Instituto Proa vai expandir frentes de atuação em 2023

Organização já impactou 37 mil jovens de baixa renda, conectando-os ao primeiro emprego

Por Marília de Camargo Cesar — De São Paulo


Alini Dal Magro, do Instituto Proa: “O mais importante é a inclusão produtiva. É o que rompe o ciclo da pobreza” — Foto: Silvia Zamboni/Valor

“Eu tinha tudo para dar errado”, conta a paulistana Evelyn Thamires, 22 anos, ensino médio concluído em uma escola pública na periferia do Grajaú, zona sul de São Paulo. A mais velha de cinco filhos de mãe solteira, negra e pobre, Thamires engravidou aos 20 anos e foi morar com o namorado, que tinha a mesma idade e trabalha como segurança em uma empresa privada. Antes de ser mãe, ela se virava vendendo trufas nos faróis e cuidando de crianças. “Minha maior meta na vida era arrumar um serviço, podia ser qualquer coisa”, recorda. Tentou de tudo: auxiliar no McDonald’s, em lojas, faxineira. “A gente termina o ensino médio e não sabe para onde ir. E teve a pandemia, que deixou todo mundo ainda mais alienado.”

Sua bebê Emanuely tinha sete meses quando Thamires soube, vendo um programa na TV Cultura, que o Instituto Proa oferecia um curso gratuito de capacitação de jovens visando a inclusão no mercado de trabalho. Inscreveu-se e passou na prova de conhecimentos gerais que selecionava os alunos. Foram três meses e meio de aulas e atividades - todas feitas pelo celular, porque ela não tinha computador - que transformaram sua visão de mundo e suas expectativas. “O Proa abriu minha mente, me fez acreditar que eu podia mais, muito mais.”

Thamires é uma das 37 mil pessoas cujas vidas foram impactadas por essa organização que prepara jovens de baixa renda de 17 a 22 anos, com ensino médio concluído em escola pública, para conquistar o primeiro emprego. O Instituto Proa, que este ano ampliou sua atuação de dois (SP e RJ) para quatro Estados (RS e SC), vai crescer mais em 2023, com o início da operação em Minas Gerais e no Paraná. Ao todo, serão oferecidas três mil vagas nesses dois Estados a partir de janeiro.

O instituto tem dois principais projetos: o ProProfissão, um curso híbrido de seis meses que forma programadores, oferecendo computadores e créditos de internet para jovens da Grande São Paulo ou do Grande Recife; e a Plataforma Proa, de preparação para o mercado de trabalho, com 100 horas-aula, que levam quase quatro meses, e é 100% on-line. “Formá-los é a parte mais fácil. O desafio é empregá-los”, afirma Alini Dal Magro, CEO do Instituto Proa. Sua meta é ambiciosa: empregar 300 mil jovens até 2027.

Para fazer a ponte entre os alunos e as empresas, o Proa tem uma equipe de “evangelistas”, que visitam as companhias apresentando a plataforma e convidando-as a participar, abrindo vagas. “A causa do jovem ganhou força nos últimos anos e há vários programas de formação. Mas formar por formar não resolve o problema. O ponto mais importante é a inclusão produtiva. É isso que rompe o ciclo da pobreza.”

As empresas, segundo ela, também precisam passar por uma “capacitação” para receber esses jovens. A equipe de “empregabilidade” faz um trabalho de conscientização com o RH, explicando o perfil do contratado e os cuidados para que ele se sinta bem num ambiente totalmente novo. “Teve um jovem, por exemplo, que começou a trabalhar num banco, e os colegas todos os dias o chamavam para almoçar com eles, mas o almoço custava R$ 200. São coisas sutis que às vezes as pessoas não percebem.”

Outra dificuldade, segundo Dal Magro, é fazê-los acreditar que eles são capazes, porque a maioria vem de uma realidade onde ninguém tem emprego formal e muitas vezes nem concluiu o ensino fundamental. “Outro problema desta geração criada nas redes sociais é ser imediatista, eles têm dificuldade de perseverar e de se auto-regular”, afirma Dal Magro. “Para uma geração acostumada com vídeos de 15 segundos no TikTok, um curso de quatro meses parece durar uma eternidade”, afirma. “O que a gente quer fazer é ampliar o repertório cultural desses jovens. Fazer com que eles sonhem grande, que vivam experiências que nunca imaginariam poder viver.”

Essa mudança de perspectiva já alcançou Evelyn Thamires. Ao terminar o curso, ela se candidatou a uma vaga de auxiliar administrativa no próprio instituto e hoje ajuda outros jovens com o seu histórico a conseguirem o primeiro emprego. Em 2023, ela quer começar uma faculdade de gestão de recursos humanos e se especializar nessa área. “Não sabia que tinha talento para lidar com pessoas. É incrível o que eu sinto quando um jovem chega para mim e me agradece por tê-lo ajudado a conseguir um emprego.”

Criado em 2007 por iniciativa de executivos do mercado financeiro - Susanna Lemann, Marcelo Barbará e Florian Bartunek -, o Instituto Proa é financiado por 40 empresas e pessoas físicas que apoiam os projetos, Fundação Lemann, Itaú, Oracle, Accenture e Casas Bahia, entre outras.

Ele vive de doações e o orçamento cresceu nos últimos dois anos, passando de R$ 4 milhões anuais em 2019 para R$ 15 milhões este ano. Para 2023, a previsão é chegar a R$ 17 milhões. Mais de 1.100 empresas contrataram ex-alunos da organização, que conta ainda com duzentos voluntários e uma equipe fixa de 50 pessoas. Nos Estados onde já está presente, a operação do instituto é financiada com apoio de empresas chave, como a BRF em SC, Cyrella no RS, P&G no Rio e, em São Paulo, BTG Pactual, JP Morgan, Oracle e Credit Suisse.

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