Em anos de alta volatilidade e sinais macroeconômicos que vão mudando a cada três meses, como em 2024, rentabilizar os investimentos é desafiador. Se o período avaliado for o dos últimos cinco anos, a gangorra do sobe e desce do mercado de capitais e mudanças importantes na cena política do Brasil e do mundo tornaram a tarefa do gestor de recursos ainda mais difícil. O Valor ranqueou 80 fundos de investimentos em 16 categorias que conseguiram manter a consistência de resultados e bom gerenciamento de risco no período e ficar entre os 25% melhores de suas respectivas modalidades.
O Bradesco Private Portfólio Ref. DI é um deles. Um fundo de renda fixa de crédito privado cuja estratégia é a diversificação do portfólio, composto por 75 empresas avaliadas como high grade (de alta qualidade). A maior alocação percentual é em risco bancário. O fundo, com patrimônio líquido (PL) de R$ 1,6 bilhão e que investe em estratégia que tem R$ 56 bilhões, rentabilizou, em cinco anos, até outubro de 2024, 52%, ou 105% do CDI. Só nos últimos 12 meses girou 107,6% do CDI.
O gestor busca manter a métrica de risco consistente. “A régua não muda. Se o ano é positivo, a gente não vai afrouxar a régua, e nem em cenário contracionista ela altera. Combinamos análise de crédito e todos os ativos têm rating próprio. No crédito privado não dá para ter papéis de baixa qualidade e tem que precificar corretamente para performar bem em diversos ciclos”, analisa Victor Tofolo, head de gestão de crédito high grade da Bradesco Asset.
A evolução das operações de crédito no país, com aumento de liquidez no mercado secundário, também ajuda esse tipo de fundo. O Bradesco Asset tem mais de R$ 370 bilhões geridos na mesa de crédito hoje, o que possibilita gestão ativa em diversos portfólios. De forma mais ampla, o perfil de gestão da casa faz parte de uma filosofia fundamentalista, baseada em dados, pesquisas e análises de mercado.
“A maior parte do patrimônio é fundamentalista e sempre concatenada com visões macroeconômicas. A gente olha o macro, mas vê também o micro de fundamento de crédito. Investimos em pessoas, processos, governança robusta e em pesquisa”, observa Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset. Ele explica que este ano foi relevante ter essa estrutura, devido à alta volatilidade dos mercados e muita imprevisibilidade na política monetária americana. “Já no Brasil, em janeiro, todo mundo apostava que [a Selic] ia terminar o ano em um dígito e este cenário se reverteu”, diz Funchal.
Ainda na renda fixa, outros dois fundos foram ranqueados como resistentes, mas em categorias distintas: o AZ Quest Termo Fundo de investimento RF no prefixado, renda fixa ativo, e o ARX Elbrus Incentivados Infra, na modalidade debêntures incentivadas. Os fundos também têm estratégias que são impactadas de formas diferentes. No primeiro, o cenário macro para este fundo não afeta a sua rentabilidade. “Por especificações de financiamento de termo, financiamento de ações, fica inerente a situação macro e micro. Mas é bom a taxa de juros baixa para quem quer se financiar a termo. Com juro baixo e bolsa barata vai ter liquidez nesta operação e o fundo vai ter boa performance”, afirma Jean Marcondes, sócio e gestor da área de arbitragem da AZ Quest.
O gestor explica que o investidor coloca o dinheiro no fundo, que vai no mercado acionário e utiliza o recurso do cotista para financiar esse tipo de operação. E quando ele for fazer a transação a termo e estiver sem caixa, pode usar a ação como garantia. O fundo empresta a taxas que têm a meta de bater 104% do CDI.
Usando o IMA-B 5 como “benchmark”, o ARX Elbrus Incentivados Infraestrutura é composto por debêntures incentivadas de diferentes setores, como energia, rodovias e saneamento. “Atrelado à inflação, mas com duração que não é longa, quando tem movimento de fechamento da curva de juros, o fundo se beneficia mais do que com a abertura de juros, como a gente vê este ano”, observa Pierre Jadoul, diretor-executivo e gestor responsável pela estratégia de crédito privado da ARX Investimentos.
Se considerar janela longas, o gestor explica que o IMA-B tem relação risco/retorno melhor do que o CDI. “Com o risco de mercado em ciclos econômicos com juros instáveis, subindo e caindo, o fundo é eficiente do ponto de vista risco/retorno”. Sua rentabilidade foi de 60,15% em cinco anos até outubro de 2024, ou IMA-B 5 + 7,54%.
Mesmo na modalidade multimercado, que nos últimos cinco anos sofreu com incertezas nos ambientes interno e externo, o Itaú Seleção Multifundos Multi foi apontado como um dos cinco mais consistentes na entrega de resultados da categoria. Por ser um fundo de fundos, a escolha dos gestores que irão compor o produto é um dos pontos-chave para gerenciamento de risco e performance. O fundo busca entregar CDI mais 1% a 1,4% ao ano, com baixa volatilidade.
“A vantagem em ter carteira mais consistente do que o ‘benchmark’ é que, em época de crise, ele caiu bem menos do que o mercado. Entre fevereiro e março de 2022 ele caiu 5%, enquanto os outros fundos de fundos, 15%”, diz Rodrigo Giordano, superintendente da área de fund of funds do Itaú.
Na categoria long biased, que são fundos com viés de compra, o Absolute Pace Long Biased foi um dos destaques. Para manter a consistência, o fundo mantém um mix de papéis de bolsa e monta portfólio partindo do micro, mas também considerando o cenário macroeconômico.
“A gente considera os riscos que as ações trazem do ponto de vista político e econômico no cenário interno e externo. Outro diferencial é que é um produto flexível como instrumento de proteção, pois usa pares entre empresas, dólar e opção para proteger a carteira”, conta Tiago Ring, gestor e analista de empresas da Absolute.