As empresas de previdência têm investido alto em tecnologia e consultoria financeira para chegar a mais pessoas e elevar os índices de eficiência. O uso de inteligência artificial está consolidado e até mesmo a IA generativa já é uma realidade. A aplicação dessa tecnologia na ponta da orientação de investimentos é acompanhada por uma curadoria de profissionais especializados a fim de evitar a “alucinação” técnica, quando a IA generativa começa a “se confundir” com acesso a alta base de informação.
Líder em previdência, a Brasilprev usa bots (robôs) da IA generativa ChatGPT customizada para os padrões de segurança da empresa. O objetivo é extrair análises de sua base de mais de 2,6 milhões de clientes, que representam R$ 420 bilhões em ativos sob gestão. “Temos a gestão de qualidade, e a curadoria é feita pelos cientistas de dados, os data quality. Estamos aproximando esses profissionais técnicos da área de negócio”, declara Bruno Venceslau, superintendente de dados e negócios digitais da Brasilprev.
A empresa usa IA generativa na ponta de atendimento, interpretando a linguagem natural e prestando recomendações de investimentos. Outra aplicação é o NBA (Next Best Action, ou próxima melhor oferta) para o cliente rebalancear seu portfólio. Hoje já são 27 dessas ofertas. Um dos principais canais é o WhatsApp, que soma mais de 1 milhão de clientes atendidos. “Também medimos o que um gerente de relacionamento usou de inteligência analítica e o quanto isso resultou em negócio. Já estamos com R$ 12 bilhões em negócios gerados. E a arrecadação em canais digitais já passou de R$ 2 bilhões”, afirma Venceslau.
A IA é usada, principalmente para apoio ao corretor, com um CRM abastecido por mais de 20 modelos em machine learning. Com técnicas de análise de fala e de sentimentos, já é possível prever clientes que demonstram interesse em sair ou resgatar, com índice de acerto de 80%. “Reduzo em 20% as saídas de clientes, nos quais identifico a propensão a sair e com os quais consigo falar”, conta o superintendente da Brasilprev.
Guido Chagas, head de estratégias quantitativas da Santander Asset Management, diz que, devido ao alto volume das bases, um dos desafios a ser superado é a interação. “Usamos a IA generativa para chegar às pessoas, capturar seus objetivos e preocupações, e traduzir em escolha de fundos e produtos que sejam exatamente o que elas precisam”, afirma Chagas.
A empresa usa os LLM (Large Language Models), modelos de inteligência artificial (IA) como o Copilot da Microsoft, para tarefas genéricas, e modelos específicos, os SLM (Small Language Models), customizados por seus técnicos para a gestão dos fundos de investimento e de previdência. A IA é utilizada para precificação de ativos, análise de cenários, identificação de eventos que podem gerar alguma disrupção - como a escalada das guerras ou as tensões comerciais entre China e EUA -, e para compor a carteira de investimentos.
“Avaliamos o impacto do crescimento dos países, o reflexo nos preços do petróleo, juros e inflação, que têm outros drivers como o padrão de consumo das pessoas. Todos os gestores de conta estão usando esses indicadores para avaliação e construção dos portfólios”, completa Chagas.
A Bradesco Asset criou a Célula de IA Generativa, que desenvolve modelos de IA proprietários usando plataformas de mercado com o Microsoft Azure e o Bing GPT. A célula é multidisciplinar e atua em parceira com o InovaBra. “Além do conhecimento técnico, os profissionais conhecem o mercado financeiro, e testamos exaustivamente os modelos”, diz Fernando Galdi, superintendente de estratégia e inovação na Bradesco Asset.
Um exemplo foi a tecnologia que usa a IA generativa para ler as atas e os comunicados do Banco Central e do Federal Reserve. Galdi diz que a equipe levou seis meses para validar o indicador Hawk Dove criado para a aplicação. O Howk identifca uma política monetária contracionista enquanto o Dove significa política expansionista. “Desenvolvemos um robô que, a cada comunicado, vai à página do BC ou do FED, faz a leitura e utiliza o indicador hawk dove, que está disponível para o mercado e tem sido cada vez mais utilizado”, explica.
A empresa também analisa cartas e relatórios das casas de investimento para extrair o sentimento do mercado em relação a ativos, crédito privado, ações e renda fixa. Enquanto o boletim Focus do BC analisa números, o indicador da Bradesco Asset analisa os textos, usando IA generativa para extrair sentimentos e ajudar nas análises.
A XP atua com mais de 200 fundos e R$ 80 bilhões em reservas de 350 mil clientes e nasceu como uma insurtech, com atuação sempre orientada por tecnologia. Roberto Teixeira, head da XP Seguros e Previdência, diz que a empresa procura aliar bons produtos e plataforma tecnológica para ter uma oferta escalável e customizada por meio de inteligência artificial generativa. Há ainda governança e pós-venda fortes para acompanhar o sucesso da recomendação e curadoria para ver se a recomendação é adequada ou não.
“Nosso cliente é mais novo, na faixa de 45 anos, é digital e tem educação financeira, conhece investimentos, sabe a importância do longo prazo, principalmente diante do déficit da previdência, e tem disciplina de recorrência. Fazemos análise de perfis e cruzamentos para ter uma oferta mais assertiva”, diz Teixeira.