos de marca.
Fernanda Yamamoto
No desfile que celebrou 15 anos de marca, Fernanda Yamamoto resgatou as suas raízes para pensar sobre o seu futuro. Para isso, utilizou a técnica japonesa "boro", um trabalho que é similar a um patchwork e que utiliza retalhos de tecidos.
Santa Resistência
A designer Mônica Sampaio, da Santa Resistência, utilizou couro de tilápia e palha de fibra de bananeira na coleção que fala sobre sua descoberta de raízes quenianas.
Dario Mittmann
O estreante Dario Mittmann usou técnicas de upcycling em suas peças jeans, criando até uma espécie de “crochê” com o material.