A desigualdade no Brasil é tamanha e estrutural que corremos o risco de atingir um “ponto de não retorno”, alerta a socióloga Neca Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal.
“Ficamos lutando contra a maré, mas não podemos desistir, ou a desigualdade pode chegar a um ‘ponto de não retorno’”, afirma, em alusão à expressão utilizada para se referir a danos climáticos irreversíveis.
“Estamos próximos de chegar a um ponto de não retorno social, quando filhos da elite vão estudar em universidades fora do país e não retornam, como ocorreu na Venezuela ou na Colômbia. E temos um papel para não deixar isso acontecer. A desigualdade não é uma questão dos pobres, mas da sociedade brasileira.”
Neca é uma das idealizadoras do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, iniciativa liderada pela Ação Brasileira de Combate às Desigualdades (ABCD) que lança nesta terça (27) o Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, com cerimônia no Congresso Nacional.
O documento, elaborado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), mostra que o Brasil reduziu a extrema pobreza em 40%, mas manteve desigualdades estruturais praticamente inalteradas - o rendimento médio mensal per capita do 1% mais rico passou de 30,8 vezes para 31,2 vezes o dos 50% mais pobres.