Transparência e sustentabilidade: o caminho para o valor empresarial além do lucro

Neste artigo, Stânia Moraes, vice-presidente do IBEF-SP, comenta sobre a evolução dos relatórios e mapeamentos de impacto e ações das empresas no campo socioambiental

Por , Para o Prática ESG (*) — São Paulo


Stânia Moraes é vice-presidente do IBEF-SP – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo IBEF-SP/ Divulgação

Nos últimos anos, o ambiente corporativo passou por uma transformação bastante significativa, impulsionada, sobretudo, pela crescente demanda por transparência, responsabilidade social e sustentabilidade. Nesse contexto, conceitos como balanço social, relato integrado e finanças sustentáveis emergiram como pilares essenciais para empresas que desejam alinhar desempenho financeiro e impacto positivo na sociedade.

O balanço social é uma das ferramentas mais antigas para reportar impactos sociais e ambientais. Criado na década de 1960, em países como Estados Unidos, França e Alemanha, foi consolidado na França em 1972, quando se tornou oficial. No Brasil, ganhou força nos anos 1990 com o modelo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). O modelo permitiu às empresas comunicar suas ações de forma clara, promovendo diálogos mais transparentes com investidores, clientes e comunidades.

Esse documento oferece uma visão detalhada das práticas sociais e ambientais adotadas pelas organizações, permitindo que diferentes stakeholders avaliem aspectos como inclusão, diversidade, saúde, segurança e preservação ambiental. Ao adotar o balanço social, as empresas reforçam seu compromisso com a ética e demonstram como suas atividades contribuem para o bem-estar coletivo.

Com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade de uma abordagem mais abrangente, que conectasse esses esforços sociais à estratégia empresarial e aos resultados financeiros. Assim, foi introduzido o relato integrado, consolidado em 2013 pelo International Integrated Reporting Council (IIRC). Diferente do balanço social, o relato integrado combina dados financeiros e não financeiros, oferecendo uma visão holística de como a empresa cria valor no curto, médio e longo prazos.

Esse modelo permite que empresas demonstrem como ações ESG (ambientais, sociais e de governança) são essenciais para sua sustentabilidade e competitividade. Por exemplo, uma organização que investe em eficiência energética pode usar o relato integrado para mostrar como essa iniciativa reduz custos, fortalece sua reputação e contribui para a redução de emissões de carbono. Além disso, o relato integrado ajuda a atrair investidores conscientes e engajar diversos públicos, ao apresentar como estratégias corporativas geram valor compartilhado.

Paralelamente, as finanças sustentáveis também surgem como um elemento essencial nessa equação. Elas integram critérios ESG à gestão financeira e orientam recursos para projetos que promovam a sustentabilidade. A iniciativa Accounting for Sustainability (A4S), criada pelo então Príncipe Charles em 2004, exemplifica essa abordagem, ao incentivar práticas financeiras que consideram impactos de longo prazo.

As finanças sustentáveis abrangem investimentos em energia limpa, tecnologias verdes e projetos sociais, criando um ciclo virtuoso que conecta crescimento econômico à preservação ambiental e ao bem-estar social. Empresas que adotam esses princípios não apenas atraem mais investidores, mas também conquistam vantagem competitiva em um mercado que cada vez mais valoriza as práticas responsáveis.

A integração entre balanço social, relato integrado e finanças sustentáveis traz benefícios inegáveis. Promove transparência, fortalece a confiança com stakeholders e contribui para uma gestão de riscos mais robusta. Além disso, essas práticas ajudam as organizações a alinhar seus interesses econômicos a objetivos sociais e ambientais de longo prazo.

No entanto, sua implementação exige esforços. As empresas precisam investir em capacitação, tecnologia e mudanças culturais significativas para incorporar essas práticas de forma efetiva. A elaboração de relatórios integrados, por exemplo, demanda a colaboração de diversas áreas da organização, como finanças, sustentabilidade e recursos humanos.

Adotar essas práticas não é apenas uma estratégia, mas uma necessidade em um cenário global marcado por desafios climáticos e mudanças no comportamento dos consumidores. Ao combinar desempenho financeiro com impacto social positivo, as organizações não só garantem sua relevância no mercado, mas também colaboram para um futuro mais equilibrado e sustentável para todos.

Sobre a autora

Stânia Moraes é vice-presidente do IBEF-SP – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo, onde lidera o IBEF Conecta, pilar de diversidade do Instituto. Com uma trajetória de mais de três décadas em finanças, Stânia atua como board member na MCM Brand Experience e na The Prince’s Accounting for Sustainability Project (A4S) e como membro suplente do Conselho Fiscal da B3. É CFO certificada pelo IBEF-SP e conselheira fiscal credenciada pelo IBGC.

(*) Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Mais recente Próxima Programa de acesso à água potável no Norte e Nordeste recebe R$ 9 milhões em investimentos

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!