Papers by Tatiana Lotierzo
MODOS: Revista de História da Arte, 2024
Este artigo relata uma visita que fiz com o artista inga Uaira Uaua à exposição Iimitya (2016), d... more Este artigo relata uma visita que fiz com o artista inga Uaira Uaua à exposição Iimitya (2016), do artista nonuya Abel Rodríguez, na galeria Flora Ars+Natura, em Bogotá (Colômbia). Procuro apresentar os entendimentos diferentes de Uaira Uaua e da curadoria branca sobre os desenhos de Abel, e propor uma breve reflexão sobre as noções de “desenho”, “inconsciente”/“espiritual” e “armadilha”. Incorporo, ao final, reflexões sobre como a antropologia tem estado presente, de alguma maneira, nas exposições de Abel e que efeitos essa presença pode ter.
ILUMINURAS
Proposto por Luis Felipe Kojima Hirano (UFG) e por Tatiana Lotierzo (USP), o dossiê n. 64 da Ilum... more Proposto por Luis Felipe Kojima Hirano (UFG) e por Tatiana Lotierzo (USP), o dossiê n. 64 da Iluminuras, com previsão de publicação em março de 2023, abordará o tema "Jogos de barbante, linhas, amarrações e outras figuras na composição de etnografias escritas e sensoriais". A antropologia atual vem adotando imagens que implicam uma maneira de pensar relações como fluxos, transformações e devires. Nesse sentido, alguns antropólogos adotam figuras-chave para a composição de seus textos: encontram-se aqui, por exemplo, as “linhas” que Tim Ingold (2007) propõe percorrer, os “jogos de barbante [string figures]” que mobilizam a escrita de Donna Haraway (2016), sendo ambos voltados a possibilidades de “conhecer com” e não mais “sobre” ou “a partir de”. Essas formulações remetem e devem muito, por sua vez, a relações com mundos vastos, muito além dos limites do acadêmico e a preocupações com a perpetuação da vida em um cenário de devastação ambiental sem precedentes. Para Ingold ...
Texto disponibilizado a pedido de Ana Maria de Niemeyer, no contexto da disciplina "Antropologia ... more Texto disponibilizado a pedido de Ana Maria de Niemeyer, no contexto da disciplina "Antropologia e Desenho".
Referência completa: NIEMEYER, Ana Maria. "Indicando caminhos: mapas como suporte na orientação espacial e como instrumento no ensino de antropologia”. In: A. M. Niemeyer; E. Pietrafesa de Godoi (orgs.). Além dos territórios: por um diálogo entre a etnologia indígena, os estudos rurais e os estudos urbanos. Campinas: Mercado de Letras, 1998.
Revista de Antropologia
Este artigo visa reunir considerações da antropologia sobre o desenho, articulando-as a aprendiza... more Este artigo visa reunir considerações da antropologia sobre o desenho, articulando-as a aprendizagens recebidas em minha experiência de campo com artistas inga, na Colômbia. Primeiramente, apresenta-se um conjunto de autores que têm renovado os usos e compreensões do desenhar na pesquisa em antropologia e/ou autores que consideram as implicações do desenho para seus sujeitos de pesquisa, inclusive por meio de uma discussão das noções de desenho, design, grafismo e imagem, entre outras. Em segundo lugar, apresentam-se considerações de meus interlocutores de pesquisa sobre o desenho. Para finalizar, o artigo levanta algumas questões, a fim de sugerir alcances, efeitos e ressonâncias dessas reflexões para a pesquisa em antropologia.
GIS - Gesto, Imagem e Som - Revista de Antropologia
Sylvia Caiuby Novaes é professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (U... more Sylvia Caiuby Novaes é professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e dedica-se há cerca de 50 anos à pesquisa e ao ensino em antropologia. Entre outras realizações, ela é uma das pioneiras da antropologia visual no Brasil, é fundadora do Laboratório de Imagem e Som da Antropologia (LISA) e editora responsável pela revista Gesto, Imagem e Som. Revista de Antropologia (GIS). Nesta entrevista, realizada por mais de 30 orientandos de diferentes gerações, Sylvia fala sobre sua trajetória, projetos, visão de mundo, suas diversas viagens, o fascínio pelas pesquisas de campo e a universidade. Ao contar sobre sua trajetória acadêmica e pessoal, Sylvia traz reflexões sobre sua relação com a fotografia e a produção de imagens.
Campos - Revista de Antropologia, 2019
Este artigo propõe olhar para obras como Sara Indi (Milho de Sol) e Kanimi Alli Uñangapa (Sou Boa... more Este artigo propõe olhar para obras como Sara Indi (Milho de Sol) e Kanimi Alli Uñangapa (Sou Boa Semente), da artista inga Rosa Tisoy, buscando situá-las enquanto lugares onde o conhecimento se realiza como efeito da co-presença de seres que ali se encontram e lugares da criatividade, onde a vida se perpetua entre diferentes seres. Conhecer, como criar, é partilhar samai (“alento”) e depende de um bonito pensar – suma yuyay –, aspecto importante do bem viver – suma kaugsay. Situado como lugar do conhecimento (um “lugar de vida e pensamento”, como se diz), o trabalho de Rosa transita por fluxos criativos que percorrem as chagras (roças) e o chumbe (uma faixa tecida de lã).
Cadernos De Arte E Antropologia, Oct 1, 2013
REVISTAS GIS - GESTO, IMAGEM E SOM, 2021
RESUMO O desenho tem emergido como um foco recente de aten-ção antropológica. Escritores como Ing... more RESUMO O desenho tem emergido como um foco recente de aten-ção antropológica. Escritores como Ingold e Taussig defenderam sua importância como um tipo especial de prática de conhecimento, ligando-o a uma reimaginação mais ampla do próprio projeto antropológico. Em res-paldo a sua abordagem, está uma oposição entre o lápis e a câmera, entre "fazer" e "tirar", entre modos de inqui-rição restritiva e produtiva. Este artigo desafia tal suposi-ção, argumentando que tais elementos no desenho e na realização de filmes existem em uma relação dialética, 1 Agradecemos a Beatriz Vinci de Moraes, Fabiana Bruno e Kelly Koide, pela leitura desta tradução e pelos comentários e sugestões. ORCID https://orcid.org/0000-0001-6675-3601 ORCID
Conferência: Linhas que aprisionam e libertam: a arte no ‘tempo dos pensamentos roubados’
por Ta... more Conferência: Linhas que aprisionam e libertam: a arte no ‘tempo dos pensamentos roubados’
por Tatiana Helena Lotierzo Hirano (UnB/DAN; CMD) e Benjamín Jacanamijoy, artista visual
Apresentação: Ilana Goldstein (UNIFESP)
Moderação: Edson Farias (UnB/SOL)
XIV Seminário de Pesquisa do Grupo Cultura, Memória e Desenvolvimento.
___________________
Sediado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o Grupo de Pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD) reúne pesquisadores, professores e estudantes de diversas universidades brasileiras. Desde a sua criação, em 2002 (na Universidade Federal da Bahia - UFBA), realiza um seminário anual, de abrangência nacional e internacional.
O encontro de 2020 estava previsto para acontecer presencialmente no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Vitória da Conquista, mas, em função do contexto pandêmico de Covid-19, a realização é integralmente via internet. A organização é do CMD, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS-UESB), o Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual (UESB) e o programa Janela Indiscreta Cinema e Audiovisual (UESB).
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Campos: Revista de Antropologia, 2018
Este artigo propõe olhar para obras como Sara Indi (Milho de Sol) e Kanimi Alli Uñangapa (Sou Boa... more Este artigo propõe olhar para obras como Sara Indi (Milho de Sol) e Kanimi Alli Uñangapa (Sou Boa Semente), da artista inga Rosa Tisoy, buscando situá-las enquanto lugares onde o conhecimento se realiza como efeito da co-presença de seres que ali se encontram e lugares da criatividade, onde a vida se perpetua entre diferentes seres. Conhecer, como criar, é partilhar samai (“alento”) e depende de um bonito pensar – suma yuyay –, aspecto importante do bem viver – suma kaugsay. Situado como lugar do conhecimento (um “lugar de vida e pensamento”), o trabalho de Rosa transita por fluxos criativos que percorrem as chagras (roças) e o chumbe (faixa tecida, com desenhos).
Palavras-chave: Rosa Tisoy; conhecimento; criatividade; chagra; chumbe
19&20, 2014
O quadro A redenção de Cam tem estado no centro de um debate que une interesses dos estudos sobre... more O quadro A redenção de Cam tem estado no centro de um debate que une interesses dos estudos sobre arte aos das ciências sociais. Referimo-nos ao tema do embranquecimento, que se entrelaça à tela e à sua história. O assunto é tratado pela totalidade das análises que se dirigem à pintura, revelando uma tendência a situá-lo como evidência de uma crença arraigada, ao final do século XIX, num futuro branco para a população brasileira.[2] Neste artigo, procuraremos rever tal interpretação, à luz de uma análise combinada entre o contexto de produção da tela e das críticas que recebeu em seu tempo. Nutrimos o propósito de angariar elementos que permitam empreender uma discussão sobre a cor na pintura brasileira e suas correspondências junto a determinados sistemas de classificação racial. Para isto, propomos pensar no quadro como um estudo pictórico sobre os diferentes tons de pele entre as personagens que apresenta, tomando o cuidado de notar que a cor, na tradição brasileira, serve de “código cifrado para ‘raça’”.
Artelogie, 2013
Desde seu lançamento em 1895, o quadro “A Redenção de Cam”, do artista espanhol Modesto Brocos, t... more Desde seu lançamento em 1895, o quadro “A Redenção de Cam”, do artista espanhol Modesto Brocos, tem provocado a crítica de arte a um debate que não necessariamente se fia à questão formal, mas antes se volta ao assunto que marcou a concepção da tela : a ideia de embranquecimento racial. A imagem é um retrato de família marcado pelas distintas gradações de cor na pele das personagens – do marrom escuro (“negro”) da avó, ao “branco” do neto e de seu pai, passando pela mãe, morena, cuja tez adquire na tela um tom dourado. Em consonância, o grande interesse despertado pela pintura, que recebeu a medalha de ouro naquela Exposição Geral de Belas Artes, parece atado ao tema das uniões interraciais no Brasil e, em especial, à sua transformação em emblema dos debates sobre o futuro de um país marcado pela forte presença de uma população que não se define nem como negra, nem como branca, e pelos impasses que a chamada mestiçagem trazia para uma nação que se pretendia, no futuro, branca, num momento de auge do pensamento racialista na esfera pública. Um episódio tem sido particularmente apontado como um marco na recepção da tela, qual seja, o fato de João Batista de Lacerda, diretor do Museu Nacional, tê-la incorporado à comunicação que apresentou ao I Congresso Universal das Raças, em Londres, em 1911. O quadro tornava-se, nas mãos do cientista, uma evidência de sua tese, segundo a qual, por efeito da evolução e da entrada de imigrantes europeus, levaria três gerações ou um século para que o país se tornasse evidentemente branco.
O presente artigo pretende situar a pintura no marco de uma perspectiva branca sobre populações não-brancas e também contextualizar a tela como expoente de um ponto de vista masculino – o que permite abrir espaços para refletir sobre os lugares que um olhar marcado por intersecções entre raça e gênero destina às mulheres não-brancas. É sugestivo que, em primeiro lugar, as personagens de pele mais clara sejam aquelas do sexo masculino. Em segundo lugar, que a cena guarde correlações formais com a iconografia religiosa, sobretudo a da natividade, com a mulata correspondendo à figura de Virgem Maria e o bebê, ao menino Jesus. Ao dialogar com a forma da pintura bíblica, a cena abre mão de uma perspectiva voyeurista do corpo feminino, em prol de um viés que poderia ser visto de alguma maneira como beatificante. E provoca a refletir sobre os motivos dessa decisão. Argumentamos que a escolha do artista por tal composição deixam entrever determinados critérios de aceitabilidade para as uniões interraciais – que passam por caracterizações específicas dos corpos femininos não-brancos –, sob um ponto de vista masculino. Além disso, é digna de nota a opção por evidenciar mulheres não-brancas de duas gerações, cujos filhos tiveram pais brancos e nunca uma inversão de gênero e cor. Tendo esses elementos em vista, o artigo se pergunta se nessa tela a abordagem não-voyeurista da presença feminina teria a intenção de destituir de sentido o desejo masculino do espectador e quais seriam suas motivações.
este artigo busca uma possível aproximação entre Lucien Lévy-Bruhl e Gabriel Tarde, partindo da h... more este artigo busca uma possível aproximação entre Lucien Lévy-Bruhl e Gabriel Tarde, partindo da hipótese de que o conceito de “participação-imitação,” de Lévy-Bruhl, estabelece um diálogo com as “leis da imitação” formuladas por Tarde. No decorrer da análise, entretanto, chega-se à conclusão de que os conceitos de “imitação” de ambos os autores dizem respeito a processos diferentes. Para Lévy-Bruhl, “participação-imitação”
refere-se a uma dimensão “mística,” unindo imitador e imitado num só elemento, ao passo que para Tarde, a imitação pressupõe duas ou mais coisas diferentes que, no fluxo
de crenças e desejos, ou assimilariam uma à outra, ou resultariam em inovações. As reflexões nos levam a concluir, dessa forma, que um diálogo entre esses autores é possível
não tanto pela similitude desses conceitos, mas ao se tomar em conta que a ideia de “participação-imitação” e a de “leis das imitações” conduzem ambos os autores a propor alternativas críticas à noção de “representação coletiva,” de Émile Durkheim.
Cadernos de arte e antropologia, 2013
Thesis by Tatiana Lotierzo
Esta tese busca caminhar palavras sobre minhas aprendizagens com os artistas ingas Benjamín Jacan... more Esta tese busca caminhar palavras sobre minhas aprendizagens com os artistas ingas Benjamín Jacanamijoy Tisoy, Carlos Jacanamijoy Tisoy, Kindi Llajtu, Rosa Tisoy Tandioy, Tirsa Taira Chindoy Chasoy e outros amigos, com especial destaque à yacha mamita Merceditas Tisoy de Jacanamijoy, em Bogotá e no Valle de Sibundoy, Colômbia. A palavra caminhar (purij) é usada com frequência por meus amigos, em referência à maneira com que tudo o que faz parte da existência possui um caminhar. Por meio de um caminhar, a criatividade flui e dá muitas coisas, como plantas e quadros. Assim, “caminhar palavras” é escrever como quem traça uma linha no papel e amarra um percurso por meio de um desenho, ou como quem tece, ou semeia a terra.
Um caminhar se refere a atividades como passear e viajar pela terra; dedilhar fios de tecido na confecção de chumbes (uma faixa de lã desenhada, que se usa principalmente sobre o ventre, feito cinto) e outras prendas de vestir; semear e cuidar do crescimento das plantas; e seguir linhas que podem virar desenhos, entre muitas outras coisas.
Caminhar é ver a criatividade que flui através das muitas coisas que nascem e crescem nos caminhos de alguém. Isto envolve uma maneira de fazer bem/bonito, ou melhor, suma ruray (suma: bom, bonito; ruray: fazer, em inga). Aprendi, com meus amigos, que territórios da existência se ampliam através do suma ruray, seja porque é desse modo que pessoas se fazem, ou porque é assim que se recorda aqueles que vieram de outros tempos, sejam antes ou depois (ñujpa, nos dois casos). Suma ruray é uma dimensão do suma kaugsay (bom/bonito viver), junto com suma yuyay (bom/bonito pensar). Também é como a terra se expande.
Mais do que arte, como conceberíamos no ocidente, a vida como um todo nasce e cresce a partir de um bonito fazer. Assim, uma obra pode se tornar uma erosão, que desfaz e refaz seu próprio lugar de aparição e existência.
A tela A Redenção de Cam (1895), de autoria de Modesto Brocos é um retrato de família marcado pel... more A tela A Redenção de Cam (1895), de autoria de Modesto Brocos é um retrato de família marcado pelas distintas gradações de cor da pele entre seus membros, num movimento clareador que vai do negro (a avó) ao branco (o neto). Vencedora da medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes de 1895, a pintura foi incorporada ao artigo apresentado por João Batista de Lacerda, diretor do Museu Nacional, no I Congresso Mundial das Raças em 1911, servindo de ilustração à tese do cientista, para quem o Brasil seria branco em três gerações. No mais, o quadro é fruto de um momento pós-emancipação, marcado pela forte adesão ao racialismo na esfera pública e da emergência de uma série de planos quanto ao destino da população de ascendência negra na ordem livre e republicana. A despeito de sua apropriação por Lacerda, a presente dissertação analisa A Redenção de Cam com base da hipótese de que a pintura procura demonstrar sua própria tese sobre o embranquecimento. Argumentamos que a tela concorre para fixar a imagem de um corpo negro branqueador, sobretudo na medida em que procura atribuir forma explícita a uma ideia ainda incerta, tanto aos olhos da ciência, quanto nos debates que ganhavam espaço junto à opinião pública de seu tempo. Logo, procuraremos discutir em que medida a pintura possibilita vislumbrar certas variáveis constitutivas de uma estética que, por sua vez, revela-se uma importante via de acesso a modos de ver profundamente imbricados em processos fundamentais daquilo que hoje entendemos como preconceito racial. Procuramos levar adiante a proposição de alguns críticos atuais, segundo os quais a tela é preconceituosa, observando em maior detalhe as soluções pictóricas empregadas pelo artista na caracterização da cena e de suas personagens. Será essencial, nesse trajeto, o diálogo com outras imagens, por meio do qual se tornarão mais evidentes certas tendências marcantes no tratamento pictórico de personagens de ascendência negra no período e também as especificidades de A redenção de Cam com relação a esses modelos.
Modesto Brocoss painting Redemption of Cham (1895) is a family portrait marked by the different colour shades of each characters skin, in a lightening movement from black (the grandmother) to white (her grandson). Awarded the golden medal in the 1895 Brazils General Fine Arts Exhibition, in 1911 the painting was incorporated as an illustration to the paper presented in the First Universal Races Congress by João Batista de Lacerda, the director of the National Museum, in order to exemplify the scientists thesis, arguing that in three generations, Brazil would be a white country. The painting is a post-emancipation work, marked by the strong adherence to racialism in the public sphere and by various projects regarding the black peoples destiny in the Brazilian free, Republican order. Despite of the paintings appropriation by Lacerda, the present master thesis analyzes Redemption of Cham through the hipothesis that it intends to demonstrante its own thesis on whitening. It will be argued that the painting contributes to fix the image of a black whitening body, especially when it seeks to attribute explicit form to an idea that still was not a consensus at that time, neither through the eyes of science, nor in the wider public debates on that issue. It will be asked to what extent the painting allows for envisaging certain aspects of an aesthetics that, in itself, could reveal to be an important chanel for accessing ways of seeing deeply embedded in fundamental processes of what is currently understood as racial discrimination. The thesis is aimed at developing the proposition made by recent critics, according to whom Redemption of Cham is biased by racial prejudice, taking a closer look at the ways adopted by the artist to depict the scene and its characters. In such an analysis, the dialogue between this painting and other images will be crucial in order to render visible certain patterns used to depict non-whites at that time, as well as the particularities of Redemption of Cham.
Books by Tatiana Lotierzo
Os ensaios reunidos nesta coletânea versam sobre processos e efeitos da produção e circulação de ... more Os ensaios reunidos nesta coletânea versam sobre processos e efeitos da produção e circulação de conhecimentos realizados por coletivos indígenas ou em parceria com eles, a partir de diferentes interesses, abordagens e contextos relacionais.
Marcadores sociais das diferenças: fluxos, trânsitos e intersecções, 2019
Este artigo é um retorno a certas dimensões presentes no livro "Contornos
do (In)visível", fruto ... more Este artigo é um retorno a certas dimensões presentes no livro "Contornos
do (In)visível", fruto de uma dissertação de mestrado defendida em
2013. A ideia é pensar a variedade de tópicas em um conjunto de pinturas
que apresentam personagens negras – telas produzidas no início da República, no Brasil, reunidas a outras, com as quais elas se relacionam. Com isto, proponho retomar o problema, presente no livro, das manifestações do racismo em imagens. Proponho pensar como uma série pictórica permite perceber diferenças nos modos de expor tais personagens. Discuto a ideia de que uma série seria, nesse caso, uma topologia – palavra que remete às noções de topos e tópica, e também à de um espaço constituído a partir de relações de proximidade e vizinhança –, argumentando que as telas reunidas em uma série compõem, conjuntamente, um território existencial. Minha aposta é que uma série pictórica, pensada como série topológica, permite vislumbrar o alcance de determinadas formas e, com isto, o espaço que ocupam num território desse tipo.
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Papers by Tatiana Lotierzo
Referência completa: NIEMEYER, Ana Maria. "Indicando caminhos: mapas como suporte na orientação espacial e como instrumento no ensino de antropologia”. In: A. M. Niemeyer; E. Pietrafesa de Godoi (orgs.). Além dos territórios: por um diálogo entre a etnologia indígena, os estudos rurais e os estudos urbanos. Campinas: Mercado de Letras, 1998.
por Tatiana Helena Lotierzo Hirano (UnB/DAN; CMD) e Benjamín Jacanamijoy, artista visual
Apresentação: Ilana Goldstein (UNIFESP)
Moderação: Edson Farias (UnB/SOL)
XIV Seminário de Pesquisa do Grupo Cultura, Memória e Desenvolvimento.
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Sediado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o Grupo de Pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD) reúne pesquisadores, professores e estudantes de diversas universidades brasileiras. Desde a sua criação, em 2002 (na Universidade Federal da Bahia - UFBA), realiza um seminário anual, de abrangência nacional e internacional.
O encontro de 2020 estava previsto para acontecer presencialmente no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Vitória da Conquista, mas, em função do contexto pandêmico de Covid-19, a realização é integralmente via internet. A organização é do CMD, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS-UESB), o Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual (UESB) e o programa Janela Indiscreta Cinema e Audiovisual (UESB).
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Palavras-chave: Rosa Tisoy; conhecimento; criatividade; chagra; chumbe
O presente artigo pretende situar a pintura no marco de uma perspectiva branca sobre populações não-brancas e também contextualizar a tela como expoente de um ponto de vista masculino – o que permite abrir espaços para refletir sobre os lugares que um olhar marcado por intersecções entre raça e gênero destina às mulheres não-brancas. É sugestivo que, em primeiro lugar, as personagens de pele mais clara sejam aquelas do sexo masculino. Em segundo lugar, que a cena guarde correlações formais com a iconografia religiosa, sobretudo a da natividade, com a mulata correspondendo à figura de Virgem Maria e o bebê, ao menino Jesus. Ao dialogar com a forma da pintura bíblica, a cena abre mão de uma perspectiva voyeurista do corpo feminino, em prol de um viés que poderia ser visto de alguma maneira como beatificante. E provoca a refletir sobre os motivos dessa decisão. Argumentamos que a escolha do artista por tal composição deixam entrever determinados critérios de aceitabilidade para as uniões interraciais – que passam por caracterizações específicas dos corpos femininos não-brancos –, sob um ponto de vista masculino. Além disso, é digna de nota a opção por evidenciar mulheres não-brancas de duas gerações, cujos filhos tiveram pais brancos e nunca uma inversão de gênero e cor. Tendo esses elementos em vista, o artigo se pergunta se nessa tela a abordagem não-voyeurista da presença feminina teria a intenção de destituir de sentido o desejo masculino do espectador e quais seriam suas motivações.
refere-se a uma dimensão “mística,” unindo imitador e imitado num só elemento, ao passo que para Tarde, a imitação pressupõe duas ou mais coisas diferentes que, no fluxo
de crenças e desejos, ou assimilariam uma à outra, ou resultariam em inovações. As reflexões nos levam a concluir, dessa forma, que um diálogo entre esses autores é possível
não tanto pela similitude desses conceitos, mas ao se tomar em conta que a ideia de “participação-imitação” e a de “leis das imitações” conduzem ambos os autores a propor alternativas críticas à noção de “representação coletiva,” de Émile Durkheim.
Thesis by Tatiana Lotierzo
Um caminhar se refere a atividades como passear e viajar pela terra; dedilhar fios de tecido na confecção de chumbes (uma faixa de lã desenhada, que se usa principalmente sobre o ventre, feito cinto) e outras prendas de vestir; semear e cuidar do crescimento das plantas; e seguir linhas que podem virar desenhos, entre muitas outras coisas.
Caminhar é ver a criatividade que flui através das muitas coisas que nascem e crescem nos caminhos de alguém. Isto envolve uma maneira de fazer bem/bonito, ou melhor, suma ruray (suma: bom, bonito; ruray: fazer, em inga). Aprendi, com meus amigos, que territórios da existência se ampliam através do suma ruray, seja porque é desse modo que pessoas se fazem, ou porque é assim que se recorda aqueles que vieram de outros tempos, sejam antes ou depois (ñujpa, nos dois casos). Suma ruray é uma dimensão do suma kaugsay (bom/bonito viver), junto com suma yuyay (bom/bonito pensar). Também é como a terra se expande.
Mais do que arte, como conceberíamos no ocidente, a vida como um todo nasce e cresce a partir de um bonito fazer. Assim, uma obra pode se tornar uma erosão, que desfaz e refaz seu próprio lugar de aparição e existência.
Modesto Brocoss painting Redemption of Cham (1895) is a family portrait marked by the different colour shades of each characters skin, in a lightening movement from black (the grandmother) to white (her grandson). Awarded the golden medal in the 1895 Brazils General Fine Arts Exhibition, in 1911 the painting was incorporated as an illustration to the paper presented in the First Universal Races Congress by João Batista de Lacerda, the director of the National Museum, in order to exemplify the scientists thesis, arguing that in three generations, Brazil would be a white country. The painting is a post-emancipation work, marked by the strong adherence to racialism in the public sphere and by various projects regarding the black peoples destiny in the Brazilian free, Republican order. Despite of the paintings appropriation by Lacerda, the present master thesis analyzes Redemption of Cham through the hipothesis that it intends to demonstrante its own thesis on whitening. It will be argued that the painting contributes to fix the image of a black whitening body, especially when it seeks to attribute explicit form to an idea that still was not a consensus at that time, neither through the eyes of science, nor in the wider public debates on that issue. It will be asked to what extent the painting allows for envisaging certain aspects of an aesthetics that, in itself, could reveal to be an important chanel for accessing ways of seeing deeply embedded in fundamental processes of what is currently understood as racial discrimination. The thesis is aimed at developing the proposition made by recent critics, according to whom Redemption of Cham is biased by racial prejudice, taking a closer look at the ways adopted by the artist to depict the scene and its characters. In such an analysis, the dialogue between this painting and other images will be crucial in order to render visible certain patterns used to depict non-whites at that time, as well as the particularities of Redemption of Cham.
Books by Tatiana Lotierzo
do (In)visível", fruto de uma dissertação de mestrado defendida em
2013. A ideia é pensar a variedade de tópicas em um conjunto de pinturas
que apresentam personagens negras – telas produzidas no início da República, no Brasil, reunidas a outras, com as quais elas se relacionam. Com isto, proponho retomar o problema, presente no livro, das manifestações do racismo em imagens. Proponho pensar como uma série pictórica permite perceber diferenças nos modos de expor tais personagens. Discuto a ideia de que uma série seria, nesse caso, uma topologia – palavra que remete às noções de topos e tópica, e também à de um espaço constituído a partir de relações de proximidade e vizinhança –, argumentando que as telas reunidas em uma série compõem, conjuntamente, um território existencial. Minha aposta é que uma série pictórica, pensada como série topológica, permite vislumbrar o alcance de determinadas formas e, com isto, o espaço que ocupam num território desse tipo.
Referência completa: NIEMEYER, Ana Maria. "Indicando caminhos: mapas como suporte na orientação espacial e como instrumento no ensino de antropologia”. In: A. M. Niemeyer; E. Pietrafesa de Godoi (orgs.). Além dos territórios: por um diálogo entre a etnologia indígena, os estudos rurais e os estudos urbanos. Campinas: Mercado de Letras, 1998.
por Tatiana Helena Lotierzo Hirano (UnB/DAN; CMD) e Benjamín Jacanamijoy, artista visual
Apresentação: Ilana Goldstein (UNIFESP)
Moderação: Edson Farias (UnB/SOL)
XIV Seminário de Pesquisa do Grupo Cultura, Memória e Desenvolvimento.
___________________
Sediado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o Grupo de Pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD) reúne pesquisadores, professores e estudantes de diversas universidades brasileiras. Desde a sua criação, em 2002 (na Universidade Federal da Bahia - UFBA), realiza um seminário anual, de abrangência nacional e internacional.
O encontro de 2020 estava previsto para acontecer presencialmente no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Vitória da Conquista, mas, em função do contexto pandêmico de Covid-19, a realização é integralmente via internet. A organização é do CMD, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS-UESB), o Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual (UESB) e o programa Janela Indiscreta Cinema e Audiovisual (UESB).
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Palavras-chave: Rosa Tisoy; conhecimento; criatividade; chagra; chumbe
O presente artigo pretende situar a pintura no marco de uma perspectiva branca sobre populações não-brancas e também contextualizar a tela como expoente de um ponto de vista masculino – o que permite abrir espaços para refletir sobre os lugares que um olhar marcado por intersecções entre raça e gênero destina às mulheres não-brancas. É sugestivo que, em primeiro lugar, as personagens de pele mais clara sejam aquelas do sexo masculino. Em segundo lugar, que a cena guarde correlações formais com a iconografia religiosa, sobretudo a da natividade, com a mulata correspondendo à figura de Virgem Maria e o bebê, ao menino Jesus. Ao dialogar com a forma da pintura bíblica, a cena abre mão de uma perspectiva voyeurista do corpo feminino, em prol de um viés que poderia ser visto de alguma maneira como beatificante. E provoca a refletir sobre os motivos dessa decisão. Argumentamos que a escolha do artista por tal composição deixam entrever determinados critérios de aceitabilidade para as uniões interraciais – que passam por caracterizações específicas dos corpos femininos não-brancos –, sob um ponto de vista masculino. Além disso, é digna de nota a opção por evidenciar mulheres não-brancas de duas gerações, cujos filhos tiveram pais brancos e nunca uma inversão de gênero e cor. Tendo esses elementos em vista, o artigo se pergunta se nessa tela a abordagem não-voyeurista da presença feminina teria a intenção de destituir de sentido o desejo masculino do espectador e quais seriam suas motivações.
refere-se a uma dimensão “mística,” unindo imitador e imitado num só elemento, ao passo que para Tarde, a imitação pressupõe duas ou mais coisas diferentes que, no fluxo
de crenças e desejos, ou assimilariam uma à outra, ou resultariam em inovações. As reflexões nos levam a concluir, dessa forma, que um diálogo entre esses autores é possível
não tanto pela similitude desses conceitos, mas ao se tomar em conta que a ideia de “participação-imitação” e a de “leis das imitações” conduzem ambos os autores a propor alternativas críticas à noção de “representação coletiva,” de Émile Durkheim.
Um caminhar se refere a atividades como passear e viajar pela terra; dedilhar fios de tecido na confecção de chumbes (uma faixa de lã desenhada, que se usa principalmente sobre o ventre, feito cinto) e outras prendas de vestir; semear e cuidar do crescimento das plantas; e seguir linhas que podem virar desenhos, entre muitas outras coisas.
Caminhar é ver a criatividade que flui através das muitas coisas que nascem e crescem nos caminhos de alguém. Isto envolve uma maneira de fazer bem/bonito, ou melhor, suma ruray (suma: bom, bonito; ruray: fazer, em inga). Aprendi, com meus amigos, que territórios da existência se ampliam através do suma ruray, seja porque é desse modo que pessoas se fazem, ou porque é assim que se recorda aqueles que vieram de outros tempos, sejam antes ou depois (ñujpa, nos dois casos). Suma ruray é uma dimensão do suma kaugsay (bom/bonito viver), junto com suma yuyay (bom/bonito pensar). Também é como a terra se expande.
Mais do que arte, como conceberíamos no ocidente, a vida como um todo nasce e cresce a partir de um bonito fazer. Assim, uma obra pode se tornar uma erosão, que desfaz e refaz seu próprio lugar de aparição e existência.
Modesto Brocoss painting Redemption of Cham (1895) is a family portrait marked by the different colour shades of each characters skin, in a lightening movement from black (the grandmother) to white (her grandson). Awarded the golden medal in the 1895 Brazils General Fine Arts Exhibition, in 1911 the painting was incorporated as an illustration to the paper presented in the First Universal Races Congress by João Batista de Lacerda, the director of the National Museum, in order to exemplify the scientists thesis, arguing that in three generations, Brazil would be a white country. The painting is a post-emancipation work, marked by the strong adherence to racialism in the public sphere and by various projects regarding the black peoples destiny in the Brazilian free, Republican order. Despite of the paintings appropriation by Lacerda, the present master thesis analyzes Redemption of Cham through the hipothesis that it intends to demonstrante its own thesis on whitening. It will be argued that the painting contributes to fix the image of a black whitening body, especially when it seeks to attribute explicit form to an idea that still was not a consensus at that time, neither through the eyes of science, nor in the wider public debates on that issue. It will be asked to what extent the painting allows for envisaging certain aspects of an aesthetics that, in itself, could reveal to be an important chanel for accessing ways of seeing deeply embedded in fundamental processes of what is currently understood as racial discrimination. The thesis is aimed at developing the proposition made by recent critics, according to whom Redemption of Cham is biased by racial prejudice, taking a closer look at the ways adopted by the artist to depict the scene and its characters. In such an analysis, the dialogue between this painting and other images will be crucial in order to render visible certain patterns used to depict non-whites at that time, as well as the particularities of Redemption of Cham.
do (In)visível", fruto de uma dissertação de mestrado defendida em
2013. A ideia é pensar a variedade de tópicas em um conjunto de pinturas
que apresentam personagens negras – telas produzidas no início da República, no Brasil, reunidas a outras, com as quais elas se relacionam. Com isto, proponho retomar o problema, presente no livro, das manifestações do racismo em imagens. Proponho pensar como uma série pictórica permite perceber diferenças nos modos de expor tais personagens. Discuto a ideia de que uma série seria, nesse caso, uma topologia – palavra que remete às noções de topos e tópica, e também à de um espaço constituído a partir de relações de proximidade e vizinhança –, argumentando que as telas reunidas em uma série compõem, conjuntamente, um território existencial. Minha aposta é que uma série pictórica, pensada como série topológica, permite vislumbrar o alcance de determinadas formas e, com isto, o espaço que ocupam num território desse tipo.