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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)

O rali pró-Tarcísio

Favorito da elite e dos partidos de direita, governador precisa unir a oposição para enfrentar Lula em 2026

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 out 2024, 11h53 - Publicado em 14 out 2024, 11h23

Na primeira semana de setembro, quando o guru de autoajuda Pablo Marçal estava empatado em primeiro lugar nas pesquisas para prefeito de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas participou de um café da manhã com mais de vinte operadores do mercado financeiro. Com o seu discurso “contra tudo que está aí”, Marçal já havia seduzido o chão de fábrica da Faria Lima, e o encontro com Tarcísio era uma tentativa da campanha do prefeito Ricardo Nunes de estancar o movimento de rebanho da elite financeira em direção ao guru.

“Marçal é um irresponsável. Vocês não podem entregar a maior cidade da América Latina nas mãos de um cara desses”, disse Tarcísio, num tom que os comensais definiram como “descompostura”. Três dos participantes saíram do encontro certos de que uma derrota de Nunes seria o fim de uma possível candidatura de Tarcísio à Presidência em 2026. “Não venham com esse papo que ‘não faz diferença, que somos todos (Marçal, Nunes e Tarcísio) de oposição ao PT’. Não somos iguais”, disse Tarcísio. O recado funcionou. Semanas depois, num segundo encontro com duas dúzias de corretoras, Tarcísio falou para uma plateia mais amena e convencida de votar em Ricardo Nunes.

A ausência de Marçal no segundo turno por menos de 57.000 votos, entre os 6,7 milhões de eleitores paulistanos que foram às urnas, foi uma vitória pessoal de Tarcísio. Seguidas vezes ele foi aconselhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a não se envolver na campanha paulistana pelo risco de derrota do prefeito. Tarcísio ignorou o alerta, jogou o seu prestígio político na campanha e ganhou sozinho. A provável reeleição de Nunes, que segundo o Datafolha tem 55% das intenções de voto para o segundo turno, é o primeiro passo da campanha de Tarcísio para 2026.

“Tarcísio sabe que a chance dele é agora. Ele é uma unanimidade do PIB, não tem chance de Tarcísio não ser candidato”, disse o fundador do BTG Pactual, André Esteves, em conferência com investidores estrangeiros em Nova York. No relato do Brazil Journal, Esteves previu que se Tarcísio ganhar os ativos brasileiros viverão “a mãe de todos os ralis. Esse é o cara que temos que abraçar”.

Mesmo os líderes radicalmente bolsonaristas apostam em Tarcísio, embora com a ressalva de que ele seria a opção apenas se Bolsonaro for mantido inelegível. “O candidato nosso é o Bolsonaro, mas (diante da inelegibilidade), o número 1 da fila é o Tarcísio”, contou o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, ao jornal O Globo.

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“Se o Bolsonaro não ficar elegível, o candidato mais forte é o Tarcísio. Se o centro for todo com ele, é muito difícil ele perder. Mas vai depender de o Bolsonaro apoiar”, admitiu ao Valor o presidente do PP, Ciro Nogueira, que se apresentou como um possível candidato a vice na chapa presidencial.

Conselheiro político de Tarcísio e econômico nas suas declarações públicas, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, avançou um sinal em entrevista à Andréia Sadi, da GloboNews: “O meu projeto é Tarcísio. Sendo Tarcísio, eu vou estar alinhado com o projeto que seja compatível com o projeto do Tarcísio, seja ele candidato a governador ou presidente”, prometeu.

Tarcísio tem três desafios imediatos para viabilizar sua campanha. O primeiro, e mais fácil, é eleger Ricardo Nunes no segundo turno.

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O segundo, mais delicado, será arranjar um modo de convivência entre Valdemar, Ciro e Kassab. Valdemar e Kassab disputam espaço político, e o primeiro acha que o governador só não se filiou ao PL por conspiração do segundo. A rivalidade já se estendeu para a sucessão na Câmara, onde PL e PP caminham de um lado, enquanto o PSD lidera um grupo com o MDB e o União Brasil.

A terceira missão, de mais longo prazo, é isolar a extrema direita, que se incendiou com Pablo Marçal. A eleição em São Paulo, Curitiba, Goiânia, Belo Horizonte e Fortaleza confirmou que existe uma demanda de parte do eleitorado por uma versão brasileira de Javier Milei. É uma fatia que não se sente representada pela direita tradicional de Tarcísio. Mesmo que Marçal seja punido pela Justiça pelos vários ataques aos adversários na campanha, a demanda seguirá viva no eleitorado.

No domingo, o jornal O Globo divulgou pesquisa Genial/Quaest mostrando que, com a exposição da campanha municipal, Marçal hoje está à frente de Tarcísio na disputa presidencial. Na simulação, Lula teria hoje 32%, Marçal 18% e Tarcísio 15%. Num eventual segundo turno, Lula derrotaria Tarcísio por 35% a 22%, enquanto Marçal perderia por 36% a 27%.

A viabilização da campanha de Tarcísio passa por vencer em São Paulo, pacificar os líderes partidários e unir a direita em torno do seu nome. Só então ele estará pronto para começar a disputa contra Lula.

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