Com a correria do dia a dia, muito se fala sobre estresse. Especialistas revelam que essa emoção não é um “karma humano”. Se por um lado, os peludos podem nos ajudar com esse problema, por outro, também perdem a linha vez ou outra. Rs!
O que é o estresse canino?
Segundo Sabina Scardua, doutora em comportamento animal e colunista do Vida de Bicho, trata-se de um fenômeno fisiológico, e não exclusivamente mental, que começa quando um fator externo desencadeia uma reação negativa, liberando hormônios como adrenalina e cortisol.
“A quantidade destes hormônios, o pico de concentração e o tempo em que sua liberação é retroalimentada e mantida definem o estresse agudo e crônico, que também depende do tipo de estímulo e o tempo que o animal ficou exposto a ele. Diante da ameaça, o pet tem três reações possíveis: lutar, fugir ou congelar.”
O organismo responde com batimento e respiração acelerados. Toda essa mobilização gera um desgaste físico, mental e emocional. A especialista explica que, diferentemente dos humanos, os cães não conseguem pensar “não é uma ameaça, logo, não devo me preocupar”, eles simplesmente reagem aos sinais do corpo, sendo, assim, mais suscetíveis ao estresse.
O que pode causar estresse em cães?
“As causas comuns são: barulhos externos e internos altos, ou excessivos e constantes como obra, música, conversa, rádio, televisão, carros e latidos de outros cães; mudança brusca na rotina; privação de espaço e comida, como dietas repentinas; chegada de outros animais ou pessoas na casa; festas; visitas e o estresse do próprio tutor”, elenca Sabina.
No que diz respeito ao barulho, os fogos de artifício são uma preocupação à parte, ainda mais quando começam as festas de fim de ano. Guilherme Santos, médico-veterinário e PhD em Psicobiologia, revela que os cães apresentam uma sensibilidade auditiva bem mais apurada do que os humanos. Por isso, os ruídos altos podem ser aversivos aos cães.
“Além de tornar o animal mais reativo e ansioso, há uma ativação do sistema nervoso autônomo simpático que desencadeia alterações periféricas, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento da frequência respiratória e tremores”, completa Guilherme.
Sinais de um cachorro estressado
A médica-veterinária Carolina Kliass Abecasis e Sabina elencaram 8 sinais de um cão estressado. Confira:
1. Roer as unhas
Assim como os humanos, os pets também podem roer as unhas quando estão ansiosos e estressados. Esse comportamento é um indicativo de que o cão está precisando de atenção e cuidados especiais.
Além disso, pode ser um sinal de desconforto nas patas, por isso, o tutor deve ficar atento e levá-lo até o médico-veterinário, caso o comportamento persista.
2. Lamber muito o focinho
Lamber o nariz é uma forma dos pets limparem os odores que ficam na região, mas, quando o comportamento é feito em excesso, pode indicar estresse.
Dessa forma, é preciso que o tutor conheça os hábitos gerais do seu cão, para notar com facilidade ações repetidas e frequentes, que sinalizam alguma disfunção.
3. Postura corporal cabisbaixa
O animal que anda com o rabo entre as pernas, coloca o peso do corpo nas patas posteriores, anda curvado e agachado com certeza está estressado.
Além dessa postura corporal, o pet também pode apresentar tremores, sinalizando medo, estresse e ansiedade, por isso, é importante ficar atento aos comportamentos diários.
4. Lambedura excessiva das patas
O estresse pode ocasionar a lambedura frequente das patas e de outras partes do corpo, o que tende a criar uma lesão grave no local, como na região interdigital.
Com a lambedura excessiva, os pelos ficam com um aspecto amarronzado, "queimados" devido à saliva. Por isso o tutor deve sempre ficar de olho na pelagem do animal.
5. Urina em excesso ou aumento da frequência de defecação
O cão que urina fora do lugar de costume provavelmente está passando por um período estressante, e para sinalizar a sua insatisfação com o meio, acaba fazendo xixi em vários lugares diferentes.
O mesmo ocorre com a defecação em excesso, pois, assim como os humanos, o sistema digestivo também reage diante de emoções e desconfortos. Todo sentimento pode interferir na saúde e funcionamento do corpo animal.
6. Respiração acelerada
É uma forma do animal regular a temperatura do corpo. Esse comportamento é normal após caminhadas, mas, quando o cão fica ofegante sem motivo aparente, pode ser sinais de estresse, ansiedade e medo.
Mas isso também pode sinalizar algumas doenças, como problemas cardíacos, por isso, a consulta com o médico-veterinário é necessária.
7. Excesso de latidos
O latido é uma forma de comunicação do pet com o mundo externo, com pessoas e outros animais. Contudo, quando em excesso, essa ação demonstra estresse e intolerância.
Agressividade, excitação, medo, desespero, tédio, alerta de perigo e dor também podem estar por trás desse comportamento. Os tutores mais atentos conseguem distinguir cada uma por meio da postura corporal e contexto.
8. Apetite reduzido, aumentado ou depravado
Se o pet tem uma alimentação balanceada e costuma ingerir a mesma quantidade de comida sempre, mas de repente muda e começa a comer rápido demais ou deixar alimento sobrando, o tutor deve ficar atento, pois esse é um sinal de estresse.
Ademais, ingerir itens aleatórios, como plástico, poeira e fios da casa, também é uma forma de identificar que o animal não está bem. Nesse caso, ir até um veterinário especialista em nutrição pode ser a melhor opção.
“Contudo, no geral, as causas são muito diversas e não estão associadas a cada sinal, pois a forma com que o animal expressa o estresse varia de acordo com cada um. Por exemplo: uma obra na vizinhança, com ruído constante, é um estressor comum, mas, na mesma casa, um cachorro pode aumentar a coceira, enquanto outro aumenta a agressividade ou comportamento destrutivo”, esclarece Sabina.
Dicas para desestressar o cão
Para proporcionar qualidade de vida ao pet, Sabina separou 5 dicas de como desestressar o cão. Confira:
- Olhe no olho do pet por mais de 30 segundos, todos os dias.
- Preserve a rotina custe o que custar.
- Capriche no enriquecimento ambiental e agrados alimentares nos momentos mais estressantes.
- Contrate uma terapia de suporte, como reiki, comunicação animal, florais, acupuntura ou homeopatia.
- Seja coerente e cuide de si mesmo, para que as suas emoções não afetem o cachorro por tempo prolongado.
Guilherme explica que prover uma alimentação equilibrada, acesso constante à água, consultas regulares com o veterinário e permitir que o pet expresse o comportamento de sua espécie, por meio de enriquecimento ambiental, passeios e interação com outros animais e pessoas, são fatores essenciais para o desenvolvimento físico e mental do cão.
A importância do enriquecimento ambiental
Os especialistas revelam que o enriquecimento ambiental é um ponto-chave para desestressar o cachorro. “Muitos cães apresentam, principalmente no pós-pandemia, ansiedade de separação. Nestes casos, trazer elementos divertidos para o espaço em que ele vive funciona como distração nos momentos de solidão, amenizando os sentimentos negativos”, sugere Carolina.
De acordo com Guilherme, o ambiente deve estar bem preparado, visando o conforto do animal e trazendo desafios para que ele possa expressar seus comportamentos naturais.
“Isso inclui a utilização de brinquedos com texturas, inteligentes e rotativos e um espaço de descanso longe do banheirinho do pet. O resultado é um animal com maior flexibilidade cognitivo-emocional e apto a lidar com os desafios emocionais”, completa Guilherme.
Existe remédio para estresse de cachorro?
Existe sim! Os psicofármacos são grandes aliados no tratamento de transtornos mentais em cães. No entanto o uso de medicações para desestressar o animal não são recomendadas, a não ser em condições específicas, segundo Guilherme.
“Se a demanda do uso do remédio é constante, a probabilidade do animal já estar com um transtorno mental é grande.”
Guilherme ressalta que somente o veterinário é habilitado em prescrever psicofármacos. “Tanto em condições agudas, quanto crônicas, a medicação sempre deve estar acompanhada de modificações ambientais, comportamentais e estruturação da relação da família multiespécie'', finaliza o especialista.