Música
Projota faz críticas ao racismo em nova música: “Me sinto pronto”
Rapper vive transição de discursos em suas letras, quando falava de suas questões pessoais e, agora, aborda temas sociais
2 min de leituraProjota, de 36 anos, está pronto para ampliar os discursos de suas letras. Em Corra!, lançada no último dia 13, o rapper faz críticas ao racismo abordando a angústia dos negros. A música tem trechos como "Querem que eu fique calado, preto não pode falar / Querem que eu seja um bom gado pra ser fácil de domar… a gente não quer mais superação / A gente quer champagne com caviar". O artista diz que o momento de seu trabalho está vinculado à forma com que lida com suas questões internas.
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“Estava com muitos problemas internos, e minha arte sempre me ajudou a resolver isso, entender o que estava acontecendo e discutir comigo mesmo e com a sociedade. Coloquei temas como depressão nas minhas músicas mais pesadas porque era o que estava mais presente. Em 20 anos de carreira, sempre falei de racismo. Mas nunca tinha feito uma música inteira só sobre racismo. Até fiz, mas em 2011. Era underground, outro momento, em que meu trabalho não chegava para tanta gente. Que especial é poder hoje usar o alcance que tenho para falar sobre isso. É urgente pra caramba. Estava com tanto problema dentro de mim que precisava resolvê-los, e hoje me sinto pronto para não falar sobre mim, mas sobre nós”, reflete.
O cantor também vê a importância de levar o discurso antirracista para a educação da filha, Marieva, de 2 anos, do casamento com a influencer e gamer Tamy Contro.
“Ela é tão novinha ainda que estou focado em estar presente o máximo que eu puder. Essas conversas vão surgir naturalmente. É especial ela poder crescer com um avô de olhos azuis e outro pretinho. Ela tem a possibilidade de amar os dois igualmente, como foi comigo, que também vim de uma união birracial. Só fui entender minha negritude quando o rap chegou na minha vida, como o porquê do meu irmão, branco, não tomar enquadro da polícia, enquanto eu tomava. Meu irmão foi parado uma vez na vida pela polícia, e eu era parado uma vez por semana. São coisas inexplicáveis pelo ponto de vista ético e humanitário, mas muito bem explicadas pela ótica estrutural da nossa sociedade”, analisa.
Em meio a um cenário político polarizado, Projota diz que escolher o dia 13 de outubro para o lançamento não tem a ver com seu voto declarado no candidato à presidência Lula. No entanto, ele aproveita a coincidência para reforçar seu posicionamento.
“A gente ia lançar a música na semana anterior, mas precisamos de mais um tempo. Eu escolhi a quinta-feira seguinte e nem vi que era dia 13. Mas tudo bem. A galera que vai votar 22 [número de Jair Bolsonaro, com quem Lula disputa o segundo turno] fica atacada. É meu voto, e é bom dar uma marcada ali. Quem ouviu Projota ao longo de 20 anos e achou que meu voto era outro, não ouviu direito”, reitera.