Há 20 anos, o mundo foi abalado pela destruição causada pelo tsunami na Ásia, que vitimou milhares de pessoas na Indonésia, Sri Lanka, Índia, Tailândia e outros nove países, transformando paisagens paradisíacas em cenários de guerra. Entre elas, as brasileiras Deborah Telesio e Marie Felice Weinberg, duas amigas que viajavam juntas pelo sul da Tailândia e tiveram suas vidas transformadas.
“Quando acordamos, sentimos um leve tremor. Algo suave, e nunca havíamos ouvido falar em tsunami”, relembra Deborah, à época uma executiva de multinacional com 38 anos. “Não fazíamos ideia do que poderia acontecer”, diz ela.
Na manhã de 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9,1 no Oceano Índico gerou ondas de até 30 metros de altura, que atingiram a costa com grande velocidade e sem aviso prévio. Sem nenhuma suspeita do que estava prestes a acontecer, as amigas decidiram se separar pela primeira vez durante a viagem. Deborah optou por um passeio de snorkeling com um grupo, enquanto Marie permaneceu na praia.
“Não apenas senti as ondas; elas me atingiram. Sobreviver foi praticamente um milagre. Foram três ondas. Da primeira, não tenho memória. Já na terceira, lembro de estar no tubo dela. Então para mim era muito claro que eu estava morrendo, que eu ia morrer afogada ou quebrada nos corais e nas pedras”, conta Deborah. “Marie, por outro lado, estava na praia. Quando ouviu as pessoas gritando, conseguiu se agarrar a uma árvore e depois subiu um morro para se proteger”, completa.
Deborah foi uma das poucas pessoas que estavam no local do mergulho a sobreviver. Ela só compreendeu a dimensão da tragédia quando foi levada de volta ao continente. “Fui resgatada por um pequeno barco. Quase todos que estavam ali para fazer snorkeling desapareceram. Quando subi no barco e percebi que estava viva e inteira, agradeci por Marie estar em terra. Na minha cabeça, ela deveria estar bem, tomando sol”.
Ao chegar em Krabi, cidade que serve de base para embarcações rumo as ilhas, Deborah foi impactada pelas imagens da destruição e iniciou a busca por sua amiga.
“Foi uma saga para encontrar a Marie, que, por outro lado, ficou no morro. Passou a noite lá com outros sobreviventes e só foi resgatada no dia seguinte para Bangkok”, conta Deborah. “Ela não dava notícias porque tinha certeza de que eu havia morrido. E eu, por outro lado, estava convencida de que ela estava bem, mas precisava encontrá-la. Essa era minha única missão naquele momento.”
“Foram três dias sem notícias e sem nada. Eu fiquei indigente três dias, recebi e ganhei roupa na rua, comida na rua”, relata. “Era um cenário de guerra, mas os tailandeses foram extremamente solícitos e mobilizados, tentando ajudar todos que chegavam a Krabi.”
Depois de muito esforço, as duas se encontraram em Bangkok. A experiência resultou no livro “Tinha um Tsunami no Caminho” (ed. DBA), lançado em agosto, onde compartilham suas vivências e o processo de superação de um dos maiores desastres naturais da história.
“Foi um processo de cura muito diferente para cada uma, e o livro foi, sem dúvida, uma parte importante disso”, diz Deborah. “Antes do tsunami, eu tinha aquela mentalidade de executiva: trabalhar loucamente, sem perceber as coisas importantes que passavam despercebidas. Depois, acabei me casando novamente, me tornei mãe e entendi que a vida é uma troca constante. É gratificante estar em contato com os outros e contribuir, não importa o que você esteja fazendo”.