Na rotina de atendimentos veterinários, é comum ouvirmos as seguintes frases: “não forneço aquela ração, porque é muito gordurosa”, “preparo o alimento do cão sem nenhuma gordura”, “doutor, eu compro carne para o meu pet, mas peço para tirarem toda a gordura” e, a mais comum, “eu coloco só um fiozinho de azeite na comida dele”. Aí surge a dúvida: esse nutriente realmente faz mal para cães e gatos?
Para responder essa questão, precisamos entender um ponto central: o organismo de cães e gatos é diferente do de humanos, principalmente em relação ao metabolismo da gordura.
A digestão e absorção é até que parecida, mas o uso e a distribuição da gordura pelo corpo são diferentes. Um exemplo clássico disso é o fato de ser raro cães e gatos formarem placas de gordura nos vasos sanguíneos, o que é comum em humanos.
Nos animais, isso é incomum porque eles possuem mecanismos mais eficientes de transporte de gordura. Eles dispõem mais do chamado colesterol “bom” (HDL-colesterol) do que do “mau” (LDL-colesterol).
A gordura na dieta dos pets
Outro ponto importante: os animais têm necessidade nutricional de gordura. Fica fácil entender isso quando se sabe que todas as células do corpo são formadas por esse lipídio e o tipo de gordura presente na alimentação modifica a estrutura das células.
Então, a dieta de cães e gatos deve ter gordura? Sim! Ela é fonte de energia e de ácidos graxos (componentes das gorduras), que são fundamentais para a saúde.
Na ausência ou modificação do perfil ideal de gordura na dieta, diversas complicações podem ocorrer: desde lesões na pele e otite recorrentes, até problemas na coagulação sanguínea.
Esses ácidos graxos são do tipo ômega-6 e ômega-3, e uma dieta saudável é formada por ambos. Cada um tem suas funções e cães e gatos não conseguem produzir esses compostos a partir de outras gorduras.
Aqui vale uma curiosidade: algumas fontes de gordura famosas, como azeite e óleo de coco, possuem pouco desses ácidos graxos, ou seja, não devem ser utilizadas como primeira opção na dieta dos animais. Mas isso é conversa para um próximo texto.
Gordura na alimentação dos pets: com o que se preocupar
Afinal, não precisamos nos preocupar com a quantidade de gordura que os cães e gatos comem? Não, não foi isso que foi dito aqui. Comer grande quantidade de gordura pode ser, sim, ruim. É importante lembrar que ela é o nutriente que contém mais caloria, ou seja, engorda mais.
Normalmente, alimentos com bastante gordura tendem a ser mais calóricos e, consequentemente, se o animal não tem uma ingestão alimentar controlada, o risco de obesidade é maior.
Outro problema bem comum é quando o pet não está acostumado a comer muita gordura e recebe um aporte muito grande repentinamente. Situação clássica: cão ou gato que teve acesso a restos de comida gordurosa, pois ficou sozinho na cozinha e mexeu no lixo que continha a embalagem de alimento engordurado.
Outro caso: o pet consumiu vários pedacinhos de churrasco durante o final de semana, e, no dia seguinte, apresentou alterações gastrointestinais com leves vômitos ou diarreia, até quadros graves de pancreatite.
Sendo assim, para cães e gatos, a preocupação com a quantidade de gordura na dieta deve existir, mas não podemos dizer que ela faz mal ou que alimentos bem elaborados, com fontes de gordura adequadas, são ruins simplesmente por conterem mais desse nutriente.
Vale destacar que, aqui, o foco é para cães e gatos saudáveis, mas mesmo para os pets doentes, em muitas situações, a preconização será o uso de dietas com alta quantidade de gordura, como os animais com câncer e doenças cardíacas. Vale lembrar o que foi comentado acima: o metabolismo de gordura dos bichos é bem diferente dos humanos.
Porém, em outras doenças, a quantidade de gordura deve ser bem reduzida, como os pets que possuem triglicerídeos e colesterol aumentados no sangue ou cães com doenças intestinais específicas.
Vale sempre a mesma premissa: procure um profissional da saúde animal para obter a recomendação adequada sobre a dieta do seu peludo.