Como fazer eventos mais inclusivos para a comunidade LGBTQIAP+?
Inclusão não é só uma palavra da moda.
Pelo contrário, a necessidade de discutir e garantir a liberdade e igualdade entre as pessoas sempre existiu, e desde 1948 com a Declaração Universal de Direitos Humanos a pauta começou a tomar mais forma.
Apesar de termos membros da comunidade LGBTQIAP+ como pioneiros de muitos movimentos culturais importantes, como na música foram Frankie Knucles e Larry Levan, ainda temos um longo caminho a percorrer para garantir que haja não só acesso, mas senso de pertencimento das comunidades LGBTQIAP+ em eventos no Brasil e no Mundo.
Sendo assim, como tornar os eventos mais inclusivos para a comunidade LGBT+?
Conversamos com Ricardo Piovesan, sócio-fundador do Tokka, o maior festival de música eletrônica voltada ao público LGBTQIAP+ no Brasil para entender um pouco mais sobre inclusividade em eventos.
Você não precisa fazer um evento específico para o público LGBTQIAP+ para entender a importância e necessidade de fazer com que todos os tipos de pessoas se sintam acolhidas e pertencentes. Os pontos discutidos aqui podem (e devem) ser adaptados a qualquer evento.
Confira a entrevista completa abaixo:
Ingresse: Quando pensamos em um evento para o público LGBT+, quais são os principais aspectos que precisamos levar em consideração?
Ricardo Piovesan:
Primeiro de tudo, precisamos entender quais são as dores e os desejos da comunidade. Saber como comunicamos, o que falamos, ouvir, dar oportunidades de trabalho, visibilidade e acolher cada vez mais pessoas LGBT+ é de extrema importância. Treinar bem a brigada para atender ao público presente, dar oportunidades para que o staff seja composto, também para pessoas da comunidade e garantir um ambiente seguro.
Ingresse: Quais são os principais desafios enfrentados na organização de eventos para a comunidade LGBT+?
Ricardo Piovesan:
Como manter a marca evidente, mostrando sua potência e qualidade de produção e status, sem esquecer dos deveres como formador de opinião, visto que existe todo um "marketing de influência" onde o evento está inserido. Exemplo, as pessoas querem estar na TOKKA por reunir pessoas interessantes e uma produção recheada, mas como manter esse status sem deixar de trazer mais pessoas da comunidade para perto e sem deixar de trazer também mais pessoas até mesmo fora da sigla, como grupos de mulheres e homens héteros e cis.
Ingresse: Como garantir que os eventos sejam verdadeiramente inclusivos e acolhedores para pessoas de diferentes identidades de gênero e orientações sexuais?
Ricardo Piovesan:
Se colocar no lugar do outro. Olhar para o nosso redor e ver como a nossa roda de amigos é composta. Se você está mergulhado num mar de privilégios, cheio de pessoas brancas e cis, com certeza vai enxergar várias deficiências. Prestigiar outros eventos e abrir seu leque de experiências, entendendo a realidade dos outros, ajuda a compreender que existem muitas pessoas para trazer e que estão fora da nossa bolha de privilégios. Existe um mar de pessoas interessantes e criativas por aí.
“Prestigiar outros eventos e abrir seu leque de experiências, entendendo a realidade dos outros, ajuda a compreender que existem muitas pessoas para trazer e que estão fora da nossa bolha de privilégios.”
Ingresse: Quais são as medidas tomadas para evitar qualquer forma de discriminação ou preconceito durante os eventos?
Ricardo Piovesan:
Primeiro de tudo é educar a equipe interna, como a agência e colaboradores. A educação de dentro para fora precisa ser o primeiro passo. O que é claro pra gente, nem sempre é claro para uma pessoa que não vive aquela realidade.
Ingresse: Como é o trabalho com parceiros e patrocinadores para garantir que eles compartilhem os mesmos valores de inclusão e apoio à comunidade LGBT+?
Ricardo Piovesan:
Algumas marcas já possuem algo como um comitê interno que aborda assuntos relacionados à diversidade. Outras não. Cabe a nós como player de entretenimento voltado ao público LGBT+ passar uma segurança para ambos os cenários e trazer ideias, oportunidades e até pontos de melhoria. É algo em conjunto.
Dica extra:
Nada melhor do que convidar e contratar membros da comunidade para trabalhar de forma direta na construção da comunicação, curadoria e produção do seu evento. Construir ambientes acolhedores, inclusivos e de pertencimento começa dentro de casa, tendo também na sua equipe pessoas diversas que tragam essa visão institucional para seu evento. Afinal, esforços "da porta para fora" nunca terão o mesmo significado e impacto daqueles que começam dentro de casa.