Assista à íntegra da entrevista ao Grande Círculo
Único nadador brasileiro a conquistar um ouro em Olimpíadas e maior medalhista em Mundiais (contabilizando piscinas curta e longa), Cesar Cielo construiu uma carreira vitoriosa ao longo dos anos. Neste sábado, ele foi o entrevistado do Grande Círculo e relembrou os principais momentos da carreira, além de projetar seu futuro dentro das piscinas.
Questionado sobre a possibilidade de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, Cielo despistou. O nadador, que detém os recordes mundiais nos 50m e 100m livre desde 2009, garantiu que vontade não lhe falta, mas se disse indeciso quanto as concessões que teria de fazer na vida pessoal para atingir o nível necessário para competir.
- Querer eu quero. Meu lado competitivo vai sempre querer, mas também tem o meu lado pessoal, que sabe o tamanho desse caminho para chegar até lá. Eu sei o tanto que eu me dediquei para ganhar as medalhas que eu ganhei, então é difícil. Não sei se quero percorrer esse caminho de novo, se tenho gás e vontade, essa obsessão que já tive. É o que estou me questionando nesse momento.
Dono de 18 medalhas em Mundiais - maior marca de um brasileiro dentre todos os esportes - Cesar Cielo elencou as conquistas mais emocionantes da carreira, mas também se comoveu ao relembrar o episódio de doping, em 2011, quando testou positivo para um diurético após participação no Troféu Maria Lenk daquele ano.
Vivendo um dos melhores anos da carreira, o Cielo conta que foi pego de surpresa com a notícia do doping, anunciada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) a um mês do Mundial de Xangai. À época, ele sofreu críticas de vários adversários. Dentre eles, o francês Amaury Leveaux, que em sua biografia comparou o brasileiro ao ciclista americano Lance Armstrong, envolvido em um grande esquema de doping ao longo de toda a carreira.
Cesar Cielo foi advertido por doping às vésperas do Mundial de Xangai em 2011 — Foto: Satiro Sodré / SSPress / CBDA
- Tenho orgulho de falar que eu treinei muito, ralei muito, sofri muito para chegar onde eu cheguei e na época isso me abateu muito (a notícia do doping). Um mês antes do Mundial eu perdi 5 quilos, não conseguia dormir. Foi o maior desafio da minha vida. Eu estava me sentindo desafiado, me questionava "agora vamos ver se eu sou bom de verdade", "agora eu vou mostrar para todo mundo que podem tentar me bater, mas mesmo assim não vão ganhar" - comentou emocionado.
Aos 32 anos, o nadador brasileiro disse não se colocar entre os cinco melhores "velocistas aquáticos" de todos os tempos. Tendo os compatriotas Fernando Scherer, o Xuxa, e Gustavo Borges como ídolos, Cielo acredita que cada geração teve sua importância dentro do esporte, sobretudo como incentivo ao surgimento de novos atletas. Ainda assim, reconheceu a relevância da carreira para a natação brasileira.
- Sinto que na minha geração eu tive uma importância muito grande para a seleção brasileira. De certa forma, eu tive o papel de colocar o Brasil no mapa da natação. Hoje a gente não é mais um país qualquer. O legado que deixei e que vejo bem vivo hoje na seleção é a mentalidade. Vejo atletas diferentes hoje do que eu via em 2005, 2006. Atletas mais ambiciosos, mais profissionais.
Cielo antes da final dos 50m livre em Budapeste — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Com tantos momentos da carreira lembrados durante o Grande Círculo deste sábado, deu tempo ainda de Cesar Cielo comentar o atual cenário do esporte brasileiro. Para o nadador, o país sofreu retrocesso no desenvolvimento esportivo depois do ciclo olímpico da Rio-16. Em especial, destacou os recentes escândalos nos processos eleitorais da CBDA, que tiveram de ser levados à Federação Internacional de Natação.
- Estamos pagando um preço muito caro hoje (pelo "rouba mas faz" no esporte olímpico brasileiro), são muitas décadas fazendo isso. Hoje a CBDA está praticamente falida, então as sequelas são enormes. Não sei quantos anos eu imagino para uma recuperação ou estabilidade - criticou.
O Grande Círculo é apresentado por Milton Leite e contou com a participação dos jornalistas Marcos Uchôa, Glenda Kozlowski, Paulo Roberto Conde e Cléber Machado, além do técnico de natação e atual comentarista do Grupo Globo, Alexandre Pussieldi, e do ex-nadador e hoje comentarista, Gustavo Borges.