Trabalhar no setor financeiro com salários competitivos, recebendo comissões por ativos vendidos e ainda tendo uma experiência internacional. Atrás desse sonho, brasileiros têm sido vítimas de tráfico humano, segundo o Ministério de Relações Internacionais.
A embaixada do Brasil em Yangon, em Myanmar, na Ásia, vem sendo notificada, desde setembro de 2022, de casos de aliciamento de brasileiros para trabalho em condições análogas à escravidão em "fábricas de golpes financeiros" na fronteira com a Tailândia. "Trata-se de esquema no qual empresas, supostamente do setor financeiro, oferecem vagas de emprego em operações alegadamente situadas na Tailândia", dia nota do ministério.
Um dos casos recentes de brasileiros levados ao trabalho escravo é o de Luckas Viana dos Santos, que caiu no esquema no início de outubro, segundo reportagens dos portais The Intercept e Uol. Desde então, nas poucas vezes que conseguiu fazer contato com a família e amigos, o jovem afirmou estar submetido a exaustivas jornadas de trabalho aplicando golpes pela internet em vítimas de outros países, como os Estados Unidos.
Além disso, as mensagens enviadas pelo jovem brasileiro e obtidas pelas reportagens mostram que há castigos físicos. O relato coincide com o que cita a nota do Ministério das Relações Internacionais.
"Na prática, os nacionais brasileiros, que são induzidos à assinatura de cláusula de confidencialidade, são transportados, por via rodoviária, para Myanmar, onde têm seus passaportes retidos e são submetidos a longas jornadas de trabalho, privação parcial da liberdade de movimento e possíveis abusos físicos".
O governo brasileiro diz que acompanha os casos. "A Embaixada do Brasil em Yangon vem mantendo interlocução permanente sobre o assunto com as autoridades de Myanmar".
Envolvimento de brasileiros
Em agosto, o Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo denunciou uma cidadã brasileira residente em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, por recrutar pessoas para trabalhos forçados a uma organização criminosa transnacional especializada na aplicação de golpes cibernéticos. Esta foi a segunda denúncia do MPF contra integrantes do esquema. Outro brasileiro já respondia pelos delitos de tráfico de pessoas e participação em organização criminosa por recrutar compatriotas.
Em resumo, os acusados estariam aliciando vítimas com falsas promessas de emprego na Tailândia e também intermediavam o envio delas ao país asiático, de onde eram levadas ilegalmente a Mianmar, sede do centro de operações do grupo. "As vítimas ficavam alojadas na própria base de operações do grupo, um complexo com elevado grau de segurança que impedia eventuais fugas. Aqueles que tentassem escapar ou denunciar o esquema eram levados a um setor onde ficavam presos, eram torturados ou até mesmo mortos", aponta o MPF.
Uma reportagem da BBC detalha que pessoas do mundo todo são escravizadas para aplicar golpes em homens solitários nos Estados Unidos e Europa. As vítimas do tráfico são forçadas a usar identidades online falsas para levar os homens a investirem grandes quantias de dinheiro em plataformas de negociação falsas que prometem retornos rápidos. As transferências de dinheiro, muitas vezes, são exigidas em criptomoedas. A prática de atrair as vítimas a partir de promessas românticas é conhecida conhecida como “abate do porco”.
Para evitar casos como esses, o governo brasileiro lançou a cartilha "Tráfico de pessoa e orientações para o trabalho no exterior". Para acessar o documento, clique aqui.