A adoção de um novo animal é um momento especial para a família, independente das circunstâncias ou do tipo de peludo envolvido. Quando existe um humano com o compromisso de fazer o melhor pelos bichos e o coração aberto para amar mais um, o que pode dar errado?
Mas os pets que já vivem na casa não costumam ter tanta facilidade para aceitar a novidade. Eles são seres muito sensíveis, e muita coisa acontece sem que a gente perceba. Os primeiros dias e o comportamento do tutor são cruciais. O respeito aos que chegaram antes é o fator principal. Mas, afinal, como fazer isso?
Vou te contar 5 segredos para uma adaptação de sucesso:
1. Dar mais atenção para os que já estavam na casa e não para o recém-chegado
É comum ficarmos preocupados com quem está chegando, principalmente se é um filhote. Tudo é novo para ele, geralmente existe medo e insegurança. O recém-chegado deve ser acolhido, mas, fique tranquilo, não é preciso enchê-lo de mimos nos primeiros dias: afinal, lidar com você também é novo para ele, logo, o descanso será necessário.
Então, é só prover um local seguro, confortável, com comida, água, brinquedos e pronto. Isso é o suficiente para ele ir processando o ambiente. O peludo lida com uma coisa de cada vez. Assim, no início, menos é mais.
Para mostrar aos bichos da casa que a chegada do novo integrante é um evento feliz - e eles não perderão nada, pelo contrário, só ganharão -, você coloca em prática um plano de puxa-saquismo máximo: muitos elogios em voz alta, vários carinhos e brincadeiras, agrados, brinquedos novos e, claro, mais petiscos e sachês. Enfim, todos os mimos possíveis em doses maiores.
Com o passar do tempo, você vai diminuindo gradativamente os mimos, como a quantidade de petiscos e sachês, até voltar ao normal. Se tiver outra pessoa na casa, melhor ainda. O indivíduo de menor ligação com o animal veterano deverá dar atenção para o calouro nos primeiros dias.
2. Lavar as mãos
Os pets processam o mundo pelos cheiros. Considerando que o nosso olfato não é tão bom, é comum cometermos alguns equívocos. Por exemplo: nunca passe a mão no bicho novo e logo em seguida passe a mão no outro. É o cúmulo do desrespeito. Nos primeiros dias, nada deve ser compartilhado, desde brinquedos até comedouros.
Trabalhar o cheirinho da casa com feromônios disponíveis no mercado ou óleos essenciais suaves também pode ajudar.
3. Ser paciente com o integrante antigo
O seu amigo de quatro patas precisa de um tempo para lidar com a novidade do jeito dele. Para os mais sensíveis, uma ajudinha com terapias complementares pode fazer a diferença. Mas o mais importante é fazer tudo no tempo do bicho.
Uma adaptação estruturada de felinos, por exemplo, envolve três fatores:
1. Permitir o contato apenas olfativo primeiro;
2. Depois que já estiverem acostumados ao cheiro, o contato visual breve controlado;
3. Por último, o encontro físico monitorado.
A questão é que o tempo em cada fase varia grandemente de indivíduo para indivíduo, mas muitos tutores pecam pela ansiedade, passando rapidamente pelas etapas. Nesses casos, a adaptação fica imensamente prejudicada. Para começo de conversa, é preciso ter paciência. O processo de adaptação pode demorar de 3 meses a 1 ano. Mas vale a pena esperar!
4. Não restringir os moradores antigos
Espere muitos dias antes de liberar os espaços nobres para o novo morador, como o seu quarto. Isso dará mais segurança e autoconfiança para o pet antigo. Se o peludo tinha acesso ao quintal e com a chegada do outro animal não tem mais, se fica agora preso em um quarto longas horas, enquanto o outro circula, a tendência é que haja estresse. E onde há estresse, não há tolerância ou compreensão.
5. Não forçar amizade
Não pense jamais que alguns dias depois o seu bicho vai achar que o outro é o irmãozinho dele. Amizades são construídas, não impostas. Você quer que a amizade entre eles seja o mais rápido possível, mas esse não é o objetivo da adaptação. O ideal é que haja bem-estar, felicidade e saúde para todos. A amizade poderá florescer ou apenas o respeito. Só o tempo dirá, e isto sempre será uma escolha deles não sua.
Se outra pessoa estranha entrasse na sua casa agora para morar, vocês se tornariam amigos ou irmãos instantaneamente? Dependendo da sua personalidade, você poderia achar a situação desafiadora, estressante, humilhante, curiosa, instigante, interessante, animadora e por aí vai. Com os animais também é assim. Tem pet que vai agradecer que chegou alguém novo, outro que vai ter medo e o que vai ter ressentimento da situação.
Nada de moldar o comportamento do seu pet com broncas e controle excessivo. Nem pensar. Muitos ficam seriamente magoados e confusos, se forem chamados a atenção nessa situação. Um sibilar e um rosnado podem fazer parte, para mostrar ao outro os limites. Se o tutor interfere e manipula demais o comportamento do animal anfitrião, isso influenciará negativamente na relação dos bichos, gerando tensão e ansiedade.
Às vezes vemos verdadeiros encontros de alma, onde o bicho da casa parece que estava esperando o outro e já se conhecem de outros carnavais, aí tudo é lindo e fácil. Mas não é sempre assim, os peludos têm essências diferentes e podem ter mais ou menos afinidade com um ou com outro.
Como não dá para saber antes, o mais importante é ter calma, paciência e ter em mente que a harmonia é sempre possível, basta dar voz a cada peludo e agir com cuidado. Mantenha a conexão com cada um deles, pois, no futuro, eles terão algo em comum para se aproximarem: o amor por você.
Sabina Scardua é médica-veterinária com doutorado em comportamento animal. Atua com Reiki em animais desde 2016 e está à frente do Reiki Pet Rio (@reikipetrio).