Após mais de três décadas de experiência em coaching empresarial, pude observar que, apesar das inúmeras vantagens desse processo, há uma série de armadilhas que podem comprometer seu sucesso. Para maximizar os benefícios do coaching e evitar frustrações e mal-entendidos, é essencial entender essas armadilhas, tanto do ponto de vista de quem oferece (a empresa) como de quem passa pelo processo (o indivíduo, ou “coachee”).
Um dos problemas mais comuns é a falta de comprometimento do coachee. Isso geralmente ocorre quando ele não compreende o propósito do coaching ou o vê como uma punição ou crítica, em vez de uma oportunidade de crescimento. Essa percepção pode ser agravada quando existe uma relação ruim com a liderança, fazendo com que o profissional desconfie das intenções por trás da oferta de coaching. Vale destacar que a empresa às vezes também tem sua parcela de culpa ao usar o coaching de forma inadequada como uma última tentativa antes da demissão, o que acentua essa desconfiança.
Qualquer iniciativa de desenvolvimento profissional requer comprometimento, dedicação, proatividade e vontade de mudar. E o desenvolvimento genuíno não ocorrerá se o indivíduo entrar no coaching com uma atitude defensiva, achando que está lá por imposição ou culpa dos outros, ou com medo de se expor e admitir vulnerabilidades. É importante lembrar que a verdadeira transformação acontece quando nos permitimos ser vulneráveis, criando um ambiente de confiança e abertura que facilita o aprendizado e o crescimento.
Também é comum ver indivíduos barrando o envolvimento de terceiros no processo, o que é um erro. O compartilhamento dos objetivos e progressos, bem como a permissão para que o coach entreviste outras pessoas-chave com quem o coachee convive no dia a dia, são muito importantes para garantir que o profissional receba feedbacks valiosos e construtivos.
Outra armadilha frequente é a expectativa irreal de que o coaching mudará comportamentos profundamente enraizados, ou de que apenas participar de algumas sessões será suficiente para resolver problemas complexos, subestimando a necessidade de um esforço contínuo e profundo. O coaching pode ajudar a gerenciar comportamentos e desenvolver novas estratégias de ação, mas não faz milagres.
Da mesma forma, não se pode esperar que o coaching resolva múltiplos problemas ao mesmo tempo. Mudanças significativas, como melhorar a comunicação, a liderança em crises e atitudes com subordinados, exigem foco e tempo.
Outra armadilha que observo é a crença de que o sucesso no coaching garantirá recompensas financeiras imediatas. Embora o desenvolvimento pessoal e profissional possa levar a melhores oportunidades, esse não deve ser o objetivo primário do coaching.
Está claro que muitos ainda não entendem o real objetivo do coaching de carreira. Para se promover crescimento e transformação e estabelecer uma relação de confiança com o coach, é necessária uma mentalidade aberta e atitude proativa. Quando esse ambiente é estabelecido, o coaching pode levar a mudanças significativas e duradouras, beneficiando tanto o indivíduo quanto a organização.
Vicky Bloch é fundadora da Vicky Bloch Associados, professora do IBGC, da FIA e membro de conselhos de administração e consultivos