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Médica cria "Prontuário Afetivo" personalizado para pacientes graves em UTI de Covid-19 e ação do bem viraliza
Reumatologista e também artista visual, a Dra. Isadora Jochims trabalha no Hospital Universitário de Brasília, o HUB
3 min de leituraUma onda de amor e acalanto em meio ao caos? Foi mais ou menos isso que a Dra. Isadora Jochims promoveu ao desenvolver o que chamou de "Prontuário Afetivo" no hospital em que trabalha, o Hospital Universitário de Brasília, o HUB, no Distrito Federal.
Também artista visual, a reumatologista de 35 anos resolveu transformar alguns dos ambientes hospitalares focados em Covid-19 com mensagens acolhedoras de carinho e de esperança. Para isso, teve a ideia de criar prontuários personalizados com dados pessoais - que vão além das informações clássicas, como nome, idade, sexo e afins - dos pacientes intubados por complicações e agravamento do novo Coronavírus.
Na intenção de que todos sejam lembrados pelos médicos pelas coisas que costumam lhes deixar felizes e que recebam um tratamento mais humanizado, ela passou a conversar com familiares dos pacientes e a listar suas referências e gostos.
"Gosta de música de cantoria e viola", "torcedor fanático do Palmeiras", "[contar que o] Palmeiras ganhou", "gosta de barulho de água e de passarinho", "gosta de Raul Seixas", "gosta de música sertaneja raiz" e "cante pra ele" são algumas das mensagens que aparecem no post que Isadora fez no Instagram na útima segunda-feira (29.03).
Esses pequenos detalhes fazem os pacientes, assim como os próprios profissionais da saúde, terem tratamentos e momentos um pouco mais leves e menos difíceis em meio ao que vêm chamando de "cenário de guerra".
"Cansada de ouvir que estamos em uma guerra, resolvi fazer essas intervenções artísticas no covidário que trabalho", contou ao mostrar as imagens em seu perfil da rede social.
Completando o post a médica adicionou: "Também me veio essa poesia: Cansada de ouvir que estamos em uma guerra resolvi fazer essas intervenções artísticas no covidário que trabalho. Também me veio essa poesia: Guerra / Não estou em uma guerra / Cuido de vidas, não ceifo / Dou conforto na passagem / E não tormento / Não sou movida a ódio / Mas a amor e afeto / Não quero ganhar / Quero empate / Minhas bombas são de infusão / Elas seguram almas / Seus barulhos são de alerta / E não de explosão e morte / Não sou um soldado / Minha vida vale / Não sou um número / Sou a ponte / Para o outro lado / Não julgo / Não quero saber seu passado / Apenas da sua vida / Agora / O ato / A cura / Não tenho armas / Nem balas / Tenho a ciência / O conhecimento das medicinas / Das prevenções / Do cuidado / As vacinas / Estou na linha de frente / E não escondido em uma trincheira / Na linha da frente / Da vida e da morte / Não obedeço ordens / Tenho autonomia / Penso / Existo / Trato precocemente a loucura / Da disputa e do poder / Por isso não esqueça / Não estamos em uma guerra! / A vida é mais do que perder / E ganhar / Nem tudo vale! / Me paramento / Se paramente / De amor / Para a esperança enfim / Renascer em nós!"
A ideia de reunir dados com os familiares - gerando conforto também para eles - e anotá-los em papeis que ficam fixados em cada maca surgiu no último fim de semana, durante seu plantão na UTI de Covid-19.
A iniciativa já viralizou nas redes sociais e vem sendo reproduzida por outros profissionais de saúde na linha de frente da pandemia. No Hospital Regional do Guará (HRGu), a enfermeira Domitilia Bonfim mostrou nesta terça-feira (30.03) que também está seguindo o exemplo e já adotou o "prontuário afetivo". Veja mais abaixo: