A Tractian, companhia brasileira que atua com sistema de inteligência artificial industrial, fechou uma captação de US$ 120 milhões (cerca de R$ 700 milhões), liderada pelo fundo Sapphire Ventures. A informação foi antecipada pelo Pipeline, site de negócios do Valor, na quinta-feira.
O cheque da Sapphire foi de quase metade da rodada e ainda assim a gestora topou não mexer na atual governança da Tractian, ficando apenas como observador no conselho. A Sapphire teve origem na SAP Ventures, braço de investimentos em startups da gigante de tecnologia que depois passou por uma cisão e foi rebatizada, para configurar atuação independente.
O portfólio do fundo está concentrado em Estados Unidos, Europa e Israel. A Tractian é a primeira aposta brasileira - mas um dos apelos da tese é justamente o avanço em território americano -, e já tinha sido também o primeiro investimento na região da Next47, gestora ligada à Siemens que liderou a rodada série A.
Outros acionistas já na base da Tractian acompanharam a nova capitalização, como a General Catalyst. A Upload Ventures também passou a fazer parte da base acionária da Tractian recentemente - a gestora comprou posições de investidores mais antigos da startup, em transação secundária, e acompanhou a rodada pro-rata.
A capitalização foi fechada em menos de dois meses, uma das mais rápidas e de maior tamanho no ano. A companhia não conseguiu acomodar toda a demanda, deixando de fora fundos como Bicycle e Lightspeed.
A empresa de machine learning criada por Igor Marinelli e Gabriel Lameirinhas foi avaliada em US$ 600 milhões (R$ 3,5 bilhões) pre-money, como adiantou o Pipeline. Considerando a rodada série C, o valuation post money subiu para US$ 720 milhões (R$ 4,2 bilhões ao câmbio atual). Em agosto do ano passado, na série B, esse valuation estava em R$ 1 bilhão e, um ano antes, em R$ 320 milhões.
O interesse dos investidores e das empresas por inteligência artificial deu mais fôlego para a Tractian. Criada em 2019, a companhia já tem operação também no México, além de Brasil e EUA - sua sede passou a ser em Atlanta desde janeiro deste ano. Segundo Marinelli, a companhia está próxima ao breakeven, mas vai seguir nos próximos três anos em sua estratégia de crescimento, não de rentabilidade.
Uma das maiores apostas da Tractian é em pesquisa e desenvolvimento. “Do capital desta rodada, em torno de 50% vai para P&D e parte relevante é para capital de giro, para seguirmos no ritmo de crescimento”, disse o CEO ao Valor.
Em dois anos, a companhia saiu de US$ 7 milhões em receita para US$ 40 milhões (cerca de R$ 240 milhões), com quase 40% já faturado no exterior. A Tractian atua no segmento de IoT (internet das coisas), ajudando empresas a monitorar processos e máquinas à distância, seja para falhas técnicas ou mecânicas - o que permite aumento do tempo produtivo e redução de custos.
A companhia também adicionou um componente de consultoria nesse formato, em que consegue orientar uma indústria em seu planejamento de manutenção e não só apontar a falha, mas como resolvê-la. “A gente fecha o ciclo, com o serviço em que literalmente dizemos o que o cliente tem que fazer para consertar aquela máquina e não perder receita com equipamento parado. Muitos dados não estão disponíveis online porque são máquinas proprietárias de fabricantes alemães, por exemplo, que colocavam um muro nas informações para que pudessem vender serviço de manutenção”, diz Marinelli. “Compramos essa briga.”