Os grupos de tutores nas redes sociais crescem a passos largos e um assunto que sempre aparece é se vacina pode causar câncer nos pets.
Segundo a professora Thais Rodrigues, do Centro Universitário FMU, o pensamento que associa vacinação com câncer surgiu nos grupos antivacina, mas não há nenhum indício científico da relação entre os imunizantes e o desenvolvimento da doença.
“São pessoas que são contra o ato da vacinação e começam a criar situações e relações que não são verdadeiras. Quando este assunto surge, sempre faço uma relação de chances: qual é a probabilidade de o pet ter determinada doença prevenida pela vacina? E qual é a de ele ter câncer devido ao imunizante? Em quase 100% das vezes, a chance do animal não vacinado adoecer é muito maior do que o animal desenvolver câncer por ser imunizado.”
A veterinária também atribui a crença de que vacina pode dar câncer em pets ao sarcoma de aplicação, um tumor de pele e musculatura maligno desenvolvido pelos gatos. Entretanto, ela esclarece que a relação não ocorre como as pessoas imaginam.
“Antigamente, esse tipo de câncer recebia o nome de sarcoma vacinal, mas com o maior conhecimento sobre a origem da doença, descobriu-se que diferentes medicações injetáveis, fios de sutura, próteses e mordeduras podem desencadear o seu desenvolvimento e, por isso, a nomenclatura mudou”, explica a professora.
Ela ressalta ainda que “o risco de um gato desenvolver o sarcoma após uma aplicação é relativamente baixo, não sendo suficiente para a contraindicação da vacinação na espécie”.
Outro ponto a ser observado, conforme a médica-veterinária Thais Costa Casagrande, doutora em Clínica Cirúrgica Veterinária e coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Positivo (UP), é que atualmente são preconizados alguns locais de aplicação dos fármacos, para evitar áreas que impossibilitem a remoção de um eventual tumor de aplicação desenvolvido pelo pet.
Como o câncer se desenvolve?
Segundo a médica-veterinária Rosely Bianca dos Santos Kuroda o câncer é uma doença de origem multifatorial com a maioria dos fatores de risco para o seu desenvolvimento desconhecidos.
“Eles podem estar associados ao ambiente, como é o caso do sol excessivo para animais de pelagem branca, ou associados ao indivíduo, uma vez que alguns tipos de câncer podem ter uma maior ocorrência em determinadas raças, além da possibilidade de predisposição familiar”, relata.
Já o médico-veterinário Antonio Mataresio Antonucci, coordenador da clínica-escola da Faculdade Anhanguera, ressalta que as injeções hormonais para evitar o cio e a gravidez em fêmeas também representam um fator de risco.
“Existe uma relação com injeções 'anticio', uma espécie de anticoncepcional, que alguns tutores insistem em ministrar para cadelas. Essa prática não é recomendada”, ressalta Antonio.
Dentre as medidas preventivas, os veterinários destacam a castração, que previne o surgimento do câncer de mama em gatas e cadelas, e a manutenção de uma vida saudável, o que inclui boa alimentação, controle de peso e consultas periódicas ao médico-veterinário.
“Essas são estratégias para manter o organismo alerta para combater anormalidades celulares que podem surgir e para uma identificação precoce da doença, caso isso aconteça”, diz Rosely.
Por que as vacinas são importantes?
Assim como acontece com os humanos, a vacinação é um dos meios utilizados para manter os animais livres de algumas doenças e, segundo Thais Costa, prevenir zoonoses — enfermidades que acometem pets e pessoas, como a raiva.
No geral, cães e gatos devem iniciar o protocolo vacinal ainda filhotes, período em que irão receber vacinas classificadas como essenciais e divididas em diversas doses. Depois, os animais deverão receber doses de reforço anuais e seguir a orientação do médico-veterinário para a imunização não essencial.
De acordo com os profissionais, em alguns casos, os pets podem apresentar reações, que costumam ser passageiras, durando, em média, de 12 a 24 horas. Dentre as mais comuns estão dor no local da aplicação, letargia e febre.
Em alguns cães e gatos, a vacina pode provocar alergias. Neste caso, a orientação é procurar o médico-veterinário o mais rápido possível.
“É essencial ficar atento a pets que já apresentaram reação adversa a vacinas anteriormente. Podem ocorrer reações mais graves, com edema generalizado ou em face, prurido, salivação, vômitos e tremores, que devem ser avaliados imediatamente por um médico-veterinário, pois podem ser uma reação anafilática. Se não tratado a tempo, o animal pode vir a óbito. Por sorte, esse tipo de reação é muito rara de acontecer”, comenta Thais Costa.
Independentemente de qualquer reação adversa que o pet possa ter, os profissionais são unânimes ao ressaltar a importância da vacinação.
“O risco principal de não vacinar um animal é justamente que ele adoeça com agentes em que a infecção pode matá-lo. As vacinas consideradas obrigatórias para pets são justamente recomendadas porque esses agentes podem causar adoecimento grave e, potencialmente, podem evoluir para óbito do animal”, alerta Rosely.
“Os pets devem ser criados com responsabilidade e a vacinação é uma das formas mais responsáveis de cuidar deles. Ao não vaciná-los, esses animais correm o risco de adoecer e morrer, além do risco de doenças zoonóticas voltarem com força, acometendo os humanos e, no caso da raiva, até matando pessoas”, finaliza Antonio.