Bem antes de ser o 'Príncipe' de Mavi (Chay Suede) em Mania de Você, Jaffar Bambirra já sabia que iria viver de arte desde a adolescência. Em entrevista exclusiva, o ator e cantor de 26 anos celebra a transformação em sua carreira ao viver Iberê na novela das nove, fala do namoro com Gabz e conta como lida com o luto após a morte da mãe, em agosto deste ano.
Sua primeira 'turnê' teatral aconteceu em 1999 - com apenas um ano de vida. Jaffar acompanhou a mãe, a diretora e atriz Nadia Bambirra, nos bastidores da peça D'Artangnan e os Três Mosqueteiros. "Minha mãe produziu essa peça com uma galera (o elenco tinha Rodrigo Santoro, Marcelo Faria, Thierry Figueira e Pedro Vasconcelos). Eu era muito novinho e viajava o país com ela por conta das turnês de teatro. Ela era mãe solo, então sempre me levava para tudo. Isso sempre esteve presente na minha vida", conta ele, que encontrou no trabalho uma oportunidade de manter a memória da mãe perto de si: "Quando estou trabalhando, sinto que ela está aqui comigo. Fazer arte é estar com ela aqui dentro, e isso me ajuda a lidar melhor".
Assim como muitas crianças cariocas - principalmente as flamenguistas! -, Jaffar já sonhou em ser jogador de futebol. Aos 11 anos, percebeu que não tinha tanta afinidade com a bola quanto tinha com as canções - e viu seu amor pela música florescer. "Eu nasci cantando. Quando novinho, lembro de reunir minha mãe, a galera da família, amigos da minha mãe e tal, e ficar fazendo showzinho, cantando Cássia Eller", diz. "Quando eu vi que [futebol] não dava para mim, falei: 'Pô, mas eu gosto muito mais de fazer música. Por que não?' Aí eu fui estudar violão. Já queria compor, porque eu ficava cantando no banheiro (risos)", conta.
Jaffar garante que a mãe nunca tentou levá-lo à atuação, mas, depois que entrou em contato com o universo artístico, descartou qualquer outra carreira. "Desde a adolescência, nunca pensei em não ser artista. Lembro de pais e amigos perguntando: 'E o plano B? Porque essa é uma profissão incerta'. Mas eu dizia: 'Não tem plano B. Vou focar no que quero fazer'. Crescer nesse ambiente, mesmo sem querer, plantou essa arte dentro de mim e me fez querer estar nesse lugar", explica.
Aos 14 anos, conseguiu seu primeiro papel como elenco de apoio da versão brasileira de Rebelde - elenco que, coincidentemente, contava com Chay Suede como Tomás, um dos protagonistas da série teen. A dupla, que viraliza constantemente com as interações na novela das 9, se conheceu naquela ocasião.
"Nessa época, o Chay estava gravando um disco, e lembro que tivemos uma experiência engraçada. Fui à casa dele, enquanto ele gravava, ficamos lá conversando e já tínhamos uma conexão, pois eu também era músico. Depois ficamos muito tempo sem nos ver, mas foi ótimo nos reencontrarmos agora, como pessoas diferentes e mais maduras", diz.
Desde então, se formou na escola de atuação de Wolf Maya e experimentou de tudo um pouco: na Globo, viveu o romântico Márcio na novela Pega Pega (2017), Leonardo em O Sétimo Guardião (2019), e o músico Murillo em Quanto Mais Vida Melhor (2021). Nesta, ele não só atuou, mas também inseriu a canção Quando Fui Seu Par na trilha sonora da novela. Ele também fez Ricos de Amor, produção brasileira na Netflix, e A Vida Pela Frente, série na Globoplay - papel em que teve que platinar o cabelo para viver Cadé.
Mas o trabalho que mais tem levado Jaffar para o holofote é Iberê, comparsa do vilão Mavi. Ele define o personagem como 'dúbio', e comenta sobre a recepção do público às camadas do primo de Rudá (Nicolas Prattes). "Tem sido muito legal. As pessoas na rua sempre dizem: 'Nossa, você é muito mau! Tô com muita raiva de você, mas adoro te ver!' Isso é muito interessante", diverte-se.
Iberê e Mavi compartilham de momentos de afeto entre amigos e Jaffar exalta a necessidade de cenas como essa no cenário atual: "Acho tão importante termos relações entre homens que tenham afeto e carinho, sem precisar levar isso para um lugar sexual. São duas pessoas que têm esse vínculo afetivo. O Chay [Suede] e eu construímos muito isso ao longo das gravações. A repercussão tem sido incrível".
E a dona do coração de Jaffar também passeia pelos bastidores de Mania: Gabz, que vive a protagonista Viola, assumiu recentemente o relacionamento com Jaffar. Os rumores de romance já circulavam desde o início de novembro, quando se fantasiaram do casal Bebel e Olavo, de Paraíso Tropical, no Halloween.
"A gente está vivendo uma coisa muito legal. Estamos juntos e é isso. A única coisa que eu tenho para dizer é que a gente está muito feliz", confirma ele. Segundo o ator, a curiosidade do público sobre sua vida pessoal 'faz parte do trabalho', mas ele admite que tenta preservar sua intimidade o máximo possível.
Como foi o convite para viver o Iberê em Mania de Você?
Eu tinha feito teste para a novela em março. Passou um tempo e estava testando até para outro personagem. Foi quando a Dani Pereira, nossa produtora de elenco, me ligou. Eu nem sabia muito sobre Iberê, e ela não tinha muitas informações para me dar ainda. Mas só de ouvir eu já soube que poderia ter caminhos muito legais. Isso me animou muito. Ele é muito dúbio. Tem a questão com a tia, e, ao mesmo tempo, a ambição dele. Fazer um vilão numa novela das 9 é muito bacana. Foi uma oportunidade muito boa, fiquei muito feliz.
Você falou que ele é um personagem dúbio. Como foi construí-lo? Teve algo que você emprestou de você ou que aprendeu com ele?
De mim, não sei se tanto, porque nem sou uma pessoa tão ambiciosa como ele. O que refleti recentemente sobre o Iberê é que, em alguns momentos, busquei traços de outros personagens meus também. Cheguei a ficar com medo de estar parecendo algum anterior, mas vi que não tem nada a ver. Percebi que, como ator, nosso trabalho amadurece a cada papel que fazemos. A gente descobre muito sobre nós mesmos com cada um. O Iberê não é um personagem "pronto". Sempre tem algo novo a ser explorado nele e isso é um desafio.
Como é lidar com a popularidade desse personagem?
Tem sido muito legal. Eu posto qualquer coisa nas redes sociais e um monte de gente fala, 'Oi, príncipe!' As pessoas na rua sempre dizem: 'Nossa, você é muito mau! Tô com muita raiva de você, mas adoro te ver!' Isso é muito interessante. Lembro de quando era mais novo, nos anos 2000, quando as pessoas confundiam personagem e ator por causa da falta de internet. Apesar de meio doido, eu achava legal. Agora, vivendo isso, fico feliz em ver que as pessoas gostam do Iberê, mesmo com todas as maldades que ele faz. Ele tem humanidade, carências, e o público percebe isso. Ainda tem muita novela pela frente, mas acho que estamos no caminho certo.
Vejo muita gente comentando sobre o ‘bromance’ entre Mavi e Iberê. Eles são como irmãos, amigos, se espelham um no outro. Como você vê essa conexão?
Acho tão importante termos relações entre homens que tenham afeto e carinho, sem precisar levar isso para um lugar sexual. São duas pessoas que têm esse vínculo afetivo. O Chay e eu construímos muito isso ao longo das gravações. Fomos entendendo que o Iberê tem uma admiração pelo Mavi talvez por se espelhar nele, ou por carência como personagem solitário. O Chay e eu nos divertimos muito gravando essas cenas e acho que isso transparece. A repercussão tem sido incrível.
Você tem alguma história dos bastidores de Mania? Tem cenas que a gente não sabe se é atuação ou se vocês estão rindo de verdade...
É muito engraçado! Uma coisa que todo mundo fala muito é a do whey [pedido de Mavi para Iberê]. Realmente foi uma coisa que surgiu na hora. Um joga, o outro embarca. Tem várias cenas que, às vezes, nem chegam a ir ao ar, mas a gente termina e continua improvisando. Enquanto um não cortar e o outro também não corta! A gente se diverte para caramba. Estamos criando conexões muito maneiras.
Falando no Chay, você também fez Rebelde quando tinha 14 anos. Vocês já se conheciam de lá?
Sim, eu fiz um elenco de apoio no finalzinho de Rebelde. Nessa época, o Chay estava gravando um disco e lembro que tivemos uma experiência engraçada. Fui à casa dele, enquanto ele gravava, ficamos conversando, e já tínhamos uma conexão, pois eu também era músico. Depois ficamos muito tempo sem nos ver, mas foi ótimo nos reencontrarmos agora, como pessoas diferentes e mais maduras.
Como foi sua primeira experiência no mundo artístico?
Aos 14 anos, eu só queria ser músico. Quando surgiu a oportunidade de fazer um elenco de apoio em Rebelde, achei interessante e topei. Já tinha estado em sets por conta da minha mãe, mas nunca trabalhando. Comecei a estudar atuação em 2015 para melhorar minha presença de palco, mas acabei me apaixonando. Quando pisei no palco pela primeira vez, percebi que também precisava disso na minha vida. A partir daí, as coisas começaram a acontecer. Fiz testes, entrei na faculdade de cinema, e meu primeiro trabalho grande foi em Pega Pega. Foi uma trajetória natural, mas sempre mantendo a música junto.
Em Quanto Mais Vida Melhor, você conciliou duas paixões, pois não apenas atuou, mas também fez canções para a novela. Como surgiu essa relação com a música?
Eu nasci cantando. Quando novinho, lembro de reunir minha mãe, a galera da família, amigos da minha mãe e tal, e ficar fazendo showzinho, cantando Cássia Eller. É uma coisa que sempre esteve presente na minha vida. Quando eu era muito criança, ainda era tipo um hobby mesmo, porque eu queria ser jogador de futebol, só pensava no Flamengo. Quando eu vi que não dava para mim, que não era meu talento mesmo, aos 11 anos, falei: 'Pô, mas eu gosto muito mais de fazer música. Por que não?' Aí eu fui estudar violão para me ajudar a compor. Me jogava nos sarauzinhos que a galera mais velha estava tocando. A música sempre esteve muito presente na minha vida.
"Eu amo estar no palco e amo estar no set. Eu gosto de lançar música quando é algo que está na minha verdade"
Você pensa em se dedicar à música em tempo integral no futuro ou vai continuar equilibrando com a atuação?
Traçar um planejamento de música full time é complicado, ainda mais porque atuar também me fascina tanto e me traz tantas oportunidades incríveis. O que eu tento fazer é manter as duas coisas em paralelo. Eu amo estar no palco e amo estar no set. Agora, por exemplo, estou gravando algumas músicas. Sempre tiro momentos entre trabalhos para isso, mas sem pressão. Eu gosto de lançar música quando é algo que está na minha verdade. O fato de ser ator também me tranquiliza em relação à música. O mercado da música é muito dinâmico, frenético, e atuar me permite fazer música com a tranquilidade que eu gosto.
E sua mãe foi uma diretora incrível, uma atriz fantástica. Como foi crescer em um ambiente tão ligado ao universo da atuação?
Minha mãe nunca fez nenhum movimento para me levar para a atuação, nunca forçou nada. Quando criança, nunca pensei nisso. Mas a vida me levou a esse caminho. É curioso, porque, desde a adolescência, nunca pensei em não ser artista. Lembro de pais e amigos perguntando: 'E o plano B?' Porque essa é uma profissão incerta, né? Mas eu dizia: 'Não tem plano B. Vou focar no que quero fazer.' Crescer nesse ambiente, mesmo sem querer, plantou essa arte dentro de mim e me fez querer estar nesse lugar.
Tem algum conselho da sua mãe que marcou sua trajetória?
Minha mãe sempre esteve muito presente no meu trabalho. Sempre quis acompanhar, estar junto, ajudar de alguma forma. Mas acho que um dos maiores aprendizados que tive foi observando ela, os amigos dela, o entorno. Nossa profissão é muito volátil. Uma hora todo mundo quer saber de você, e, em outra, pode estar sem trabalhar. É uma profissão de altos e baixos. Aprendi a não me deixar abalar por isso. Faço meu trabalho pensando em fazer algo que me deixe feliz, em sentir prazer no que estou fazendo, e não no que vem depois. Acho que isso é algo que minha mãe me ensinou sem precisar dizer diretamente.
"Quando estou trabalhando, sinto que minha mãe está aqui comigo. Fazer arte é estar com ela aqui dentro, e isso me ajuda a lidar melhor"
Quando você fez o Cadé, de A Vida Pela Frente, você passou por várias transformações para viver esse papel, inclusive platinar o cabelo. Você é muito apegado a essas mudanças?
Na vida, eu sou meio preguiçoso com mudanças de visual, confesso. Quando estou entre trabalhos, deixo a barba crescer. Então, adoro quando o trabalho me exige mudanças, porque são coisas que nunca pensaria em fazer. Platinar o cabelo, por exemplo, foi uma proposta que surgiu em uma reunião com a caracterização e a direção. Nunca faria isso na vida por conta própria. É incrível como essas transformações ajudam no personagem. Me trouxe a personalidade e a autoestima que o Cadé precisava.
O Cadé explorou muito a sexualidade dele como um personagem bissexual. Como foi a preparação para esse papel?
A Vida pela Frente foi um projeto tão especial. Muitos do elenco jovem não tinham feito muitos trabalhos antes. Então, a gente teve um mês e meio de preparação, todos os dias, das 8h da manhã às 6h da tarde, juntos. A Estela, que era a nossa preparadora, fez um trabalho muito lindo. Quando a gente foi para a tela, já tinha aquela conexão, era tudo muito a verdade. O Cadê precisava estar à vontade nos lugares onde ele se colocava e isso me trouxe várias coisas, até de autoestima. Foi muito bom para mim e acho que a reverberação dele está até hoje na minha vida. Eu até melhorei como músico, passei a tocar violão muito melhor por causa do Cadê.
Você e a Gabz têm postado muitas coisas juntos. Vocês estão juntos?
A gente está vivendo uma coisa muito legal. Estamos juntos e é isso. A única coisa que eu tenho para dizer é que a gente está muito feliz.
Esse interesse sobre a sua vida privada é algo que te incomoda?
Eu acho uma coisa natural do nosso trabalho. A gente sabe que isso vai reverberar, né? Não tem como a gente fingir que não. Eu não sou uma pessoa que fala muito sobre a minha vida pessoal. Ao mesmo tempo, acho que dá para ver de forma natural. É engraçado ver as pessoas especulando, mas eu tento preservar minha intimidade, porque isso é importante até para o meu trabalho como ator.
"A gente (Jaffar e Gabz) está vivendo uma coisa muito legal. Estamos juntos e é isso"
E em 2025 vem aí Dias Perfeitos. Você vai ser o Téo, um psicopata muito complexo. Como foi se preparar para ele? É um papel bem diferente dos que você já fez até agora.
Completamente. Foi um trabalho muito intenso, muito de troca. Eu e a Joana, a nossa diretora, e a Julia Dalavia tivemos que estar muito juntos para fazer esse personagem, porque é um tema muito sensível. Ler o livro do Rafael [Montes] foi uma grande preparação, porque ele é todo do ponto de vista do personagem. Você vê cada pensamento dele, entende a lógica do que ele pensa, por mais que você concorde ou não.
E além de Dias Perfeitos, você também está em Raul Seixas: Metamorfose Ambulante, fazendo o Sérgio Sampaio. Como foi esse convite?
Foi um prazer. Eu faço o Sérgio Sampaio na história, que é um artista incrível que foi muito esquecido pelo tempo, pela vida dele. Durante um período, ele foi um dos grandes parceiros do Raul Seixas. Ter conhecido mais a história dele foi muito bom, assim como poder fazer um músico e interpretar pela primeira vez alguém que realmente existiu. E ver o Ravel Andrade, que é um grande amigo, fazendo o Raul, foi maravilhoso.
Em um período de um ou dois anos, você fez um psicopata, um contrabandista, um músico... Tem algum tipo de personagem que você sonha em fazer?
Que difícil! Eu tenho muita vontade de fazer qualquer personagem que tenha camadas e que tenha um lugar para chegar. Eu gosto de projetos nos quais eu acredite. Mas eu tenho um ponto interessante, eu gostaria de fazer um professor em algum momento. Minha avó foi professora, meu avô também, minha mãe foi professora... Então, não quero ser professor na vida, mas seria muito bacana interpretar um personagem professor.
Você também é estudante de cinema. Tem vontade de se tornar cineasta?
Sim, eu tenho vontade. Acho que ainda está cedo, porque eu ainda sou ator e músico, mas tenho um projeto de documentário sobre meus avós, sobre o exílio deles. Esse trabalho foi meu projeto de formatura. Preciso terminar e gravar, mas com calma.
Sua família tem um legado incrível. Olhando para frente, qual é o legado pelo qual você gostaria de ser lembrado durante a sua carreira?
Eu acho que o legado é o que vai ser, como termina a minha carreira. É algo que vai se construir, né? Principalmente como ator, eu não decido 100% dos meus passos. Eu não tenho como saber o legado que vou deixar, espero que ele seja positivo, mas eu não penso nele. Eu acredito que minha mãe e meus avós não pensaram sobre isso quando eles escreveram as coisas que eles escreveram. Acho que a gente parte de uma necessidade de fazer o que a gente ama, sabe? E o que a gente acredita. A partir do momento que a gente cumpre com essa necessidade, a gente deixa um legado.