Grande Círculo com Galvão Bueno - Bloco 1
Galvão Bueno foi o convidado do programa Grande Círculo que foi ao ar neste sábado, no SporTV. Com Milton Leite como mediador, o programa contou com jornalistas de outras emissoras para entrevistar o narrador do Grupo Globo.
Participaram Paulo Soares, o Amigão (ESPN Brasil), Sergio Rodrigues (Grupo Globo), Renata Fan (TV Bandeirantes), Gustavo Villani (Grupo Globo), Tino Marcos (Grupo Globo) e Sidney Garambone (Grupo Globo).
Além de lembrar da amizade com Ayrton Senna, Galvão Bueno também foi questionado sobre episódios polêmicos como o "Cala a Boca, Galvão", durante a Copa do Mundo de 2010, e a bronca da chefia no tricampeonato do piloto de Fórmula 1.
– Eu me lembro, no início, de dar conselhos a Ayrton, e me lembro já perto dos últimos anos, a nossa convivência, ele me dava conselhos... Problemas de vida pessoal, e ele ia na minha casa para conversar e dava conselhos. Não dá para ter esse tipo de relacionamento. Essas coisas acontecem. Eu tenho certeza que seria amigo do Ayrton em qualquer época, em qualquer dimensão – disse Galvão.
Ele também contou que sente muito por não ter narrado as conquistas do ex-tenista Gustavo Kuerten.
– Faltou Guga. Eu fiz uma transmissão do Guga nas Olimpíadas, conseguimos convencer a programação a fazer um jogo de tênis inteiro. Eu fiz um jogo do Guga, ganhou. Mas me faltou fazer a saga do Guga. Não é esse jogo ou aquele – lamentou.
Grande Círculo com Galvão Bueno - Bloco 2
Veja entrevista com Galvão Bueno:
Gustavo Villani: Vai fazer 25 anos da morte do Ayrton. Hoje, você se aproximaria do mesmo jeito de um grande ídolo, de um personagem nacional e mundial? Teria essa mesma relação tão próxima do personagem, objeto de seu trabalho?
Galvão: – Aconteceria. Porque, essas coisas você não procura. Não é: "Eu vou ficar amigo de fulano". Elas acontecem. Mas, no caso do Ayrton e grandes amigos que eu tenho no mundo do futebol, grandes estrelas do futebol brasileiro. Falcão, Júnior, Zico, Casão... Pelé, acima de todos. É muito a questão de geração e de idade. Eu não posso pretender ser um grande amigo do Neymar ou ser um grande amigo do Phillipe Coutinho ou ser um grande amigo... Eu tenho idade para ser pai da maioria deles e avô de alguns deles. Tem jogador na Seleção com menos idade que a minha neta mais velha. Então, são mundos diferentes, são coisas diferentes. É difícil até conversar.
– O Ayrton tinha dez anos menos do que eu. Eu sou de 50, e ele de 60. Mas o piloto amadurece muito cedo, porque ele começa a sofrer muito cedo. Ele começa a se arriscar, porque ele sabe do risco que ele corre. O piloto, qualquer que seja, por mais vitorioso que seja, tem muito mais tristeza do que alegria, mais frustrações do que grandes momentos de conquista, então ele amadurece de forma muito rápida.
– Eu me lembro, no início, de dar conselhos a Ayrton, e me lembro já perto dos últimos anos, a nossa convivência, ele me dava conselhos... Problemas de vida pessoal e ele ia na minha casa para conversar e dava conselhos. Não dá para ter esse tipo de relacionamento. Essas coisas acontecem. Eu tenho certeza que seria amigo do Ayrton em qualquer época, em qualquer dimensão. Quem sabe a gente não se encontra na dimensão em que ele está. Porque ele está em algum lugar. Ele está olhando aqui para nós.
Paulo Soares: Tem alguma coisa que você não narrou e gostaria de ter narrado?
Galvão: – Tem. Faltou Guga. Eu fiz uma transmissão do Guga nas Olimpíadas, conseguimos convencer a programação a fazer um jogo de tênis inteiro. Eu fiz um jogo do Guga, ganhou. Mas me faltou fazer a saga do Guga. Não é esse jogo ou aquele. O primeiro Roland Garros que ele ganhou, eu estava assistindo, quase que me atraso para o jogo (futebol), na França, em 97. Para você ter uma ideia, estava com Arnaldo, Falcão, larguei o carro no meio da rua, chegamos em cima da hora. Enquanto o Guga não ganhou, não saíamos para o jogo. Não é esse jogo, ou ganhar o Master... É a saga. A história. O que ele fez.
– E me dá uma tristeza profunda saber que os homens que cuidam do tênis no Brasil não souberam aproveitar o que o Guga construiu nas quadras do mundo. Nós tínhamos que ter um tênis forte. Deixaram passar, perderam o que o Guga fez. Entrou para a história, está lá, mas o tênis brasileiro tinha que ser outro, pelo Guga. Foram de uma incompetência brutal.
Gustavo Villani: A gente estava falando dos odiosos e há dez anos, pelo Twitter, depois de uma crítica, surgiu o "Cala a boca, Galvão". Não atinge você? Qual o seu limite?
Galvão: – Eu acho até que está melhorando. Eu uso uma frase que confesso que roubei de um livro, que diz assim: “A melhor coisa que a internet fez foi ter dado voz a todos e a pior coisa que a internet fez foi ter dado voz a todos”. A pessoa ter a sua opinião, a pessoa não gostar de mim, de você, é direito de todo mundo. Só que eu também aprendi que seu direito termina quando começa o direito do outro. Ofensa, falta de respeito, coisas baixas envolvendo família. Lamentavelmente tem "haters". Acho até que melhorou, no meu caso, eu tomava tanta porrada, que agora eles estão tão carinhosos que eu estou meio desconfiado.
Milton Leite: Você já levou bronca (na Globo)?
Galvão: – Bronca mesmo. Eu levei bronca. O Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) tinha um papelzinho amarelo, os memorandos do papel amarelo do Bonifácio. Quando soltava um daqueles, ele vinha brabo. Eu só recebi um. Era o cartão amarelo. Todo mundo que quer fazer uma homenagem para mim, coloca essa narração, da dura que eu levei, que foi o tricampeonato do Ayrton Senna, que ele tirou o pé para deixar o (Gerhard) Berger passar. Aí eu lia e ouvia o jeitão dele: “Pô, você sabia? Então tinha que contar”. Eu imaginava que ia acontecer.
Sideny Garambone: Por que você e o Felipão não são amigos?
Galvão: – Eu nunca tive uma relação de amizade, de frequentar a casa do Felipão ou ele frequentar a minha. Nós sempre nos demos muito bem, mas o Felipão tem aquele jeitão dele. Mas vou contar uma história. Estava almoçando na Coréia do Sul, véspera do jogo do Brasil e Turquia. Aí, o Mosca, repórter cinematográfico, me chamava de pai. Ele falou: “Pai, o homem quer falar com você. Está ali esperando”. Nós fomos para uma mesa. Aí o Felipão colocou um copo, outro copo, um garfo, uma faca e falou: “Tchê, estou muito preocupado porque todo mundo está achando que esse jogo é uma moleza. Esse time da Turquia é bom demais”. Aí eu perguntei: “Felipão, você não me tirou do meu almoço para me dar uma aula de tática da Turquia. O que é que ‘tu’ quer? ”. “Eu estou preocupado demais, e quando você fala no Jornal Nacional, os caras falam...”. Aí eu disse: “Não é ético a gente fazer um acordo do que eu vou falar, mas entendi o que você quer. Acho que cabe”. Teve coletiva, e eu disse: “Felipão, estou muito preocupado porque acho que esse time da Turquia é muito bom. Aí ele disse: “Mas era essa pergunta que eu queria”. Aí passou a ter uma cumplicidade, não teve privilégios.
– Veio o 7 a 1, e o que as pessoas poderiam esperar de mim, no editorial que eu fiz no Jornal Nacional logo depois, acho que foi mais ou menos aquilo que estava na cabeça das pessoas. Fui duro? Fui. Mas estava dentro da minha função e minha obrigação. Aí ele deu uma entrevista dizendo que eu fiz o Brasil apontar o dedo para ele, então ele não precisava mais falar comigo. Lamento profundamente, porque tenho muita admiração pelo trabalho dele.
Sidney Garambone: Você comentou rapidamente que durante a ditadura militar você teve que correr da polícia. O que esse Galvão fazia, então, nos anos de chumbo?
Galvão: – Em 68, acho que, daqui, eu fui o único que fui para a rua e tomou porrada. E, olha, quem reclama do gás lacrimogênio agora, não sabe o que era em 1968, era duro de respirar. São momentos da vida em que você, quando jovem, se entrega de corpo e alma e aconteciam coisas que... Eu fui para a assembleia permanente. Eu falei muito, eu falo muito... Falei muito em assembleia permanente. Eu me lembro de uma que eu falei e o Honestino (Monteiro Guimarães), que sumiu, falou naquele dia também, então a gente ia defender aquilo que entendia ser o correto.
– Com o tempo, você até vai mudando, vai ficando, vai se equilibrando mais, vai vendo as coisas de forma um pouco diferente. Porque eu acho que todo o extremo é ruim. Qualquer radicalismo é ruim. Acho por exemplo que as eleições tinham que terminar, cara...Agora o país precisa caminhar. Mas as eleições não terminaram até agora. Mas era uma coisa muito do jovem, a gente ia e pior de tudo era o jato d’água, quando pegava na boca do estômago a gente não conseguia respirar direito. Mas acho que faz parte, fez parte da minha vida, eu morava em Brasília, jogava basquete e... Coisas da juventude.