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Você é competente, eu sei, mas não se esqueça de que o acaso também jogou a seu favor e pode passar a jogar contra. Não existe competência que ao longo do tempo resista à arrogância! Esta, por sua vez, no curto prazo veda seus olhos, no médio prazo faz de você uma pessoa chata e no longo prazo, incompetente.

Agendas com ministros, com autoridades internacionais, com artistas... Essa glamourosa hiperdemanda pode dominar sua atenção e levar você a se descuidar do que importa, do que faz diferença: ter consciência das suas forças e sobretudo das suas fraquezas, não esquecer do seu propósito, ter a capacidade de sair da armadilha da arrogância e compreender que seus liderados precisam de você.

Vez por outra, executivos super bem-sucedidos são um mito para os liderados dos liderados dos liderados, mas não para seus liderados diretos. Como são interessantes e admiráveis as pessoas que a gente conhece pouco!

Na vida pessoal, aquele vizinho gentil que tem sempre a palavra certa; aquele “amigo” que em todas as ocasiões sociais mostra-se bem-humorado e muito satisfeito com a vida... No ambiente profissional não é diferente: é natural que quanto maior a distância, mais o líder é idealizado.

O sucesso de hoje da sua empresa não é todo seu. Provavelmente foi construído por decisões anteriores: dependendo do ciclo do negócio, a construção ocorreu dois, três, cinco anos antes ou mais. O sucesso em viver a essência também é mérito de gerações...

Colunista aconselha: "descarte a arrogância e dedique tempo para conhecer seus 'blind spots'. Nesse processo, faça da confiança a base do seu modelo de gestão." — Foto: Pexels
Colunista aconselha: "descarte a arrogância e dedique tempo para conhecer seus 'blind spots'. Nesse processo, faça da confiança a base do seu modelo de gestão." — Foto: Pexels

É importante que você se pergunte: “eu semeio o futuro ou estou apenas colhendo o presente?”.

Semear o futuro significa, por vezes, ir contra a pressão da “Faria Lima”, contra a pressão por ideias “modernoides”. É também compreender, sem medo de parecer “antigo”, que a essência precisa ser preservada. É reforçar o que deve ser reforçado, mudar o que é preciso, disruptar quando necessário.

Por que fugir tanto da autenticidade? Por que ter medo de que a máscara caia? Será que você acha que suas feições não são tão belas ao olhar do outro? Por que esconder seus erros? Por que, no lugar de querer aprender com outra pessoa, você se empenha em apenas mostrar que é melhor do que ela? Enfim, por que há tanta dificuldade de ouvir uma crítica sobre um mau desempenho?

Psiquicamente a razão está quase sempre no medo, oculto na maioria das vezes, de não ser alvo de admiração. Muitos executivos não se sentem livres. Apesar da independência financeira e do status de sua posição na empresa, sentem-se “presos em gaiola de ouro”.

A vida se faz de escolhas. Escolher é renunciar. Em boa parte das vezes, a dúvida é um subterfúgio para que não se assuma a responsabilidade pela escolha, ou seja, o exercício da liberdade.

Portanto tenha coragem: descarte a arrogância e dedique tempo para conhecer seus “blind spots”. Nesse processo, faça da confiança a base do seu modelo de gestão. E tenha cuidado! Se você valoriza de verdade a confiança, fuja da armadilha do excesso de controles, do excesso de sistemas - que devem apenas suportar a sua filosofia de gestão, e não ser a sua filosofia de gestão. Assim você semeará o futuro no presente, sem “se achar”. “Be humble”.

Betania Tanure é doutora, professora e consultora da BTA

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