Colunas de Hugo Daniel Azevedo

Por Hugo Daniel Azevedo

Consultor de investimentos e sócio da MFS Capital

São Paulo


Você sabia que as decisões que você toma ao investir seu dinheiro são intimamente afetadas por fatores psicológicos?

É isso mesmo! Talvez você já tenha ouvido falar em um campo de estudos conjunto entre Economia e psicologia chamado Economia Comportamental ou Psicologia Econômica. Saiba que este ramo trouxe explicações muito interessantes sobre como tomamos nossas decisões de investimento e hoje estou aqui falando disso por uma razão muito estrutural: antes de aprender sobre produtos de investimento e efetivamente ganhar mais dinheiro com isso para realizar seus desejos ou necessidades, é fundamental que você aprenda sobre seu maior ativo, que é você mesmo.

Vou dar aqui dois pequenos e rápidos exemplos que mostrarão como na maioria das vezes você acha que está tomando a decisão correta, mas na realidade, não está.

  • Primeiro exemplo: o chamado EFEITO DISPONIBILIDADE

Um estudo de 2008 mostra que investidores individuais são mais propensos a investir ações que estão em maior evidência, como é o caso de empresas que gastam mais com marketing, por exemplo. Considerando que existem centenas - e dependendo do país - milhares de empresas listadas em Bolsa, o investidor individual médio usa este atalho mental para tornar mais simples a escolha de suas ações.

  • Segundo exemplo: o EFEITO REPRESENTATIVIDADE

Este efeito, é, na verdade um “defeito” de nosso cérebro que é ativado quando tentamos calcular, por exemplo, a probabilidade da ocorrência de um evento baseando-se na representatividade deste evento para nós mesmos. Em 1974, dois ganhadores do prêmio Nobel, demonstraram esta falha, no nosso processo de tomada de decisão sob incerteza, através de um simples teste que replico abaixo em um forma sequencial lógica de raciocínio.

  • Ao atirar uma moeda para cima, a chance desta moeda dar CARA é igual a chance de dar COROA, ou seja, 50% de chance para CARA e 50% de chance para COROA, correto?
  • Então, no teste, os autores apresentaram às pessoas duas possíveis sequências ao atirar uma moeda para cima seis vezes seguidas, conforme abaixo:

Sequência 1: Alternando entre "K" (Cara) e "C" (Coroa): K, C, K, C, K, C

Sequência 2: Só "K" (Cara): K, K, K, K, K, K

  • Sendo K igual a Cara e C igual a Coroa, vemos que na sequência um existe uma intercalação de caras e coroas e na sequência 2 somente Caras.
  • As pessoas tinham de dizer qual das sequências seria mais provável acontecer.
  • Ora, a resposta correta seria que as duas sequências têm probabilidade igual a meio elevado a sexta potência.

Acontece que, na prática, a grande maioria das pessoas envolvidas na pesquisa considerou mais provável a sequência 1.

Qual a explicação para isso? Os indivíduos tendem a confundir a representatividade de um evento – por exemplo, o histórico de retornos de uma ação – com a probabilidade matemática do evento acontecer.

Trazendo para o mundo dos investimentos em ações, os estudiosos acreditam que o investidor médio tende a pôr seu dinheiro em empresas que apresentam “boas qualidades”, ao invés de realizar uma análise macro e microeconômica mais criteriosa.

Em 1994, em um outro experimento, ações analisadas por Bancos e Corretoras foram divididas em dois grupos: as ações (“destaque”) de empresas com maior crescimento de vendas, e ações (“ruins”) de empresas com o pior crescimento de vendas. Os pesquisadores divulgaram que durante o período de 1963 até 1990, o retorno das ações “destaque” um ano após a compra foi de 11,4%, enquanto o retorno das ações “ruins” das empresas foi de 18,7%.

Estes resultados são bem diferentes dos resultados esperados pelos investidores não profissionais e profissionais, uma vez que estas duas classes consideravam as ações “em destaque” como as de maior retorno esperado.

Podemos ver que investidores cometem o mesmo erro ao avaliar somente o retorno passado de ações. Ações com uma má performance nos últimos anos são tidas – sem motivo racional aparente - como ações “perdedoras” e o inverso é verdadeiro, fazendo com que que os investidores tendam a comprar mais as ações que já foram “vencedoras” no passado, especialmente o passado recente.

Agora me diga, com toda a sinceridade, o que você achou destes dois exemplos? Você se enxergou em algum deles? Você tomou a decisão correta no exemplo da moeda? Se você tomou parabéns!!! Se não tomou, não se preocupe, a grande maioria não toma. Este não é um problema exclusivo seu.

O importante é que você, a partir de agora, esteja ciente do tema e perceba que, se para as decisões simples dos exemplos, você não conseguiu tomar a decisão correta, imagine em um mundo complexo como é o mundo real dos investimentos.

Para concluir e baseado no que mostramos aqui vai a dica de hoje, na verdade duas dicas, que lhe ajudarão daqui para a frente com seus investimentos:

1ª) A primeira DICA é que não é porque você tem muitos amigos investindo em algo, que é bom você investir também, especialmente se for algo que esteja em destaque na imprensa.

2ª) E na segunda dica peço que reflitam muito antes de fazer um investimento só se baseando nos seus retornos passados.

Hugo Daniel Azevedo é consultor de investimentos e sócio da MFS Capital

Hugo Daniel Azevedo — Foto: Arte/Valor
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