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Maioria tóxica

Esta semana (de 9 a 13/12) foi de decisões tóxicas do Congresso, contra a vida, o clima, a saúde, a sociedade e o bom-senso. Os grupos de interesses mais fósseis e mais lesivos à sociedade dominam a maioria da Câmara dos Deputados e, agora, essa influência dos grupos de pressão dos piores setores da sociedade, os mais poluidores, mais violentos, mais predadores e mais endinheirados, contaminou também a maioria do Senado.

Numa fornada só subsidiaram armas e munições, detonaram parte relevante do Estatuto do Desarmamento, descartando acordos de amplo consenso, subsidiaram carvão e diesel, os agrotóxicos que envenenam nossa comida desnecessariamente, desfiguraram a reforma tributária e aprovaram a castração química de pedófilos, uma penalidade cruel e degradante.

A bancada da bala conseguiu convencer inclusive aqueles que, por profissão de fé, deveriam ser contra instrumentos de violência e morte. Mas são pastores e fieis farisaicos, que trocam o que diz a bíblia pelo que querem os mercadores da morte. A bancada do veneno, pela mão de senadora que posa de avançada e é a inspiradora do atraso, convenceu a maioria, inclusive aqueles que operam como agentes duplos na bancada ambientalista, a aprovar agrotóxicos mais baratos que envenenam a comida e barateiam a produção de um agro tecnorreacionário, avançado na tecnologia e retardado na visão de mundo. A bancada fóssil seguiu no mesmo rastro e poluiu o projeto de energia zero-carbono, lambuzando-o com carvão e óleo. Em um projeto cujo objetivo era incentivar a exploração do enorme potencial eólico no mar em toda nossa costa, de energia limpa, barata e imprescindível à transição energética, enfiaram na marra termelétricas imundas, caríssimas e que oneram a conta dos consumidores de eletricidade e barateiam o custo fiscal da sujeira dos setores fósseis e de baixa qualidade.

É um Congresso cuja maioria rema para trás, contra a maré. Antidemocrática, anticoletividade e que atravanca a governabilidade com sua voracidade e vontade de impedir as mudanças para o bem, promovendo medidas para o mal. Alastram componentes inflacionários, recessivos, agravam as causas da mudança climática, aumentam os custos da saúde pública e dos setores de pronto atendimento, os socorristas de primeira hora. Semeiam o aumento de desastres socioclimáticos, instrumentalizam a violência na sociedade, incentivam o armamento de criminosos, poluem a mesa dos cidadãos e engordam os lucros de seus aliados na sociedade. Um Congresso de maioria antipopular que, para parecer do bem, ao invés de impor penalidades duras e tratamento psicológico compulsório de pedófilos, prefere a cruel saída fácil e desumana da castração química. Há punições que igualam em desumanidade criminosos e seus justiceiros.

O Brasil entrou em um desvio perigoso após a ruptura eleitoral de 2018. Ela desorganizou todo o sistema partidário-eleitoral de constituição de governo e oposição. Condenou à anemia política os partidos que conseguiam manter uma certa coerência, um certo equilíbrio e uma dose de bom-senso na negociação de políticas públicas no Congresso e serviam de estabilizadores da coalizão de governo à qual asseguravam a maioria. O desalinhamento partidário (não se pode falar em realinhamento), produziu essa maioria invertebrada, leviana e tóxica.

Independentemente do que ocorra com outras instituições, esse quadro disruptivo no Legislativo promove uma crise permanente de governabilidade. Esta, só será debelada quando um novo ciclo eleitoral desbaratar essa maioria e promover um efetivo realinhamento partidário que produza um novo sistema partidário com predominância de partidos funcionais para a democracia e para um presidencialismo destinado a ser de coalizão. A probabilidade corre contra esta possibilidade, pois a maioria predatória está blindada por dois fundos bilionários que ela controla, o fundo partidário e o fundo eleitoral e ainda é engordada financeiramente pelas emendas que quer anônimas, irrastreáveis e opacas.