O desfecho foi menos, bem menos cruel do que o reservado para Luke Rockhold e Chris Weidman, nocauteados em suas estreias recentes no peso-meio-pesado. Entretanto, Ronaldo Jacaré também teve um debute amargo na categoria após decidir deixar o peso-médio. Na luta principal do UFC São Paulo - sonolenta e vaiada pelos fãs, que decidiram brincar com seus celulares durante o duelo em protesto -, no Ginásio do Ibirapuera, a lenda do jiu-jítsu perdeu para Jan Blachowicz por decisão dividida dos juízes (48-47, 47-48 e 48-47), atrasando o objetivo de atingir o topo da divisão de forma mais rápida.
Jan Blachowicz golpeia Ronaldo Jacaré no UFC São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
- Todas as vezes em que a luta é apertada eu nunca venço, nunca me dão a vitória. É normal. Há 10 dias eu tive uma tosse muito forte e fui diagnosticado com coqueluche, não pude treinar, mas botei o joelho no chão, pedi a Deus para lutar pelo meu país. Eu peço desculpas, não foi minha melhor luta - declarou o capixaba, que proporcionou um duelo morno e, desta maneira, deu margem para a interpretação dos jurados.
Sexto colocado do ranking do peso-meio-pesado, Blachowicz, que apresentou um inchaço no pé esquerdo, pediu para enfrentar Jon Jones, dono do cinturão da categoria.
- Não senti uma boa luta hoje, demorei para me encontrar, Jacaré é um cara muito duro. Mas pelo menos venci. Quero alguém do topo, quem sabe um "title shot", por que não? Jon (Jones), vamos lá! Eu não tenho tempo, só tenho três anos antes de me aposentar. Está na hora", diz Blachowicz, que negou que o pé esquerdo estivesse quebrado.
A luta
Ronaldo Jacaré não escondeu a estratégia logo nos primeiros movimentos da luta. Fintando a cabeça, o brasileiro, que recebeu um discreto chute baixo de Jan Blachowicz, mergulhou nas pernas do adversário para buscar a queda. O polonês defendeu a posição, "matou" o braço direito do brasileiro e eles ficaram grudados na grade, trocando algumas joelhadas, até Blachowicz se livrar da pegada. No centro do cage, Blachowciz acertou um chute alto na guarda de Jacaré, que novamente imprensou o visitante contra a parede do octógono. No entanto, não conseguiu a queda e nem acertar golpes contundentes.
Jan Blachowicz tenta o chute alto contra Ronaldo Jacaré no UFC São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
Jan Blachowicz, perigoso na trocação, soltou o braço no começo do segundo round. Jacaré devolveu, e o público suspirou com a possibilidade de um nocaute. O polonês conectou o jab, e o brasileiro voltou a tentar levar a luta para o chão. Expoente do jiu-jítsu, o capixaba amassava o oponente contra a grade, mas seguia sem conseguir derrubá-lo para colocar o duelo onde se sente mais à vontade. A 1m30s do fim desta etapa, eles voltaram a trocar golpes no centro do octógono: Jacaré chutou baixo, e o polonês respondeu carimbando o rosto do rival. Blachowicz arriscou um chute rodado, que passou no vazio, e abriu um sorriso.
Blachowicz desferiu um chute baixo no início do terceiro assalto. Ronaldo Jacaré fintava, arriscava o jab para medir a distância e se aproximar, mas era rechaçado pela resposta do polonês. O brasileiro colou o oponente na grade, esgrimava para desbloquear o braço, porém, mais uma vez, não passava disso. Blachowicz se libertou, e eles voltaram ao centro do cage faltando cerca de dois minutos para o fim desta parcial. Com o combate travado no clinche e muito estudado, o público arriscava algumas vaias. Jacaré soltou um cruzado, buscou o double leg, mas o polonês defendeu a queda. Houve tempo, ainda, de o brasileiro acertar um cruzado de direita em um momento breve de trocação.
Ronaldo Jacaré busca o ataque a Jan Blachowicz no UFC São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
No quarto round, Blachowicz aplicou um chute alto, que parou na guarda de Jacaré. No meio do octógono, o polonês acertou um jab, o brasileiro fintou com a cabeça, arriscou um cruzado, mas eles reiniciaram o jogo de clinche. Jacaré carimbou os pés do rival com pisões e chutes na canela. O público, entediado com a pouca dose de adrenalina do combate, acendia a lanterna dos celulares nas arquibancadas. A dez segundos do fim, Blachowicz explodiu um chute na linha de cintura do capixaba. E os fãs vaiaram ao ouvirem a buzina soar. O confronto era equilibrado, mas nivelado por baixo em termos de contundência e emoção.
No intervalo para o último round, Dedé Pederneiras, empresário e córner de Ronaldo Jacaré, alertou para o atleta carimbar o pé esquerdo de Jan Blachowicz, que apresentava um inchaço. A imagem apareceu no telão, e os torcedores nas cadeiras próximas ao cage gritavam: "Vai no pé!". O brasileiro repetiu a estratégia de colocar o polonês contra a grade, porém, após a pouca movimentação, o árbitro central os separou. O polonês dominou o centro do octógono, e Jacaré buscou o single leg, mas se afobou: foi rechaçado e acertado. Ele se desequilibrou, se levantou e o embate transcorreu em pé, com os atletas apenas se estudando. Antes mesmo do fim, ambos levantaram as mãos em sinal de vitória, que ficaria com o visitante na decisão dividida.
Confira todas as lutas do evento:
CARD PRINCIPAL
Jan Blachowicz venceu Ronaldo Jacaré por decisão dividida (48-47, 47-48 e 48-47)
Maurício Shogun x Paul Craig foi declarada empate dividido (29-28, 28-29 e 28-28)
Charles do Bronx venceu Jared Gordon por nocaute a 1m26s do R1
André Sergipano venceu Antônio Arroyo por decisão unânime (triplo 30-27)
Wellington Turman venceu Markus Maluko por decisão unânime (triplo 30-27)
CARD PRELIMINAR
James Krause venceu Serginho Moraes por nocaute aos 4m19s do R3
Ricardo Carcacinha venceu Eduardo Garagorri por finalização aos 3m57s do R1
Francisco Massaranduba venceu Bobby Green por decisão unânime (30-27, 29-28 e 29-28)
Randy Brown venceu Warlley Alves por finalização a 1m22s do R2
Douglas D'Silva venceu Renan Barão por decisão unânime (30-27, 30-27 e 30-26)
Ariane Lipski venceu Isabela de Pádua por decisão unânime (30-26, 30-26 e 29-27)
Tracy Cortez venceu Vanessa Melo por decisão unânime (30-27, 30-27 e 29-28)
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