Um colar composto por 745 diamantes totalizando 52 quilates e por 44 esmeraldas que, juntas, fazem outros 470. Difícil imaginar tal preciosidade sem vê-la de perto, tamanha a sua engenhosidade – e também porque a peça em questão é uma encomenda do príncipe indiano Karim Aga Khan à sua esposa, a princesa Begum Salimah Aga Khan, entregue a ela em 1971. Pois essa é apenas uma das 400 criações exclusivas da Van Cleef & Arpels em exibição no Palazzo Reale, em Milão, dentro de Time, Nature, Love, primeira grande retrospectiva da joalheria francesa na Itália que recupera a trajetória da maison, desde sua gênese, em 1906, quando Alfred Van Cleef e Estelle Arpels inauguraram o primeiro espaço no número 22 da Place Vendôme, em Paris. “Começamos a conversa com o museu há oito anos e passamos três trabalhando na exposição”, relembra à Vogue Nicolas Bos, CEO da marca.
A inspiração principal para a mostra foi Seis Propostas para o Próximo Milênio (de 1990 e, no Brasil, publicada pela Companhia das Letras), uma das grandes obras do escritor Italo Calvino, que fala sobre leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade – ideias que guiaram a curadora Alba Cappellieri na hora de escolher as peças. “A principal característica desta montagem é a capacidade de falar de temas extremamente atuais através de joias de todas as épocas, mas que poderiam muito bem pertencer ao presente”, conta a curadora.
“Também acredito que o contraste magnífico que projetamos aqui é certamente um manifesto contemporâneo”, completa. Verdade: em grande parte das salas, 14 no total, é difícil não se perder admirando os afrescos do século 18 nas paredes e no teto do palácio, que servem como pano de fundo para as revolucionárias peças da marca.
Cada um dos tópicos que dão nome à mostra é minuciosamente explorado durante o percurso expositivo. Broches de flores e bolsas minaudière art déco dos anos 30 evocam a natureza, assim como a choker Barquerolles Lion, eternizada por Elizabeth Taylor (a joia foi dada à diva por Richard Burton em 1971), e a tiara usada por Grace Kelly no primeiro casamento de sua filha Caroline de Mônaco com o magnata parisiense Philippe Junot, em 1978, recuperam célebres histórias de amor.
Outra parada obrigatória é para ver um dos primeiros colares Zip. Considerada a criação mais célebre da Van Cleef & Arpels, a ideia da peça veio de mais uma mulher igualmente importante para o DNA da maison: a duquesa de Windsor que, por volta de 1938, sugeriu a Renée Puissant, filha de Alfred e Estelle e, na época, diretora artística da joalheria, que ela deveria fazer uma joia baseada em um fecho de zíper.
Palazzo Reale: Piazza del Duomo, 12, Milão. Até 20 de fevereiro