Vogue Repórter

Por Depoimento a Raphaela Cunha

A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune -- as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares. Ainda sem cura, pode se manifestar por sintomas como fadiga intensa, depressão, fraqueza muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora, dores articulares, disfunção intestinal e da bexiga. Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, cerca de 40 mil brasileiros vivem atualmente com a doença.

Em 30 de agosto é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, criado com o objetivo de reforçar a importância do diagnóstico precoce para prevenir o agravamento da condição.

Ressaltar a importância de estar atento aos sintomas e procurar orientação médica o quanto antes se tornou uma das bandeiras da assistente de marketing Amanny Italiano, de 26 anos. Por dois anos, ela tentou ignorar os sinais que o corpo deu, até acordar um dia sem a visão de um olho e ser diagnosticada com esclerose múltipla. "A conscientização é fundamental para um diagnóstico precoce e uma vida plena", diz.

Em depoimento em primeira pessoa, ela narra sua história. Veja a seguir:

“Em 2021 comecei a sentir formigamento no rosto, nas mãos e nos pés. Os sintomas eram esporádicos, então não dei muita importância. Foram os primeiros sinais de que algo estava acontecendo com a minha saúde. Mas com o tempo, me senti melhor e segui a vida.

Dois anos depois, comecei a sentir dores indefinidas entre a lombar e a perna direita. Apesar de ignorar esses sintomas na ocasião, eles persistiram. Esses mal-estares que não havia levado a sério foram importantes sinais na minha jornada para o diagnóstico.

O momento decisivo foi no dia 6 de dezembro de 2023, quando acordei com a visão reduzida no olho esquerdo. Busquei ajuda médica e fiz uma série de exames oftalmológicos, que não revelaram a causa do problema. Até que fui encaminhada a um neuro-oftalmologista para uma avaliação mais detalhada.

Durante a consulta de retorno, fui instruída a buscar um atendimento mais específico, os resultados dos exames apontavam para um possível diagnóstico de esclerose múltipla, embora a médica não tenha cravado diagnóstico na ocasião. Ela indicou ir ao Hospital das Clínicas, onde há equipamentos que permitem maior agilidade e precisão na detecção dessa doença.

No dia 14 de janeiro deste ano, após uma série de exames e avaliações, recebi o diagnóstico de esclerose múltipla. Quando entendi foi angustiante, mas também um alívio por entender que tudo o que aconteceu com o meu corpo durante mais de dois anos tinha um motivo. Minha primeira reação foi perguntar se poderia continuar bebendo e fumando – a resposta obviamente foi 'não'. Também disseram sobre não poder engravidar, ao menos não sem planejamento.

Antes do diagnóstico eu já tinha ouvido falar sobre a esclerose múltipla, mas não fazia ideia do que é. Os medos se tornaram 'e se'. 'E se daqui a alguns anos eu não for mais capaz de viver com independência? E se eu não puder mais morar em outro país por conta do tratamento do SUS? E se aos poucos os meus movimentos forem diminuindo?'

Iniciei o tratamento mensal com infusão intravenosa do medicamento (Natalizumabe), que tem sido crucial para o controle da doença. Atualmente, apesar de conviver bem com a enfermidade, recuperei apenas 85% da visão no olho esquerdo. Com o tratamento e o apoio de uma equipe médica dedicada, consigo levar uma vida normal, trabalhando e realizando minhas atividades com o mesmo empenho de antes.

A esclerose múltipla é uma parte da minha vida, mas não define quem eu sou. Sou grata pelo suporte da minha família, amigos e profissionais de saúde.

Minha intenção ao compartilhar minha história é destacar a importância de prestar atenção a sintomas aparentemente pequenos e procurar orientação médica quando necessário. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida e no manejo da esclerose múltipla.

Meu sonho é construir uma carreira sólida, morar fora do Brasil por um tempo e um lar com paz e felicidade. Espero que minha experiência possa alertar e ajudar outras pessoas a reconhecerem os sinais da doença e buscar o tratamento adequado. A conscientização é fundamental para um diagnóstico precoce e uma vida plena. Agradeço a todos pelo apoio e carinho, e estou otimista quanto ao futuro.”

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