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Por — Do Rio


Anna Gouveia: “Consumidor não sabe o pico [dos juros] ou como é que vai ser o futuro” — Foto: Divulgação
Anna Gouveia: “Consumidor não sabe o pico [dos juros] ou como é que vai ser o futuro” — Foto: Divulgação

Após três anos em alta, o ímpeto de compras de Natal do consumidor caiu em 2024. É o que mostrou quesito especial da Sondagem das Expectativas do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre o tema, divulgado ao Valor. O indicador da sondagem que mensura maior ou menor desejo de compras de Natal ficou em 69 pontos este ano, abaixo do ano passado (73,4 pontos). Em 2022 havia ficado em 66,7 pontos.

Antecipação de compras na Black Friday, em novembro, e cautela maior com endividamento, inadimplência e juros mais elevados podem estar por trás do menor ímpeto de compras natalinas esse ano, explicou Anna Carolina Gouveia, economista da FGV responsável pela pesquisa.

“Os consumidores começam a entender que a economia talvez no próximo ano não vai crescer tanto porque a gente está aumentando a taxa de juros”, disse.

A economista se refere ao atual novo ciclo de aperto monetário, com prováveis novos aumentos na taxa básica de juros (Selic), que norteia os juros de mercado. “Com uma taxa de juros já elevada, as pessoas que estão endividadas vão ter suas parcelas mais caras para poder pagar suas dívidas, que estão atreladas a essa taxa de juros mais elevados”, comentou. “Isso gera um sentimento de cautela na hora de comprar os presentes de Natal. O consumidor não sabe exatamente o pico [dos juros] ou como é que vai ser o futuro, se ele vai ter o emprego”, completou.

Esse sentimento de maior cautela, continuou, fez com que a parcela dos consumidores que pretendem comprar menos nesse período natalino subisse de 38,3% para 44,5% de 2023 a 2024, no estudo da FGV. Em contrapartida, a fatia dos que pretendiam comprar mais também subiu, mas em menor intensidade, e passou de 11,7% para 13,6%, no período. É por meio dessas parcelas que a fundação calcula a pontuação de maior e menor ímpeto de compras no Natal, no quesito da Sondagem do Consumidor.

“Tivemos aumento de renda, e resultados positivos na economia, nos serviços, no comércio e na indústria. Mas temos uma situação financeira ainda muito complicada” disse, em referência ao endividamento e à inadimplência das famílias ainda elevados.

Outro aspecto mapeado pelo estudo foi a intenção de compras de Natal por faixas de renda. As famílias de menor poder aquisitivo foram as principais responsáveis pelo menor ímpeto de vendas no Natal deste ano, admitiu Gouveia. “Mais de 60% dos consumidores de menor renda pretendem comprar menos no Natal”, afirmou ela.

A faixa de renda mais baixa na pesquisa leva em conta consumidores com ganhos mensais até R$ 2.100. Nela, 66,8% manifestaram intenção de comprar menos neste Natal; 8,2% declararam que pretendem comprar mais.

Gouveia lembrou a disparada da inflação de alimentos em dezembro. A economista reconheceu que famílias mais pobres sentem mais quando os alimentos estão mais caros. A compra desses itens representa em torno de 25% do orçamento familiar dos mais pobres. Assim, a inflação mais pressionada em alimentação pode ter gerado cautela ainda maior entre os de menor poder aquisitivo, com reflexo nas compras de Natal. “Os de renda menor se veem em uma situação em que não há tanta margem no orçamento, não tem muito para onde correr”, comentou.

Mais da metade dos pesquisados informaram que o preço de presente de Natal a ser comprado não chegará a R$ 100. No quesito especial, 29,2% informaram que pretendem gastar entre R$ 51 e R$ 100, a maior fatia observada para essa pergunta; 15,8% informaram intenção de comprar presentes de R$ 21 a R$ 50; e 14,3% declararam que vão comprar até R$ 20.

Aumentou a faixa média de preços de presentes este ano na comparação com os anteriores. No estudo, o custo médio de um presente para o Natal em 2024 ficou em R$ 135, ante R$ 117 em 2023, mesmo patamar de 2007, início da série do quesito para essa pergunta.

O universo do quesito especial sobre Natal da FGV é o mesmo da Sondagem e leva em conta entrevistas com cerca de 2 mil pessoas em sete capitais do país.

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