Dá para dizer que 2024 foi o ano da renda fixa e que 2025 deve repetir a dose. Essa é a aposta do mercado de capitais. Com um fluxo de captação líquida de R$ 312,40 bilhões até outubro, após dois anos de saldo negativo, o resultado é considerado um dos melhores da história da renda fixa do país. Os juros altos são uma das principais explicações, mas não a única.
“Em fevereiro deste ano o governo fez um freio de arrumação em relação aos títulos classificados como isentos, como LCI, LCA, CRA e CRI, restringindo-os às empresas do agronegócio e do setor imobiliário, e estendeu o seu prazo de liquidez de três para nove meses, o que tornou os fundos de renda fixa mais competitivos”, observa Pedro Rudge, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Leia mais:
Para Rudge, a mudança de regra para os fundos exclusivos, que passaram a ser tributados a cada seis meses, também contribuiu. “Isso fez com que os cotistas que tinham os seus próprios fundos passassem a investir diretamente nos fundos de crédito privado isentos, de debêntures incentivadas”, conta Rudge.
Nesse universo, nos últimos três anos, algumas gestoras se destacaram pelo que entregaram de rentabilidade absoluta, com a melhor relação risco versus retorno, em três modalidades desta categoria: juro real, renda fixa ativa e renda fixa DI, segundo o ranking do Valor.
O Bradesco tem seis dos 10 fundos de renda fixa DI com melhor performance no período, sendo que o ‘Bradesco Max Ref. DI’, que tem R$ 40,8 bilhões de patrimônio líquido (PL), entregou 107% do CDI, com 11,7% de rentabilidade, nos últimos 12 meses até outubro deste ano. “Historicamente ele entrega 103% do CDI, mas neste ano foi bem melhor. Este é um fundo de caixa, com recursos que o investidor sabe que vai precisar no curto prazo e não quer grandes variações. Ele tem que ter consistência de performance e baixo risco”, afirma Ana Luísa Rodela, head de crédito privado da Bradesco Asset.
Com mais de 110 emissores, a categoria crédito privado, que tem R$ 370 bilhões em patrimônio líquido, conta com equipe de 22 pessoas, sendo nove analistas, na asset, que se rege por filosofia fundamentalista. “Esta é uma filosofia forte nossa, de trabalhar com análise detalhada e com fatos para tomada de decisão”, diz Rodela. É com esses fundamentos que a gestora já discute possíveis trocas na composição do fundo para 2025.
A ideia é reduzir o risco de crédito do produto e buscar empresas ainda mais sólidas em setores mais resilientes, reduzindo também o prazo de vencimento dos papéis. O cenário considera a pressão inflacionária, o juro alto e a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) já projetados para o ano que vem. “É de se esperar a deterioração do crédito, o que pode significar até reduzir a sua exposição percentual no fundo, que hoje está em torno de 40%, caso não encontre títulos interessantes”, diz Rodela. Mais de 50% do fundo está alocado em operações compromissadas e em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro). Somente em renda fixa, o Bradesco Asset tem R$ 726 bilhões sob gestão.
Já na categoria prefixado renda fixa ativa, o BTG está com dois fundos entre os 10 com melhor performance no período, sendo um deles o BTG Explorer RF Ativa, que sempre busca entregar CDI mais 2% a 3% ao ano no longo prazo. Nos últimos três anos encerrados em outubro, teve rentabilidade de 45,18%, versus 40,32% do CDI. O fundo toma posições em juros e moedas não só no Brasil, mas também em países da América Latina e nos Estados Unidos.
“No Explore tomamos posições de forma ativa com base em cenários econômicos que construímos junto aos nossos economistas e comparamos com o que está precificado nos mercados onde atuamos”, afirma Júlio Filho, portfolio manager da BTG Pactual Asset, que tem R$ 35 bilhões em fundos de renda fixa, sendo R$ 3,5 bilhões em gestão ativa. Para 2025, o fundo ficará de olho no cenário macroeconômico desses países para recalibrar suas posições.
Freio de arrumação nos títulos isentos e extensão do prazo de liquidez tornaram fundos de renda fixa mais competitivos, diz Pedro Rudge
Na categoria juro real, Sparta e Icatu Vanguarda se destacam com os fundos: Sparta Top Inflação e Icatu Vanguarda Inflação. “No Sparta Top Inflação, nós escolhemos seguir o IMA-B 5, que pega só os títulos atrelados à inflação com até cinco anos de prazo, pois chacoalha menos e costuma ter melhor relação retorno sobre o risco”, afirma Ulisses Nehmi, CEO da Sparta. O fundo compra títulos de inflação e concentra 85% em crédito privado de 150 emissores com grau de investimento, sendo 65% em debêntures e 20% em letras financeiras. O restante fica alocado em outros títulos públicos atrelados à inflação.
Também usando o IMA-B 5 como “benchmark”, a Icatu diz ter sido a primeira gestora a operar um fundo de juro real com crédito privado no país, com o Icatu Vanguarda Inflação Crédito Privado Firf “Abrimos em 2014, quando a indústria mal pensava em crédito privado, muito menos ligado a juro real. Por mais que a curva de juro tenha estressado, como ele tem lastro em juro real, a gente conseguiu suavizar o período, porque o crédito rentabilizou bem”, conta Bruno Horovitz, RI da Icatu Vanguarda. O fundo rendeu em três anos até outubro 37,92%, versus 34,96% do “benchmark”. A gestora tem 10 fundos ligados a inflação e R$ 2,5 bilhões em PL nesta estratégia.