A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), afirmou que disputas geopolíticas, econômicas e eleitorais atrapalharam as negociações no ambito da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Baku (COP29), no Azerbaijão. O encontro, que terminou no fim de novembro, teve poucos avanços de acordos multilaterais para adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
Em em seminário promovido pelo Valor e pelo jornal “O Globo”, nesta quarta-feira (11), Marina instou que as discussões para conter o avanço do aquecimento sejam mais centradas e não se influenciem pelas disputa vistas em 2024. Sobretudo, ressaltou a ministra, pois novos desafios já se projetam para o próximo ano, como o novo mandato de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos.
“Qual foi a natureza dessa tensão que, no meu entendimento, atravessou todo o processo de negociação difícil que tivemos em Baku? Exatamente as disputas geopolíticas, as disputas econômicas e as disputas eleitorais existentes no âmbito dos Estados nacionais”, disse Marina.
“Nós acabamos de ter uma situação muito complexa dos Estados Unidos, que vai se revelar e já se revela um grande problema para o enfrentamento da mudança do clima em todo o mundo”, completou a ministra.
Trump tomará posse em janeiro de 2025, e a expectativa é de que o novo presidente americano tire o país de todos as negociações de combate às mudanças climáticas. O próximo chefe da Casa Branca também deve retirar os EUA do Acordo de Paris, assim como o fez em seu primeiro mandato (2017-2020).
“Tudo isso é motivo de preocupação nos processos decisórios [para a próxima COP]”, afirmou Marina. A próxima conferência do clima, a COP30, será em Belém, no Pará.
Fazendo um paralelo com o G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo e que recentemente esteve sob a presidência brasileira, a ministra afirmou que o fórum internacional foi capaz de superar as disputas internacionais para chegar a uma declaração conjunta dos países-membros — diferentemente, afirmou a Marina, do que aconteceu na COP29.
Ela pontuou, porém, que as decisões no G20 não tem poder vinculante, isto é, não precisam ser seguidos pelos países. Já na conferência do clima, os acordos devem ser implementados — por mais, no entanto, que nem todos os países os cumpram.
“No G20, nós conseguimos ter ali um processo que eu considero foi muito virtuoso, sendo capazes de superar essas dificuldades imensas que eu acabei de citar. Mas, na COP29, onde os acordos têm um poder vinculante, a tensão é maior”, disse.
Em sua fala, Marina reforçou que o “recrudescimento das tensões globais”, como as disputas econômicas entre EUA e China e as guerras no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia, continua influenciando as discussões.
“Não há dúvida de que todo esse cenário afetou e afeta os processos de negociação multilateral que acontecem sobretudo nesses espaços da COP”, disse.
A ministra também afirmou: “O ano de 2024 não revelou apenas conflitos de relação do homem com a natureza. Revelou também conflitos geopolíticos que não estavam postos na mesma dimensão que tínhamos na COP de Paris, em 2015”.