Togo Renan Soares, conhecido simplesmente como Kanela, é personagem vital da história do basquete brasileiro. Entre as décadas de 50 e 70, ele comandou a seleção brasileira masculina em cinco mundiais, tendo sido duas vezes campeão. Com os 50 anos do bicampeonato, conquistado em 1963, os ex-jogadores relembram com carinho do comandante firme, ao mesmo tempo defensor de seus atletas.
- A grande personalidade do basquete no Brasil foi o Kanela, que durante todo este tempo liderou equipes e conseguiu todos os títulos que o Brasil teve - disse Amaury, ex-ala, pivô e armador da seleção brasileira. Mas os seus companheiros daquela época também lembram a personalidade forte do treinador
- Ele era brabo com os outros, com os jogadores não, ele até acarinhava muitos jogadores, era ‘alemãozinho’, ‘galeguinho’, ‘rosinha não sei que lá e tal’, mas ele não era brabo. Mas a hora que mexesse com jogador dele o pau comia - relembra o ex-armador Mosquito.
de basquete (Foto: Reprodução SporTV)
O ex-pivô Sucar, campeão mundial com a seleção em 1963, conta que o treinador tratava seus atletas como verdadeiros filhos.
- Kanela era uma pessoa fantástica, tratava atletas como se fossem filhos. Quando estávamos no Rio levava a gente para almoçar na (Confeitaria) Colombo por conta dele, era muito dedicado a nós atletas e nós retribuíamos jogando o que sabíamos.
O treinador paraibano tinha mesmo vocação para a vitória. Depois de levar o Flamengo ao decacampeonato carioca, Kanela se consagrou com a Seleção, e hoje é considerado por muitos o maior técnico de basquete que o Brasil já teve. Era um homem à frente do seu tempo.
- O Kanela era o tipo de treinador que muita gente não gostava, só (gostava) quem convivia com ele como nós. A imprensa toda gostava dele, apesar de dar umas sapatadas na gente: ‘que você tá fazendo aí, lugar de jornalista é lá!’. Mas era muito bom treinador e disciplinador, então os jogadores cumpriam à risca as instruções dele - relata Newton Zarani, ex-repórter do Jornal dos Sports.
vitórias no basquete (Foto: Reprodução SporTV)
Wlamir Marques, bicampeão mundial, relembra um episódio em que teve que fugir da concentração para acompanhar o nascimento de seu filho. Kanela não atendeu o seu pedido para que pudesse viajar ao encontro da esposa, no interior de São Paulo.
- Queria ver meu filho nascer em Piracicaba ele não me autorizou a ir. No dia seguinte de madrugada pulei o muro do hotel (em Volta Redonda), fui para a rodoviária e vim para São Paulo, peguei ônibus para Piracicaba, meu filho nasceu, aí o que ele fez? Ele me cortou.
Após iniciar a carreira de treinador no futebol, passar pelo polo aquático e fazer história no basquete brasileiro, Kanela morreu aos 87 anos, em 12 de dezembro de 1992, deixando para o país um legado de vitórias e conquistas inesquecíveis.