• Carlos Messias
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Claudia Andujar sendo pintada por uma ianomâmi em 1976 (Foto: Claudia Andujar / Divulgação)

Claudia Andujar sendo pintada por uma ianomâmi em 1976 (Foto: Claudia Andujar / Divulgação)

Se a causa indígena sempre foi uma questão de importância nacional, agora ela é ainda mais urgente: é que além dos cerca de 18 mil casos e mais de 300 mortes em decorrência da Covid-19 em terras indígenas, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do fim do ano passado, mais de 42,6 mil hectares – 6% do total dos 78 milhões de hectares de seus territórios na floresta amazônica – foram devastados entre 2018 e 2019. Porém, no começo dos anos 70, quando a fotógrafa suíça naturalizada brasileira Claudia Andujar visitou uma aldeia Yanomami no norte da Amazônia pela primeira vez, era tudo mato.

Em plena ditadura militar, direitos humanos estavam bem longe do debate, mas Claudia já se preocupava com a demarcação de territórios dos povos Yanomami no Brasil para protegê- -los das doenças que eram levadas pelo homem branco. Hoje, os ianomâmis são aproximadamente 27 mil, concentrados em uma área demarcada de 9,6 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e de Roraima. “Eles têm de ter a possibilidade de continuar a existir enquanto cultura. É muito importante isso”, diz ela, aos 89 anos, com o característico sotaque, de seu apartamento na Bela Vista, em São Paulo, em conversa por telefone com a Vogue.

Nascida em uma família judia na Suíça, Claudia foi criada na região da Transilvânia, na Romênia, sobreviveu ao Holocausto, estudou no Hunter College, em Nova York, e chegou a São Paulo em 1955, aos 23 anos. Começou a viajar sem lenço nem documento – mas com uma câmera Rolleiflex a tiracolo – pela América Latina, aperfeiçoando-se em fotojornalismo. Seu trabalho ilustrou reportagens em diversas revistas internacionais, como a norte-americana Life, que em 1971 publicou as fotos do seu primeiro contato com os Karajá, na Ilha dos Bananais, no Tocantins; e nacionais, como a lendária revista Realidade, em pauta para a qual, no mesmo ano, Claudia conheceu aldeias Yanomami situadas na floresta amazônica.

“Fiquei fascinada, pois é um povo que, dependendo da área, fala um dialeto diferente. Eles mesmos não entendiam o que significava essa ideia de uma terra pertencer a um determinado povo”, relembra. Os Yanomami falam quatro idiomas (ianam, ianomam, ianomâmi e sanumá), dos quais se originaram diversos dialetos.

Em uma região onde o esforço para compreender e se fazer entender é comum, o ato de fotografar proporcionou a interação com os nativos, quebrando a barreira da língua. Claudia apresentou uma visão de fora e ao mesmo tempo íntima daqueles indivíduos que ela enxergava como mais do que objetos de cena. E essa interação repleta de delicadeza e empatia transparece nas expressões dos retratados. “Ela tem o olhar de uma mãe carinhosa, afetuosa e zelosa, que teme pelo futuro de seus filhos”, define Marcos Gallon, diretor artístico da galeria Vermelho, em São Paulo, que representa a fotógrafa desde 2004.

Esse é um trecho da matéria "Amor de mãe", que recheia a edição de setembro da Vogue. Leia a matéria completa na revista impressa ou no app Globo+.