O acordo obtido na COP 29, conferência do clima das Nações Unidas, prevê que os países ricos vão fornecer pelo menos US$ 300 bilhões por ano até 2035 aos países em desenvolvimento, por meio de uma ampla variedade de fontes, incluindo dinheiro público, acordos bilaterais e multilaterais.
Não é nem de perto o valor total de US$ 1,3 trilhão que os países em desenvolvimento estavam pedindo. O acordo resultou de negociações difíceis e, às vezes, abertamente hostis, que produziram um resultado que muitos podem considerar insuficiente e decepcionante.
Algumas nações em desenvolvimento ficaram furiosas por terem sido ignoradas. O presidente da COP29, Mukhtar Babayev, deu o aval para a aceitação do acordo antes que qualquer país tivesse a chance de se manifestar.
Depois da aprovação, a delegada da Índia, Chandni Raina, pediu a palavra: "A soma que está sendo mobilizada é assustadoramente fraca”, afirmou. “Não podemos aceitar isso. Esse documento é só uma ilusão de ótica. Nós nos opomos à adoção deste documento”.
Uma longa fila de nações concordou com a Índia e se manifestou, com Nkiruka Maduekwe, da Nigéria, CEO do Conselho Nacional de Mudanças Climáticas, chamando o acordo de insulto e piada.
“Estou desapontado. Está definitivamente abaixo do padrão de referência pelo qual estamos lutando há tanto tempo”, disse Juan Carlos Monterrey, da delegação do Panamá. Ele observou que algumas mudanças, incluindo a inclusão das palavras “pelo menos” antes do número de US$ 300 bilhões e uma oportunidade de revisão até 2030, ajudaram a mantê-los nas negociações. “Nosso coração está com todas as nações que sentem que foram passadas para trás”, disse ele.
Falando em nome de quase 50 das nações mais pobres do mundo, Evans Davie Njewa, do Malaui, foi mais brando, expressando o que ele chamou de ‘reservas’ com o acordo. E Cedric Schuster, da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, disse que tinha mais esperança “de que o processo protegesse os interesses dos mais vulneráveis”, mas mesmo assim expressou um apoio moderado ao acordo.
O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, disse em um post no X que esperava um “resultado mais ambicioso”. Mas ele disse que o acordo “fornece uma base sobre a qual se pode construir”.
Algumas delegações pareceram um pouco satisfeitas. Wopke Hoekstra, da União Europeia, chamou o acordo de uma nova era de financiamento climático, com ajuda aos mais vulneráveis. Mas foi possível ouvir ativistas no salão plenário tossindo durante o discurso de Hoekstra, em uma tentativa de interrompê-lo.
Para Eamon Ryan, ministro do meio ambiente da Irlanda, o acordo representa “um grande alívio”. “Não era certo. Isso foi difícil”, disse ele. “Como estamos em um momento de divisão, de guerra, de um sistema multilateral com dificuldades reais, o fato de termos conseguido chegar a um acordo nessas circunstâncias difíceis é realmente importante.”
O Secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, chamou o acordo de “apólice de seguro para a humanidade”, acrescentando que, assim como o seguro, “ele só funciona se os prêmios forem pagos integralmente e dentro do prazo”.
O acordo é visto como um passo para ajudar os países que receberão o financiamento a criarem metas mais ambiciosas para limitar ou cortar as emissões de gases de efeito estufa, que devem ser cumpridas no início do próximo ano. Isso faz parte do plano para continuar reduzindo a poluição com novas metas a cada cinco anos, que o mundo concordou no Acordo de Paris em 2015.
O Acordo de Paris estabeleceu o sistema de metas para manter o aquecimento abaixo de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. O mundo já está a 1,3 grau Celsius e as emissões de carbono continuam aumentando.