Chef Morena Leite comemora quarenta anos do Capim Santo e expande marca em SP

Cozinheira levanta a bandeira da culinária brasileira mundo afora

Por Alice Granato*
Atualizado em 20 dez 2024, 16h39 - Publicado em 20 dez 2024, 06h00
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A chef Morena Leite cercada pelo capim-santo: sua marca registrada  (Paulo Vitale/Veja SP)
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O cenário parecia uma Macondo de Gabriel García Márquez em sua obra-prima Cem Anos de Solidão (que acaba de ganhar uma série na Net-Felix). Trancoso no fim dos anos 70 era uma aldeia muito simples, sem recursos. Nascidos no interior de São Paulo, Sandra Marques e Nando Leite chegaram ali com uma certeza: queriam ter uma vida saudável e longe da cidade grande

“Nosso propósito era mudar, fugir de um esquema preestabelecido”, afirma Sandra, sócia-fundadora do Capim Santo, ao lado do ex-marido, Nando. Eles chegaram ali em 1978. Em 1980, nasce a primeira filha do casal, batizada de Morena, nome inspirado em Moreno Veloso, filho de Caetano.

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Morena Leite bebê (Arquivo pessoal/Reprodução)

Arquiteta, Sandra não sabia muito bem o que faria para sobreviver naquela aldeia paradisíaca, mas foi seguindo sua intuição. Ela, que sempre gostou de cozinhar, logo abriu uma “portinha”, a primeira do Quadrado, em sua própria casa, servindo pratos do dia, os famosos pê-efes. Já era, na época, entusiasta da cozinha macrobiótica e da antroposofia (introduzida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner).

Depois de receber Fernando Gabeira (um dos primeiros clientes) e Caetano Veloso para comer ali, e arrancar suspiros de seus clientes, Sandra foi se encorajando no negócio e, em janeiro de 1985, criou com Nando o Capim Santo. Esse é o começo de uma linda construção que agora completa quarenta anos.

Se parecia mais uma história hippie, está comprovado que não. “Nossa família nos perguntava: como vocês vão criar os filhos neste mato”, diverte-se Sandra. Pergunto qual a receita do sucesso dessa trajetória familiar. “O nosso tripé: autenticidade, simplicidade e hospitalidade. Eu sempre amei receber em minha casa e fazer com que o outro se sinta bem. Nunca me considerei uma chef, sou uma cozinheira intuitiva”, afirma.

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Em Trancoso, com sua prancha de surf (Acervo pessoal/Reprodução)
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“Hoje, com a Morena, a operação está muito moderna, mas aqui em Trancoso ainda é uma casinha de pescador, com uma operação naïf, que dá suporte para nossos filhos (Morena e Marcel) voarem. São quarenta anos de jardim, de comida e de pessoas.”

Morena, 44, revela que desde pequena era muito curiosa e queria desbravar o mundo, conhecer pessoas. “Eu vivia de mesa em mesa na pousada entrevistando os clientes”, conta. Sonhava em fazer relações internacionais, diplomacia, o que, de fato, acabou fazendo com sua cozinha, que a leva a viajar o mundo, conhecer e servir chefes de Estado e representar o país como uma verdadeira embaixadora da cozinha brasileira.

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Ao lado do cacique Raoni (Acervo pessoal/Reprodução)

Sua história com a gastronomia começa oficialmente aos 15 anos, quando vai estudar na clássica escola Le Cordon Bleu, na França. O Capim chega a São Paulo em 1998, na Vila Madalena, época em que Morena estudava em Paris. Ela se forma em 1999, retorna para a capital e, nos anos 2000, começa a trabalhar no restaurante.

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Na formatura da Le Cordon Bleu de Paris (Acervo pessoal/Reprodução)
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“Ganhei uma Ferrari para pilotar, com toda a construção de meus pais.” Quando nova, ela tinha questões para comer. Não provava de tudo e conta que o irmão, Marcel, era mais “alquimista”, puxando a mãe. Aos poucos, foi amadurecendo e se desenvolvendo. “Eu cresci no quintal pegando goiaba, jaca e indo vender na rua, gostava do comércio e da comunicação”, descreve.

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Com os pais e o irmão, Marcel (Acervo pessoal/Reprodução)

De tão comunicativa, Morena fundou um jornal local, Folha de Trancoso, em que fazia entrevistas e o artista plástico Damião Vieira ilustrava — muito requisitado, a fila de espera para encomendas de seu trabalho é grande. “Eu trabalho lentamente e não dou conta de produzir na velocidade que as pessoas querem. Sou artista baiano”, brinca, sorrindo.

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Trancoso em pintura de Damião Vieira (Damião Vieira/Reprodução)

Por falar em velocidade, Morena não para. Já viveu em Paris, Cambridge, Londres, Bali, Nova York e Alter do Chão. “Ela é um meteoro”, define Sandra. “Eu não sei pra onde ela vai, só vejo o rastro de fogo dela. Antes, isso me dava medo e ansiedade, preocupação com sua saúde. Mas hoje entendi que ela é extremamente capaz no que ela faz e se propõe a fazer.”

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Andando de elefante com a filha Manuela no Laos (Acervo pessoal/Reprodução)

Sandra admira-se que a filha não se intimida diante de operações gigantescas, como o Rock in Rio, por exemplo, que atendeu 7 000 pessoas por dia. “Ela tem muita segurança.”

Temos uma ligação de alma, parece mesmo de outras vidas. Estar com ela é muito prazeroso. Morena é pulsante,
desbravadora, estar com ela me completa.

Mariana Ximenes, atriz e comadre

Morena é uma mulher excepcional. Foi um desafio e uma delícia escrever Terapia na
Cozinha com ela porque
os pensamentos sempre estão a mil.

Arthur Guerra, médico psiquiatra

Cuido das viagens da Morena
há muitos anos e é sempre
um desafio. Ela tem uma
agenda muito apertada, mas
nunca mede esforços para
estar nos compromissos
profissionais e familiares.

Patrícia Nunes, proprietária da agência Casarão Viagens
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Trabalho há 26 anos com
a Morena no Capim Santo.
Ela me descobriu, me
formou líder e me mostrou
que cozinhar é acolher e
servir. Tenho muito orgulho
de trabalhar com ela.

Flavio Dias, chefe-geral do restaurante Capim Santo
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Em entrevista no Programa do Jô (Acervo pessoal/Reprodução)

Recentemente, serviu chefes de Estado no G20, como Biden e Lula — ela tem um exército de pessoas fiéis. “Eu amo o que faço. Procuro ser justa e correta. Mostro para todo mundo que é possível, jogo luz.”

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Com o ex-presidente do Estados Unidos, Joe Biden (Acervo pessoal/Reprodução)
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Com o presidente Lula no G20 (Acervo pessoal/Reprodução)
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Mãe da Manuela, 15, da Julia, 5, e da enteada Duda, 25, comanda três operações do Capim em São Paulo, refeitórios em empresas, o Instituto Capim Santo e 500 funcionários. “Me sinto uma maestra orquestrando tudo”, diz.

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Com as filhas Manuela e Júlia (Acervo pessoal/Reprodução)

Dada sua rotina, acaba dormindo pouco. “Eu descanso no avião. É quando consigo me desconectar, escrever e estar comigo”, revela. Muito obstinada, Morena segue firme na história criada por seus pais e expandida por ela. “Quero mostrar um Brasil colorido, culto, organizado”, afirma.

*Colaborou Luana Machado

Publicado em VEJA São Paulo de 19 de dezembro de 2024, edição nº 2925

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